Pioneiro da distribuição de filmes no Brasil, Luiz Severiano Ribeiro já dizia: “Cinema é a maior diversão”. Obviamente, essa máxima pode ser devidamente apropriada pela São Paulo Fashion Week que, além de proporcionar lançamentos da melhor qualidade e informação de moda para quem não quer morrer na praia, ainda ofereceu exposições-pérola como “Sonhando Acordado”, de Bob Wolfenson e pílulas como pequenos pocket shows em espaços como o da Schweppes. Teve até Iggy Pop detonando óculos giga em ação de marketing da Chilli Beans com levada meio new wave. Hum…
E, se por um lado a maré não está para peixe, com menos patrocinadores em função da crise e menor número de lounges que de costume, por outro lado o público provou que basta armar uma tenda que a animação está garantida, faça chuva ou faça sol. HT deu um rolé básico e, na vibe do freak show, registrou não só a animação juramentada como algumas curiosidades de quermesse, e também certos highlights mainstream que ficarão para a história. Confira!
A despedida de Gisele Bündchen na passarela da Colcci: okay, todo mundo já sabe que foi emocionante e até já se fala em factoide. Há burburinho de que ela anda falando por aí que vai fazer um desfile em novembro. Ninguém sabe ao certo se a uber parou mesmo de desfilar de vez ou se a pulguinha da catwalk ainda vai lhe coçar os pés. De qualquer forma, esse foi o grande assunto dessa edição e quem esteve no Parque Villa Lobos nesta última quarta-feira (15/4) viu que o clima era quase de batalha (ou de Fla-Flu), com hordas de fashionistas e fãs querendo tirar casquinha desse momento histórico. E põe histórico nisso. Com um único senão: a Colcci apresentou uma de suas melhores coleções de todos os tempos, linda de doer e pena que isso acabou ficando em segundo… hum, não, terceiro plano entre o falatório geral!
São Paulo, Hollywood dos trópicos: quem é carioca sabe o quanto a terra da garoa é escassa de celebridades, com meia dúzia de pagodeiros, duas de apresentadores de programas de TV e uma grosa de cantores sertanejos. Felizmente tem Sabrina Sato para compensar. Afinal, os estúdios da Globo e da Record ficam na Cidade Maravilha e é só lá onde é possível esbarrar com Claudia Raia fazendo compras em supermercado 24 horas ou Bruno Gagliasso queimando calorias na Lagoa em footing esperto. Tipo ver Robert De Niro comprando creme de barbear na Duane Reade em Nova York ou Jeniffer Aniston trocando pneu do seu possante em plena Hollywood Boulevard, com ar esbaforido. Todo mundo finge que não está vendo. Não é o caso de São Paulo. Mas, com as gravações de “Verdades secretas”, próxima novela das 23h escrita por Walcyr Carrasco, a Globo aportou de mala e cuia na SPFW, com medalhões como Reynaldo Gianecchini, Marieta Severo, Deborah Secco, Rodrigo Lombardi e Yasmin Brunet, que estreia como atriz na produção, batendo ponto em quase todos os desfiles, seja na front row ou na passarela, cumprindo o roteiro dos seus personagens.
É Marieta quem dá a tônica sobre essa presença em massa: “É curioso, esse não é exatamente o meu universo pessoal, mas estou adorando porque tem tudo a ver com a Fanny, a dona de agência de modelos que estou interpretando na atração. O ator precisa estar sempre atento àquilo que o cerca, pois vivemos aprendendo o tempo todo”.
No mais, valeu muito a pena ver Deborah madura, fazendo o papel de mãe de uma modelo, assistindo tudo na primeira fila, incorporando a personagem com garra. O tempo passa e ela está mais linda do que nunca! Sim, os anos lhe foram generosos…
Momento Liberace: quem nunca sonhou em vestir uma casaca de lamê, uma cartola com glitter, óculos a la Elton John e, no melhor estilo glam rock, abusar de uma dedilhada em um piano, enquanto sua cara metade faz a linha “Susie and the Baker Boys” sobre o dito cujo? Sim, claro que é cafa, mas esse tipo de desejo secreto freudiano reside até no mais hype dos fashionistas, meu bem. Tudo a ver, portanto, o piano de cauda estrategicamente colocado na área de convivência da SPFW. Agradecemos a Steinway & Sons.
Zé das Medalhas: Zé Pilintra? Sambista da velha guarda? Papa Legba da terceira temporada de “American Horror Story – Coven”? Nada disso, meu amor! É o impagável Alberto Mandela, que circulou todos os dias pela SPFW, mostrando a que veio. Homônimo (no sobrenome) do ex-presidente e mártir sul-africano, ele é nada mais, nada menos, que o presidente do Conselho Nacional de Integração do Negro Brasileiro e, maravilhado com o que viu, decreta: “Venho de novo na próxima edição! Evento lindo, povo lindo, belo, que venham muitos outros!”
