“Apesar do nosso cotidiano, em meio ao caos, também existe prazer. O som é a prova viva”, atesta Amish


Integrante do coletivo de hip hop, Covil do Flow, conversa com o site Heloisa Tolipan sobre o novo single ‘Favelatown’ que destaca as identidades da maior favela do Brasil justamente em um momento em que a sociedade começa a se perguntar pela segurança e saúde dos moradores de comunidades por conta da pandemia do Covid-19. Vem saber!

*Por Rafael Moura

Uma unanimidade entre os infectologistas do planeta é que uma medida primária para evitar a contaminação pelo vírus Covid-19 é evitar as aglomerações. Daí os cancelamentos em série de jogos de futebol, basquete, shows de música, congressos e aulas nas escolas e universidades. Agora, o que acontece quando você passa os 365 dias do ano vivendo no meio de uma ‘aglomeração’? Essa é a realidade dos moradores das favelas do Rio e de outros estados. O IBGE classifica essas áreas das cidades como ‘aglomerados subnormais’, por falta, na maioria das vezes, de condições mínimas de habitação, saneamento e saúde.

O coletivo de hip hop Covil do Flow, na Rocinha, pelas lentes do inglês Gwilym Lewis-Brooke (Imagem: divulgação)

A maior favela do Brasil, a Rocinha, conta com cerca de 80 mil habitantes que trazem muitas histórias para formar esse grande quebra-cabeça cultural, que se destaca na paisagem da Zona Sul carioca. E mesmo com essa pandemia, o coletivo de hip hop, Covil do Flow, que almeja mudanças para a sua comunidade, acaba de lançar o single ‘Favelatown’, que sintetiza o lado alegre e festivo da região. “Apesar do nosso cotidiano, em meio ao caos, também existe prazer. Este som é a prova viva”, atesta Amish, um dos integrantes dessa squad, ao site Heloisa Tolipan. O som ganha cor e forma pelos olhos do diretor inglês Gwilym Lewis-Brooke com colaboração de uma equipe local formada por jovens profissionais do audiovisual.
O single ‘Favelatown’ foi mixada pelo hitmaker da nova geração carioca, Luiz Café, acionando um lado do hip hop cheio de frescor e tropicalidade que mergulha nas bases do reggaeton, ragga e rap. O resultado é uma faixa dançante e muito quente. “O videoclipe mostra imagens boas que também acontecem no cotidiano de quem mora na favela. Para aqueles que nunca tiveram a oportunidade de visitar uma favela, esta é uma ótima forma de estar naquele lugar sem sair de casa”, explica Rogi, integrante do grupo.
O grupo criado em 2011, na Rocinha, nasceu em um estúdio caseiro montado no quarto do jovem artista independente Jefferson Rodrigues a.k.a. Nice, que já chegou cheio de determinação e habilidades autodidatas. Assim, sua ideia se expandiu e expoentes da música começaram a visitar e a gravar mostrar seus talentos. O que faltou foi só reunir a tropa pesadona para dar vida a esse coletivo multitalentoso formado por: Jefferson Rodrigues (Nice), Victor Oliveira (VT), Josinaldo Galdino (Nalk), Igor Andrade (ROGI), Caio Bittencourt, Luam Marcelino (Marcelino), Victor Vergeti (Ami$h), Anderson Pontes (Pescada), Sean Nammock (Same Old Sean), Lucas Marcelino (MDG), Wagner Ventura (W), lançando seu disco ‘Primeiro Ato’, em dezembro de 2018.

O coletivo de hip hop Covil do Flow quer mostrar que a Rocinha traz belezas e alegrias (Foto: Gwilym Lewis-Brooke)

Hoje, os meninos colam bem próximo dos ritmos jamaicanos, como o raggamuffin, pelas mãos do inglês baterista de rock, Zak Starkey, e da australiana de voz afiada e retórica punk, Sharna “Sshh” Liguz, conhecidos mundo afora como dupla fundadora do selo TROJAN JAMAICA. Ele anunciaram no início de 2020, o lançamento do TROJAN BRASIL, o braço latino-americano da label. E é claro que os onze crias estão nesse barco como a primeira aposta nacional. Uma curiosidade é que a dupla conheceu a Rocinha, em junho de 2019, por intermédio do empresário do coletivo, Same Old Sean, que é rapper, irlandês, e atualmente reside na comunidade.

O coletivo Covil do Flow é a primeira posta do selo Trojan Brasil (Foto: Gwilym Lewis-Brooke)