Desempenho na TV aberta: excesso de violência nas produções e ausência de mais emoção está saturando quem assiste


O audiovisual e a teledramaturgia vêm atravessando transformações relevantes para o nosso tempo. Com a mudança nos hábitos de consumo dos conteúdos, por conta do vasto ‘cardápio’ à disposição, e também com o envelhecimento do público que sempre foi fiel telespectador das telenovelas, a audiência da TV aberta vem sendo diretamente impactada. As últimas novelas na Globo, que sempre foi líder de audiência no gênero, têm sido afetadas, como “Mania de Você” e, consequentemente, o andamento de suas tramas também. Existem também críticas ao enredo, considerando-o pesado, com mortes, excesso de trapaças, traições e afins. A novela ficou devendo no quesito leveza. As novelas turcas e coreanas, por exemplo, com forte influência do melodrama, são uma febre por aqui. O público está diferente e a TV e o audiovisual já entenderam que a ‘conquista’ do espectador hoje é ainda mais desafiadora. Da realidade, que já tem contida nela o peso de suas mazelas, não podemos fugir. Mas quando escolhemos uma novela, um filme, uma série ou podcast, podemos. Uma certa dose de ‘escapismo’ e de fantasia não fazem mal. Ou seria uma certa dose de equilíbrio? Talvez por isso, histórias que mostram o lado humano das produções e dos criadores de conteúdo gerem mais empatia e identificação. “As pessoas buscam conteúdos assim como uma forma de auto regular suas emoções, o que funciona como uma válvula de escape do mundo ao redor. Não necessariamente para fugir da realidade, mas apesar dela, para trazer alguma leveza para os dias e uma sensação de bem-estar, prazer e até de motivação”, diz a terapeuta Luiza Martins. Abaixo listamos alguns exemplos de produções que focam mais nos afetos e nas relações. Vem saber!

O que temos assistido e ouvido? Com tantas ofertas, a resposta a essa pergunta também se torna ampla e facilmente mutável. O que podemos dizer com objetividade, é que o audiovisual e a teledramaturgia vêm atravessando transformações relevantes para o nosso tempo. Com a mudança nos hábitos de consumo dos conteúdos, por conta do vasto ‘cardápio’ à disposição, e também com o envelhecimento do público que sempre foi fiel telespectador das telenovelas, a audiência da TV aberta vem sendo diretamente impactada, por exemplo. As últimas novelas na TV Globo, que sempre foi líder de audiência no gênero, têm sido afetadas, e consequentemente, o andamento de suas tramas também. O público está diferente e a TV e o audiovisual já entenderam que a ‘conquista’ do espectador hoje é ainda mais desafiadora.

Se observarmos a atual novela das 21h da Globo, ‘Mania de Você‘, que vem apresentando desempenho aquém das expectativas, e parece vir frustrando o público ao focar na história de quatro protagonistas muitos jovens e deixar atores mais experientes em segundo plano. Além disso, João Emanuel Carneiro também criou personagens mais complexos, que não fizeram o telespectador escolher um ‘lado’ de cara. Existem também críticas ao enredo, considerando-o pesado, com mortes, excesso de trapaças, traições e afins. A novela ficou devendo no quesito leveza. As novelas turcas e coreanas, por exemplo, com forte influência do melodrama, são uma febre por aqui. Estaríamos sentindo falta de romance, sonho e mais amor nas histórias? O afeto e a emoção estão perdendo espaço nas tramas?

O que temos assistido e o que gostaríamos de ver? Especialistas acreditam que em 'Mania de Você' tem faltado leveza, isso nos leva a crer, que talvez o público esteja sentido falta de afeto e emoção (Divulgação/Globo)

O que temos assistido e o que gostaríamos de ver? Especialistas acreditam que em ‘Mania de Você’ tem faltado leveza, isso nos leva a crer, que talvez o público esteja sentido falta de afeto e emoção (Divulgação/Globo)

É possível que o excesso de violência nas produções audiovisuais e a ausência de mais emoção nas tramas, venha saturando quem assiste. Da realidade, que já tem contida nela o peso de suas mazelas, não podemos fugir. Mas quando escolhemos uma novela, um filme, uma série ou podcast, podemos. Uma certa dose de ‘escapismo’ e de fantasia não fazem mal. Ou seria uma certa dose de equilíbrio?

Podemos falar das nossas ‘sombras’, mas também queremos ver o lado bom da vida retratado. Queremos mergulhar nos nossos sentimentos, nos perceber ‘espelhados’ no outro e nas criações. Talvez isso explique o motivo pelo qual atualmente existe uma tendência de busca na internet por conteúdos tidos como mais positivos. A positividade está em alta ou nós estamos precisando nos inspirar, diante do cenário social, político, econômico e ambiental mundial? Segundo publicado na página Estratégias de Marketing no início do ano, um estudo realizado pela Kantar apontou que 7 em cada 10 pessoas dizem que tentam ser otimistas, apesar do cenário global de incertezas. Isso aponta para um exercício de positividade tóxica ou para uma estratégia de sobrevivência?

Talvez por isso, histórias que mostram o lado humano das produções e dos criadores de conteúdo gerem mais empatia e identificação. “As pessoas buscam conteúdos assim como uma forma de auto regular suas emoções, o que funciona como uma válvula de escape do mundo ao redor. Não necessariamente para fugir da realidade, mas apesar dela, para trazer alguma leveza para os dias e uma sensação de bem-estar, prazer e até de motivação”, diz a terapeuta Luiza Martins.

