Sophie Charlotte lança dois filme neste fim de ano e fala sobre tempos de intolerância: “A mulher tem que batalhar como qualquer grupo de minoria”


Mãe do pequeno Otto, de seis meses, a atriz comentou a nova fase: “Eu achei que fosse ensinar, mas na verdade quem está descobrindo um novo mundo sou eu. A cada dia, eu descubro um jeito totalmente novo de amar. Eu adoro um clichê e esse sobre o amor de mãe é inigualável”

Sophie Charlotte nunca esteve tão envolvida com o cinema nacional como nos últimos tempos. Figurinha carimbada em novelas da Rede Globo, a atriz tirou um tempo de sua concorrida agenda para flertar um pouquinho com a sétima arte – e parece que gostou do que viu. Tanto que só neste fim de ano, ela poderá ser vista em duas películas diferentes nas telonas de todo o Brasil: no premiado “BR 716”, de Domingos de Oliveira, e “Tamo Junto”, de Matheus Souza. Ah! E tudo veio bem a calhar, já que há seis meses a artista deu à luz Otto, fruto de seu casamento com o ator Daniel de Oliveira. Como as produções já haviam sido rodadas há algum tempinho, Sophie, que acaba de sair da licença maternidade, tem aproveitado para divulgar os novos trabalhos.

Sophie Charlotte (Foto: AgNews)

Sophie Charlotte (Foto: AgNews)

No início do mês, durante a pré estreia carioca do filme “BR 716”, na Escola de Cinema de Darcy Ribeiro, no Centro do Rio, a atriz comentou a emoção de retomar a parceria com Domingos em uma produção que ganhou diverso prêmios, entre eles, o Kikito de Melhor Filme, no Festival de Cinema de Gramado. “Foi uma grande honra, porque Domingos é o meu grande mestre. São muitos anos de amizade e de ensinamentos, já que foi ele o responsável por me levar para o teatro. Nos conhecemos quando fiz o ‘Cabaré Filosófico’, no extinto Canequinho, do Canecão. Aquilo mudou a minha vida. Entrei para fazer só uma participação e fiquei até o fim da temporada. Meu grande sonho era ser dirigida por ele no cinema e agora deu certo. Me sinto feliz e realizada”, revelou.

Na produção cinematográfica, o BR do título refere-se a um endereço, a Rua Barata Ribeiro, em Copacabana. Lá, antes de virar cineasta, Domingos reunia os amigos e bebiam até de manhã. Já do lado de fora do apartamento, o pau comia, com a repressão do regime militar. Caio Blat é o responsável por dar vida a Felipe, que de fato é uma espécie de alter ego do diretor, que acaba de completar 80 anos de vida. Atuando e cantando, Sophie interpreta Gilda, uma espécie de femme fatale arrebatadora. “A minha personagem é uma grande sedutora. Ela assume personalidade de várias divas para criar uma mulher ideal, tanto que Gilda nem é o nome verdadeiro dela. Criei essa personagem na cara de pau. Durante as filmagens, a gente ria muito, porque eu cheguei a conclusão de que nenhuma mulher pode ser tão sedutora”, brincou. Agora, nem mulher fatal e muito menos bonequinha de luxo. Sophie Charlotte é do tipo que pega metrô. “Acho normal. Só aqui que tem essa frescura. Já vi em Nova York gente vestida a rigor no metrô. Mas, para muitos brasileiros, parece que não fica bem”, disse.

Sophie Charlotte e Domingos de Oliveira (Foto: AgNews)

Sophie Charlotte e Domingos de Oliveira (Foto: AgNews)

No filme, que entrou em cartaz dia 17 de novembro, Sophie recebeu um novo desafio: cantar. Apesar de já ter se apresentado ao lado de ninguém menos do que o rei Roberto Carlos, no especial de Fim de Ano de 2015, ela garantiu que é sempre uma responsabilidade estar de frente para o microfone. “Eu amo cantar a música ‘Amado Mio’, do filme ‘Gilda’. Eu até já fiz algumas coisas com música, mas é sempre um desafio. Quando você canta não tem máscara como o ator. Você mostra a sua essência, é um pedacinho da sua alma. Mesmo tendo a personagem como escudo, eu fico muito nervosa”, destacou.

E os trabalhos não param por aí. Filmado em 2014, o longa-metragem “Tamo Junto”, vai finalmente chegar às telas de cinema no dia 8 de dezembro, dois anos depois de concluídas as filmagens. A película, estrelada por Sophie Charlotte e Leandro Soares, é, segundo a atriz, “para rir muito, tem um humor muito pessoal”. “São projetos totalmente diferentes. É um filme jovem, de humor, mas um humor inteligente. Minha personagem chama Júlia, ela é bem mais fofinha que a Gilda. A gente filmou há dois anos e meio, muita coisa já aconteceu nesse meio tempo, então é quase como ver o filme de outra pessoa. Estou louca para sentir a resposta do público, porque eu ri muito lendo o roteiro e assistindo algumas parte. Ele tem um humor nerd em alguns momentos”, avaliou ela.

