SENAI CETIQT: história de superação de atriz em série Top 10 na Netflix e live sobre inclusão de pessoas com deficiência


A Netflix estava à procura de uma atriz com deficiência visual para o papel principal de uma jovem cega para a minissérie “Toda a Luz que Não Podemos Ver”, baseada no livro homônimo vencedor do Pulitzer, de Anthony Doerr. Aria Mia Loberti, que tem distúrbio visual com causa genética, concorreu com centenas de meninas e conseguiu o papel elogiado por milhões de pessoas em todo o mundo. E o SENAI CETIQT promoveu a Semana da Responsa com o objetivo de construir uma conexão entre o mundo acadêmico e a sociedade por meio de ações voluntárias inspiradas pelos princípios de solidariedade e cidadania. Uma das lives abordou a inclusão de pessoas com deficiência para a construção de um futuro anticapacitista na educação, no trabalho e na sociedade. “Precisamos ressignificar a cultura. Ressignificar olhares, escutas, barreiras. Isso se faz com formação continuada em programas de treinamento e desenvolvimento nas empresas, formação continuada para docentes em todos os níveis, etapas e modalidades, sensibilização comunitária. Se a gente não apostar na ressignificação desses olhares não vai mudar, só vai ratificar”, pontua Adriana Barufaldi, pedagoga, especialista em psicopedagogia, neuroaprendizagem, consultora em ações de diversidade, equidade e inclusão

Acabei de conferir a minissérie “Toda a Luz que Não Podemos Ver“, que está no Top 10 da Netflix. Baseada no livro homônimo vencedor do Pulitzer, de Anthony Doerr, nos últimos dias da Segunda Guerra, os caminhos de uma garota francesa cega e um soldado alemão se cruzam. Tanto na ficção como na vida real a história é de romper barreiras, superação, inclusão e oportunidades e emocionante em alta potência. Em seu papel de estreia na vida artística, Aria Mia Loberti é Marie-Laure LeBlanc, uma garota francesa cega que foge da Paris ocupada pelo nazismo com o pai, Daniel (Mark Ruffalo). Portadora da acromatopsia, condição genética caracterizada por uma alteração na retina que afeta a capacidade de uma pessoa de ver cores e causa diminuição da visão, a atriz atriz formou-se em filosofia, comunicação e ciência política, e tinha acabado de terminar um programa de PhD na Inglaterra quando uma ex-professora mandou uma mensagem: a Netflix estava à procura de uma atriz com deficiência visual para o papel principal de uma jovem cega. Aria concorreu com centenas de meninas e conseguiu o papel elogiado por milhões de pessoas em todo o mundo. Este foi o insight para eu me lembrar da recente Semana de Responsabilidade Social, que teve como tema, ‘Rompendo Barreiras‘. Carinhosamente chamada de Semana de Responsa pelo SENAI CETIQT, trata-se de um evento promovido pela faculdade da instituição, que segue as diretrizes da Campanha de Responsabilidade Social do Ensino Superior Particular da Associação Brasileira de Mantenedores de Ensino Superior (ABMES). O objetivo é construir uma conexão entre o mundo acadêmico e a sociedade por meio de ações voluntárias inspiradas pelos princípios de solidariedade e cidadania. Uma das lives abordou a inclusão de pessoas com deficiência para a construção de um futuro anticapacitista na educação, no trabalho e na sociedade.

Aria Mia Loberti em "Toda a luz que não podemos ver" (Foto: Divulgação)

Aria Mia Loberti em “Toda a luz que não podemos ver” (Foto: Divulgação)

