“Tenho certeza que se o privilégio do homem branco não atrapalhar, o mundo será melhor”, diz Thiago Fragoso


Ator, cantor e o mais novo empresário, Thiago Fragoso conversa com exclusividade ao site sobre a empreitada iniciada em plena pandemia, com a inauguração do restaurante de culinária peruana Me Lhama Que Voy. Ele também fala do nascimento do segundo filho durante a pandemia, do retorno das gravações de “Salve-se quem puder”, e do momento obscuro: “Eu tenho medo de tudo o que eu temo pelos meus filhos, mas são essas crianças que me dão esperança. Quando vejo gente como a Greta (Thunberg), a Malala (Yousafzai ) e tantas outras meninas que estão na linha de frente da luta por um mundo melhor, a minha confiança na humanidade aumenta”

*Por Brunna Condini

Muitos empresários se viram diante do dilema de demitir funcionários ou fechar as portas com a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus. Na contramão deste movimento, Thiago Fragoso acaba de inaugurar o Me Lhama Que Voy, um restaurante na Barra da Tijuca que oferece culinária peruana com menu do Chef peruano David Vizcarra. “Neste momento difícil para a economia, achei que seria importante criar empregos e estimular a cultura do delivery e take out (retirada no local). Já tive muitas oportunidades de entrar em empreendimentos que declinei por não me identificar com o produto. Nosso peruano é legal, porque possui comida muito saborosa, saudável, acessível e leve, além de ser entregue com toda a segurança que o momento exige’’, conta Thiago.

“Já tive muitas oportunidades de entrar em empreendimentos que declinei por não me identificar com o produto” (Foto: Globo/ Raquel Cunha)

O ator, um apaixonado por culinária, falou com exclusividade ao site sobre a iniciativa, e também o momento de isolamento em família, ao lado da mulher Mariana Vaz, do filho Benjamin, de 9 anos, e do recém-chegado Martin, de 3 meses. Você abriu um restaurante em plena pandemia. O empreendimento já estava nos planos? “Já tem algum tempo que recebo convites para investir em negócios, mas não tinham muito a ver comigo, não me identificava. Com o Me Lhama Que Voy foi diferente, eu amo a culinária peruana e senti uma identificação logo de cara, então decidi me juntar com meus amigos Diego SenraThiago Franco e David Vizcarra nessa nova empreitada e estou muito feliz com o resultado”, diz o ator.

E acrescenta sobre a paixão gastronômica: “Eu gosto de tudo na culinária peruana, em especial o ceviche. Acho muito saboroso, complexo, leve e cai bem em qualquer ocasião, além de ter uma ligação afetiva, já que foi em uma viagem com a Mari e um casal de amigos que conheci um ceviche peruano que me ganhou de uma forma surreal, e o mais engraçado é que foi numa viagem para Paris. No hotel onde ficamos hospedados tinha um ceviche incrível, e desde então eu amo a culinária peruana”.

Ceviche de salmão do Me Lhama Que Voy assinado pelo chef David Vizcarra (Foto: Duo Agência Criativa)

Não ficou apreensivo de abrir algo neste momento? “Esse foi um dos pontos que levei em consideração quando optei por investir no restaurante: gerar empregos. Nesse momento difícil para a economia, acho muito importante ajudar a criar e manter empregos, no nosso caso, principalmente, através da cultura do delivery e take out. Geramos cerca de 10 empregos diretos e indiretos. Esse “novo normal” tornou o delivery mais necessário e é um formato que só vai crescer, toda crise também apresenta uma oportunidade. Tenho a sorte de só me envolver e fazer o que amo”.

Vitoria Strada, Bruna Guerin e Thiago Fragoso em cena de “Salve-se quem puder” (Divulgação/ Globo)

Com 38 anos e 30 (pasmem!) de carreira como ator, Thiago aposta na multiplicidade profissional, já que também é cantor, compositor, e agora empresário. Ele diz também que tem sentido falta da rotina de gravações de “Salve-se quem puder”, que foi interrompida pela pandemia. Mas a saudade dos sets está em vias de acabar. “Estamos no processo de voltar. Tudo está sendo feito bem devagarinho em função do protocolo que a TV Globo adotou por conta da Covid-19. Não temos previsão de reestreia em função desse novo protocolo”.