Retorno das drags: depois de algumas temporadas escassa de transformistas pelos corredores, a SPFW voltou a ser a sede dessas corajosas mulheres em espírito e forma, como nos tempos da Bienal do Ibirapuera. Sim, dessa vez Salete Campari (no desfile da Amapô) não foi uma solitária voz na multidão. Entre as que encontraram no evento um porto seguro, destacam-se Malonna (à esquerda), mineira que fez a vida em BH antes de migrar para São Paulo há dois anos: “Tenho 21 anos (sic!) e produzo figurinos e perucas para peças de teatro e, principalmente, para outras drags. Faço parte da economia produtiva”, entrega. “E por que esse codinome, Malonna?” Ela elegantemente desconversa.
À sua direita, Kelly Caramelo (21 anos, sic também!) se antecipa: “Sim, sou boa de mastigar, daí minha alcunha. Só não digo o quê!”, conta ela, toda frajola e explicando que se monta de índia porque veio de Rio Branco, no Acre, mas que conheceu a primeira na capital mineira: “Travamos contato em um boteco”.
Barbearia Cavalera: a iniciativa de Alberto Hiar e Marinho de promover o bel prazer dos barbados brazucas vai de vento em popa! Além da unidade dentro da flagship da marca na Oscar Freire, está a pleno vapor a filial Bixiga e vem por aí uma nova barbearia na Vila Madalena. E, durante a semana de moda, a barber shop montada na SPFW foi coqueluche. O fotógrafo Sergio Caddah foi um dos que se encantou com o empreendimento, embora tenha ficado com água na boca: “Puxa, logo agora que tirei a minha? Queria tanto! Mas meus filhos pediram para ficar lisinho…”
É o barbeiro Lei, 26 anos (em pé, na foto) quem manda na lata: “Quem disse que é para por as barbas de molho?”, brinca, deixando claro que a barbada certa é homem barbado se cuidar bem. “E mulher barbada?”, pergunta HT a seu companheiro de trabalho, Miguel Aceves (à direita, sentado). “Ah, isso só existe no circo!” Faz sentido. Afinal, com mulher de bigode, só o diabo pode.
No mais, é Caroline Prata, que cuida de lançamentos de novos produtos, quem dá a dica: “Estamos lançando a loção pós-barba de rum com folha de louro, super refrescante. Os piratas usavam isso, truque de bucaneiro”. E tem também óleo para barba, creme de barbear, pomada para cabelo. Tudo com a grife Barbearia Cavalera. Por enquanto, só nas lojas da rede, mas daqui a pouco, no Brasil e no mundo, quem sabe!
Reynaldo Gianecchini de volta ao mundo da moda: desde que abandonou o universo fashion para se tornar astro de máxima grandeza no panteão global, há 15 anos, o ator foi aos poucos se desvencilhando desse ambiente. Mas, com sua participação em “Verdades secretas”, novela que explora os backstages da moda, ele se viu participando de uma quantidade enorme de desfiles nessa temporada, a fim de gravar cenas para a nova atração. E deu o que falar o seu cabelo reco e grisalho nas laterais. Da taba de índios da Cavalera ao show de Lino Villaventura, Gianne foi figurinha fácil nessa temporada. O público agradece.
Étnico-diva etílica: Sabrina Serafim (40 anos) é da Bahia, mas está há 12 no Rio. Cosmopolita de carteirinha, ama acessórios e no seu vocabulário menos nunca foi mais. No melhor estilo do ícone Cristina Franco, sabe abusar dos turbantes, maxi brincos, colares enooooormes, braços cheios de pulseiras e badulaques da melhor qualidade. Tudo em ótima desenvoltura. “Saio garimpando por aí, é tudo meu!”, conta a supervisora do mini lounge e food truck da Schweppes.
Sonhos de uma moda de verão: Como o clima dessa edição era de revival, deu o que falar a exposição de Bob Wolfenson com personalidades que fizeram a história do evento durante esses 20 anos, “Sonhando acordado” , com patrocínio da M.Martan. Não só pela beleza das fotos em preto & branco e pelo incontestável talento desse mestre das lentes, mas também pela atmosfera ao mesmo tempo nefelibática e divertida das imagens. Entre elas, HT selecionou duas que precisam ser guardadas no cerebelo dos reles mortais ad eternum: aquela com atmosfera oriental que emoldura a black top Carmelita, Dudu Bertholini e a artista plástica Christine Yufon, e a outra na qual o enfant terrible Ronaldo Fraga comparece ao lado de uma sereia – tema de sua coleção, “Sereias da Penha” –, num clima meio lúdico-Disney, como seria de se esperar do estilista.
