* Por Carlos Lima Costa
Quando se mudou para a Itália e começou a falar de fenômenos sobrenaturais, a youtuber Carol Capel viu o número de seguidores crescer vertiginosamente. Dos cerca de 300 mil, em setembro de 2017, ela superou a marca de dois milhões este ano. “Éramos eu, meu marido (Marcelo de Almeida) e nosso cachorro morando em uma cidade abandonada no topo de uma montanha. Coisas começaram a acontecer dentro da minha casa. Ou mostrava para o mundo ou ficaria doida. Aí decidi monetizar os meus próprios fantasmas. Comecei a filmar e a colocar na internet. As pessoas acharam interessante e foram pedindo mais e mais”, lembra. O pensamento típico de um profissional do mercado financeiro não foi à toa. Afinal, ela é formada em administração de finanças, tem MBA em finanças internacionais e pós-graduação em marketing. Foi, inclusive, para assumir o departamento financeiro da empresa na qual trabalhava, que deixou o Brasil, em janeiro de 2015, indo morar nos Estados Unidos, onde criou seu canal como um hobby, mostrando seu cotidiano. Com o sucesso nas redes, idealizou o curso Carol me ensina inglês. “Eu já mostrava a minha vida, apenas comecei a mudar o foco do canal. Só que hoje em dia, além dos meus relatos, tem também os dos meus seguidores e histórias do cotidiano, uma mistura de tudo e desmistificando muitos mistérios também, sobre os quais fazem muito sensacionalismo. Não mostro só o que é assustador, mas também o que há de real”, explica ela. De casos famosos, já abordou, por exemplo, o do ET de Varginha. Ela crê na existência de alienígenas. E garante: “Estou morando na Polônia, perto de uma usina nuclear e este tipo de lugar é muito monitorado por óvnis. Tem até vídeo no meu canal sobre isso”, ressalta.
Com a proximidade do Halloween, no dia 31 deste mês, comemoração conhecida no Brasil como o Dia das Bruxas, vale ressaltar que muitos dos fãs de Carol a chamam de “bruxinha”, desde que ela surgiu nas redes vestida como tal, em abril de 2019, em frente ao Castelo da cidade de Czocha, no noroeste da Polônia. “Em vários países do mundo como o Brasil e a Polônia tem uma experiência que as pessoas passam quatro dias em uma imersão participando de uma escola de bruxaria como se elas estivessem vivendo no Castelo de Hogwarts do filme de Harry Potter. Mas é tudo fictício. Eles alugam um castelo e esse castelo é de fato mal assombrado. Fui convidada para participar como social media, tinha que divulgar o evento para que outras pessoas soubessem que esta experiência é possível, porque vão pessoas do mundo todo e eu tenho seguidores no mundo todo”, ressalta. Assim, pediu a sua figurinista que fizesse uma roupa de bruxa. Foi até lá, mas acabou não ficando no evento por sentir uma energia ruim no local. “Estava me sentindo mal lá dentro. Não ía aguentar permanecer quatro dias dormindo ali. Comecei a ficar muito enjoada, principalmente na parte do calabouço, porque pessoas foram torturadas de verdade lá, então, tinha cheiro de sangue. Além disso, comecei a ser perseguida por gatos. Aliás, todo lugar assombrado que eu vou, sou perseguida por gatos. Os esotéricos dizem que eles fornecem proteção para as pessoas. E ouvi muito barulho, era incompatível porque o local estava vazio”, conta.
As fotos fazem muito sucesso em seu Instagram, onde está a caminho dos 500 mil seguidores. Antes de ir embora do castelo, gravou um vídeo. “Dá para ver que tem crânios, ossadas reais de pessoas. Comecei a me sentir mal enquanto gravava e chamei meu marido para ir embora desse castelo que foi habitado por condes no passado, tem toda uma história macabra, já pegou fogo algumas vezes, foi reconstruído. Hoje em dia o Castelo (ele se chama Zamek, em polonês), decorado no estilo do século XIII, é um hotel e funciona para o turismo macabro”, diverte-se ela, que atualmente atua como empreendedora digital, tem o curso de inglês e é empresária também do ramo de investimento. “Quando você trabalha com isso, você sabe muito bem que diluir os investimentos é a melhor maneira de ganhar dinheiro. Então, não pode ficar em uma coisa só”, ensina ela, que conheceu o marido na faculdade em São Caetano do Sul, São Paulo. Formado em Administração de empresas, ele cuida mais do pós venda, da parte financeira, da contabilidade.
E Carol não titubeia quando questionada se realmente acredita em fantasmas. “Não é uma questão de crer, mas de vivência. Por causa desses lugares que a vida me levou, como a região da Itália, certas coisas que vi eram inexplicáveis. Então, passei a ter um outro olhar para tudo isso. Eu sou uma pessoa muito matemática, financeira, cética. Primeiro elimino sempre as possibilidades lógicas. Tive experiências que não são explicadas por meio do natural. Então, elas são sobrenaturais”, pondera.