Com um bebê em casa agora, você fica mais apreensivo de sair para gravar? “Eu fico louco para voltar! Amo trabalhar, e se não estivesse com o Martin em casa, já teria subido pelas paredes. Acabei tendo a sorte de poder ficar 24 horas por dia em função do Tintim. Se não tivéssemos parado isso não teria sido possível. A Mari está um pouco receosa, porque não temos ninguém para ajudar, também em função da pandemia. Cuidar sozinha de duas crianças, uma de três meses e uma de 9 anos é puxado”, divide Thiago. E fala da convivência com os filhos no período: “Tem sido tudo muito intenso! Todo mundo agarrado o dia todo! Acho que essa convivência explicita o que as relações têm de melhor e pior, né? Aqui em casa só trouxe mais amor e cresceu a gratidão por ter construído essa família. Não há ninguém no mundo com quem eu preferiria estar”.

“Tem sido tudo muito intenso! Acho que essa convivência explicita o que as relações têm de melhor e pior, né? Aqui em casa só trouxe mais amor” (Reprodução Instagram)

Pretendem ter mais filhos no futuro? “Aqui em casa é proibido falar de novos filhos nos primeiros 12 meses (risos). A minha apreensão é com a qualidade do mundo que iremos deixar para eles. É injusto que nossas crianças venham para um mundo que elas terão que consertar. Meus maiores medos são o aquecimento global e a exaustão dos recursos do planeta, a violência e o obscurantismo ideológico dos extremistas. Mas mantenho a esperança na humanidade”.

Fé no futuro

Casado com Mariana Vaz há mais de 10 anos, Thiago comenta sobre a rotina na quarentena. O que tem sido mais desafiador? “A monotonia, né? Antes do Martin nascer, a gente brincava de fazer jantares temáticos, tinha jogo de tabuleiro e várias atividades com o Benjamin. Depois do Martin ficou tudo mais apertado. Agora é tudo em função dele o que diminui a monotonia, mas aumenta o cansaço. Nesses três primeiros meses a gente dorme muito pouco”.

Thiago e o filho mais novo, Martin, de apenas 3 meses (Reprodução Instagram)

Apesar da rotina atribulada no início da vida do pequeno Martin, o ator tem curtido muito a fase. Com seu contrato renovado pela TV Globo, Thiago conta que teve muitos projetos adiados pela situação que a pandemia instaurou. “Estávamos num momento de planejar os próximos anos quando explodiu a Covid-19. Ficou tudo no pause”. E embora ainda não tenha feito por questões de prevenção, já quem crianças pequenas em casa, o ator não descarta uma live musical: “Eu poderia fazer a capela, mas não teria muita graça! (risos). Preciso de alguém que toque os instrumentos. Não sou craque em nenhum instrumento, toco o suficiente para praticar canto e compor. Até o fim dessa pandemia fico sem meu músico preferido e que sempre me acompanha, meu irmão, Rodrigo Fragoso”.

Ator, compositor, cantor e agora empresário. O que falta experimentar? “Nossa…. Mas o meu maior foco continua sendo na minha profissão. Esse período todo só me deu mais vontade de fazer turnês, temporadas, filmes, séries. Trabalhar é algo que me faz muito feliz”.

“Tenho vontade de me aventurar no empreendedorismo em áreas que tenham impacto social e ambiental. Muitos sonhos e projetos por aí” (Foto: Dêssa Pires)

Depois de estrear nos palcos do maior festival de música do mundo, o Rock in Rio, em 2019, ele lançou seu primeiro single solo, ‘’Recomeço’’, que fala do sonho de se libertar das amarras da sociedade e viver só de amor, sem desigualdades. Thiago faz questão de viver “além bolha”. Antenado e engajado com causas que podem contribuir para melhorar o mundo e a vida das pessoas, o artista diz que durante esse período isso não foi diferente. “Isso já é uma prática aqui em casa, independe da pandemia. Somos apoiadores há mais de 15 anos da MSF (Médicos Sem Fronteiras), e também do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). A Mariana também é muito atenta ao que está acontecendo e sempre me mostra causas importantes que precisam de auxílio. O Brasil é um país onde se doa muito pouco e, o maior número de doadores, fica nas classes mais baixas. É uma contradição, né? Espero que, com a pandemia, essa história mude. Temos visto muitas empresas engajadas em ações solidárias”.

Do que têm medo hoje e o que te dá força, esperança? “Eu tenho medo de tudo o que eu temo pelos meus filhos, mas são essas crianças que me dão esperança. Quando vejo gente como a Greta (Thunberg), a Malala (Yousafzai ) e tantas outras meninas que estão na linha de frente da luta por um mundo melhor, a minha confiança na humanidade aumenta. Tenho certeza que, se o privilégio do homem velho e branco não atrapalhar, o mundo do porvir será um mundo melhor”.

“Tenho certeza que, se o privilégio do homem velho e branco não atrapalhar, o mundo do porvir será um mundo melhor” (Foto: Dêssa Pires)