Flying skulls: não é de hoje que caveiras mexicanas fazem parte do mix da pop up store da SPFW. A cada edição, novos modelos e criações de diferentes artistas. Mas, dessa vez, elas atingiram um patamar estratosférico, no conceito e no preço. Senão, vejamos: R$ 875, com asinhas, e R$ 1.025 a amarela com estrelinhas magenta. E a crise, meu bem, onde fica?!?
Trono de Ferro na realeza da moda: Bom, com a quinta temporada de “Game of Thrones” já está no ar em pleno vapor – e com os fãs sem saberem a quantas anda a história, já que George R.R. Martin confessou que vai inserir nestas duas próximas temporadas fatos que não estão nos livros (inclusive, não há data sobre o lançamento do sexto tomo) –, vale incorporar o monarca e arrematar a coroa da Memorabilia, não acha? Afinal, quem não gostaria de ser o soberano absoluto dos sete reinos? Mesmo sabendo que vai comprar briga feia com os Lannister, Baratheon e qualquer uma das outras casas reais. Só não vale ter o mesmo fim inglório que o falso Rei Joffrey…
Boys-magia atiradinhos: Djonathaw Havrelhuk (20 anos) tem pai ucraniano e ama consoantes. Dá para ver pelo nome. E, mais do que letras, ele se encanta mesmo com os modelos meninos, em fina sintonia com uma parcela dos fashionistas que demonstrou, durante os cinco dias de evento, que uma semana de estilo pode ser uma excelente trincheira para se arrumar um partido de guerrilha.
Nascido em São Bento do Sul (SC), mas estudante de moda na Anhembi-Morumbi, na capital paulista, ele vai direto ao pote: “Gosto de TODOS os tops. Fico louco por eles, de preferência os louros”. Está bem babe, mas calma. “Conta para a gente: como acontece essa sedução toda?” Ele não titubeia: “Envolvo com um olhar power, lânguido, malemolente!” HT não se faz de rogado: “Mas se você seduz com o olhar, e essa alfaiataria arrematada pelo shortinho? Ninguém vai prestar atenção nos olhos assim…” Ele responde: “Vai que presta, meu amor, me garanto!” Saliente…
Bike das delícias: Los Mendonzitos sabem unir travessuras com gostosuras. Não só no Halloween, mas durante os 365 dias do ano. Supremos na arte de comandar food trucks, dessa vezes eles encantaram os convivas da SPFW com sua bicicleta. Hamhamham!
Chapeleiro nada crazy: depois de viajar pelo Brasil, aparecer no “Fantástico” e divulgar a fina arte da chapelaria pelas BRs país afora, Durval Sampaio – que sabe conciliar a elucubração de Philip Treacy com a verve mambembe do diretor teatral Gabriel Villela – se tornou presença marcante pela área de convivência do evento, circulando pelos food trucks como se fosse um lorde e dando expediente no espaço que montou dentro da pop up store. Puro Zé Bonitinho. Com seu ar blasé, mas doce, ele dá sua visão do evento: “Tem gato de sorriso cativante que quer ser Alice, Alice que pretende virar Rainha de Copas e lebre maluca que ama dar as cartas do baralho”. Bem, Lewis Carroll nunca serviu tão bem para exemplificar o que acontece com o povo da moda como agora.
Organizadores Pantone do Inspetor Bugiganga: supondo que o frequentador do evento tenha TOC, mas não abra mão de causar, nada melhor do que separar os gadgets em formidáveis caixinhas assinadas pelo bureau internacional de cores. Está na moda o Marsala? Que se guarde todas as quinquilharias nessa gama em uma caixa nessa cor, ué! A módicos R$ 130, a unidade. Monk, Roberto Carlos e João Gilberto adorariam. Pena que nenhum deles é fashionista…
Mulher-gato em teto de zinco quente: Kiki Sudario Kihelstrom tem nome estranho porque casou com sueco. Com 44 anos, a atriz fala cinco línguas e já escreveu três livros, teve três filhos, mas não plantou sequer uma árvore. Anda engajada pela desigualdade social no Brasil e está rascunhando um compêndio sobre o assunto, “Doces vinganças“: “É preciso matar os corruptos”, abusa na radicalidade. E emenda com outro assunto: “Acho a Mulher-Gato incrível, sou do tempo da Tiazinha e da Feiticeira“, viaja na macarronada. E, sobre a quantidade de gays no evento, ela se diz totalmente a favor, mas condena o beijaço: “Nem na Suécia, onde moro e todo mundo é liberal, as pessoas escancaram. Deve haver o respeito”.
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