Thiago Lacerda sempre foi considerado um dos grandes galãs da teledramaturgia brasileira e esta figura vai se consolidar ainda mais na nova novela das 6, Orgulho e Paixão. O ator interpretará, desta vez, um dos maiores símbolos da literatura romântica do final do século XIX, o protagonista de Orgulho e Preconceito, Darcy. O personagem de Jane Austen faz parte do imaginário sonhador da sociedade até os dias atuais, já tendo sido representado por diversos artistas. A figura conquistou o coração do público por sua humanidade que impulsiona um caráter dúbio. No início do livro, se mostra um rapaz seguro de si e egocêntrico, mas o amor por Elisabeth vai quebrando esta atmosfera rígida. “Foi muito interessante ter que lidar com o humor inglês, que exige certa introspecção. Sou um cara efusivo. Apesar de tímido, tenho uma personalidade forte e acabo externando muito. O Darcy é o oposto. Então foi muito interessante pensar em uma maneira de enquadrar o personagem dentro dos modos britânicos. O risco disso é tentar mostrar esta diferença cultural e acabar parecendo antipático. Venho tentando amaciar esta questão, mas gostaria que fosse um cara mais duro e um pouco formal demais”, explicou. O papel é um homem de negócios que contraditoriamente também é humanista. “Isto é uma questão dele, inclusive, pois como ser uma pessoa que se importa com os outros no auge da industrialização”, completou. Na trama, ele fará par romântico com Nathalia Dill que fará a doce e lutadora Elisabeta.
A obra de Jane Austen é marcada por personagens femininas muito fortes que exercem um poderio sobre o mundo limitado no qual vivem. “Gosto muito da obra e da maneira como esta autora escreve. Ela representa uma inauguração do pensamento feminista”, afirmou Thiago Lacerda. A novela não será diferente. O texto é totalmente voltado para o gênero, visando ilustrar os percalços da estrutura daquela sociedade antiga. Esta releitura da literatura da escritora inglesa foca muito neste poderio e as dificuldades de se nascer mulher. “Isto é uma prova que a humanidade só anda atrás do próprio rabo. Tanto tempo se passou e somente agora estamos criando maturidade para enxergar este víeis questionador da obra de Jane Austen e debater sobre o lugar da mulher. Estou feliz que, ao menos, tenhamos um espaço para provocar esta reflexão nas pessoas. É importante trazer estas histórias que desafiam a gente a pensar”, comentou.
Durante toda a sua carreira, o ator conseguiu equilibrar muito bem a quantidade de mocinhos e vilões. No entanto, ele nunca escondeu a sua adoração por fazer personagens do bem. “São pessoas integras e éticas. A minha carreira é cheia deles, seja no teatro ou na TV. Deu saudades de fazer eles. Estou bem feliz de fazer o Darcy”, afirmou. No entanto, interpretar um protagonista como este não é tão fácil. Como o ator já fez muitos papéis do bem, é preciso ter cuidado para não cair em um lugar comum e deixar esta figura muito característica. “Fazer um herói é muito difícil. O meu desafio é como passear por estes caminhos que já conheço com um frescor”, explicou.
Apesar de nem sempre atuar como protagonista, o ator já fez vários personagens de destaque o que o configura como um galã. Mas ele confessou que esta denominação nunca significou grandes coisas para ele. “Nunca me senti pressionado pela aparência e não vai ser agora que isto vai acontecer. As pessoas têm uma necessidade de etiquetar e o nosso trabalho é não se importar muito com isto. O que me interessa é contar boas histórias da maneira mais comprometida que houver”, comentou. No dia 19 de janeiro, o ator completou quatro décadas. Uma data que, para muitos, é um tanto polêmica. “Cheguei muito bem aos 40 anos, mas confesso que parei para repensar alguns valores da minha vida e me perguntar quem de fato sou ou pretendo continuar sendo. Não é lenda este papo de crise dos 40, mas não tem nada a ver com o cabelo que cai ou o corpo que não é mais o mesmo. Tenho que refletir sobre a outra fase da minha vida. É uma crise intelectual, ética e construtiva. Daqui a pouco passa”, considerou. Ele adiantou que é um cara completamente diferente daquele rapaz de 20 anos atrás, mas ainda carrega certas semelhanças daquele menino.
Este combo de diferenças trazidas pelo amadurecimento leva em consideração os trabalhos mais espaçados aos quais ele vem se dedicando. A sua última novela, Lei do Amor, terminou em abril do ano passado e somente em outubro ele voltou a trabalhar mesmo nas teledramaturgias da emissora. Esta pequena pausa se deu a partir de uma logística de encaixe de elenco feita pela Globo a partir de conversas com atores, mas ele aproveitou este período para descansar. De acordo Thiago, este hiato prolongado será uma característica cada vez mais latente em seu cotidiano. “É uma proposição lógica para mim cada vez mais diminuir o ritmo para ter mais tempo para os meus filhos. Conseguindo ser saudável nesta matemática de administrar o trabalho, amigos, vida pessoal, saúde, família e filhos. Este, talvez, seja um caminho cada vez mais concreto na minha vida. Gosto do silêncio”, confessou.
Em 2016, o ator estava em cartaz com a peça Macbeth, mas no ano passado preferiu se ausentar dos palcos. “Sempre fui um ator do teatro, mas os espetáculos que faço exigem muita elaboração e estratégia porque tenho uma grande responsabilidade com a televisão. Ano passado usei o tempo livre para descansar porque havia emendado um filme, na novela e no espetáculo. Foi um período muito puxado”, comentou. Apesar de garantir que esta folga dos palcos não vai durar muito tempo, o ator confessou que as dificuldades de fazer teatro no Brasil acabam prejudicando a sua agenda. A necessidade extra de planejamento por causa da crise dificulta a formulação de pequenas temporadas. “O teatro exige muito da equipe. Quem faz isto no Brasil exerce um sacerdócio, porque aqui os palcos são para quem ama e quem tem compromisso com a educação e cultura, como eu tenho. Nasci para fazer isso. Acho que não podemos desistir ou jogar a toalha. O país, cada vez mais, tira a educação do povo o que faz a vontade de consumir a cultura ser cada vez menor. A gente resiste bravamente”, lamentou.
Esta dificuldade de produção reflete, para o ator, como o Brasil tem piorado nos últimos tempos. “Somos vítimas e agentes da nossa própria desgraça. Temos todas as artimanhas necessárias para nos recuperar e repensar, mas é um momento perigoso de gente muito estranha. Mas, de certa maneira, também acho que precisamos passar por isso para ver se acordamos, somos politicamente e intelectualmente passivos”, afirmou. “É como se estivéssemos resistindo às novas maneiras de se comunicar e aos novos arquétipos. Vejo a reação a isto como coragem das minorias que querem se expor. É natural que a resistência do pensamento de direita – retrógrado, careta e estagnado – aflore como contraposição ao surgimento de novas ideias. Sinto que estamos caminhando para frente em muitos aspectos, mas também estamos focados em um passado. Lamento que estes ideais, às vezes, prevaleçam”, explicou.
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