*Por João Ker
Fashionistas e pessoas ligadas no universo das celebridades têm acompanhado com empolgação a chegada de Naomi Campbell e Kate Moss ao Brasil, que foram para Trancoso e de lá curtiram o Réveillon. Mas, como de costume na vida das duas (principalmente quando saem de férias), a aversão aos paparazzi e aos flashes tem se tornado constante, com Naomi e aquele seu jeitinho nada calmo de levar a vida causando trabalho aos profissionais. Mas, então, onde fica o limite entre o que é certo e o que é errado na hora de registrar uma pessoa pública?
A última polêmica de Naomi foi com o fotógrafo André Ligeiro, colaborador do site Glamurama e frequentador assíduo de Trancoso, onde já fez diversas coberturas de festas. Ele teve a máquina arrancada pelos seguranças da modelo, que exigiram que André apagasse os registros. No Instagram do Glamurama, as opiniões sobre o comportamento de Naomi eram praticamente unânimes: todas sem paciências para os chiliques de diva. “Uma simples “modelo” que já passou da hora de arrumar algo para fazer como trabalhar em creche, asilo, hospital e fica aí fazendo a palhacita”, disse um usuário. Outro comentou: “Esta estrela já se apagou! Chuta que é macumba!”. E houve até gente dizendo que ela não era bem-vinda em terras brazucas: “Ela deveria agradecer de estar aqui no Brasil. Ovo nela”.
Mas houve quem entendesse o lado da modelo: “A culpa é da imprensa que não dá sossego para ninguém!!!! Aiii, que saco!!!”, disse outro usuário do Instagram. Repleta de ironia, um novo comentário: “Naomi já bateu na empregada e usou isso como pretexto para ficar desfilando looks sofisticados todos os dias que ia cumprir a sua pena. E claro todos fotografam. Por que ela precisa mudar, melhorar, evoluir??? Afinal de contas esse é o seu grande trunfo para o sucesso que continua a todo vapor. Naomi continue batendo, pois eles adoram!!!!”.
O caso remete ao que aconteceu na semana passada com Paulo Gustavo. Em um desabafo no Instagram, o humorista comentou a falta de tato que algumas pessoas demonstravam ao pedir selfies em tudo quanto era lugar, chegando ao absurdo de o terem incomodado na sala de espera de um hospital. “Meus fãs continuam sendo amados e eu sou eternamente grato, mas a gente sofre com isso, com foto!”, disse.
E continuou se justificando no Instagram: “Eu tiro fotos no final das minhas peças há dez anos. Na maioria das vezes, com mil pessoas por sessão. Só não tiro quando faço em casa de show com mais de três mil pessoas, porque aí realmente qualquer ser humano normal saberia que fica inviável. Atendo a fãs clubes, sou carinhoso com meus fãs, brinco na net, respondo por inbox de alguns muito presentes… Mas vamos pensar mais no artista! Pensar que eu poderia tirar uma foto com você, porque é um momento único para você é pensar só em você! Acabou o trabalho, imagina alguém no banco, na praia, no bar, na rua, na padaria, no hospital… Como já tirei foto no CTI esperando minha irmã que tinha capotado com o carro… Fiz fotos na sala de reanimação! Imagina? É chato! Pensa? Se você for de verdade, vai entender!”. Logo em seguida, veio um vídeo do ator com Samantha Schmutz, no qual ele simula um fã louco por uma foto a qualquer custo, o que na vida real costuma até acontecer de forma mais histérica.
Paulo não perde a razão nessa hora. O acesso a uma câmera fotográfica e essa megalomania por curtidas em uma rede social tem se alastrado. Antigamente, o fã chegava com seu papelzinho/foto/revista, pedia um autógrafo e já se dava por satisfeito. Hoje não: tem que ter selfie, se ficar ruim tem que bater outra, tem que ter dois ângulos diferentes, grudar uma cabeça na outra e fazer cara de simpático. No hospital, na fila do banco, na praia, no meio de um encontro com um possível peguete, na festa ou onde seja. A praga da câmera inversa já se alastrou para todos os lados.
Claro, ninguém aqui está fazendo apologia a um comportamento recluso de uma celebridade. Em tempos de auge, quando a carreira de um artista está em seu ápice, é preciso entender que sua figura exposta constantemente na mídia cria um certo interesse quase ingênuo da maioria do público, que adora dizer “eu encontrei o fulano da novela no Leblon, é uma simpatia de pessoa!”. Mas imagine você, pessoa que trabalha em um escritório de segunda a sábado e tem aquele domingão para ir à praia com a família. Já pensou que porre deve ser alguém te pedindo para fazer conta toda hora? Ou falando sintoma de doença para você poder diagnosticar? Ou contando trocentos casos de justiça enquanto pede conselho? É praticamente a mesma coisa: não é por um trabalho exigir exigir a exposição de um indivíduo na mídia que ele precisa se tornar acessível 24h/dia.
Lembro de um caso que ilustra muito bem como o assédio a uma celebridade e a fama podem ser uma faca de dois gumes. Durante a cobertura do Prêmio Contigo de TV, vi o momento em que Tatá Werneck chegou ao Copacabana Palace e foi ovacionada pelo público que começou uma gritaria ensurdecedora. Lá em cima, até a imprensa se assustou com o tamanho do alvoroço. Calma, bem humorada e sempre divertida, Tatá teve paciência para falar com quase todos os veículos e até a tirar selfie com um outro fã que passava e pedia. Por volta da 1h da manhã, as pessoas já estavam indo embora do local e toda vez que cruzava com Tatá ela estava lá: linda, sorrindo, fazendo piadas e tirando selfie com todo mundo. Ao sair, a encontrei aflita por não conseguir chegar até o táxi sem que a multidão a visse e começasse a pedir fotos. Sim, havia mais de 100 pessoas do lado de fora do hotel esperando os artistas irem embora.
Tatá sabia que não poderia tirar foto só com um ou nenhum sem depois sair como a “chata” ou “antipática” da história. Mas, agora, eu pergunto: depois da exaustão de uma noite daquelas, Tatá era obrigada a se cansar ainda mais só para manter a imagem do que o grande público considera como “simpática”?.
Casos de celebridades “engolidas” pela fama e o assédio são uma realidade. Talvez o episódio mais famoso da história seja a perseguição trágica que a Princesa Diana sofreu e resultou em sua morte. Basta também lembrar aquela gravação de Grazi Massafera falando sobre seu término com Cauã Reymond. Ou o surto psicótico de Britney Spears em 2007, e as corridas por cliques de Lindsay Lohan, Alec Baldwin e Miley Cyrus.
Há sempre um limite e dois lados de uma mesma moeda. No debate sobre privacidade, é impossível ignorar que no século XXI as pessoas vão em busca de uma selfie e querem atenção/reconhecimento de tabela. Mas também é impossível negar que fãs são grandes responsáveis por perpetuar uma carreira e que, sem eles, nenhum artista consegue chegar ao topo. É necessário um bom senso de ambos os lados, para saber quando é aceitável se pedir uma foto e quando é invasão da privacidade alheia. Se colocar no lugar do outro é sempre primordial.
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