Cleo lança clipe contra opressão e machismo e diz: “Tenho 20 anos de carreira e ainda tentam me deslegitimar”


A artista multifacetada lançou nessa quarta-feira (1) o clipe de ‘Tormento’, realizado em parceria com Karol Conká e AZZY. A faixa une as referências musicais de cada uma delas com toques de pop, funk e trap. Esse será o primeiro lançamento do álbum de estreia de Cleo que está previsto para o primeiro semestre de 2022. E aqui, ela fala sobre a importância da união feminina para romper ciclos de opressão e violência: “Ainda tentam me desmerecer, se engordo, emagreço, porque sou filha de gente famosa. Isso é uma tentativa de tirar de você o poder da sua narrativa. Por isso, gosto de me unir a mulheres, não será a primeira vez e nem a última. É uma forma de romper esse ciclo. Ainda mais com mulheres que são fortes, mas expõem suas vulnerabilidades”

*Por Brunna Condini

Cleo volta ao cenário musical em grande estilo e com uma ‘dupla de elite’. E lançou nesta quarta-feira (1) o clipe de ‘Tormento’, realizado em parceria com Karol Conká e AZZY, representantes femininas do universo do rap e trap. O single, disponível em todas as plataformas digitais, é o primeiro do álbum de estreia da artista, que está previsto para o primeiro semestre de 2022. A música é uma resposta das intérpretes à opressão que o patriarcado exerce sobre as mulheres e como a potência do poder feminino pode romper esse ciclo.

“É sobre a mulher ocupar e exercer o seu lugar dentro da sociedade de forma livre, seja para expor seus desejos, suas ambições ou suas ideias. Gosto de me unir às mulheres. Não será a primeira vez e nem a última. É uma forma de romper esse ciclo de opressão. Ainda mais com mulheres que são fortes, mas expõem suas vulnerabilidades. Estou ao lado de mulheres diferentes, com histórias diversas, mas que se encontram nesse desejo e potência”, diz Cleo.

A cantora salienta que por mais que as mulheres sejam bem-sucedidas em suas áreas, a sociedade machista procura sempre uma forma de deslegitimá-las. “Sou uma mulher com 20 anos de carreira, e ainda tentam me deslegitimar, me desmerecer, se engordo, emagreço, porque sou filha de gente famosa. Isso é uma tentativa de tirar de você o poder da sua narrativa”, analisa a filha Gloria Pires e Fabio Jr.

Cleo entre Karol Conká e AZZY. Elas lançam 'Tormento': a música é uma resposta à opressão que o patriarcado exerce sobre as mulheres, e como a potência do poder feminino pode romper esse ciclo (Divulgação)

Cleo entre Karol Conká e AZZY. Elas lançam ‘Tormento’: a música é uma resposta à opressão que o patriarcado exerce sobre as mulheres, e como a potência do poder feminino pode romper esse ciclo (Divulgação)

No clipe, com direção de Fernando Moraes, as cantoras representam essa força feminina e a retomada das mulheres ao poder e de suas próprias narrativas. O universo em que as três provocam o ‘tormento’ aos machistas e ao patriarcado, é o medieval, período notório por sua deslegitimização e opressão às mulheres na sociedade, ao criar a figura da bruxa, assim como todos os estereótipos negativos associados à ela. “Esse clipe traz muitas simbologias, inclusive de datas que são importantes para cada uma de nós, quem ficar ligado e buscar saber, vai perceber. Cada uma traz um momento forte de opressão ou momentos históricos do movimento de luta das mulheres”, detalha Cleo, que criou o roteiro em parceria com Fernando Moraes.

Cleo: "Cresci em uma super exposição e isso acaba também te dando voz, mas vem muita coisa com isso, ainda mais sendo mulher" (Divulgação)

Cleo: “Cresci em uma super exposição e isso acaba também te dando voz, mas vem muita coisa com isso, ainda mais sendo mulher” (Divulgação)

A cantora também observa a importância de transformar a dor em arte: “Faz parte de um processo de cura. É uma sorte. Como atriz, tinha que me adequar aos personagens, mas conseguia ter uma voz também. Como cantora, compositora, produtora, tem a música na frente, mas estou nua ali”, diz. “Cresci em uma super exposição e isso acaba também te dando voz, mas vem muita coisa com isso, ainda mais sendo mulher. Ser mulher tem suas dores e delícias”.

Assista o clipe de ‘Tormento’:

Aos 39 anos, Cleo é uma das artistas mais versáteis da sua geração: atriz, cantora, produtora executiva, com sua própria plataforma, a Cleo on Demand, em seu IGTV, ela tem produzido vídeos e séries unindo a arte ao viés social, com temas como feminicídio, machismo, homofobia, entre outros. Mais do que criar produtos, ela deseja ser instrumento de transformação no mundo, e também encorajar mulheres e quem sofre com preconceito e opressão. Definindo a empreitada como “uma plataforma de conteúdo de resistência para todas as pessoas que estão sofrendo por sua existência”, a artista continua, agora voltando à música, no mesmo caminho. “Quero empoderar as mulheres. Unidas somos mais fortes. Estou trabalhando em outras músicas, para o álbum que será lançado ano que vem. Há dois anos trabalho nele e veio a pandemia. E entrei em um processo de autoconhecimento, que mudou um pouco o rumo. Queríamos falar sobre as várias facetas da mulher e do ser humano. Mas como a da mulher é mais difícil ainda, estão sempre querendo colocar a gente dentro da ‘caixa’, começamos falando deste renascimento, de uma forma divertida, mas também um pouco sombria”.

"Não aceitaremos mais sermos caladas, objetificadas, colocadas em 'caixinhas', não sermos levadas a sério" (Divulgação)

“Não aceitaremos mais sermos caladas, objetificadas, colocadas em ‘caixinhas’, não sermos levadas a sério” (Divulgação)

Satisfeita com a nova fase na música, a cantora continua detalhando a importância das escolhas neste trabalho. “Falamos sobre ressurgir das cinzas, renascer do machismo, da violência de gênero. Não aceitaremos mais sermos caladas, objetificadas, colocadas em ‘caixinhas’, não sermos levadas a sério. O maior símbolo desse calar mulheres, foi a caça às bruxas. E aconteceram várias formas de queima delas, por motivos pessoais, profissionais. E pensei em nós como bruxas mais modernas e o Fernando Morais entendeu isso, agregou. Para algumas pessoas vai soar pesado, mas vai trazer muita reflexão”. E brinca: “Vão dizer que a Cleo só mata homem em clipe (risos). Na verdade, alguns a gente mata, outros a gente salva (risos)”.

"Falamos sobre ressurgir das cinzas, renascer do machismo, da violência de gênero" (Divulgação)

“Falamos sobre ressurgir das cinzas, renascer do machismo, da violência de gênero” (Divulgação)