E guardou um registro do que considera o seu momento mais sobrenatural e inexplicável. Aconteceu durante a quarentena, no apartamento de 60 metros quadrados, onde vive na Polônia com o marido e o vira-lata Aladin, e onde ficaram reclusos entre 12 de março e 1º de junho. “Ninguém saiu nem entrou em casa. De repente, em uma madrugada, tive um pesadelo horrível com uma menina, uma criança de cabelos compridos, morena, bem bonita, usava um vestido branco. Aí vieram dois meninos. Eles falaram que eu precisava passar uma noite dentro dessa casa com essa menina. Eu ganharia um prêmio, mas fui embora, porque ela me dava medo. Acordei de madrugada superassustada, transpirando com esse sonho. Voltei a dormir, acordei. No dia seguinte, fiquei tão chocada com o sonho que não consegui dormir. Eram três da manhã, quando vi que no pote de escovas de cabelo em meu banheiro, tinham três fios de cabelos morenos, bem compridos, praticamente iguais aos da menina do sonho. Os meus são loiros quase brancos. Como era possível ter aqueles fios ali se ninguém tinha entrado nem saído daquela casa”, relata. Tentando entender o que estava acontecendo, acordou o marido. Ficaram em estado de negação. Ele voltou a dormir, ela não conseguiu. “Acendi uma vela para a menina e falei ‘seja lá quem você for, se estiver aqui precisando de ajuda, eu não sou a melhor pessoa para te ajudar com isso, porque não tenho conhecimento dessas coisas, mas por favor me fala como posso te ajudar.’ Conversei ali com a entidade. Foi algo muito louco. Pus os três fios de cabelo na minha frente, no chão, e começaram a se mexer como se tivesse um vento levando eles embora. Mas não tinha, estava tudo fechado. Por dentro, estava morrendo de medo (risos) de que alguma coisa se manifestasse ali, mas, enfim, não manifestou nada e eu não tive mais nenhum pesadelo com essa menina”, acrescenta. E ressalta que não poderia ser uma ex moradora do local. Carol foi a primeira pessoa a viver neste apartamento.
Quando o assunto é religião, é direta. “Sou ateia. Assim, não acredito no Deus cristão, mas eu tenho umas crenças meio malucas. Minha família sempre foi muito espírita. Então, tenho um background grande. Eu já li os livros de todas as religiões que você puder imaginar justamente porque eu queria entender o porque de não me identificar com uma delas. Então, fiz ali o que eu achei que precisava. Diante dos cabelos, falei que ela tinha morrido e que se precisasse de ajuda me avisasse como eu poderia ajudar para encaminhar a alma dela para algum lugar”, recorda. Fora do sonho, Carol só viu mesmo os cabelos. “Tirei fotos deles para provar para mim mesma que eu não estava louca e os joguei no lixo”, frisa sorrindo e ressalta que seu marido tem o cabelo “curtinho”.
Ela cita este caso, mas de fato, como conta, já chegou a ver pessoas que não existiam. “Segundo a minha mãe, isso sempre foi a minha realidade. Quando eu era criança, ela virou espírita justamente para tentar me ajudar, porque ela falava que existiam desconexões com a realidade daquilo que eu estava alegando. Por exemplo, pequenininha, no berço, eu apresentava sinais de que estava conversando com alguém. Levava um susto, ela me perguntava porque eu estava chorando, eu dizia que tinha um homem ali querendo falar comigo. Não lembro dessas histórias, mas ela fala que eu fui perseguida. Conforme fui ficando mais velha, com 7, 8 anos, realmente lembro de acontecerem comigo várias experiências sobrenaturais. Pra mim, na minha cabeça, era amigo imaginário. Quando fiquei adulta, minha mãe até me levou num psiquiatra justamente para entender se o que eu tinha era esquizofrenia, por exemplo. Porque esse tipo de sintoma anda lado a lado com a esquizofrenia. Psicólogos, psiquiatras, neurologistas fizeram vários testes, mas nada foi detectado”, reforça. A mãe, então, acreditou que fosse algo sobrenatural e a levou a um centro espírita. Carol odiava. “Imagina, uma pessoa que já vê fantasma dentro de casa e vai no Centro Espírita. Uma vez, já adolescente, fui devolver um livro, com a minha irmã, na biblioteca do centro espírita. Uma mulher virou para ela e perguntou como estava o namorado dela. A Laís simplesmente não respondeu, porque não viu mulher nenhuma. Era só eu que via. Foi assim a vida inteira. Mas não tenho medo, sou superaberta. Inclusive, até abro as portas, pergunto o que posso fazer para ajudar. Não tenho medo de nada do sobrenatural. O meu único medo na vida é de barata. Viva ou morta, não posso nem ver foto. De resto, encaro qualquer coisa”, garante. E diz que o marido passou a ver coisas depois que os dois começaram a namorar.
