“Tenho uma vida comum, nunca me deslumbrei, por isso também me mostro vulnerável”, diz Bárbara Borges


A atriz, que raspou os cabelos na quarentena, aborda com alegria o caminho de descobrimento pessoal, da espiritualidade, e da maternidade. Ela também relembra um post em seu Instagram que rendeu repercussão no qual fala da relação nociva com a bebida. “Quando resolvi abrir essa situação, já estava há quatro meses sem ingerir bebida alcoólica. E, agora, estou aprendendo a fazer uso da palavra. Sou atriz, fui paquita, as pessoas conhecem minha história. E sempre gostei de mostrar como sou. Me abri para novas possibilidades, saí da negação, tem desconforto, mas depois passa. Quando fiz esse post, gerou uma repercussão que por um lado ajudou as pessoas que me procuravam, e isso deu sentido, era o meu objetivo. Mas teve um lado de quererem falar sobre isso com sensacionalismo, de maneira tendenciosa. E o alcoolismo é uma doença mal compreendida. Não à toa os memes que fizeram com Fabio Assunção, querendo ridicularizá-lo. E isso é terrível”

*Por Brunna Condini

Bárbara Borges mostra plenitude desde que começou um caminho de busca por autoconhecimento e desenvolvimento da espiritualidade. Aos 41 anos, a atriz conversou com o site sobre a jornada que vem trilhando nos últimos anos, falou da experiência como mãe de Martin Bem, 6 anos e Theo Bem,3, e também sobre a importância de identificar o que nos serve ou não ao longo do caminho. Bárbara diz que vem desapegando de muita coisa, inclusive dos cabelos, já que os raspou durante a quarentena. “Foi para botar uma espécie de fim em tudo que vivi antes, marcar essa versão minha que vem nascendo. Tem a ver com o desapego da imagem, de como eu me olho, me descobri. Até fiquei um pouco receosa de início, já que esse desapego não foi por um personagem, pensei que poderia me prejudicar como atriz. Mas logo em seguida pensei: que medo é esse? Venho me libertando das coisas que criei. A mente é uma armadilha. Já me peguei presa em vários pensamentos que criei, crenças. A mente está sempre fantasiando coisas, e disso vem sofrimento”.

“Raspei para botar uma espécie de fim em tudo que vivi antes, marcar essa versão minha que vem nascendo” (Reprodução Instagram)

A atriz está em recolhimento social com os filhos e o marido, Pedro Delfino, e apesar do caos no mundo por conta da pandemia da Covid-19, tem encarado os desafios diários como uma grande oportunidade de se aprofundar em seu mergulho interior. “Mesmo dentro de casa está corrido. E olha que tenho total noção do privilégio que é poder estar em casa neste momento. Mas digo isso, porque tenho me permitido desacelerar, estou tentando não me cobrar tanto para dar conta de tudo. Essa cobrança gera ansiedade. Tenho vivido um exercício diário de consciência sobre as minhas ações, desde 2012. É um longo processo, um estudo de mim. A pandemia veio para potencializar isso tudo. Acho que até quem não estava no movimento de autoconhecimento, mergulhou. E quem já estava, intensificou”.

Barbara em registro familiar : com o marido Pedro e os filhos Theo e Martin (Reprodução Instagram)

Vida ao Bem

Enquanto fala, Bárbara é interrompida pelos filhos que pedem sua atenção. Ela explica com tranquilidade que está dando uma entrevista e pede que chamem o pai para atendê-los. “É intenso, viu? (risos). Eles são ótimos, meu marido é um super parceiro, mas a maternidade é uma construção diária. O primeiro impacto foi a ruptura com a fantasia. Claro que a vida mudou com a chegada deles, e isso é lindo, incrível. Mas não é só isso. Eles vieram como um espelho, começaram a me mostrar algo que não via, que estava adormecido. Crianças são genuínas nas descobertas das coisas simples, que vamos atropelando. Eles me fazem aprender a viver em um outro ritmo. Maternidade não é sobre ensinar somente, é muito sobre aprender. E isso trouxe abertura, curas”, avalia.

