“Estou solteira, mas já namorei mulheres. Defendo muito a bandeira LGBTQI+, porque é o que eu sou”, diz Mc Bianca


Dona do hit “Tudo no Sigilo”, MC Bianca lança nova música, “Cara-Metade”, e fala com exclusividade ao site HT sobre a realização do sonho de se tornar uma hitmaker e cantora de sucesso, e também, sobre a potência da voz feminina e a liberdade de ser: “Sou bissexual e não tenho nenhum problema em falar sobre isso. Essa sou eu. Existem muitos jovens aí, como eu, que passam por muito preconceito, tanto dentro de casa, como fora. Eu mesma já passei muito por isso. Sei que não tenho tanta voz ainda nesta bandeira, mas tudo o que quero reforçar para as pessoas que me acompanham é que nós podemos ser quem quisermos ser. Isso é quem eu sou, como eu sou. Eu quero ser totalmente transparente com meu público, e o máximo que eu puder fazer para defender essa causa, eu vou! Além disso, também quero poder usar a minha música para falar para outras mulheres. Acho que precisamos dar mais destaque e exaltar mais a presença da mulher no funk. Em pleno século 21, o preconceito é enorme, boa parte da sociedade ainda julga muito a liberdade de expressão de uma mulher, mas vejo o quanto a nossa força de vontade faz a gente chegar longe. O mundo da música para mulheres é difícil, e eu espero que um dia isso mude completamente, porque somos fortes, somos incríveis, determinadas e livres. Só espero que mulheres que sonham como eu, não desistam também. Não é fácil, mas nunca impossível. Lute como uma garota!”

*Por Brunna Condini

Aos 19 anos, Bianca Azevedo Leal, a MC Bianca, é a voz do hit “Tudo No Sigilo“, que fez a cabeça de gente do meio do funk e de fora dele, e vem liderando o ranking das músicas mais executadas em plataformas como Spotify, Youtube e TikTok, no Brasil e em outros países como Portugal e Estados Unidos. Mas Bianca fica prosa mesmo é com a realização do sonho de se tornar uma cantora conhecida e de ter gente que ela admira curtindo seu trabalho. “Me emocionei com as pessoas que gravaram vídeos com a música, porque há muitas delas artistas que cresci admirando e que me inspirei muito para a minha carreira. Mas confesso que me surpreendi com o vídeo do Renato Aragão, por exemplo. Eu nunca imaginei que ele iria ouvir minha música e dançar, curtir, sabe? Achei o vídeo dele muito divertido, foi um grande presente. O Carlinhos Maia também me surpreendeu muito. E o mais legal é que vi pessoas de fora do Brasil fazendo também”, vibra sobre o funk que também fez famosos como Larissa Manoela, Simone da dupla com Simaria, Luisa Sonza, Letícia Spiller, Agatha Moreira, Isis Valverde dançarem.

“Desde criança, sempre amei cantar, e muita gente não acreditou no meu potencial, mas isso sempre foi um sonho para mim” (Foto: Sergio Carvalho)

Quando saiu de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, para tentar realizar seu sonho de ser cantora no Rio, tudo que ela tinha era muita vontade e convicção de que esse era o seu caminho. “Desde criança, sempre amei cantar e muita gente não acreditou no meu potencial, mas isso sempre foi um sonho para mim. Eu quis ser cantora. Antes disso, eu era dançarina, então o funk foi uma possibilidade para que eu pudesse fazer as duas artes que amo”, recorda.

Bianca contava com pouco menos de R$ 500 por mês, morou de favor na Baixada Fluminense, e trabalhou como vendedora ambulante na praia antes de ver seu hit bombar e as pessoas terem curiosidade de saber quem era voz e o rosto por trás dele. No embalo do sucesso da primeira, ela lançou sua nova música “Cara-Metade”, que em poucos dias já chega à marca de quase um milhão de views. Como a gravação do clipe foi durante a pandemia, o roteiro teve que ser adaptado. No videoclipe MC Bianca “sensualiza” por vídeo chamada com os “crushes” da produção: o ex-BBB 19 Danrley Ferreira e a atriz e influenciadora digital Thaylise Pivato. Bissexual, ela fala abertamente sobre a vida amorosa. “Eu estou solteira no momento, mas já namorei mulheres. Na verdade, tive um relacionamento sério com uma menina quando eu tinha 17 anos e durou mais ou menos um ano”, revela.

“Eu estou solteira no momento, mas já namorei mulheres. Na verdade, tive um relacionamento sério com uma menina quando eu tinha 17 anos e durou mais ou menos um ano” (Foto: Sergio Carvalho)

Para a funkeira, a música também é uma forma de resistência e luta. “Eu defendo muito a bandeira LGBTQI+, porque é o que eu sou. Sou bissexual e não tenho nenhum problema em falar sobre isso. Essa sou eu. Existem muitos jovens aí, como eu, que passam por muito preconceito, tanto dentro de casa, como fora. Eu mesma já passei muito por isso”, desabafa. “Sei que não tenho tanta voz ainda nesta bandeira, mas tudo o que quero reforçar para as pessoas que me acompanham é que nós podemos ser quem quisermos ser. Isso é quem eu sou, como eu sou. Eu quero ser totalmente transparente com meu público, e o máximo que eu puder fazer para defender essa causa, eu vou! Além disso, também quero poder usar a minha música para falar para outras mulheres. Acho que precisamos dar mais destaque e exaltar mais a presença da mulher no funk”.

