Zaz no Circo Voador: a cantora conquista o público com seu pop-jazz e levada que vai de Edith Piaf a Carla Bruni


Deliciosamente novo para os novos e imensamente retrô para os mais velhos, o repertório da artista defuma a aura careta da música francesa que ela apresenta, agora, reciclada!

* Por Tatiana Magalhães

Puro êxtase. Essa foi a palavra melhor definiu a noite desta quinta-feira (20/3) para o público que assistiu o show da cantora francesa Zaz, no Circo Voador, Rio. Nascida Isabelle Geffroy em 1º de maio de 1980 em Tours, na França, essa taurina traz para seu repertório a tenacidade característica de quem nasceu sob a influência dos signos de terra. Nos anos 1990, estudou teoria musical, canto, piano, violino, guitarra e canto coral com a mesma entrega com que praticava esportes e se dedicava ao kung fu. Tudo junto e misturado, com convém a alguém com a intensidade de um touro.

No Rio, a plateia em geral já acreditava que seria um bom show. Praticamente todos esperavam por isso. Ao ouvir o seu último CD, “Recto Verso”, lançado em 2013 (o primeiro trabalho da artista, que leva o seu nome, é de 2010), é possível perceber que existe ali alguma coisa diferente, que flutua de Edith Piaf ao Nouvelle Vague. Mas, a experiência de um show ao vivo traz um quê a mais, reafirmando com muito mais força a evidência de que a cantora sabe misturar chanson française com soul, gipsy jazz e até uma pinceladinha de Serge Gainsbourg,  tornando tudo muito mais impregnante no palco. Além disso, ela consegue, junto com sua banda – formada basicamente por alguns violões, um acordeon e um contrabaixo – reinventar o tempo todo o próprio som que se dispõe a fazer. Músicas com “Comme ci, comme ça”, “Gamine” e “Le lessive” podem até lembrar, inclusive, o tipo de música que a ex-modelo Carla Bruni conseguiu emplacar na parada musical quando aumentou sua visibilidade como Sra. Sarkozy. Só que a contundência, no caso de Zaz, é infinitamente maior e algumas de suas músicas têm uma levada que pode evocar Charles Aznavour e até a trilha sonora de “Amélie Poulain”. E sua aura pop e refinada releitura retrô são capazes de até mesmo de fazer o público mais velho se esquecer de que seu estilo de música teria pecha de cafona, caso a cantora tivesse entrado em uma máquina do tempo rumo a 30 ou 40 anos atrás. E, tirando um pouco da batida oitentista do segunda, a maneira de Zaz cantar lembra ainda um pouco a caretice de Desireless, outra francesa que conquistou o mundo com “Voyage voyage” em 1986 e que, passadas três décadas, se tornou cult.   

zaz show circo finalZaz no Circo Voador: experiência única (Foto: Tatiana Magalhães)            

Portanto, o que torna Zaz e sua banda uma experiência imperdível é justamente isso: o aspecto peculiar e original de sua sonoridade, assim como a forma como envolve o público, quase lisérgica, prendendo a atenção de todos quase como se fosse um ritual religioso. Ela é passível de seduzir desde os mais velhos, que encontrarão nova graça em um som que lembra ecos do passado, até as novas gerações, pouco acostumadas a esse tipo de som, que considerarão uma novidade. A leveza e a força estão presentes simultaneamente durante todo o show, aliás, fazem parte desse espetáculo. Ou melhor, compõem a genuína essência dele. Com, certeza, quem pode degustar sua música na noite de ontem já não é mais a mesma pessoa. De uma maneira ou de outra, quaisquer que sejam suas impressões pessoais, já é uma outra criatura. Ela ainda vai dar muito que falar.