“A vida com eles tem sido de descobertas e responsabilidades. São crianças, mas serão adultos. Sei o quanto a nossa criança, a nossa infância é importante. É nela que temos o conteúdo do muito que vivemos até a maturidade. Não tenho pretensão alguma de ser perfeita, mas coloco atenção, sou curiosa, quero me aprimorar e também ser melhor nas relações. Mas tudo bem, como em todas as casas, têm dias que a paciência está impaciente. É uma luta para tirar padrões de comportamento. Não temos que gritar para sermos ouvidas, por exemplo. As vezes tento não levantar a voz, mas muitas vezes acabo fazendo, é um processo evolutivo”.

E fala com afeto da escolha do segundo nome “Bem”, para os dois filhos: “Isso tem tudo a ver com meu projeto espiritual. Descobri que estava grávida do Martin em 2013. Já meditava muito e sentia uma sensação de bem enorme dentro de mim. A maternidade foi a porta que aumentou ainda mais esse caminho da espiritualidade. Martin, quer dizer “Deus da guerra”, mas guerra do bem. E isso vem da conexão espiritual. Engravidei novamente três anos depois. E decidi colocar o “Bem” novamente como conexão”.

Novos caminhos

Bárbara se apaixonou pela aromaterapia e se tornou terapeuta da técnica natural. “Tenho estudado muito na aplicação da ansiedade. Muitas doenças vêm dela e estamos no meio de uma pandemia”, conta. “Atendo, faço as pessoas entenderem as emoções. É um novo caminho, propósito, até porque agora, com a necessidade de isolamento, não estou trabalhando como atriz, mas estou trabalhando como aromaterapeuta e estudando muito”.

O movimento de ressignificação e da busca de novos sentidos, trouxe instrumentos para atravessar esse período. “Uma grande lição desta pandemia foi que todo mundo se viu em uma situação de ficar dentro de casa e lidar consigo, quem tem esse privilégio. Foi todo mundo colocado dentro de casa, para lidar com isso e com a sua vida. A grande virada da nova era é percebermos o quanto nossas ações reverberam no mundo, no planeta, uma coisa de auto responsabilidade. A força dessa era que chega, a Era de Aquário, é a força de nos autoconhecer, mas ao mesmo tempo, é a força do todo. As nossas ações reverberam no outro e no planeta. Queremos um mundo melhor, mas isso não pode partir só dos governantes, temos a nossa responsabilidade de contribuição. Eu quero estar cada vez mais alinhada em pensamentos e ações. Não quero que soe que estou no caminho da perfeição, estou no caminho da consciência. E todo dia temos a graça de viver esse presente, de poder mudar, de não viver do passado. Quero me concentrar no agora. A nova era, o futuro, depende do agora”.

“As nossas ações reverberam no outro e no planeta. Queremos um mundo melhor, mas isso não pode partir só dos governantes, temos a nossa responsabilidade de contribuição” (Reprodução Instagram)

Aquariana do dia 26 de janeiro, ela conta que também vem usando a astrologia como um caminho. “Ano passado, participei de um simpósio em que já falavam dessa conjunção entre Plutão, Saturno e Júpiter que está rolando agora, prevendo uma dificuldade coletiva, um salto quântico de transição planetária”, recorda. “ E falavam: segurem firme porque vai vir uma avalanche, uma varredura. Cheguei a pensar que seria uma guerra, a terceira mundial. Passar a entender é precioso, é passar a aceitar e fazer um trabalho contínuo. Tudo bem para quem não deseja esse despertar, mas eu vou vendo como tudo se conecta. Estamos vivendo em estruturas apodrecidas que estão ruindo, não podemos mais fechar os olhos para as mazelas, para os preconceitos, para a violência. E temos que ampliar as vozes que precisam ser ampliadas”.

