“Medicina, advocacia, administração e engenharia, são objetivos nobres e necessários para manter-se vivo. Mas a poesia, beleza, romance, amor… é para isso que vivemos” – Sociedade dos Poetas Mortos
Os números de participantes, estandes, marcas e compradores foram altos. Além da grande estrutura envolvida em realizar o Minas Trend, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), e os números, está também a força que move quem assiste, quem sente e quem faz: a poesia. Nada seria possível sem ela e a moda é seu traço, um dos seus ramos que seguem infinitamente, tomando o próprio caminho, sem discriminações e renovando-se a cada instante. O Minas Trend é a moda em poesia e em inovação e, durante a última semana, vimos de perto a moda autoral, com amor, pensando o hoje e o amanhã, o agora e o para sempre. As lentes da integrante do site HT Anna Castro trazem sua visão de um evento plural, colorido e vivaz, em que as imagens são capazes de registrar flagrantes da transformação da moda acontecendo diante dos olhos.
Já começa na correria do backstage: modelos conversam entre si, estilistas e stylists sorriem e andam aflitos, aguardando o momento em que se concretiza o trabalho de uma vida. O desfilar na passarela também é poesia: a fluidez de tecidos que deslizam com a modelo, a luz que reflete o brilho intenso, seja na maquiagem ou nos acessórios, o caminhar que até parece estar em câmera lenta, enquanto todos levantam seus rostos e celulares para captar o máximo possível em segundos. O desfile de abertura refletiu perfeitamente o sentimento de inovação. O cenário era imersivo, então era comum sentir-se dentro de um mundo único. Os contêineres coloridos estavam espalhados em volta da passarela, na luz baixa, formando silhuetas do que nos lembrava uma cidade lúdica e em sintonia com a engrenagem de todos os setores da moda.
E o novo diretor criativo da 23ª edição do Minas Trend, Ronaldo Fraga, trazia a passarela preenchida pelos talentos autorais. E podíamos ver poesia em cada história que permeava tecidos, tramas e sobreposições. Era certo sentir-se próximo da passarela. Ela era o chão, no mesmo nível de quem assistia, como se quisessem nos dizer que também fazíamos parte daquele desfilar. A moda interagindo diretamente com os consumidores. Ainda é icônica, mas é um abraço, um grito de união de novos designers e de uma lista infinita de parcerias que fizeram o sonho ser possível, invertendo todas as ordens. Ronaldo Fraga subverteu e mostrou o retrato da união, da sustentabilidade, do real, do agora e do futuro. A indústria da moda, como ele mesmo já disse, não se mantém estática. A perda do conceito antigo de tendência toma ainda mais visibilidade: não é mais passageira, queremos algo que marque história, que pense o agora e o amanhã, que nos fale sobre identidade, que inclua, diversifique e nos entregue a sensação de estarmos unidos pela paixão por esse mundo. “O momento é o de pensar de outro jeito. A moda para sobreviver, tem que ir além da roupa e, por isso, pensamos no Minas Trend para a próxima década. Em 2030, ao falarmos da 23ª edição, veremos que fizemos história e trilhamos caminhos onde ninguém antes havia pisado”, salientou Ronaldo Fraga, que pretende levar esta discussões para as próximas edições do evento.
Diversos espaços do evento, realizado no Expominas, pela primeira vez, abriram-se para o público e não apenas para compradores. Exposições, a loja Nômade, o espaço gastronômico… são momentos imersivos em que o público pôde conhecer tecnologia, inovação e moda. Adolescentes e jovens foram vistos fotografando com amigos nos contêineres coloridos, explorando cada canto, conhecendo um mundo diferente. Enquanto conversávamos com Ronaldo Fraga, estudantes de moda apareciam querendo uma foto, uma conversa e um abraço do visionário estilista. A troca de quem está começando com quem já possui uma carreira consolidada é forte, marca uma união jamais vista de que de forma alguma nega aprendizado e democratização do espaço. Na passarela, modelos trans, com vários shapes, negras, com cabelos curtos, crespos, longos. Em cada traço, uma identidade reafirmada. O diverso representa o espelho que é encontrar a si mesma naquele espaço. Agora, ela se aproxima, ela está ao seu toque, de tal forma que é possível sentir a brisa que o andar na passarela proporciona. E a identidade visual imprime exatamente esta ideia de fugir do efêmero e comum. Foi idealizada pelo próprio Ronaldo Fraga em parceria com Paola Menezes, da agência Árvore de Design. As imagens relembram tatuagens que ocupam os corpos como uma roupa imaginária. O primordial, sendo assim, é impulsionar a discussão do setor têxtil do presente de olho no futuro. “A partir do traço que marca a pele, defendemos aquilo que fica para sempre e nos apresenta para o mundo através das marcas que podem ser tatuagens, rugas, curvas do corpo e, claro, as suas roupas. Passados 10 anos, você não vai lembrar quanto lucrou neste ano, mas se você deixou marcas, se você fez parte de um processo de transformação e então sentirá orgulho de ter feito parte dessa história”, salientou o diretor criativo
A diversidade é vista na moda mineira e de tantos outros estados, como Alagoas que ganhou um desfile exclusivo. Forte, voraz e orgulhosa. Não há papas na língua ao dizer que Belo Horizonte é capital da moda e mostra sua força no país. Alagoas atravessou o Brasil até Minas e chegou com os brilhos nos olhos de quem também tem orgulho da própria identidade. Era visível: as peças alagoanas nos levam até a cultura nordestina, até o cantos mais diversos, fora do estereótipo e da visão limitada de quem vem de fora. Com elementos que nos mostram a areia, as águas, a flora e a fauna, os símbolos culturais e sociais, Alagoas trouxe vida. Lá nos anos 90, com o poderio das semanas de moda do eixo Rio-São Paulo, ninguém imaginaria a simbiose feita em uma passarela tão próxima do contato do público, com tanta troca entre estilistas e a beleza do diferente como protagonista como presenciado no Minas Trend.
De narrativas que parecem livros de ficção até drag queens estrelando a trilha sonora de um desfile: cada momento é único e Ronaldo Fraga deixou claro que não há como voltar atrás no caminho da diversidade. É um portal que só pode continuar em frente e todos os avanços que levaram décadas para acontecer, como a democratização da moda, belezas diversas na passarela, incentivo pela moda legitimamente autoral, não regridem e nem podem. O mundo caminha para o espaço de união e integração de soluções responsáveis, da sociedade e do amor nas diferentes áreas que estão presentes no cotidiano, desde acordar e usar água para tomar banho até usar um vestido que caiba em um manequim 52, porque a marca é inclusiva e fez uma revolução no seu funcionamento para abraçar diferentes corpos. O mundo demanda por isso e o Minas Trend pensou na frente, no além-mar da moda e o caminho infinito até a inclusão de corpos, ideias e regiões.
Hoje, ao pesquisar na internet qualquer movimento artístico e fashion, você encontra datas, fotos, dias, definições e cores. Daqui há 30 anos, ao pesquisar a moda brasileira, talvez se encontre essa descrição e textos daqueles que documentaram a história de um dos setores essenciais da indústria da moda sobre o novo Minas Trend. Ao estudar a 4ª revolução industrial na escola, a moda estará lá. Ao estudar sociologia e comportamento, ela também estará lá. Sempre foi e será um retrato e um reflexo do que uma sociedade é diante do seu contexto histórico. E se caminhamos para a inclusão e a troca entre todos os lugares do Brasil e do mundo, é porque estamos caminhando certo. Obrigada, Minas Trend, nós nos veremos no futuro.
Artigos relacionados