E acrescenta: “Em pleno século 21, o preconceito é enorme, boa parte da sociedade ainda julga muito a liberdade de expressão de uma mulher, mas vejo o quanto a nossa força de vontade faz a gente chegar longe. O mundo da música para mulheres é difícil, e eu espero que um dia isso mude completamente, porque somos fortes, somos incríveis, determinadas e livres. Só espero que mulheres que sonham como eu, não desistam também. Não é fácil, mas nunca impossível. Lute como uma garota!”, convoca.

“Eu defendo muito a bandeira LGBTQI+, porque é o que eu sou. Sou bissexual e não tenho nenhum problema em falar sobre isso. Essa sou eu” (Foto: Sergio Carvalho)

Dona da sua história

Bianca tem como suas maiores referências as cantoras Rihanna e Anitta, mulheres que vêm fazendo história na música, conhecidas não só por sua competência, mas pela determinação na construção de suas carreiras. E é isso que ela quer. E relembra a trajetória não tão distante de quando chegou por aqui. “Para buscar esse sonho, sai da minha cidade no interior do Rio de Janeiro e vim para a capital. Porque comecei a perceber que a galera de Campos não valorizava os artistas locais. Eu chegava para cantar e a galera virava as costas. E vi que os artistas cariocas que iam se apresentar lá eram muito bem recebidos. Então passei a sonhar com aquilo”, lembra.

A cantora então, se alimentou de coragem e veio. Mas as condições estavam longe de serem as ideais. “Procurei umas casas na internet e achei uma quitinete compartilhada no morro do Congonha, e foi o primeiro lugar que fui. Depois morei de favor em Miguel Couto, em Nova Iguaçu, e depois em São João de Meriti, ambos na Baixada”, conta. “Eu não possuía a maioridade quando vim para o Rio, então ainda recebia pensão do meu pai, e minha amiga que veio morar comigo também. Mas ainda assim, juntando nosso dinheiro não dava nem R$ 700. O que é esse valor para alguém que precisa pagar aluguel, comer, e ter condições para correr atrás dos sonhos? Tiveram dias que não tínhamos sequer um real, nem para nos alimentarmos. Passamos por situações muito ruins por falta de dinheiro, fomos até para a praia vender caipirinha para tentar nos mantermos. Foi surreal tudo que passamos, dormimos no chão por não termos colchão e muitas outras coisas, mas fico feliz por ter valido tudo a pena e hoje eu poder está aqui para contar a minha história”.

“Hoje eu estou morando na Barra da Tijuca, em um apartamento em frente para a praia, e toda vez que eu acordo e vejo o mar da minha varanda não deixo de agradecer por tudo que tem me acontecido” (Foto: Sergio Carvalho)

Ela sonha com um protagonismo cada vez maior das mulheres no mercado musical, em especial no funk carioca: “Somos fortes, somos incríveis e determinadas”. E acrescenta: “Agradeço a Deus todos os dias por ter enviado pessoas que acreditaram em mim e no meu talento, como o DJ Pedro Henrique e o meu empresário Bruninho”. Como está sua vida hoje? “Depois que surgiu “Tudo no sigilo” na mídia, apareceram eventos em todo o Brasil para eu fazer, mas por conta do coronavírus, minha agenda está fechada. Mas eu estou muito feliz por estar vendo as coisas acontecerem. Ver como os meus fãs têm me abraçado. Hoje eu estou morando na Barra da Tijuca, em um apartamento em frente para a praia, e toda vez que eu acordo e vejo o mar da minha varanda não deixo de agradecer por tudo que tem me acontecido. Sempre falo para os meus seguidores para que não deixem de acreditar nos seus sonhos”.

Joga no universo cantar com quem? “Tem muitos artistas que me inspiram e que eu seria muito feliz se pudesse cantar ao lado deles. Mas eu sou apaixonada pela Rihanna. Acho ela uma artista completa e cheia de atitude, me vejo nela. E considerando que acreditar nos nossos sonhos já é um grande passo para a realização dele, eu gosto de mentalizar isso. Quem sabe? Também me agradaria muito gravar com a Anitta, acho ela uma grande representante do funk carioca. Seria um sonho também”.

 Como pretende estar daqui há dez anos? “De preferência em cima do palco, fazendo o que eu amo, que é cantar. Quero poder viver exclusivamente da música e através disso poder dar uma vida melhor para a minha família, um estudo para o meu irmão e as crianças da minha família. E trabalhando muito, com certeza”, determina. Meu maior desejo sempre foi mudar a vida da minha família com meu trabalho, dar a estabilidade financeira que eles nunca tiveram. Eu pretendo ser reconhecida pela minha arte. Quero conseguir passar uma mensagem e sentir que esta mensagem está alcançando as pessoas, sabe?”. Sabemos. Go, girl!