Amar-se: na alegria e na tristeza

A pequena Bárbara já questionava sua realidade. “Tenho questionamentos existenciais desde pequena. Fui criada no catolicismo, tinha uma espiritualidade, era legal, mas cresci já refletindo sobre o tema. Tenho três características fortes: sou curiosa, questionadora e corajosa. Desde pequena dizia que queria ser atriz e estaria na TV. Tenho isso na memória e escrito. Meu primeiro diário escrevi com 8 anos. Era um amigo. Apesar de ser corajosa, também era insegura, não sabia lidar com as emoções. Sou atriz porque criava realidades, histórias na minha cabeça, queria entender, viver aquelas vidas”.

“Tenho três características fortes: sou curiosa, questionadora e corajosa. Desde pequena dizia que queria ser atriz e estaria na TV” (Reprodução Instagram)

E segue analisando o trajeto que a trouxe até aqui. “Fico pensando como impõem coisas para nós desde pequenas. Se você costuma se questionar e ser podada, você cresce com camadas, dentro de uma caixa. Fui vivendo, mas chega uma hora que dá ruim. Fiquei muito distanciada de uma essência minha. Sentindo um sofrimento que não entendia o que era. Esse sofrimento te leva a comportamentos que compensem. Tem gente que come muito, compra muito, bebe muito, são exageros que você acha que precisa para extravasar”.

Bárbara relembra um post em seu Instagram de janeiro do ano passado, que rendeu repercussão e algumas pautas, em que ela fala da sua relação nociva com a bebida. “Quando resolvi abrir essa situação, já estava há quatro meses sem ingerir bebida alcoólica, estava cortando tudo que não estava servindo mais para mim. E, agora, estou aprendendo a fazer uso da palavra. Sei que dando essa entrevista, fazendo posts, tenho uma responsabilidade com o que falo. E só por conta do meu processo de autoconhecimento, de expansão da consciência, abri esse momento tão íntimo. Também para estar aberta a mostrar a minha vulnerabilidade”, divide.

“Sou atriz, fui paquita, as pessoas conhecem minha história. Tem um público que me segue desde 1995. E sempre gostei de mostrar como sou, que tenho uma vida comum, nunca me deslumbrei, sempre tive os pés no chão, por isso também me mostrei vulnerável. Me abri para novas possibilidades, sai da negação, tem desconforto, mas depois passa”. E salienta: “Quando fiz esse post, gerou uma repercussão que por um lado, ajudou as pessoas, que me procuravam, e isso deu sentido, era o meu objetivo. Mas teve um lado de quererem falar sobre isso com sensacionalismo, de maneira tendenciosa. E o alcoolismo é uma doença mal compreendida. Não à toa os memes que fizeram com Fabio Assunção, querendo ridicularizá-lo. E isso é terrível”.

No papo, Bárbara disse que em 2017 já havia feito um post falando dos “exageros” e também do caminho de desconstrução disso. “Foi a primeira vez que comecei a despertar uma consciência, acho esse registro super importante. Então, o post do ano passado foi um processo natural. Vi que tinha um comportamento cíclico, bebia para todas as emoções. Vi que o problema estava em buscar o álcool como válvula de escape, então parei. Uma época também encontrei isso na minha relação com o dinheiro, comprava muito. Mas os exageros me trouxeram uma pérola: esse processo de voltar para mim, passei a acessar minhas emoções sem amortecedor, na real. Se você quer um resultado diferente, você tem que mudar o comportamento. Sou a protagonista da minha vida. Se como atriz, tenho tanta dedicação para entender as vidas que interpreto, pensei: tenho que entender o veículo, a Bárbara. Peço ao divino para continuar seguindo meu caminho, mas isso não me livra de sofrimento. Rezo, medito quando começo a ficar angustiada”.

E conclui: “À medida que avancei com o meu proposito espiritual, fui fazendo terapias holísticas, tudo para entender as minhas dores inconscientes. Fui identificar as fontes do meu sofrimento, fui olhar para abusos que vivi, as relações tóxicas. E o mais importante: parei de olhar para fora e comecei a trabalhar nos ajustes. Não falta mais amor aqui, botei o centro em mim”.