*Por Brunna Condini
Suzana Pires conversou com o site às vésperas da sua ida para Los Angeles a trabalho em duas séries por lá: a ‘Woman Inc‘, criada por ela e vendida para um estúdio internacional – sobre mulheres empreendedoras – e outra produção que está sendo alinhavada com a Star+. “Não posso falar detalhes, porque a multa de milhões (risos). Estou trabalhando no desenvolvimento da série. A vida vai ser meio entre Rio e LA”. Conquistando espaços como roteirista em solos internacionais, Suzana revela que já teve dificuldades para exercer sua voz até em projetos próprios.
“Tem uma situação que me marcou quando vendi a minha peça para virar filme. Alguns produtores não queriam que eu escrevesse o roteiro, e contrataram uma pessoa dita ‘mais experiente’ para fazer isso. Só que esse profissional não entregou o que era a história. Foi um momento muito sério para mim. Então, fui ao distribuidor, o verdadeiro dono do projeto, e disse: “Você quer o filme da minha peça ou outra coisa?”. Ele, claro, queria o filme da peça. Eu escrevi o roteiro e tudo mudou e, agora, vou escrever o segundo filme da franquia. Ninguém mais veio com essa em reunião nenhuma, mas se eu tivesse deixado passar?”, lembra ela, referindo-se ao roteiro de ‘De Perto Ela Não é Normal‘.
E Suzy ainda relembra: “Foi muito difícil dizer esse ‘não’, argumentar que escrevi, que era eu quem estava lotando teatro, então, eu que devia assinar o roteiro para o cinema. O cara não entendeu, por exemplo, que uma mulher tentando entender o sentido da vida, não era uma mulher querendo transar. Só isso. Ao mesmo tempo que não posso deixar passar, é exaustivo. São alguns burnouts na vida. É sério. Muito cansativo emocionalmente, mas é preciso estabelecer limites. Qualquer mulher que levanta um pouco a voz, se coloca, já é tida como difícil. Não é o meu caso. Trabalho com todos os distribuidores do país, tenho recursos para todos os filmes que estou pré-produzindo. Eu sou séria, essa é a diferença. Aqui e no exterior, tenho meus processos de trabalho. Deixa os processos da latina aqui, têm dado certo (risos)”.
Discreta, ela revela que a vida amorosa também vai bem, obrigada. “Estou namorando, está muito legal, e não é mais o empresário (risos). Eu não azaro dentro do meio artístico. Até já namorei ator, diretor, mas, geralmente, namoro pessoas fora do meio, dá uma refrescada. Costumo me relacionar com gente mais calma, porque minha vida profissional já é atribulada. Não dou conta de ter uma vida pessoal frenética. Minha vida privada é básica, tranquila”.
Empreendedora e ativista
No quarto ano à frente do Instituto Dona de Si, que acelera talentos femininos, Suzana avalia: “Depois dele nunca mais me senti sozinha. Quando as mulheres vêm me agradecer, digo que elas não têm ideia do que fizeram por mim. Nos meus contratos, por exemplo, vi que podia pedir mais mulheres no set e, agora, peço. É uma conquista de espaço”. E anuncia: “O Instituto ampliou a parceria com a Fundação Casas Bahia e abrimos 200 vagas para capacitar empreendedoras no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. Serão 100 vagas para a capital gaúcha, e as outras 100 vão atender as moradoras da comunidade carioca Morro dos Prazeres”, diz sobre o programa que apoia mulheres no desenvolvimento pessoal e de seu próprio negócio.
“Empoderar as mulheres neste momento que vivemos é dizer que continuo acreditando em mim e que vou continuar apostando nas outras. Tudo está seguindo para acreditarmos em nós, independentemente de classes sociais e idades. A violência contra as mulheres é imensa e está saindo debaixo do tapete. Claro que as mulheres pretas e periféricas são as mais afetadas. É esse o ponto do instituto”.
Ela também observa: “Precisamos nos fortalecer na base humana, onde estão tentando ‘arrancar nossas pernas’. Se ficamos sobrecarregadas, esquecemos quem somos. No instituto olhamos para essas três dores: a solidão, a opressão e a sobrecarga das mulheres são mapeadas anualmente pela minha equipe. E com a pandemia tudo piorou muito, escancarou os abusos contra as mulheres. Por isso e tantos outros fatores, temos que estar firmes e unidas”.
Suzana também aproveita para comentar realidades tristes que temos acompanhado. “Nos últimos tempos, algumas coisas me fizeram chorar. Como o caso da Klara Castanho e o que aquele anestesista fez com a mulher no momento do parto. É um choro misturado com uma revolta grande. Ele realmente acha que aquele corpo é para servi-lo? A cultura do estupro é isso. Muitos homens acham que podem dispor dos corpos femininos como quiserem. É tudo sobre controle em cima da gente. Fora as histórias que chegam no instituto. Quero dizer para as mulheres que estejam passando por alguma situação difícil ou de violência que não estão sozinhas. O Instituto Dona de Si, no que estiver ao nosso alcance, fará algo por você. Vai lá, manda direct”.
Cada vez mais focada na escrita de roteiros, a artista divide uma curiosidade. “O que acontece, é que quando trabalho como atriz parece que estou de férias (risos). É um prazer em um lugar, que parece que estou em uma praia em Trancoso, sabe? E quando eu tenho que escrever um projeto, criar uma série, um filme, é um trabalho mais braçal. De muita atenção, energia intelectual presente o tempo todo. Já disse para o meu empresário que preciso me conceder no ano uns três, quatro meses de atriz, para eu voltar a ter força para todo resto. É essa energia que faz eu conseguir fazer tanta coisa. O que segura muito a minha cabeça e o meu emocional também é o instituto. Virou algo que eu nem esperava. Hoje já impacta mais de 1.300 mulheres e vai crescer ainda mais”.
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