SENAI CETIQT: Live O envelhecimento é agora. Jovens, precisamos falar sobre o tema e com responsabilidade social


O debate contou com as participações do secretário municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, Junior da Lucinha; da pedagoga e pesquisadora Elizângela Farias de Oliveira; das alunas da Faculdade SENAI CETIQT Nathalia Souto e Paula Reis; e da professora da Faculdade SENAI CETIQT Cristiane Santos. Em 10 anos, população de idosos do Rio cresce 47% .”Pelos dados de 2020, o município do Rio de Janeiro tem cerca de um milhão e 300 mil idosos. É o segmento que mais cresce, apresentando grandes demandas por investimentos e políticas públicas. Outro fator relevante é o envelhescente. A população a partir de 40 anos se aproxima de um milhão e 800 mil pessoas. Precisamos cuidar para que cheguem à terceira idade com saúde de qualidade e possibilidades”, disse o secretário

Em “A Velhice”, um dos livros mais contundentes de Simone de Beauvoir (1908-1986), publicado em 1970, a escritora francesa busca o entendimento da percepção dos idosos pela sociedade. A partir dele, até hoje diversos autores brasileiros abordam os aspectos históricos e sociais sobre o tema. E você, leitor, tem ao toque de um clique no Youtube, uma live importantíssima realizada pelo SENAI CETIQT, parte integrante da Semana de Responsabilidade Social, cujo tema é: “O Envelhecimento é Agora: Jovem, Precisamos Falar Disso”. O debate foi aberto pela pedagoga e interlocutora do Programa de Ações Inclusivas do SENAI CETIQT, Mônica Mota, e contou com as participações do secretário municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, Junior da Lucinha; da pedagoga e pesquisadora Elizângela Farias de Oliveira; das alunas da Faculdade SENAI CETIQT Nathalia Souto e Paula Reis; e da professora da Faculdade SENAI CETIQT Cristiane Santos, que atua em Ergonomia, Engenharia de Produção, Metodologia da Pesquisa Científica, Ética, Cultura e Cidadania, Responsabilidade de Negócio Social, Gestão de Pessoas e Design de Moda.

“Há muito tempo dizemos que precisamos falar do envelhecimento. Ele não ocorre quando estamos na melhor idade, mas agora”, ressalta Cristiane Santos, acrescentando: “Posso me colocar no lugar da minha avó, no lugar da minha mãe? Será através dessa troca que vamos conseguir, talvez, alcançar a tão desejada qualidade de vida nessa idade a que queremos chegar?”.

Mas como fazer este movimento em escala mega, tendo em vista anseios e necessidades dos idosos que vivem em uma metrópole como o Rio de Janeiro? O secretário municipal do Envelhecimento Saudável, Junior da Lucinha, começa situando o lugar do idoso na cidade. “Pelos dados de 2020, o município tem uma população de cerca de um milhão e 300 mil idosos. É o segmento que mais cresce, apresentando grandes demandas por investimentos e políticas públicas. Outro fator relevante é o ‘envelhescente’. A população a partir de 40 anos se aproxima de um milhão e 800 mil pessoas. Precisamos cuidar para que cheguem à terceira idade com saúde de qualidade e possibilidades. O trabalho da secretaria também é o de cuidar dos ‘envelhescentes’”, afirma o secretário. “Eles são o que eu chamo de ‘invisíveis’. Temos políticas públicas para os jovens e para os idosos acima de 60 anos. Dos 40 aos 59 anos, porém, não há nenhum tipo de ação. É importante mantermos um olhar atento se quisermos promover envelhecimento com qualidade de vida”.

É justamente disso que trata o Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento, resultado da II Assembleia Mundial do Envelhecimento, promovida pela ONU em 2002, em Madri. O documento contém orientações para a implementação de políticas de proteção aos idosos. São apresentados temas centrais (participação ativa na sociedade, emprego, acesso ao conhecimento, saúde e bem-estar, entre outros), seus objetivos e as medidas a serem tomadas para que sejam alcançados. Em 2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou seu Relatório Mundial de Envelhecimento e Saúde. Além de apresentar novas formas de agir para obter uma velhice sadia, o relatório recomenda profundas mudanças na formulação de políticas de saúde para as populações que estão envelhecendo.

