*Por Brunna Condini
Ninguém mais vai ‘voltar para o armário’ ou aceitar a invisibilidade social de outros tempos. Ninguém vai mais dizer aos outros como e quem amar. Por isso é tão importante celebrar dias como o da Visibilidade Lésbica, comemorado em 29 de agosto. A data foi escolhida em razão do 1º Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE), que foi realizado em 1996. É um dia dedicado a discutir políticas públicas de combate à lesbofobia e dar visibilidade à comunidade lésbica no Brasil. Em entrevista exclusiva ao site, Vitória Strada fala de representatividade e do amor (imenso) que sente pela noiva, Marcella Rica. “Tenho muito orgulho do meu relacionamento que é repleto de respeito, parceria e amor. Tenho orgulho de ver meninas se inspirando em nossa história e buscando viver as suas verdades, os seus amores, as suas paixões. Orgulho de ver mais mulheres e homens lutando pelos seus espaços e exibindo suas parceiras e parceiros. Acho que o ser humano é muito complexo para ser resumido em categorias, em ‘prateleiras’. Tenho muito orgulho de viver a minha verdade”.
Você já compartilhou que sua família adora a Marcela. Mas como reagiu em um primeiro momento à relação, e posteriormente, à notícia do casamento de vocês? “Meu amor pela Marcella, inicialmente, foi uma surpresa para mim também (risos). Mas como eu nunca escondi nada dos meus pais, contei a eles como eu falaria sobre outro relacionamento qualquer. Disse que estava apaixonada. Eles se dão muito bem e costumam afirmar que a Marcella é um anjinho na minha vida. E é mesmo”.
A atriz afirma ainda que denunciar qualquer tipo de preconceito ou agressão em relação aos LGBTQIA+ é preciso e exalta a criação do Dia da Visibilidade Lésbica. “Raramente vejo um comentário preconceituoso. Não é nada comparado à enxurrada de amor e carinho que recebo. Nas internet, eu ignoro, porque são pessoas que não merecem a minha atenção. Elas são infelizes e estão ali para destilar ódio. E esse sentimento diz mais sobre elas mesmas do que sobre mim. No dia a dia, nunca aconteceu, mas se acontecesse, com certeza, denunciaria. Não podemos nos calar. A luta de uma é a luta de todas. Foi colocando a voz no mundo que conquistamos diversos direitos, inclusive o direito de eu ser livre hoje para viver um amor tão lindo”.
Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade que precisa ser educada para que se combata o preconceito. O que não dizer à uma mulher lésbica? “Existem tantas frases que escutamos e que são machistas e desrespeitosas, tipo ‘pena que não gosta de homem’ é uma delas. Pena para quem? Tem também aquela clássica: ‘Quem é o homem da relação?’. Amor, não tem homem nessa relação. Esses dias escutei “mulher de amigo meu para mim é homem”. Incrível como os homens acham que estão sendo respeitosos dizendo isso. Então, para você não dar em cima de uma mulher e respeitá-la, ela tem que ser um homem para você? Enfim, são muitas coisas que ouvimos e a verdade é que devemos educar as nossas crianças para criarmos pessoas menos machistas. Tanto homens como mulheres”.
O casamento delas
Vitória e Marcella ficaram noivas durante a pandemia, o que não tem possibilitado muito planos concretos para a cerimônia a curto prazo. “Ainda não decidimos nada, acredita? Queremos que a vacinação avance primeiro. Desejamos ter as pessoas que amamos com a gente, mas com segurança. Não tenho uma cerimônia ideal na minha mente. Quero que ela represente o meu relacionamento com a Marcella e que seja repleta de significado, e que as pessoas que estejam com a gente vivam um momento mágico”. E completa, pensando nos ‘votos’ que faria para sua amada no momento do ‘sim’: “Quero escrever algo que ela e as pessoas se emocionem escutando. Marcella significa muito pra mim e o desejo de casar, mais do que ter uma cerimônia e seguir uma ‘regra’, é o de compartilhar a vida com ela. Planos, sonhos, as felicidades e as tristezas”.
E revela sobre a possibilidade de uma família com filhos ao lado de Marcella: “Estamos na fase de curtir a nossa casa, o nosso cantinho, que estamos decorando. Sou muito nova (24 anos), então ter filhos é algo que eu penso muito para o futuro. E quando esse momento chegar, aí sim pensaremos na forma de realizar esse desejo”.
Os planos dela
Com o fim de ‘Salve-se quem Puder’, papel que considera um divisor profissional, por ser o primeiro cômico, Vitória afirmou ter vivido uma espécie e ‘luto’ com o encerramento da novela. “Marcella diz que mudei com esse papel. Mudei com a Kyra e foi ótimo (risos). Isso acontece quando estou envolvida com as personagens”. Ela conta que está ansiosa para voltar a trabalhar: “Se dependesse de mim, eu emendaria um trabalho no outro. Tiraria só uns diazinhos de férias e já estaria gravando (risos). Ainda não tenho nada concreto para falar, mas em breve espero ter novidades para dividir com vocês. Também tenho o desejo de fazer algum trabalho com a Marcella”.
A atriz também reconhece que o período não tem sido fácil, com tantas apreensões, mas tem estado atenta, acolhendo e sentindo-se acolhida. “A saúde mental é um tema muito importante para discutirmos, principalmente nesse último ano. A pandemia nos afetou. Pessoas queridas partiram, notícias aterrorizantes nos jornais, o mundo parado, pessoas sem teto e trabalho… se você tem empatia, é impossível não ter se abalado de alguma forma com o que aconteceu. Somos muito privilegiadas por ter nosso trabalho, nosso teto e uma à outra. E eu sei que muitos não tiveram e não têm isso. Marcella foi meu porto seguro nesses dias de tantas incertezas. A gente se acolheu e cuidamos uma da outra, respeitando nossos momentos, sempre”.
Artigos relacionados