Jackson Araujo lança livro sobre Economia Afetiva: “Estamos aqui aprendendo novas formas de interação na moda pautadas pelo respeito, empatia e diversidade”


O consultor criativo e de tendências reuniu, a partir de seu projeto Trama Afetiva - Uma experiência em upcycling, textos e imagens em “Economia Afetiva: Aprendizado para o Futuro”, livro baseado na construção de novos aprendizados no que envolve a moda em um futuro preocupante e na Economia Afetiva. “É uma perspectiva de mercado que potencializa a importância do ganho coletivo, ao invés do individual”, conta Jackson

“A moda é narradora do tempo”. O consultor criativo Jackson Araujo já faz essa afirmação há tempos e tem observado o caminho para o futuro de outra forma: coletivamente. A partir do seu ideal de futuro, de anos de pesquisa no mercado da moda, de tendências e de colaborações que trouxeram vida a uma ideia, Jackson criou  “Trama Afetiva – Uma experiência em upcycling”, rede de relações que busca ir além do convencional conceito de moda, patrocinada pela Fundação Hermann Hering, onde Jackson orienta grupos multidisciplinares para a construção de soluções inovadoras com foco em sustentabilidade para a indústria têxtil e de moda. No ano passado, ele fez a curadoria da exposição Trama Afetiva, lançada no MADE – Mercado, Arte, Design, no Pavilhão da Bienal (SP), e posteriormente mostrada no Youtube Space Rio e no festival MECAInhotim. “Estamos convocando a indústria, o varejo e a sociedade como um todo a se aproximar das novas relações de criação, produção, educação e consumo, criando zonas permeáveis com outras áreas de conhecimento em suas abordagens mais profundas sobre o design a partir da escassez, das necessidades vitais, das relações com o desperdício e respeitando também a inclusão”, explicou o consultor.

Jackson Araujo, com mais de 30 anos de pesquisa no mercado, criou o projeto Trama Afetiva para pensar a indústria da moda com sustentabilidade (Foto: Marcelo Soubhia/ FOTOSITE)

A abertura do projeto foi realizada em agosto e teve como fio condutor a Economia Afetiva, um olhar de mercado que visa como o ganho coletivo é essencial, pautando o valor do desenvolvimento coletivo em produtos inovadores e disruptivos, além da construção de relações sólidas e horizontais. Um questionamento da antiga ideia de moda autocrática, verticalizada e exclusiva, como contou na palestra a convite do TEDxBlumenau Salon Moda. Segundo Jackson Araujo, o foco é criar voz e fazer ecoar temas urgentes. “Nosso principal desafio é a construção de relações sólidas e transformadoras para o desenho aplicado de um mundo mais humano, buscando o engajamento das pessoas na causa da sustentabilidade a partir do autoconhecimento e do aprendizado pelo outro. Nós precisamos pensar a inclusão de diferentes corpos e discursos, que perdem visibilidade como consequência de uma estrutura eurocêntrica e seus padrões de beleza e discursos anacrônicos”, revelou.

A ideia é transmitir com clareza e falar com muitos. Para Jackson, jornalista, consultor criativo, fotógrafo, autor de trilhas de desfiles, escritor, a moda não é mais só pela roupa em si, mas pelo comportamento e as consequências em um futuro que já chegou. Pensar sustentabilidade, redução de resíduos, responsabilidade social e econômica é parte do processo em direção ao futuro. Em um dos painéis sobre lixo ou desperdício durante a Trama, Dani Leite afirmou: “Entender o lixo é compreender o homem. O que descartamos revela quem somos”. Além disso, o músico e artista visual Peri Pane também colocou grandes questões durante o evento. “É o momento de repensar os paradigmas da nossa sociedade em que ter é melhor do que ser”, disse.