“A oferta de serviços de proteção e as políticas de saúde devem fomentar uma cultura de adoção de hábitos saudáveis, melhoria da qualidade de vida, condições de dignidade e garantia de direitos. Isso é o que preconizam as ações das Nações Unidas e da OMS. Sem nos esquecermos que a Assembleia Geral da ONU determinou que o período entre 2021 e 2030 seria a Década do Envelhecimento Saudável”, observa o secretário. “Quando assumi a secretaria, em janeiro desse ano, o desafio foi enorme, porque temos uma grande população de idosos e tivemos que pedir para ficar em casa. É a parcela mais vulnerável da população, não só pelo fator idade, mas porque a maioria das pessoas com mais de 60 anos tem algum tipo de comorbidade. Descobrimos que muitos estavam em depressão e pensando até em suicídio. Foi um trabalho árduo e difícil, mas conseguimos, através das redes sociais, fazer um acolhimento e proporcionar aulas de ginástica e de dança para que os idosos tivessem algum tipo de atividade no período de pandemia, mesmo que fosse em casa”.

A reabertura das Casas de Convivência (Madureira, Gávea e Tijuca), onde se praticam atividades como exercícios físicos, dança, canto, coral, jogo de memória. Temos uma psicóloga, uma terapeuta ocupacional e tornou-se um divisor de águas na rotina dos idosos, muitos em depressão, com pressão arterial alta, diabetes descompensada. Eles estão ganhando qualidade de vida e enfrentando questões psicológicas. É importante destacar que para frequentar as Casas é necessário apresentar o passaporte de vacinação. “Temos, também, o projeto Mais Cidade. Nós soubemos que muitos nunca tinham ido ao Cristo Redentor ou a um museu. Nós vamos passar uma manhã ou uma tarde inteira com eles no MAM, no Museu do Amanhã, no AquaRio, no Cristo Redentor etc, tudo totalmente gratuito”, revela o secretário. “O objetivo da secretaria não é que o idoso participe da atividade apenas um dia, mas que isso passe a fazer parte do seu cotidiano. Ele vai frequentar, ter acesso à cidade. É importante destacar também a parceria com o Museu do Amanhã e, pelo projeto Vizinhos do Museu, alguns idosos serão selecionados para entrar gratuitamente na hora que quiserem, sem enfrentar fila”.

O secretário ressalta ainda: “Quero aproveitar para ressaltar a parceria inédita entre o SENAI CETIQT e o Museu do Amanhã dentro do programa Vamos Falar sobre Isso. Na última edição, nós tratamos de saúde mental e tecnologias –  inclusive o Museu do Amanhã participou de uma live da Semana da Responsabilidade. A parceria também se deu no projeto Mais Saber, em que os alunos da disciplina Ética, Cultura e Cidadania desenvolvem métodos de inclusão produtiva que permitem o engajamento dos idosos nas atividades de desenvolvimento econômico tendo a moda como ponto de inserção. Essa inserção da terceira idade na moda é muito importante, também”.

Quando assumiu a secretaria municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, Junior da Lucinha tinha um orçamento de R$ 16 milhões para os projetos em 2021. “Para o ano que vem, 2022, nós vamos sair de 16 para R$ 42 milhões, com programas importantíssimos como Na Casa, que será o maior programa de cuidadores de idosos do Brasil”.

No Rio de Janeiro, Copacabana é o bairro com a maior população de idosos do Brasil, mas temos também Tijuca e Campo Grande, que estão entre os três bairros com maior número de idosos do país. E está prevista a implantação do Centro Dia, local que terá atendimento médico e psicológico voltado para o idoso.

A pedagoga Elizângela Farias de Oliveira, especialista em gestão de Educação Pública, alerta para a ausência quase total do tema “envelhecimento” nas políticas educacionais brasileiras. Ela acredita que a educação reflita uma estrutura do século XX, ainda voltada exclusivamente para crianças, adolescentes, jovens e adultos. “Falar sobre o envelhecimento é levar os alunos e a comunidade escolar a uma reflexão: o que você quer ser quando envelhecer? O que é preciso para chegar ao processo de envelhecimento na sua maturidade e qual caminho percorrer?”, questiona. “Falar sobre envelhecimento na educação é falar sobre estilos de vida, direitos a serviços e oportunidades como acesso a saúde, educação e emprego. Falamos da diversidade da faixa entre 50 e 80 anos, mas não falamos de envelhecimento de uma faixa etária inferior”.

“Quando abordamos as políticas educacionais, percebemos que a educação se apropria do envelhecimento de uma forma muito lenta. Temos aí uma questão de gerações que precisamos estudar. Gerações como a Nem Nem (nem trabalha, nem estuda), na faixa etária dos 20 anos e que precisam pensar no envelhecimento. A educação tem uma grande importância dentro do processo. Além disso, temos indicadores de pessoas com 50 mais e 60 mais e até 80 inseridas no sistema de ensino superior. Vemos um grande processo do envelhecimento na educação do qual ainda não fala. Nós falamos da diversidade de uma faixa de idade entre 50 e 80, mas não falamos sobre uma faixa etária inferior”.

Aluna de Design de Moda na Faculdade SENAI CETIQT, a jovem Paula Reis traz um ponto importante para a discussão: como tratar a questão do envelhecimento com um jovem que cresceu sem jamais focar muito no tema?

