O SENAI CETIQT apresentou o “Panorama Rota 2030 – Painel Produtividade Industrial”, um webinar completíssimo que reuniu virtualmente pesquisadores e profissionais de todo o país para discutir, online, temáticas relevantes para o desenvolvimento competitivo do setor automotivo dentro do contexto do Programa Rota 2030. A estrutura de educação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e os Institutos de Inovação e de Tecnologia estão auxiliando empresas automotivas brasileiras a aumentar a produtividade em conexão à Indústria 4.0. O SENAI está entre as instituições credenciadas para gerenciar os recursos do fundo de inovação do Programa Rota 2030 com ênfase na produtividade. O Programa Rota 2030 – Mobilidade e Logística na produção, no emprego, nos investimentos, na inovação e na agregação de valor do setor automobilístico é parte da estratégia do governo federal para o desenvolvimento do setor automotivo no país e tem o objetivo aumentar a exportação de veículos e autopeças, ampliando a inserção global da indústria automotiva brasileira.
O webinar contou com a participação da consultora em Eficiência Operacional, mentora Lean e especialista em Negócios do Instituto SENAI de Tecnologia em Eficiência Operacional do Espírito Santo, Edilânia da Rós Bozzi, que falou sobre como conduzir os custos e aumentar a produtividade através da otimização de processos, e da especialista em Produtividade do SENAI-MG Ingrith Gonçalves para uma conversa sobre produtividade como um novo olhar para a digitalização. São temas fundamentais para a implantação dos objetivos do Rota 2030. Mediado pelo engenheiro mecânico Diego Gomes, do SENAI CETIQT, o painel é parte integrante de uma série de apresentações dos cursos sobre o Programa Rota 2030 oferecidos pelo SENAI (Indústria 4.0, Digitalização e Produtividade).
“Conversamos sobre ações para otimizar a produtividade que as indústrias vêm buscando: o uso das tecnologias em ferramentas modernas aplicado na utilização de processos e serviços. Isso favorece a competitividade e a dinâmica em processos e numa produção moderna, digital e mais eficiente”, observou Diego Gomes. O SENAI CETIQT, maior centro latino-americano de produção de conhecimento aplicado à cadeia produtiva têxtil, de confecção e química, e referência em tecnologia, consultoria e formação de profissionais qualificados para a Quarta Revolução Industrial, em sinergia com o Programa Alavancagem de Alianças para o Setor Automotivo, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), já deu o start aos trabalhos da primeira turma do Master In Business Innovation (MBI) em Indústria Avançada: Automotiva 4.0, exclusivo para gestores das maiores empresas automotivas. Além disso, lançou as Oficinas do Programa Rota 2030, em EAD, voltadas para produtividade, Indústria 4.0 e digitalização.
Edilânia Bozzi pontuou a relevância do tema “Como reduzir custos e aumentar a produtividade através da otimização de processos”. “Preocupação de muitas empresas é encontrar métodos para chegar à Indústria 4.0. Existe uma escadinha de ascensão em que nós sugerimos ações para tornar as organizações mais eficientes. Não adianta a indústria tentar chegar ao grau 4.0 se não pensar em primeiro lugar em otimizar seus processos. A gente brinca entre consultores que, se a indústria for direto para os itens digitalização, inovação e sensoriamento sem passar pela otimização, acaba automatizando o caos. É interessante que as empresas pensem em como melhorar seus processos, como otimizar e garantir que tenham uma base sólida para avançar na estrada da ascensão”.
Um ponto importante para ser uma empresa mais produtiva e otimizada é pensar na educação, no engajamento e no envolvimento das pessoas para alcançar o primeiro degrau. É necessário ficar muito atento aos custos operacionais. Muitas empresas ainda acreditam que os custos estão na mão-de-obra e não é bem assim que funciona. Interessante ela atentar seus processos de produção de operação independentemente de qual seja o processo e se atende a esses desperdícios operacionais. Nós utilizamos o Lean Manufactoring, que significa manufatura enxuta que verifica os desperdícios e oferece ferramentas importantes para combatê-los, eliminá-los ou mitigá-los”, afirmou ela.
A consultora ressaltou que existem desperdícios identificados. Mas o SENAI inclui ainda um não-clássico: o desperdício intelectual. Querendo ou não, os desperdícios desencadeiam outros problemas. O transporte, por exemplo, pode gerar um custo excessivo de um recurso. “Uma empilhadeira, por exemplo, quando não tem um planejamento adequado, consome mais combustível e a própria mão-de-obra do operador”, exemplificou. O estoque pode gerar uma obsolescência do produto e fazer com que ele se perca. O desperdício intelectual está relacionado à mão-de-obra não utilizada das empresas. As pessoas que trabalham na produção são fundamentais para fazer com que as melhorias aconteçam e que tenham ótimas ideias para melhorar os processos. O desperdício por movimentação está muito atrelado às pessoas andando sozinhas em busca de informação, um layout desproporcional nas indústrias onde precisa andar muito. A movimentação desnecessária do operador também gera custo.