E Jackson também segue essa linha de pensamento. O cearense viu a moda chegar cedo em sua vida. Quando criança adora observar a mãe costurando e amava as revistas de moda que ela comprava. Atualmente é consultor no SENAI Brasil Fashion, projeto promovido pelo SENAI CETIQT; foi premiado como crítico pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção e por 15 anos trabalhou com o estilista Lino Villaventura. Em 2007, transformou o olhar nas tendências em profissão, quando foi convidado pela Box1824 a analisar o comportamento de consumo na moda, como consultor criativo. São mais de 30 anos dedicando-se ao estudo do mercado da moda, que está em constante mudança, e que o levou até a Economia Afetiva. “Partindo desse princípio, percebemos que não poderíamos abordar somente linhas de pensamento que tratassem a moda pelo viés das roupas, mas pelo caminho do comportamento, trazendo para as discussões aqui apresentadas e vivenciadas, por esse time plural de visões bastante complementares de trameiros, palestrantes, designers-tutores e especialistas, uma gama de temas convergentes quando se quer buscar soluções inovadoras para os desafios complexos que nos cercam”, contou.

Leia aqui: SENAI Brasil Fashion: “É um ponto de partida para a construção de um novo mercado de profissionais da moda”, contou Jackson Araujo sobre o projeto

Jackson Araujo é consultor criativo do SENAI Brasil Fashion e pesquisa moda feita coletivamente (Foto: Anna Castro)

Inovações a partir do antigo

Pensando na disseminação do assunto, o consultor desenvolveu o livro “Economia Afetiva: Aprendizado para o Futuro“, em parceria com Luca Predabon. E, inspirados por Marcelo Resenbaum, com sua metodologia Design Essencial, o objetivo é criar “uma ponte que liga conhecimentos ancestrais e conhecimento científico, tradição e inovação, impactando positivamente no processo de educação e cidadania”. “Nós valorizamos a análise crítica, o conhecimento e a aprendizagem coletiva para co-criar, produzir e transformar novas relações de consumo em novas formas de viver”, frisou.

As fotos a seguir fazem parte do resultado criativo da Trama Afetiva, que reuniu 10 profissionais e estudantes para participar de uma imersão criativa desenvolvendo novos produtos a partir de resíduos têxteis da Cia. Hering. O resultado, de produção coletiva, são 25 produtos de sobras de malha de algodão, com direção criativa de Jackson e Luca, além de tutores como Alexandre Herchcovitch (À La Garçonne), Marcelo Rosenbaum (Instituto A Gente Transforma) e Itiana Pasetti (Revoada).

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A ideia veio para se misturar e agregar ao slow fashion e ao fashion revolution, movimentos fortes das novas mentes que fazem esse mercado. “Não existe mais pensar sobre fazer moda sem ser sustentável em um sentido bem amplo. Não só em economizar a água, a energia, não gerar lixo e ter processos mais inteligentes, mas, sobretudo, colocar as pessoas no centro do processo. Não existe mais ‘eu faço sozinho’ ou ‘faça você mesmo’ que a moda tanto pregava. É um conceito muito velho e totalmente fora de uso. Hoje, o que eu procuro incentivar é fazer com os outros e para os outros”, comentou.

O legado que fica? Jackson acredita na conexão. “É a construção de uma rede sólida de pessoas que se conectam a partir da descoberta de projetos bem sucedidos e diálogos com processos produtivos circulares e relações de consumo mais conscientes, no intuito de gerar abundância de recursos e impacto positivo, experimentando muitas possibilidades e polinizando novas ideias”, confirmou. Ainda sobre o assunto, Jackson leva em seu discurso a importância da consciência, como os ensinamentos de Paulo Freire. “Quando fazemos certas escolhas, precisamos adequar discurso e prática, dando a devida atenção aos fenômenos que nos cercam, às novas relações que se estabelecem e à responsabilidade que passamos a ter com a divulgação do conhecimento adquirido. Que possamos ser, também em formato de publicação, uma ferramenta de aprendizado para o futuro”, afirmou.

O livro “Economia Afetiva: Aprendizado para o Futuro” está disponível para download aqui e as ideias de Jackson Araujo no Medium.