Direto de Minas Gerais, Marina Ribeiro é o novo nome da MPB que você precisa conhecer e escutar o som!


Cantora está lançando seu primeiro EP e fala com HT sobre as influências musicais e o jeitinho mineiro de cantar

*por João Ker

No interior do Leste de Minas Gerais, pela região do Vale do Aço que engloba as cidades de Ipatinga, Governados Valadares, Caratinga e outros distritos onde a cultura do barzinho com música ao vivo é forte e presente, há uma voz que é certa entre as noitadas dos mineiros, com um timbre que transborda doçura e melodia. Essa voz pertence à cantora Marina Ribeiro, que vem mandando ver em MPB por ali, sempre acompanhada de um violão e talento que veio de herança sanguínea.

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No ano passado, Marina lançou seu primeiro EP online, disponível na íntegra no SoundCloud (você ouve abaixo). Amando com o som único e a voz da moça, HT sentou-se com um ela para conversar um pouco sobre suas influências e conhecer um pouco mais a história da cantora. Esse bate-papo você lê agora:

HT Quando você começou a encarar a música como uma carreira?

MR: Eu comecei a encarar como um objetivo de vida, como algo “para sempre” mesmo. As pessoas têm a idiota mania de perguntar: ” Nossa, bacana seu som. É um lindo hobby, mas você trabalha com o quê?”. Por não sermos famosos, as pessoas têm a triste visão de que um cantor de bar ou independente é um ferrado de alguma maneira. E que disso não se faz carreira ou trabalho duro. Eu encarei desde o meu primeiro som remunerado. Foi quando toquei pela primeira vez.

HT: Qual a primeira lembrança que você tem sobre música e você cantando?

MR: A primeira lembrança foi quando toquei violão pela primeira vez. Minha mãe cantava e tocava muito bem. Eu amava ouvi-la, mas não dava muita importância ao instrumento. Ela ficava noites e noites trancada em um quartinho da nossa casa, em Ipatinga. Tocava horas, saía de lá quase amanhecendo. Em uma dessas noites, ela foi deitar e eu peguei pela primeira vez o violão. Acho que queria entender por que ela gostava tanto daquilo. E lá tinha uma caixa de revistinhas de cifras, que ensinam a tocar. Eu abri em “Leãozinho” [do Caetano Veloso] e toquei. Não sei explicar de outra forma. Só toquei. Ela acordou, começou a gritar e eu acho que nunca mais parei. Mas, eu não cantava. Não para outras pessoas. Cantava para mim, muito baixinho, acho que nem eu entendia o que cantava (risos). Mas, de alguma forma, minha mãe ouvia atrás da porta e sabia dessa minha tímida vontade de cantar, e sempre insistiu para que isso acontecesse. Quando tinha uns 11, 12 anos, arrumei um bandinha, mas não tinha ninguém para assumir os vocais. Sobrou pra mim…

HT: O que você sentiu quando se apresentou para o público pela primeira vez?

MR: Muita dor no corpo, e sono (risos). Brincadeira. É porque a primeira vez que toquei de verdade, e me pagaram para isso, eu mandei ver durante umas seis horas direto. Eu achava que era assim que se fazia: não tinha fim, era até a galera ir embora. Eu não olhava para ninguém, só para o violão. Não dei “bom dia” e nem “boa noite”. Não falei nada. Ninguém aplaudiu, ninguém nem sabia que eu estava lá. Eu fiquei triste, mesmo ganhando alguma grana. Fui para casa e dormi durante três dias seguidos! Logo depois, conheci um cara, um amor chamado Ronaldo Trappo. Amigo dos meus amigos. Ele tocava percussão, era parceiro de todo mundo, negão educado e cheio de bom gosto, exatamente quem eu precisava para me acompanhar nos bares. Ele me ensinou muita coisa. Uma delas foi não tocar seis horas em um show (risos). Quando toquei pela primeira vez com ele, senti que a música era para sempre na minha vida.

 HT: Fica nervosa no palco?

MR: Extremamente nervosa! Posso tocar para 3 e para 3 mil pessoas, vou tremer e tentar fugir nas 3 primeiras músicas (risos). Depois passa.

HT: Conte cinco inspirações/ídolos musicais que você tem.

MR: São tantos! É até injusto eu mencionar só cinco. Há vários artistas independentes que eu gosto, uma série de gente. Mas hoje, acho que os dois mais completos para mim  são o Criolo e a Vanessa Da Mata. O Milton Nascimento, minha mãe e o Ney [Matogrosso] também estão juntos nessa!

HT: Como foi gravar seu primeiro EP, considerando que você é uma artista independente?

MR: Foi uma experiência muito louca. No início, gravar foi como um pesadelo. Ouvir minha voz limpa e com uma qualidade boa foi um tormento. Achei que estava errado e horrível, mas dizem que todo mundo acha isso quando se ouve cantando. Eu estou me acostumando ainda. Um dia amo, no outro não gosto muito. Mas o EP foi um presente lindo para mim. Um aprendizado e tanto.  Eu amei tudo! Achei lindo como os músicos tocaram, amei as melodias, as letras e o cuidado com cada uma das faixas. Fiquei muito satisfeita com o resultado final. Era um material que precisava urgente para dar continuidade à minha carreira.

HT: Você participaria de uma dessas competições musicais da TV? Por quê?

MR: Ah, não participaria não. Acho que não tem nada a ver comigo. Acho que o que eles buscam nesses programas eu não tenho. E fico feliz de não ter!

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HT: Sua música tem um traço muito mineiro e da MPB. Quais artistas a influenciaram enquanto você gravava o EP?

MR: O Milton, sem duvida, é um deles. Acho que tudo o que tem em Minas tem dentro do Milton e nas suas obras. Eu amo a simplicidade que o povo mineiro tem. Vários outros artistas e outros lugares também nos influenciaram nesse EP. Lá para cima existem artistas muito bons e loucos que eu gosto demais. Nós fomos subindo e achamos alguns estilos musicais, como uma releitura do Caetano [Veloso] e uma do Júnio Barreto.


 HT: Se pudesse fazer um dueto com qualquer pessoa, quem seria?

MR: Se eu tivesse uma máquina do tempo, seria minha mãe, Ana Maria. Mas como isso ainda não é possível, a Vanessa da Mata me faria muito feliz também!

HT: O que vem primeiro durante seu processo criativo: a letra da música ou a melodia? Como e em que momento você costuma escrever mais?

MR: Não há regra. É o que inspirar primeiro. Normalmente, eu não saio escrevendo por motivos determinados. É mais uma inspiração maluca que bate e de repente sai a música.

HT: Suas músicas carregam um tom bem pessoal. Você fica nervosa na hora de cantá-las em público ou encara como um personagem?

MR: Eu fico nervosa sim, tenho medo de não cantar direito e de errar as notas. Mas no fim dá tudo certo!