Em show com tom de protesto, Mangueira reúne Chico Buarque, Maria Bethânia, Alcione e Leci Brandão


Artistas se posicionam com repertório pensado especialmente para atender à proposta do enredo, que vai contar as mazelas do Brasil omitidas dos livros de história

A Mangueira deixou o Palácio do Samba, cravado no pé do morro na Rua Visconde de Niterói e aportou no Vivo Rio, na noite de ontem, para anunciar com o seu já tradicional Show de Verão que o Carnaval chegou. E promete fazer mais um engajado desfile pautado por críticas político-partidárias com o enredo “Histórias para ninar gente grande”. No espetáculo que reuniu Chico Buarque, Maria Bethânia, Alcione, Mart’Nália e Pretinho da Serrinha, o repertório escolhido por cada artista para a costura das apresentações deu o tom da noite pela qual a Estação Primeira mandou o seu recado. 

Foto: Agnews/Wallace Barbosa

Teve Alcione se posicionando com “Não deixa o samba morrer”, resposta à hostilidade com que o prefeito Marcelo Crivella vem tratando o Carnaval do Rio. Teve Mart’Nália enfatizando que o samba é o grande poder transformador em “Desde que o samba é samba”. Teve Pretinho da Serrinha exaltando Dona Ivone Lara e o seu “Sorriso negro”. Testemunhou-se grito em uníssono de “Ele não”, contra Jair Bolsonaro, após a interpretação magistral de “O bêbado e a equilibrista” por Leci Brandão, citada e reverenciada na letra do samba de 2019. Teve Bethânia politizada, trovejando ao final com “Sonho impossível” e “Volta por cima”. Chico, o penúltimo a se apresentar, optou pela discrição sociopolítica. Todos esperavam um “Apesar de você”. Mas ele foi de “Homenagem ao malandro”, “Tua cantiga” e “Quem te viu, quem te vê”, que sucederam a belíssima “Sala de recepção”, de Cartola. 

Foto: Agnews/Wallace Barbosa

O Show da Mangueira 2019 traduziu o sentimento da nação verde e rosa, que intenciona revelar na avenida as narrativas omitidas pelos livros de história brasileiros. O samba da escola, um dos melhores da safra deste ano, celebra Jamelão, Leci Brandão, Marielle Franco. E levantou o público no encerramento do espetáculo pela poderosa voz de Marquinho Art’Samba, intérprete oficial da agremiação, preso no último domingo logo após o ensaio técnico no Sambódromo. O motivo foi o não pagamento de pensão alimentícia. A Mangueira, assim como a maioria das coirmãs, passa por série crise financeira e institucional. Mas vai dar trabalho, ao que tudo indica, se entrar com a mesma garra com que esteve no palco na noite desta terça, na badalada casa de shows no Aterro do Flamengo. 

Foto: Agnews/Wallace Barbosa