A produção, no entanto, marca o encontro da artista com o gênero da comédia. Afinal, o grande público está muito acostumado a vê-la interpretando papéis que buscam uma carga dramática muito marcante. “É totalmente diferente. Foi um grande desafio e um grande prazer. A Júlia me ajuda muito nesse sentido do humor, porque ela está num contexto onde quer ser engraçada, mas não consegue. Ela é mais fofa do que engraçada”, declarou. O longa ainda conta com participações de Fábio Porchat e Fernanda Souza e aborda diversos tabus enfrentado por jovens na iniciação da fase adulta. “Às vezes, pelo riso é mais fácil tocar em assuntos mais delicados”, revelou.

A atriz e a quepe do filme "Tamo Junto", em Gramado (Foto: Divulgação)

A atriz e a quepe do filme “Tamo Junto”, em Gramado (Foto: Divulgação)

Apesar de duas personagens tão distintas, a atriz acredita que tanto Gilda quando Julia têm um grande poder de transformação no decorrer das histórias. Para ela, esse é o ponto de partida para que tenha se identificado com cada uma delas. “Todo personagem a gente acaba descobrindo uma nova possibilidade, que no fundo é uma grande brincadeira de ser ou revelando outros lados. As duas personagens são muito específicas, mas se eu tivesse que reduzi-las, eu falaria que a Gilda tem uma humanidade muito forte e uma revolução com a qual eu me identifico. A Júlia também segue essa linha. São personagens de transformação. Assim como eu, elas também estão em transformação. Essa possibilidade de mudar o rumo da sua própria história e se reinventar a todo instante me interessa em todos os níveis”, ponderou.

E de transformação Sophie entende. Nascida na Alemanha, a atriz mudou-se para o Brasil com a família aos 8 anos e agora acaba de ser mãe. Segundo ela, a nova fase tem sido de grandes descobertas. “É tão bom quando você experimenta uma coisa nova. Com o passar do tempo, as sensações novas vão ficando cada vez mais distantes, mas ter um filho trouxe algo ainda inédito em mim”, comentou, lembrando que pretende pautar seus trabalhos pensando em seu filho. “Eu sempre pensei nas minhas escolhas e aproveitei muito as oportunidades, mas agora levo em consideração o Otto. Quero de uma certa forma ficar feliz no meu trabalho e na vida pessoal”, disse.

Daniel de Oliveira, Sophie Charlotte e Otto (Foto: divulgação)

Daniel de Oliveira, Sophie Charlotte e Otto (Foto: divulgação)

No entanto, mesmo com a cabeça voltada para o mundo mágico dos bebês, Sophie Charlotte segue antenada com os movimentos políticos e sociais que estão acontecendo no Brasil e mundo. De fato, uma onda conservadora vem tomando conta da cena. Primeiro foi a candidatura de Marcelo Crivella como prefeito do Rio e, mais recentemente, Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos com propostas mais ousadas. Para a atriz, apesar de levantar a bandeira da liberdade, entende que vivemos em um processo democrático. “É muito louco, porque como atriz converso com pessoas de uma cabeça mais liberal e voltada para a liberdade das escolhas de ser quem você é, que me identifico muito. Mas a gente vive em um país de proporções continentais, assim como os Estados Unidos. Como vivemos em uma democracia, a maioria realmente tem que ser ouvida e faz parte”, disse, lembrando que a luta das minorias não pode parar.

“O feminismo para mim é vital. Fui criada com muita liberdade e não entendia muito o porquê das mulheres estarem saindo às ruas. Aos poucos fui descobrindo que ainda tem muita coisa para ser conquistada. Esse oceano que ainda nos separa de uma real igualdade de gêneros e um real respeito à figura da mulher é o que leva essas mulheres para a rua. A mulher tem que batalhar como qualquer grupo de minoria. São muitas década, e ainda tem um caminho longo. Se eu puder juntar minha voz para fazer parte desse coro de mulheres, eu vou fazer”, completou.

Assim como qualquer jovem atriz, ela também é adepta das redes sociais. Mas, apesar da rede ter se transformado em um canal de publicidade, Sophie não descarta o possibilidade, mas afirmou que usa suas contas na web como uma espécie de brincadeira. “Eu acho que deve haver um equilíbrio. É um portal maravilhoso onde você pode dar dicas e mostrar coisas que você realmente acredita. Agora, como tenho desde o comecinho, eu encaro mais como uma brincadeira pessoal do que trabalho”, completou.