*por Vítor Antunes
Uma família que transpira música. Que transcende música. Essa é a Família Caymmi. De Dorival Caymmi (1914-2008) Nana, Dori e Danilo Caymmi + filhos e netos! Hoje vamos falar sobre Danilo Caymmi que está realizando o show Um Tom Sobre Jobim, uma homenagem ao legado de Antonio Carlos Jobim (1927-1994), neste ano que marca três décadas da partida do maestro. Danilo divide o palco com a cantora de jazz Stacey Kent. No repertório, clássicos eternos como Garota de Ipanema, Desafinado e Águas de Março.
No dia 7, Danilo estará em São Paulo, e, no dia 8, data que completa 30 anos da morte de Tom, no Rio de Janeiro. “Tom foi o elemento de ligação entre mim e Stacey. Sou grande fã dela, e eu ia gravar um disco chamado ‘Danilo Caymmi canta Tom Jobim‘. Convidei Stacey e ela, gentilmente, gravou conosco. A partir daí ficou um desejo meu de que fizéssemos algum trabalho juntos. Assim surgiu o projeto do show. Fizemos Londres e Lisboa, e as próximas praças são Brasília, São Paulo e Rio”. Com exclusividade, Danilo contou ao Site Heloisa Tolipan que lançará um disco novo no próximo ano, já em processo de seleção de repertório e produção.
Sobre os festivais, que marcaram os anos 1960 e 1970, Danilo lamenta o vazio deixado por uma época em que a melodia era a rainha das canções: “Hoje é diferente. Não caberiam os festivais. Há muito a questão da tecnologia influenciando. Tudo se transforma por conta da internet. Parece que nas canções novas sumiu a melodia. Valorizávamos muito esse fazer, que era de uma importância incrível, mas infelizmente o momento que a gente passa é outro”. Em um mundo moldado por avanços tecnológicos, a inteligência artificial também o inquieta. “Há muitos compositores que não são compositores. São processamentos digitais. Chegará um momento em que não dá para saber o que é real e o que não é”.
Danilo antecipou o lançamento de um novo disco para o ano que vem, 2025 (Foto: Natasha Durski)
A estreia de Danilo em discos foi justamente em 1964, em Caymmi visita Tom, álbum de Dorival Caymmi (1914-2008). “Estreei tocando flauta, aos 15 anos. Minha preocupação não estava em ser músico, mas com as provas de Química. Só vou conhecer o Tom com aproximação, em 1983, quando fiz parte da Banda Nova, e era um produtor de palco, uma pessoa de confiança. Do disco ‘Passarim’ para frente, gravei tudo com o maestro, até seu falecimento, em 1994.”
A gente tem um um problema no Brasil, de sempre, que é o esquecimento, a falta de memória. E esse show resgata o Tom – Danilo Caymmi
Danilo relembra também a efemeridade do mercado musical na televisão, como no caso de sua composição para a abertura de “Tieta”, de volta ao ar a partir da próxima segunda, preterida pela lambada pop de Luiz Caldas. “Mariozinho Rocha, diretor musical da novela, encomendou uma música para a abertura. Mas acharam que ela não cabia mais, e o Boni acabou fazendo uma letra diferente para Luiz Caldas. Era um negócio de televisão, o mercado funcionava assim”. No entanto, logo o destino corrigiria os ventos. Em “Riacho Doce” (1990), Danilo emplacaria duas canções imortais: “O Que É o Amor”, na voz de Selma Reis (1960–2015), e “O Bem e o Mal“, cantada por ele, ambas ecoando com força e poesia na história da música brasileira.
Danilo Caymmi nos Anos 60, tocando flauta. “Eu me preocupava com música, mas com as provas de química” (Foto: Arquivo Nacional)
TONS DE TOM E CAYMMI