Como um filme com acusação de abuso sexual põe a carreira de Michael Jackson na balança


No Brasil, a primeira parte do documentário que narra os possíveis casos de abuso sexual vai ao ar no dia 16 de março, às 20h; a segunda, no dia seguinte, no mesmo horário, no canal HBO e na HBO GO

Acusações de abuso sexual são motivo para linchamento ou consagração? No caso de Michael Jackson (1958-2009) a resposta é: depende.

Nos embalos do documentário “Leaving Neverland”, exibido em duas partes pela HBO nos dias 2 e 3 de março nos Estados Unidos, estações de rádio ao redor do mundo estão deixando de tocar suas músicas e as tirando de suas programações.

A descrição do filme é crua: “No auge do seu estrelato, Michael Jackson começou relacionamentos de longa data com dois meninos, com idades entre sete e dez anos. Agora aos 30 anos, eles contam a história de como foram abusados sexualmente por Michael”. Tratam-se de Wade Robson e James Safechuck.

Reprodução do documentário: Michael com a família de Wade Robson (Foto: Divulgação)

“Nos primeiros momentos, era apenas contato físico. Depois, ele estava com a mão no meu pênis. Em seguida, ele colocaria a minha mão no membro dele. Não parecia estranho. E ele dizia: “É assim que mostramos nosso afeto”, diz Wade no documentário.

James, por sua vez, revela: “Em Paris, Michael me disse: ‘Vou te ensinar uma coisa que todo mundo faz’ (ele referia-se a aulas de masturbação). Não tenho memórias ruins desse momento, a não ser a dificuldade de fazer xixi”.

No Brasil, a primeira parte vai ao ar no dia 16 de março, às 20h; a segunda, no dia seguinte, no mesmo horário, no canal HBO e na HBO GO.

Em um comunicado, a rádio neozelandesa MediaWorks informou que “Michael Jackson não está mais em nenhuma das nossas playlists. Isso é reflexo de pedidos dos nossos ouvintes, e é nosso trabalho garantir que, ao ligar na nossa estação, eles ouçam o que querem ouvir.”

A ladeira é grande: o musical da Broadway “Don’t stop ‘till you get enough”, que acompanha a trajetória do artista, cancelou a turnê-teste que faria em Chicago neste semestre.

Documentário estreia neste final de semana no Brasil (Foto: HBO)

Já o produtor de “Os Simpsons”, Al Jean, baniu o episódio da série que trazia Michael Jackson como um convidado especial. A decisão foi tomada após ele ter assistido ao documentário, que resgata polêmicas acusações de pedofilia contra Michael.

“O que me entristece é que, se você assistir ao documentário e conferir o episódio, honestamente, parece que foi usado por Michael Jackson para algo diferente do que queríamos. Não foi apenas uma comédia para ele, foi algo usado como uma ferramenta. E acredito fortemente nisso. É a minha convicção, e é por isso que acho que removê-lo é apropriado. Eu perco um pouco de dinheiro. Não é algo muito bom perder uma das coisas mais bem-sucedidas que já fiz, mas eu acho que é a decisão certa”, disse.

Por outro lado, mesmo com as denúncias reafirmadas, há dias de glória: o álbum “Number Ones” chegou ao 43º lugar na Espanha, de acordo com o periódico “20 Minutos”, subindo mais de 40 posições. O álbum também atingiu o top 20 na parada de downloads do iTunes. “The Essential Michael Jackson” chegou à 79ª posição. Algumas de suas músicas também subiram, com “Bad” para a posição 147.

Nesse balaio, o espólio – isto é, a família que disputa a herança – de Michael Jackson processou a HBO acusando o canal a cabo de violar uma cláusula de não depreciação ao concordar em publicar “Leaving Neverland”

É que, de acordo com o processo, a HBO concordou, em 1992, em dirigir “Michael Jackson em concerto em Bucareste: The Dangerous Tour” e o contrato incluiu um acordo de não depreciação – ou seja, não citar o episódio de abuso sexual ou algo que macule a imagem do ídolo pop. 

O processo procura obrigar a HBO a litigar o assunto em um processo de arbitragem pública e alega que o espólio pode receber U$ 100 milhões de dólares ou mais em danos.