Branco Mello celebra 40 anos dos Titãs, em plena forma, após tumor na hipofaringe: “No show, a energia de sempre”


Na turnê comemorativa, ele, Tony Bellotto e Sergio Britto tocam antigos sucessos da banda e de ‘Olho Furta-Cor’, o novo álbum, que acaba de ser lançado, mostram canções como ‘Caos’ e ‘Apocalipse Só’, que abordam questões políticas, de meio ambiente e dos povos indígenas. “O Brasil está triste, violento e polarizado. Ameaças à democracia são inaceitáveis”, enfatiza Branco

* Por Carlos Lima Costa

Uma das principais bandas de rock do Brasil, os Titãs estão celebrando 40 anos de carreira. Para marcar a data, o grupo lançou um novo disco, ‘Olho Furta-Cor’, 17º álbum de estúdio, e já está em turnê de comemoração. Originalmente formado por oito integrantes, ele chega às quatro décadas como um trio: o vocalista, Sergio Britto, o guitarrista, Tony Bellotto e o baixista, Branco Mello. Para este último, estar no palco nesta data emblemática representa uma vitória pessoal. Em dezembro do ano passado, deixou o hospital, após 32 dias de internação, quando foi submetido a uma cirurgia para retirada de tumor em estágio inicial na hipofaringe, recidiva do anterior, que havia sido tratado em 2018.

Branco Mello, recuperado de tumor na hipofaringe, celebra 40 anos dos Titãs, com Sergio Britto e Tony Bellotto (Foto: Tony Santos)

No período em que esteve internado, foi mostrando em seu Instagram a recuperação, agradecendo as boas vibrações, as visitas dos parceiros titânicos e a evolução de seu estado de saúde, como quando contou que já estava “podendo fazer fisioterapia com violão pra exercitar os músculos dos braços”. Em casa, continuou mantendo os fãs e amigos atualizados com todos os progressos e também através de momentos especiais, como o seu aniversário. “Amigos, fiz 60 anos ontem, tranquilo, feliz e em casa. Como sabem ainda estou me recuperando de algumas porradas que levei nos últimos tempos. Estou bem melhor a cada dia. Agradeço de coração as mensagens de todos pelo meu aniversário!!”, postou, em 17 de março.

Branco Mello e a mulher, a atriz Ângela Figueiredo (Foto: Reprodução Instagram)

Assim, foi gradativamente até que, em abril, voltou aos palcos, meio que de improviso, conforme a mulher de Branco, a atriz Ângela Figueiredo, relatou em seu Instagram. “Ainda se recuperando de duas grandes cirurgias, uma em novembro e outra em fevereiro, meu amor foi encontrar seus irmãos titânicos no Rock Brasil 40 anos no Memorial da América Latina. Acabou subindo ao palco tocando várias músicas em estado de pura emoção para sua família e para todos que estavam presentes. Obrigada pela calorosa recepção, apoio e torcida pela recuperação do Branco e sua volta aos shows. Em breve será 100%!!!”, postou ela. O retorno pra valer aos palcos aconteceu em 24 de junho.

CRONISTAS DE SEU TEMPO

Com o mesmo vigor, ele conta o que os fãs podem aguardar dos shows dessa fase festiva dos Titãs e que canções eles não podem deixar de fora. “Os fãs podem esperar músicas novas e clássicos da banda, nova luz, cenário, lindas projeções em vídeo e o mesmo entusiasmo e energia de sempre. Do novo trabalho, já temos duas que não podem ficar de fora. São elas ‘Caos’, composta especialmente pra gente pela Rita Lee, Roberto de Carvalho e Beto Lee, e a música ‘Apocalipse Só’, que abre o álbum e o show. Não deixaremos de fora também os grandes clássicos titânicos desses 40 anos como ‘Epitáfio’, ‘Flores’, ‘Cabeça Dinossauro’, ‘Sonífera ilha’, ‘Homem Primata’, ‘Polícia’ e tantas outras”, conta.

“Os fãs podem esperar o mesmo entusiasmo e energia de sempre”, frisa Branco Mello, ao lado de Sergio Britto e Tony Bellotto (Foto: Tony Santos)

Quando os Titãs surgiram, o Brasil passava por um processo de redemocratização depois do período da ditadura militar. No refrão de ‘Caos’, primeira música lançada do novo álbum, eles cantam ‘hay gobierno soy contra!’. Perguntamos a Branco, então, como ele encara o Brasil atual, as constantes ameaças à democracia. O Brasil regrediu? “Essa frase Se ‘hay gobierno soy contra’ é uma forma irônica de lembrar que seja lá quem estiver no poder, não podemos deixar de questionar, cobrar e fiscalizar. O Brasil está triste, violento e polarizado. Ameaças à democracia são inaceitáveis”, enfatiza.

E como uma espécie de pedido de socorro ao meio ambiente, contra queimadas e devastações, a canção ‘Apocalipse Só’ vem com o canto de um ritual de índios do Xingu. “Ela deixa claro que se não cuidarmos das florestas, rios, meio ambiente, com respeito aos índios, a sua cultura e suas terras, caminharemos todos para um triste fim. Não sobreviveremos”, reforça Branco.

PARCERIA MUSICAL COM O FILHO

Entre as 14 novas canções do álbum produzido por Sérgio Fouad e Rick Bonadio, tem uma parceria de Branco com o filho Bento Mello, o single ‘Como é Bom Ser Simples’. “Compusemos com nosso amigo e diretor de teatro Hugo Possolo que pediu uma música para o encerramento de um espetáculo dirigido por ele. Mas essa música acabou entrando muito bem no repertório de ‘Olho Furta-cor’”, explica.

Seja lá quem estiver no poder, não podemos deixar de questionar, cobrar e fiscalizar. O Brasil está triste, violento e polarizado. Ameaças à democracia são inaceitáveis – Branco Mello

E descreve a emoção de ter o filho seguindo a sua profissão: “O Bento toca guitarra, baixo, compõe, faz produção e toca no Sioux 66, que é uma das melhores bandas de rock da nova geração. Já fizemos ótimas músicas e gravações juntos. Gosto muito de trabalhar com ele e ouvir suas observações sobre música”, ressalta Branco, que é pai ainda de Joaquim, do casamento com Ângela. Em 16 de janeiro deste ano, o titã, inclusive, celebrou essa união em seu Instagram. “Estamos comemorando 33 anos juntos!!! Muito amor!!!”.

Na turnê dos 40 anos dos Titãs, Branco Mello, Sergio Britto e Tony Bellotto cantam novas canções e sucessos como ‘Sonífera Ilha’ e ‘Epitáfio’ (Foto: Tony Santos)

No decorrer dos anos, a parceria amorosa rendeu frutos profissionais. Ângela, por exemplo, organizou as fitas VHS de uma câmera portátil com a qual Branco registrava turnês e bastidores de gravações. O material viria a se transformar no filme Titãs – A Vida Até Parece Uma Festa, lançado em 2008. E Branco assinou a trilha sonora do monólogo 1975, escrito pela uruguaia Sandra Massera, e protagonizado por Ângela.