“Nós não visualizamos os professores falando sobre envelhecimento, mas ações pontuais que envolvem o assunto. A questão é como inserir essa temática dentro de uma proposta educacional? Falar sobre envelhecimento no processo de educação é fazer refletir: ‘O que você gostaria de ser quando envelhecer?’ A pergunta é essa e deveria estar nos currículos”, questiona Elizângela Farias de Oliveira. “Como uma professora da Educação Básica fala sobre os sujeitos sociais familiares para seus alunos? Ela diz que tem pai, mãe, avó. Mas ela pergunta quantas pessoas têm mais de 50 ou 60 anos? Não. Ela diz que o conjunto social familiar é aquele e pronto”.

Muitas vezes os jovens têm um processo de negação do envelhecimento. Velho não sou eu, velha é minha colega de 16, eu só tenho 15 anos eu sou a mais nova. Quando você chega na educação superior, falamos sobre a política da longevidade, porque vai abordar questões intergeracionais, questões dos índices populacionais de envelhecimento. Outro patamar é inserir essas pessoas nas instituições de ensino superior. A Secretaria de Envelhecimento está cumprindo com as ações existentes dentro de uma esfera. Mas será que a educação está cumprindo? A pergunta é essa.

Tal postura, e suas consequências, leva muita gente a não se preparar para essa fase da vida. O secretário municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida conta que, recentemente, promoveu um concurso de poesias com o tema ‘Envelhecer é…’ “E percebi que muitas pessoas perdem o tempo do envelhecimento. A vencedora fez uma declaração emocionada contando sobre quando percebeu que tinha envelhecido. Ela estava em casa, no banheiro, e se olhou no espelho. Viu os cabelos brancos, as muitas rugas, a pele caída. E começou a chorar. Chorou por quase uma hora porque só então percebeu que havia envelhecido”, conta o secretário Julio da Lucinha. “Não adianta falar ‘Precisa envelhecer com qualidade de vida’. Não. Tem que perguntar ‘O que você quer ser quando envelhecer?’. Cabe à secretaria estimular a potencialidade do idoso e fazer o máximo para que use sua força para se realizar. Também queremos fazer a integração geracional entre idosos e jovens. Estamos apenas esperando a pandemia passar. A troca de experiências é muito importante”.

É nesse ponto que a aluna da Faculdade SENAI CETIQT Nathalia Souto levanta uma questão interessante: ela quer saber se os programas da secretaria municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida atendem a idosos com personalidades e comportamentos tão diversos entre si. “Tem aqueles que são mais ativos, os que têm problema de locomoção, outros com questões cognitivas ou transtornos mentais. Os idosos não são todos iguais, afinal de contas”, observa Nathalia. “As Casas de Convivência são voltadas para atender a todos os idosos. O mais importante, porém, é a convivência, que vem mudando a vida deles”, diz o secretário. “Por conta disso, também estimulamos o convívio entre classes sociais diferentes. A Casa Bibi Franklin, na Tijuca, era muito frequentada pela classe média. As comunidades do Casablanca e do Borel ficavam muito próximas, mas não participavam. Colocamos transporte para trazer moradores para a Casa e a convivência está sendo ótima. São classes sociais diferentes convivendo e trocando experiências”.

De acordo com Junior da Lucinha, porém, o grande desafio da secretaria será fazer com que as empresas e a população entendam a importância de se fazer a integração da terceira idade com o mercado de trabalho: “Muitas vezes, o idoso é infantilizado, diferentemente do que acontece na cultura oriental, que valoriza a experiência, em que filhos e netos param para ouvir as histórias, em que o idoso é o chefe da família com direito à palavra final. Nós queremos acabar com essa visão infantilizada do idoso e fazer com que passe a contribuir e a estudar mais. Muitos querem aprender. Tem um senhor de 94 anos que acabou de se formar em Direito. O Boris Casoy, aos 80, está cursando Medicina Veterinária. É fundamental inserirmos os idosos na sociedade”.

A professora da Faculdade SENAI CETIQT Cristiane Santos faz uma análise muito importante ao fechar o debate: “Nosso diálogo se direcionou para duas palavras-chaves: a convivência (ou seja, jovens, venham conviver com os envelhescentes, venham conviver com os sêniors) e a empatia. A empatia, essa palavra que a gente vem ouvindo falar há um ano e meio, que significa se colocar no lugar do outro. Como posso me colocar no lugar da minha avó, no lugar da minha mãe? Vai ser através dessa troca que vamos conseguir, talvez, alcançar a tão desejada qualidade de vida nessa idade a que nós queremos chegar. A questão é como chegar da melhor maneira possível?”