*Por Karina Kuperman
Dançar, filmar longa-metragem, ensaiar teatro, carnavalizar. A rotina do ator, cantor e bailarino Victor Maia é intensa. Coreógrafo do quadro “Lata Velha”, do “Caldeirão do Huck” há sete anos, ele divide seu tempo entre o trabalho no semanal, os ensaios para o espetáculo musical “Company”, da Broadway, que estreia no dia 29 no Sesc Ginástico, no Rio de Janeiro, e as filmagens do longa “Quem vai ficar com Mário”, com estreia prevista em novembro, em circuito nacional. “Eu estava em cartaz, como ator e coreógrafo, no musical ‘Meu destino é ser estar’, ao som de Lulu Santos. Na peça, vivi um dançarino gay e muito ácido. O diretor do filme, Hsu Chien, um tailandês residente no Brasil, nos assistiu e gostou do meu trabalho e me convidou para ‘Quem vai ficar com Mário‘. Ele me viu em cena, viu que eu podia ser o Kiko”, conta.
Seu Kiko é ator de uma companhia modesta. “Ele é muito afetado no sentido feminino. Além dele, tem outros dois atores na companhia. Somos um trio engraçado, mas passamos por uma transformação repentina ao ficarmos hospedados na casa de um homem machista e homofóbico. Temos que fingir que não somos gays. São situações hilárias. Foi um presente, porque eu nunca tinha feito cinema até então”, comemora. “No primeiro dia de set eu tive febre, só conseguia tremer, de tão nervoso! Mas fui muito bem recebido pela equipe, pelo Hsu, que é diretor, pelos meus colegas de elenco. A Nany People foi uma madrinha, o Felipe Abib, o Daniel Rocha… todos me ensinaram sobre câmeras. É muito diferente de teatro, mas eu estava muito bem amparado e feliz de estar fazendo aquilo”, garante.
Além disso, ele coreografa e atua no musical ‘Company’, uma versão brasileira da peça de sucesso nos Estados Unidos. “Essa peça já esteve em cartaz no Brasil, com assinaturas de Möeller e Botelho, mas eu não tive a oportunidade de assistir. Agora está sendo divertidíssimo. É uma comédia musical que se passa no final dos anos 70, início de 80, mas super atual. Fala sobre relações, sobre ser solteiro, se descobrir. Tudo em meio a canções lindas, dificílimas, escritas pelo Stephen Sondheim, que é um mestre dos musicais. Está sendo um trabalho incrível”, comemora. “Eu costumo dizer que musical é a síntese de três. Uma tríade entre atuar, cantar e dançar. Isso é sempre desafiador, uma musculação. Nós somos atletas, temos que ter vida regrada para dar conta do trabalho de sete sessões por semana”, explica.
Além disso, Victor dedica boa parte do seu tempo a ensinar dança para amadores no “Lata Velha”. “Ser coreógrafo desse quadro é uma responsabilidade gigante, porque eu lido com pessoas que não têm referências ou experiências artísticas, mas temos que apresentar um trabalho artístico para o Brasil e para o mundo, na Globo Internacional. Mas eu tenho muito prazer em ver a transformação que os participantes sofrem durante os ensaios. Eles saem diferentes. Ali vejo a arte transformando a vida das pessoas, isso é sempre muito positivo”.
Victor também já coreografou o especial “Criança Esperança” em 2018 e 2016, e o programa “O Estanho Show de Renatinho” realizado pelo canal Multishow, com Tatá Werneck. Em 2014, ele foi também preparador corporal e coreógrafo no quadro “Artista Completão” no programa “Domingão do Faustão”, na TV Globo. Em 2019 foi preparador teatral da comissão de frente da Mangueira, campeã do carnaval. “Durante dez anos fui bailarino da comissão de frente, participei da Unidos da Tijuca naquele tempo áureo da troca de roupa, cabeças que caíam, sanfonas… também estive na Vila Isabel, na Grande Rio junto com Ivete (Sangalo)”, lista. “Nesse ano resolvi me aposentar, mas surgiu um convite incrível dos coreógrafos da Mangueira me pedindo pra fazer a direção teatral da comissão de frente, dos ditos heróis do Brasil. Foi emocionante. A Mangueira é uma escola de muita tradição, do coração do meu pai. Achei que seria uma linda forma de homenageá-lo e me despedir de uma vez por todas do carnaval, com uma escola tão emblemática. O resultado não poderia ser melhor. Fomos campeões esse ano”.
Quem o vê com uma carreira tão bem sucedida na dança nem imagina, mas Victor conta que “a dança entrou na minha vida depois da música e do teatro. Mas hoje eu trabalho demais com ela, é uma potência que ganhou um enorme espaço na minha vida profissional. Ela é transformadora. Entrar em contato com o corpo através da dança proporciona outra relação com a vida, com tudo a sua volta, como você se comporta, até no sentido espacial de evitar riscos, acidentes. É uma consciência corporal, mesmo”.
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