O processamento excessivo está atrelado a fazer muito mais do que o cliente pediu. “Vejam o exemplo de uma oficina de recuperação automotiva. A tarefa é pintar um para-choque e bastam duas demãos de tinta. Mas o operador, por sua conta, passa três, quatro, porque acha que fazer mais será melhor. Isso também gera custo excessivo. Isso vale para qualquer segmento. Temos também desperdício com a espera: muitas empresas não contabilizam o tempo que os operadores gastam esperando por insumo, matéria-prima, por informação. Acredite: informação, na maioria das empresas, ainda é um item polêmico”.
Defeitos de processo e retrabalhos são onde o custo está indo para a lixeira. Se a empresa tiver um olhar voltado para a redução de custos, ela consegue melhorar muito sua competitividade. Temos, ainda, o excesso de produção. Não ter um planejamento, produzir mais que a demanda do mercado também gera custos extras e desnecessários. As empresas devem fazer uma análise mais apurada desses despejos para poderem reduzir realmente seus custos operacionais. “Existe uma proposta do Sistema Toyota de Produção que é uma casa (Lean, na verdade). Para cada desperdício, há um método de trabalho utilizando uma ferramenta específica. “Quais são as ferramentas do Lean que posso usar para deixar meus processos mais estáveis? Para envolver, engajar pessoas, começar a disseminar a filosofia do Lean?”, ponderou Edilânia.
“A melhoria contínua está inserida na proposta de tentar reduzir custos, ter maior produtividade, de utilizar, por exemplo, o Lean Manufacturing para isso. A casa tem, assim, uma simbologia filosófica, pois precisa acontecer etapa a etapa para chegar ao sucesso. O SENAI Espírito Santo trabalha com metodologia de Mentoria Lean. Nós percebemos que a consultoria executar e ir embora da empresa deixava um gap. Era necessário que as pessoas se envolvessem no processo de mudança e perpetuassem o que foi iniciado pelo consultor. Então, nessa expertise, nessa veia educacional do SENAI, nós desenvolvemos a Mentoria Lean, que é um programa nacional. Existe uma plataforma para a replicação do aprendizado da filosofia do Lean Manufacturing, que é o Lean Game (o tabuleiro)”, explicou.
Recentemente, com a pandemia, segundo a consultora, o treinamento é remoto, mas manteve o mesmo formato. “Os colaboradores são os protagonistas nesse processo. O consultor do SENAI passa a ser um mentor. Ele ajuda a expandir a visão em relação aos desperdícios que foram citados. Os benefícios que podem surgir através de uma mentoria são aprender a identificar os desperdícios. Existem até literaturas sobre isso. Aprenda a enxergar esses desperdícios, pois estamos engolidos pela rotina. Peter Drucker já dizia: “A rotina acaba engolindo a estratégia no café da manhã”. Aprender a identificar os desperdícios, os gargalos de produção, é o primeiro passo, o primeiro benefício que um programa de mentoria para implantação do Lean Manufacturing pode promover”.
Depois é ter uma análise sobre os ganhos obtidos. As melhorias são provocadas para haver uma construção mais eficiente e uma aplicação mais prática das ferramentas. O tempo todo a gestão recebe informações pelo seu grupo de melhoria contínua para que possa ter os melhores resultados. “O mentor do SENAI colaborando com a operação da empresa representa a transferência de conhecimento. Em contrapartida, a operação da empresa que recebe esse conhecimento pode ser uma multiplicadora nessa operação. Essa é, talvez, a proposta mais vantajosa”, analisou Edilânia.
A especialista em Produtividade do SENAI-MG Ingrith Gonçalves ressaltou que a questão da jornada de transformação foi muito bem colocada por Edilânia: “O primeiro patamar dessa jornada é a otimização e a gente está falando do Lean Manufacturing. Ter uma manufatura enxuta para poder começar a alavancar a jornada de transformação”.