Com relação ao Dia das Bruxas, Carol conta que só foi ter contato com esta cultura de comemorar o Halloween quando morou nos Estados Unidos. “Sendo uma pessoa que tem a vida assombrada, uma data não faz diferença”, justifica. Mas apaixonada pela decoração das abóboras, gosta de postar fotos macabras, então, todo ano, procura algum lugar que tenha abóboras, seja uma plantação, um parque e tira fotos para mostrar aos fãs. “Virou meio que um conteúdo extra em outubro”, diz. Ela acha que fará alguma transmissão ao vivo contando histórias macabras. “Aqui na Polônia, as crianças saem para pedir doces no dia 31, então, vou ter que comprar alguns para dar aos filhos dos meus vizinhos.” Este mês, aliás, é especial por outro motivo. O aniversário dela no dia 14. Carol acabou de completar 32 anos.
A youtuber dedica 80% de seu tempo ao canal. Às segundas, ela posta vídeos dedicados aos mistérios, e nas quartas e sextas, os temas são variados. Tanto no curso de inglês quanto na corretora de investimentos, ela tem uma equipe da qual faz parte o marido e a irmã.
Com todos os fenômenos que presenciou, quem sabe sobre eles percebe um cotidiano agitado, nada monótono. Mas ela já passou por muitos momentos difíceis, como fibromialgia, depressão, tentativa de suicídio. “Segundo minha mãe, a vida inteira eu tive depressão por ser uma criança muito isolada socialmente, ela até achou que eu tivesse fobia social, mas não. Hoje em dia sou muito bem relacionada com um monte de gente. Era mais uma questão da minha natureza mesmo. Mas com 15 anos, após a morte da minha cachorra, por veneno de rato, fui diagnosticada com depressão clínica. Foi muito dramático pra mim, desenvolvi uma melancolia”, admite.
Foram muitas depressões, que evoluíram para a síndrome do pânico. “Por causa das repetições das crises, aos 17, 19, 21 e 23 anos, em 2016, veio a fibromialgia, um quadro que geralmente evolui em pessoas que têm depressão. Quando me casei, aos 25 anos, fui para os Estados Unidos. Então, aos 26, estava trabalhando em empresa americana, eu era chefe, comandava uma equipe enorme. Resolvi ministrar o curso de Inglês, tinha todo o trabalho no escritório e ainda querendo manter essa questão do Youtube, então, era enlouquecida. Teve uma hora que o corpo não aguentou. Junto a isso, fui diagnosticada com um princípio de insuficiência renal. Tive um tio que morreu com essa doença. Um dia, em 2016, durante uma crise de pânico muito forte, eu estava incontrolável, peguei uma vela daquelas grandes que vende nos Estados Unidos com três pavios, a atirei com muita força na parede, ela quebrou, estilhaçou e eu peguei um dos pedaços do vidro e tentei me matar. Quem me segurou foi meu marido, não sei como conseguiu me acalmar”, desabafa. No dia seguinte, seu marido resolveu adotar um cachorro. Ele achou que seria um suporte emocional para ela e realmente foi. “Aí ano passado eu praticamente curei a fibromialgia, a depressão e a síndrome do pânico. Então, hoje em dia não sinto mais dor nenhuma para nada. Antigamente não podia varrer uma casa. Hoje, faço faxina, pinto parede, faço tudo o que uma pessoa que não tem fibromialgia faz. Então, me considero curada. Embora a medicina tradicional diga que não tem cura”, assegura. Atualmente, não toma remédio nenhum.
Carol e o marido pretendem ficar para sempre na Polônia. “Morar no Brasil, nunca mais. Em todos os aspectos, tenho uma vida muito boa aqui”, aponta ela, que em seu Instagram tem uma série especial onde mostra quais são os brinquedos das crianças de hoje em dia. “Sempre com tom bem irônico e falando que não são iguais aos de antigamente e realmente não são iguais, então, o pessoal da muita risada e se diverte”, explica.
Antes de deixar o Brasil, Carol trabalhou para empresas como a Walt Disney Company e a TV Globo. “Era uma pessoa da área corporativa, trabalhava com finanças internacionais. Mas sabia que eu queria fazer algo que não era aquilo”, lembra. E dava aulas de inglês para os colegas de trabalho. Também trabalhou como professora. “Com 24 anos, já tinha muita experiência, trabalhado em grandes empresas, era bilíngue. Hoje, sou poliglota. Falo italiano, espanhol, polonês, inglês e português”, explica. Toda essa experiência rende uma brincadeira entre o casal. “Meu marido fala que tenho 300 anos e sou uma bruxa, que estou mentindo a idade para ele, pois não é possível que eu tenha aprendido tanta coisa em tão pouco tempo. Mas é que sou nerd mesmo, gosto de estudar”, assegura, às gargalhadas. Apesar da longa relação amorosa, a maternidade não está nos planos. “Desde sempre, nunca quis ter filho”, frisa ela, que também dá palestras para empresas sobre empreendedorismo. “Não sou uma pessoa que age por impulso. Antes de realizar qualquer coisa, eu analiso muito o que vou fazer”, explica.
Artigos relacionados