Ser artista é conceito subjetivo? Deveria ser subversivo? Foram tantos anos de diferentes formas de censura que hoje se aplaude de pé quem tem talento e liberdade para criar. E é nesse mercado “mais do mesmo” – onde a fórmula de encontrar uma cantora com boa voz e ambição, que injeta personalidade por meio de variações marqueteiras parece prevalecer – que uma artista completa como Silvia Machete brinca no bambolê com a sua liberdade de criar.
Passeando no seu mundo tropical circense, ela destila seu fluido sacana – e, segundo ela, “eternamente sacana” –, mostrando feminices frágeis e transparentes, mas inventivas e libertinas. Assim é Machete, uma artista. Ao menos parece ser o que Moraes Moreira pensou quando compôs uma música especialmente para ela. “Nada” estreia hoje nas rádios, no programa “Faro MPB”, que lança novos artistas. Sim, ela integra a nova geração de cantoras, mas já tem sua estrada distinta, nem tanto no rock e nem no samba, quase na bossa nova.
“Já não preciso de nada/Nem de uma gota de álcool/Eu tiro onda no palco/E sei que não sou careta/Não gosto de pouca coisa/E digo que sou amante/Da lucidez irritante/Que me deixou muito louca. Sou uma artista de circo/E levo a vida no arame/Tô pendurada no andaime”. “Não tinha ideia do quanto ele poderia saber da minha história”, diz Machete sobre o fato do presente de Moraes Moreira ser a cara da artista que ela é. Uma artista de circo, do bambolê, uma mulher inteira condensada dentro de uma pin up moderna dos trópicos. A cantora se diverte com clichês latinos, numa atmosfera sessentista, usando seu talento com elementos circenses, dando vida nova a liras e trapézios em suas apresentações.
“Nada” faz parte de seu novo álbum de canções inéditas, “Souvenir”, que acaba de finalizar e que será lançado em abril. Silvia Machete parece estar em erupção, tipo Vesúvio, e acaba também a gravação de mais dois clipes de faixas que fazem parte de seu novo álbum – um deles, já lançado, é um teaser com uma versão de “Tatuagem”, de Chico Buarque e Ruy Guerra –, tudo na linha gata sexy. Com tatuagens laváveis compradas em uma lojinha undeground de Manhattan, e com apenas elas, Silvia fez um ousado set de fotos sob a batuta de Leonardo Aversa. E mais: uma outra versão mais comportada – ma non troppo – também será usada no material promocional de “Souvenir”. Silvia gravou o CD entre Rio e Nova York, contando com colaboradores das mais variadas tribos, como Rubinho Jacobina, Davi Moraes e o tecladista americano Jason Lindner, que já tocou com Chick Corea e Lauryn Hill.
Em entrevista exclusiva, a cantora conta tudo sobre os novos trabalhos. Confira!
*Foto: Leo Aversa (divulgação)
HT: Nesse novo álbum você está mais ou menos “sacana”? Ou mantém o padrão?
SM: Eu acho que serei sempre sacana, mas tenho a impressão de que podem achar que estou mais comportada, dessa vez. Essa dúvida só vai ser esclarecida de verdade no show de lançamento do CD.
HT: A faixa que você lança hoje, “Nada”, foi presente feito especialmente para você? Como foi?
SM: Sim, um presente do Moraes para mim. Eu tive alguns contatos com ele, fui a vários shows, inclusive no Trio Elétrico que ele comandou no Carnaval de Salvador no ano passado. Falamos de música, coisas assim. Um belo dia, ele me manda essa letra: não tinha ideia do quanto ele poderia saber da minha história! A música fala da arte de ser artista, da vida do artista. O Moraes é um hitmaker!
HT: Me fala do novo álbum, as influências, inspirações?
SM: Souvenir é uma coleção de canções. Tem inspirações tiradas de viagens a Portugal, toques de Rio de Janeiro, como na canção que Eduardo Dussek fez para mim. Músicas que sempre quis gravar, como “No Moon at All”, e, sobretudo, uma grande mistura de músicas de várias “tribos”. Tem pernambucano, paulista, francês, carioca, americano.
HT: Você está gravando dois clipes? Um deles, “Tatuagem” acaba de ser lançado e o outro?
SM: Sim, um deles é para a música do Dussek, “Totalmente tcha tcha tcha”, e outro é um teaser com uma versão de “Tatuagem”, de Chico Buarque e Ruy Guerra, com um arranjo feito pelo pianista americano Jason Lindner.
HT: Já tem shows programados para apresentar as novas músicas?
SM: Assim que lançar o CD, vou começar a fazer shows! Estamos planejando para meados de abril.
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