Emoções e afetos em foco

Foi do desejo de compartilhar suas histórias de amizade, e também de se conectar com outras pessoas que as atrizes Gabriela Duarte e Renata Castro Barbosa criaram o videocast Pod, Amiga?, em que recebem famosos e personalidades, acompanhados de seus amigos para falar de uma parceria rara, de elo e de tudo o que possa englobar uma relação do tipo. “A ideia partiu dessa vontade de abrir espaço também para falar de coisas boas, dessa ligação genuína que é a amizade. No dia a dia dificilmente paramos para dizer ao outro o quanto ele é importante para nós, para falar do essencial”, diz Gabriela, que é amiga de Renata há quase 40 anos. “Temos recebido convidados com histórias inspiradoras e diversas, abrindo espaço para esse registro na amizade deles. As pessoas saem felizes do programa e deixam essa energia com a gente também”, completa Renata.

Gabriela Duarte e Renata Castro Barbosa apresentam o 'Pod,Amiga?' (Foto: Vinicius Mochizuki)

Gabriela Duarte e Renata Castro Barbosa apresentam o ‘Pod,Amiga?’ (Foto: Vinicius Mochizuki)

Gabriela Duarte e Renata Castro Barbosa apresentam o 'Pod,Amiga?' (Foto: Vinicius Mochizuki)

Gabriela Duarte e Renata Castro Barbosa apresentam o ‘Pod,Amiga?’ (Foto: Vinicius Mochizuki)

Nos últimos anos os videocasts e podcasts estão em alta, e atualmente o Brasil é o país que mais os consome. A pandemia teve um impacto significativo neste boom, já que as pessoas foram atrás de novos formatos de entretenimento e informação. Um pouco antes deste contexto, foi criado o ‘Para dar nome às coisas’, mais precisamente em agosto de 2019, pela jornalista, escritora e roteirista Natalia Sousa. Embora seja um podcast, ‘primo’ do rádio e sem a parte visual, esse vale estar neste texto.

Narrado em primeira pessoa, os episódios do ‘Para dar nome às coisas’ destacam vivências e histórias da própria autora e de pessoas que a inspiram. Tudo no melhor estilo bate-papo de mesa de bar, com tom intimista e zero didatismo. A criação da comunicadora faz sucesso e hoje figura entre os podcasts mais ouvidos no país. “Sou viciada em autoconhecimento, conversas profundas e mergulhos internos, mesmo quando desconfortáveis”, escreveu em sua descrição no Spotify. Ao ouvir Natália a gente não se sente mais sozinho em questões comuns, o que é extremamente reconfortante.

Depois de perder a mãe em 2014 e o o namorado em 2015, ela mergulhou ainda mais na escrita para elaborar vivências, como já relatado: “Acho que escrever é o meu melhor lugar. Me dá sentido”. E destacou ainda, que apesar de muitas vezes falar de temas áridos e dores emocionais, não tem haters, e que o retorno é de identificação e carinho. Isso só evidencia, que em qualquer formato de produção, tocar os corações através das narrativas, é preciso.

Natalia Sousa é a criadora do podcast 'Para dar Nome às Coisas', um dos mais ouvidos do país (Reprodução/Instagram)

Natalia Sousa é a criadora do podcast ‘Para dar Nome às Coisas’, um dos mais ouvidos do país (Reprodução/Instagram)

Aliás, narrativas que toquem o coração são acerto em qualquer tempo. Não à toa, a nova novela das seis, ‘Garota do Momento’, vem agradando e muito. A trama já é considerada um folhetim em sua melhor forma, tem romance de época (ambientado em 1950), tem mocinha potente e determinada (Duda Santos fazendo Beatriz), tem mocinho nada óbvio e apaixonado pela mocinha, capaz de tudo para ficar com ela (O Beto de Pedro Novaes); e tem vilã terrível (A Maristela de Lilia Cabral). Fora todo drama e emoção que embalam a história de Alessandra Poggi. É sobre as relações, então nos interessa e envolve.

Pedro Novaes e Duda Santos em 'Garota do Momento' (Divulgação/Globo)

Pedro Novaes e Duda Santos em ‘Garota do Momento’ (Divulgação/Globo)

Mas premissas envolventes não estão só na ficção, e o entretenimento está aí para provar isso. Um programa de TV que vira um papo na cozinha, lugar acolhedor e de intimidade, tem tudo para conquistar. É exatamente isso que a chef Paolla Carosella faz em seu ‘Alma de Cozinheira’ no GNT, misturando entrevistas, culinária e revelações dos seus convidados, que se sentem à vontade no ambiente criado. O objetivo é estabelecer proximidade e conhecer mais de perto a ‘alma’ do convidado também.  É um lugar de conforto, em que o espectador se sente sentado à mesa também. Paolla tem boa escuta e o desejo de trazer memórias afetivas à tona, entre outras coisas. A atração é um acerto e a cara da apresentadora. Por aqui, nós desejamos mais produções onde o foco seja a boa experiência de quem assiste.

Fatima Bernandes, Juliette e Paolla Carosella em episódio do 'Alma de Cozinheira' (Foto: Kelly Fuzaro/GNT)

Fátima Bernandes, Juliette e Paolla Carosella em episódio do ‘Alma de Cozinheira’ (Foto: Kelly Fuzaro/GNT)