Doeu e muito ver todas as imagens da catástrofe vivida pelas pessoas e animais afetados pelo rompimento da barragem em Brumadinho, Minas Gerais. As lágrimas se misturam com a lama e de cá choramos juntos. Apesar da impossibilidade de mudar o estrago que já fora feito, há agora muito o que agir pelos sobreviventes. Foi observando essa cena triste do desastre, que a empresária e modelo, que desfilou nas principais passarelas do mundo, Bethy Lagardère, resolveu agir rápido e ajudar. Na manhã do dia seguinte à tragédia, a mineira, que se divide seu tempo entre o Brasil e a França, decidiu vender todos os seus bens materiais em prol de programas de proteção aos animais atingidos.
O site HT conversou com ela sobre o bazar que será realizado de hoje até segunda-feira. Organizado no Copacabana Palace, no Rio, Bethy colocará à venda todas as peças do seu closet pessoal e do armário de louças e o dinheiro arrecadado já tem destino certo: o cuidado com os animais sobreviventes de Brumadinho e região. “Pela primeira vez, eu vou fazer uma ação humanitária pública. Eu acho que quando você tem um ato a fazer levado pelo sentimento, não precisa de divulgação. Mas dessa vez é o segundo drama vivido. Podemos errar uma vez na vida, mas o mesmo erro é gravíssimo. E isso esta acontecendo com nós mineiros de novo, então, eu precisei arregaçar as mangas”, afirmou a mineira, que tem amor declarado pelo filho de quatro patas, o Nick. “Eu compreendo as imagens desses animais afetados, que expressam a dor pelo olhar, por eu ter uma grande paixão pelo meu cachorro. O ser humano levanta um braço e pode dar um grito para ser socorrido, os animais apenas olham e esse olhar transmite sofrimento e quem grita somos nós. Cada um faz a sua parte dentro daquilo que o toca e a minha parte se revelou dessa forma. Eu tive pesadelos com esses animais que estão desemparados e perderam os seus donos, que estão dentro de uma lama provocada pela ação humana”, ressaltou Bethy.
Bethy usou as redes sociais para divulgar a iniciativa e mostrar uma prévia do que será doado para a venda. De bolsas Hermès a sapatos Manolo Blahnik e louças de porcelana delicadamente desenhadas. “Os meus bens não tem valor nenhum diante desse vazio vivido por essas pessoas e animais atingidos. Eles perderam tudo: a família, os amigos, as memórias. Não tem nada em Brumadinho que não foi perdido de uma vez só. E por isso me sensibilizei e pensei que nada do que eu possuía tinha valor diante disso. Não sou apegada a bens materiais e nunca fui. Então, eu resolvi fazer esse ato, que na verdade é muito simples”, analisou, acrescentando: “Se eu mudo de roupa, de cor de cabelo, se eu me maquio ou não para o Nick não faz diferença nenhuma. Ele se importa comigo: Bethy”.
Apesar de Bethy achar a ideia simples, como realizá-la não foi decidido da noite para o dia. Ela fez questão de sobrevoar de helicóptero na quarta-feira a área afetada pelo desastre e se reuniu com o deputado estadual Noraldino Júnior, que, no início da semana, encaminhou um documento à Coordenadoria Estadual de Defesa da Fauna, que pertence ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), solicitando que o órgão cobrasse da Vale o resgate dos animais atingidos pela barragem. Depois de analisados os projetos e de longas conversas com ativistas da causa animal e com o político, Bethy decidiu ajudar os amigos do seu cachorro Nick Bolt, através de projetos de longo prazo. “Eu não queria fazer uma ação imediata apenas para me aliviar nesse primeiro momento de angústia. Eu escolhi algo que fosse seguro, sólido e transparente. Será uma ação organizada e de mais tempo. O projeto já existia e me sensibilizou. Porque o grande problema, a partir de agora, será a doença, a falta de alimentação e a castração”, explicou ela, que tem uma relação antiga com os bichos: “Nos nossos causos mineiros reais e imaginários sempre tiveram animais: o burro, a galinha, o cavalo. Somos criticados por sermos ‘jecas’ e ‘caipiras’, e somos. Do lado dessa ridicularização temos um grande afeto por todos os animais e é nessa direção que eu vou”.
Movida pela urgência, Bethy solicitou ajuda dos amigos para tirar a ideia do bazar do papel e fazê-lo acontecer nesse fim de semana. “Tive que correr e, por isso, o bazar não tem logística nenhuma. Pedi algumas amigas, que estão organizando para mim e eu tive muito apoio moral e financeiro. Os meus objetos, que estarão lá são a minha história e eu vou ficar muito feliz se cada um dentro das possibilidades puder levar algo. É um bazar acessível em que você pode comprar algo de muito valor ou não, bonito ou não, pois temos gostos diferentes, mas em tudo você estará contribuindo. Vou registrar cada pessoa que comprar”, afirmou ela, que fez questão de terminar a nossa conversa fazendo uma sincera homenagem aos guerreiros desse drama: “Os nossos bombeiros estão sendo excepcionais nesse momento pela grande capacidade e coragem deles”.
E você também, Bethy!
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