Pontou que o próximo patamar aborda sensoriamento e conectividade; o seguinte fala de visibilidade e transparência (quando começa a ter visibilidade e transparência das informações); “e daí eu passo para o próximo patamar: a capacidade preditiva. A partir do momento em que tenho uma linha de conhecimento é possível aplicar tecnologias preditivas para ter maior eficiência, maior assertividade nas tomadas de decisão e, consequentemente, ter um processo mais flexível e adaptável a essas demandas. A gente envolve as partes de Educação, Tecnologia e Inovação. Porém, gosto de enfatizar como é importante entender esse contexto que envolve a Indústria 4.0. Várias empresas têm postergado o início dessa jornada – muitas vezes por falta de conhecimento do contexto. Com a Quarta Revolução Industrial, que é a Indústria 4.0, pensamos em toda essa gama de tecnologias que possam habilitar e fazer a indústria se tornar mais competitiva”, afirmou Ingrith.
Pesquisa realizada pela CNI mostra a questão da utilização dessas tecnologias habilitadoras da Indústria 4.0 e que o contexto precisa ser difundido e entendido, porque frequentemente está ligado à empresa entender que, às vezes, precisa mudar toda a planta para poder iniciar essa jornada. “Posso ter um processo e conseguir digitalizá-lo, ter uma transparência, uma visibilidade de informações que vão nos subsidiar para melhores tomadas de decisão”.
Ela explicou ainda que trabalha com uma mandala que mostra as tecnologias que habilitam a Indústria 4.0. “Falo “habilitam” porque há tecnologias que são antigas em comparação com a origem da Indústria 4.0 e, na verdade, fazem o papel de habilitar. Fazem com que as indústrias se tornem mais inteligentes. Pensando no contexto do mercado e nessa jornada, hoje temos concorrência global. Por isso é necessário buscar maior eficiência nos processos e mais agilidade operacional”.
Pensando no contexto do Mentoria Lean, que é ter processos mais enxutos, Ingrith abordou a Mentoria Digital, que, na verdade, “foram produtos e equipamentos do Departamento Regional desenvolvidos com o pensamento na jornada de transformação. Então, eu aplico o Lean, deixo meus processos mais enxutos para que, então, eu possa começar uma digitalização, sempre com o intuito de agregar valor. A Mentoria Digital veio para facilitar esse acesso. Para mostrar às indústrias que é possível iniciar uma jornada rumo à Indústria 4.0, muitas vezes com baixo investimento e sempre com o objetivo de aumentar a produtividade: trocar tecnologia por tecnologia sem um valor agregado não nos leva a lugar algum. Muitas empresas ainda pensam que têm que implementar todas as tecnologias habilitadoras e que, aí sim, serão consideradas uma Indústria 4.0. Na verdade, não é isso. Precisamos enxergar a tecnologia aplicável e a maturidade em que nos encontramos para, aí sim, trabalharmos essa jornada”.
O Mentoria Digital é uma continuidade do Mentoria Lean com a mesma pegada de capacitação e, ao mesmo tempo, consultoria. A partir do momento em que eu tenho uma maior transparência das informações, tenho uma melhor gestão da produção. Com isso, consigo ter uma maior sustentação das melhorias dos resultados obtidos.
O que envolve e quais são as principais oportunidades de uma empresa que decide iniciar essa jornada pela digitalização de um determinado processo ou equipamento? “Ela vai ter maior informação sobre o processo em tempo real, produtividade – nosso foco será sempre o aumento da produtividade. É preciso mostrar que aquela tecnologia está trazendo ganhos efetivos para a organização. A jornada de transformação envolve tanto a parte de Educação como as de Tecnologia e Inovação”, explicou.
Sobre os benefícios da tecnologia de coleta e conectividade de dados, Ingrith comentou: “A gente considera de baixo custo para iniciar. Acesso às informações em uma plataforma online, por exemplo. Em casa, eu consigo verificar o meu gargalo de produção e saber como está a eficiência, a disponibilidade daquele equipamento, se a minha meta foi ou não atingida, corrigir rotas que serão visualizadas ali, maior agilidade nas tomadas de decisão, profissionais da indústria treinados entendendo toda essa aplicação”.
Como é o fluxo da informação? “Existe um ativo físico, vou ter uma plataforma em nuvem que vai receber esses inputs. Vou ter a visibilidade e, aí então, terei informações assertivas para a tomada de decisão. Todo esse trabalho envolve fortemente a capacitação. Um dos nossos papeis na indústria é a transferência tecnológica. Transferir realmente esse conhecimento para que a empresa consiga andar com suas próprias pernas. Como eu falei, a solução envolve consultoria, tecnologia e capacitação. A transferência de conhecimento ocorre o tempo todo. Utilizamos métodos para permitir a fácil absorção do conhecimento e criar a autonomia da empresa”.
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