*Por Fernanda Quevedo
É Má, de Maíra e ela não é uma personagem. É uma mulher real, mãe, nordestina, negra, gorda, humorista e jornalista. Na semana em que o Instagram ocultou os likes nas publicações, o site HT conversou com a baiana Maíra Azevedo, conhecida nas mídias digitais como Tia Má. De maldade, ela não tem nada. Pelo contrário. Seu humor crítico e altamente inteligente conquistou quase 400 mil pessoas na internet. A ação do aplicativo rendeu dezenas de debates que vão desde a qualidade de conteúdo digital e a exposição social exacerbada, ego e solidão. Maíra falou conosco sobre a influência da internet na vida das pessoas, importância do ativismo digital e até de novelas, um assunto que todos nós gostamos e que aliás é pautas recorrente no perfil de suas redes sociais.
“Tira o sapatinho e bota o pé no chão” é só uma das expressões que ela utiliza para contribuir com a conscientização sobre racismo e machismo no meio digital. “Acredito que quem produz conteúdo de verdade, não vai sentir muito essa diferença imposta pelo Instagram. As pessoas que me seguem, não me acompanham por causa da quantidade de likes, mas pelo conteúdo”, comenta Maíra, além de ponderar uma questão importante: “Entendo que aquela quantidade massiva de ‘amei’ é como se fosse um oásis para pessoas que estão em estado de solidão, e acabam substituindo o afeto real pelo virtual”.
A internet deu voz para muitas pessoas, com opiniões, origens e culturas, mas para Maíra, o espaço digital ainda precisa de mais diversidade. Sobre a democratização da produção de conteúdo, Tia Má é enfática: “A internet possibilitou que pessoas possam expressar seu ponto de vista e isso é fantástico. Em todos os lugares que eu vou, sempre digo que as redes sociais devem ser ocupadas, para que possamos ter uma heterogeneidade ainda maior de posicionamentos sobre qualquer assunto, afinal ela é restrita e permeada por uma cultura branca e machista”.
As redes sociais também foram destaque em um dos capítulos de maior audiência da novela das 21 horas na Globo, “A Dona do Pedaço”. A influencer digital Vivi Guedes, interpretada por Paola Oliveira, foi abandonada no altar como parte da vingança do ciumento (e abusivo) noivo que havia sido traído dias antes do casamento. Ele desejava acabar com o trabalho da modelo, mas ela bateu 1 milhão de seguidores, marca almejada por Jô (Agatha Moreira), parceira de trabalho, que por sua vez, compra likes para o seu Instagram. “A teledramaturgia sempre vai refletir um pouco da nossa realidade. Ela é diversa, mas, ainda hoje, não reflete com precisão o que acontece na vida real. Eu não entendo, por exemplo, os seguidores de tragédias e desgraças humanas. Há também aqueles que visualizam a internet como impulsionador de sucesso e ganhar dinheiro fácil e não é bem assim”, destacou Maíra sobre a influência da internet e da TV, no comportamento social.
Outra personagem da novela que foi tema de uma das publicações da humorista foi Maria da Paz, protagonizada por Juliana Paes. A jornalista destacou a pressão social pelo casamento e as relações abusivas. “O medo da solidão, a necessidade de ter um homem ao lado, de anunciar para o mundo que tem um compromisso faz muita mulher independente, bem resolvida financeiramente, bonita, inteligente cair em ciladas afetivas. O que acontece em a #adonadopedaço não é apenas ficção. É vida real. O desespero para sair das estatísticas faz muitas de nós aceitarem qualquer coisa. E até mesmo caírem em golpes. Existem homens que se organizam para lesarem mulheres carentes. São verdadeiros psicopatas afetivos. E, por mais, que se sintam seguras, nenhuma de nós está imune de se envolver com um escroque desses. Porque, devido a nossa sociedade machista e patriarcal, mulheres são educadas e estimuladas a terem e manterem relacionamentos. Por isso, antes de esperar o ‘eu te amo’ do outro, fale e repita para você mesma”, afirmou Maíra em seu perfil no Instagram.
Maíra é assertiva ao falar sobre a representação da mulher negra não só nas novelas, como em outros meios televisivos de entretenimento. “Se você olhar bem os corpos e os rostos, as mulheres negras da teledramaturgia ainda não reflete a realidade. Ou somos sub representadas ou não somos representadas A pressão que fazemos nas redes sociais, pode repercutir no mundo real e também nas novelas. É por isso que encabeçamos campanhas para ter mais caras e corpos pretos na internet e na televisão. Estamos caminhando para isso e esse é um processo permanente de construção”, destacou.
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