‘As performances do Cabaret Burlesco têm alto teor de sensualidade, fora do usual’, diz Queen Fairy Adams


O espírito de uma Belle Époque pós-moderna no Clube Manouche nesta sexta-feira com Mon Mon Cabaret Burlesco. Vem conferir!

*Por Jeff Lessa

“Willkommen, bienvenue, welcome! / Fremde, etranger, stranger / Im cabaret, au cabaret, to cabaret!”

“Bem-vindo, amigo, ao cabaré!” É com essa saudação em alemão, francês e inglês que o mestre-de-cerimônias do filme “Cabaré”, estrelado por Liza Minelli em 1972, recebe seus visitantes na Berlim de 1931. E poderia ser assim ainda hoje, pois a essência dessa forma única de entretenimento permanece a mesma desde a Belle Époque, quando surgiu: uma espécie de show que reúne no mesmo palco números de dança, recitação, canto, drama, humor, malabarismo, circo etc. Quem for ao Clube Manouche nesta sexta-feira (24) vai encontrar um delicioso repertório burlesco de cabaré reunido no espetáculo “Mon Mon Cabaré Burlesco”.

O mestre-de-cerimônias da náite será a drag queen Johnny Pink. Como todo cicerone de cabaré que se preza, Johnny tem língua afiada e não poupa comentários atrevidos. O palco do clube, aconchegante anexo situado no subsolo da Casa Camolese, no Jockey Club, será dividido por apresentações das dançarinas Queen Fairy Adams (Fernanda Dalveira, bailarina que mistura a delicadeza da dança clássica à sensualidade do burlesco) e Darkcinammon (que celebra a vida através da dança e de acrobacias); pelo poledancer Jo Mystique, alterego de Igor de Sá, artista que tem no burlesco sua maior fonte de inspiração; e pelo engolidor de fogo, atirador de facas e malabarista Luix Equixx. Ah, em tempo: nenhum cabaré está completo sem a assistente de palco com um eterno sorriso no rosto. Seja bem-vinda, Mavi Gouvea.

Segundo Queen Fairy Adams, as características arquitetônicas do Manouche são determinantes para o estilo dos shows que serão apresentados: “A casa abraça uma forma mais clássica do burlesco. As performances têm um alto teor de sensualidade, fora do usual, e com muitos pontos de humor”, adianta a dançarina.

Ela conta que sua apresentação terá reflexos do balé clássico, “técnica-mãe e primeiro amor artístico”: “Por viver muito a dança clássica, é natural que aspectos dela apareçam nas minhas performances burlescas: a forma de se movimentar, a técnica, o script, onde e como se posicionar no palco. Basicamente, tudo o que eu faço na cena burlesca tem reflexo do clássico. Se eu não fosse bailarina, não existiria Fairy Adams”.

Pois é, todo artista burlesco tem um nome artístico. Para ficarmos apenas em dois exemplos, nos anos 1950 duas das mais famosas performers americanas eram conhecidas pelas alcunhas de Candy Barr (com dois Rs mesmo, que soa, em inglês como Barra de Chocolate) e Tempest Storm (algo como Tempestade Tormenta, em tradução libérrima). No caso das americanas, a escolha é facilmente compreensível: elas eram strippers e queriam nomes que remetessem a diferentes formas de sensualidade (não é necessário explicar, certo? Chocolate, Tempestade…).

Então, como Fernanda escolheu seu nome, que, em português, daria algo como Rainha Fada Adams? “Costumo dizer, brincando, que não escolhi um nome burlesco, e sim que ele me escolheu. ‘Fairy’ é como algumas das minhas alunas de balé me chamam, por eu ser pequena. ‘Adams’ foi sugestão do meu marido, por causa da Família Addams, já que minha personagem tem um pé no dark e no underground”, conta Fer… Queen Fairy Adams, que costuma tentar conhecer os lugares que visita através da cena burlesca: “Geralmente esses locais têm uma cena minimamente viva e atuante. As performances refletem a realidade, a política, o passado e a cultura. É muito interessante conhecer um lugar sob a ótica burlesca”.

'Costumo dizer, brincando, que não escolhi um nome burlesco, e sim que ele me escolheu', conta Fairy Addams

‘Costumo dizer, brincando, que não escolhi um nome burlesco, e sim que ele me escolheu’, conta Fairy Adams

O cabaré surgiu na França do século XIX, onde era uma diversão das classes abastadas. Uma de suas características principais é apresentar shows para uma plateia que bebe e petisca enquanto assiste às atrações. Da França, o cabaré ganhou o mundo. Duas casas parisienses se tonaram ícones. O Moulin Rouge, inaugurado em 1889, foi um dos temas preferidos do pintor Toulouse Lautrec, o que, certamente, contribuiu para criar a aura de glamour boêmio Belle Époque de que a casa vive até hoje. Já o Crazy Horse é bem mais “jovem”. Inaugurado em 1951, celebrizou-se por suas bailarinas seminuas e pelos frequentadores pertencentes ao grand monde internacional, como Alain Delon, Salvador Dalí, Tony Curtis, Onassis e Maria Calla, Karl Lagerfeld e Prince, entre muitos outros que batiam ponto por lá.

O termo burlesco vem da palavra italiana burla, que significa piada, zombaria. Sem uma definição clara, trata-se de uma arte performática, provocante e libertária que já foi muito perseguida, especialmente nos Estados Unidos dos tempos da Lei Seca. De alguns anos para cá, o burlesco vem experimentando uma modernização – o filme “Burlesque”, estrelado por Cher e Christina Aguilera em 2010, é uma testemunha disso.

Queen Fairy Adams, nome burlesco de Fernanda Dalvera, tem influências do balé clássico em seu ato

Queen Fairy Adams, nome burlesco de Fernanda Dalvera, tem influências do balé clássico em seu ato

 

SERVIÇO

Mon Mon Cabaret Burlesco

Clube Manouche. Casa Camolese, subsolo: Rua Jardim Botânico 983, Jardim Botânico – 3514-8200

Sexta (24), às 21h

R$ 60, R$ 40 (ingresso solidário: com um quilo de alimento não perecível) e R$ 30 (meia-entrada)

www.eventim.com.br

18 anos