“Queremos explorar os desafios enfrentados por essa sociedade, as barreiras sociais e as oportunidades de promover uma sociedade mais inclusiva. Precisamos conscientizar o público sobre a importância de criar ambientes de trabalho acessíveis e oferecer oportunidades para pessoas com deficiência, destacando a relevância da inclusão, a superação de estereótipos e barreiras da valorização das capacidades e talentos das pessoas com deficiência”, observou Ana Lopes, analista do SENAI CETIQT, apresentadora e mediadora do encontro. Dividido em dois momentos (um bate-papo e uma parte reservada a perguntas e respostas), o evento contou com as presenças de Adriana Barufaldi, pedagoga especialista em psicopedagogia, neuroaprendizagem, consultora em ações de diversidade, equidade e inclusão; da doutora em educação Margareth de Oliveira, coordenadora e docente do Instituto Benjamin Constant; e do instrutor de ensino superior na área de TI Euder Pinheiro, especialista em projeto e análise de sistemas e em docência na educação profissional e tecnológica. Os dois últimos são deficientes visuais e puderam compartilhar experiências e vivências com o público.

De acordo com o Censo mais recente, a população brasileira é de pouco mais de 200 milhões de habitantes, sendo cerca de 16,8 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Dessas, sete em cada 10 ainda estão fora do mercado de trabalho. “A gente precisa se perguntar por que essas pessoas continuam na invisibilidade se o Brasil é um dos países com uma das melhores legislações voltada à pessoa com deficiência. Precisamos trabalhar com a ideia de conscientização e mudança da mentalidade. Estou falando de mindset. Ainda há uma visão distorcida de que tudo que essas pessoas fazem não tem qualidade, seja na educação, no trabalho, na vida pessoal, o que for”, observa Adriana Barufaldi, acrescentando: “A pessoa com deficiência, mesmo antes de mostrar suas competências, já é intitulada muitas vezes como ‘incapaz’. Precisamos trabalhar com a ideia de que o problema não está nela, mas no olhar de quem impede o acesso, sua permanência, sua aprendizagem e seu desenvolvimento de carreira”.

Por isso e por todas essas questões nós precisamos pensar sempre na ideia de superação de barreiras. E quando eu falo de superação de barreiras em todos os níveis, sejam atitudinais, metodológicas, programáticas, instrumentais e arquitetônicas, eu preciso fazer uma análise de quais são os impedimentos que uma pessoa com deficiência enfrenta para chegar na escola, para o trabalho, para chegar em qualquer lugar – Adriana Barufaldi

A pedagoga faz questão de trazer para o debate uma inquietação: a reduzida mobilidade urbana no país. Temos ótimos planos diretores, muito bem escritos, mas raramente postos em prática. Isso faz com que a maioria das cidades brasileiras não seja acessível. “Eu ando muito pelo Brasil em função do meu trabalho no SENAI e do meu trabalho com consultoria e uma das questões que me chama muita atenção nas cidades é o quanto elas não são acessíveis para nenhum tipo de pessoa. Trabalhei com uma colega cega por dez anos e a sensação que eu tinha era de que para ela chegar ao trabalho tinha que ‘descer de paraquedas’”, relata Adriana.

Percebi, ao andar por uma determinada cidade, que existia o piso tátil para pessoas cegas mas às vezes há um poste no meio. O piso faz parte do plano diretor, é instalado, mas não é acessível – Adriana Barufaldi

Ainda falando sobre mobilidade, é notória a dificuldade enfrentada pelas pessoas com deficiência para se locomover em nossas cidades. A acessibilidade aos transportes urbanos é muito reduzida. É comum o elevador para cadeira de rodas estar quebrado, ou o ônibus não parar no ponto onde está o cadeirante. E outro conceito que precisa ser repensado é o de pequenas moradias, com portas e corredores estreito demais. São espaços muito apertados nos quais uma pessoa cega, uma grávida, um obeso, um cadeirante tem grande dificuldade para se movimentar.

 

E muitas vezes a pessoa não consegue um acesso ao desenvolvimento de carreira ou a um curso, seja ele de qualificação, técnico ou superior, porque não consegue se locomover dentro dos espaços urbanos para chegar aonde precisa. Os espaços das empresas, das escolas têm que se adequar à pessoa, não é a pessoa que tem que se adequar aos espaços. Ainda existe esse equívoco – Adriana Barufaldi

Argumentos do tipo “não dá para adaptar porque a empresa é antiga, o prédio é velho” perdem a validade diante da capacidade que as companhias têm de modernizar sua produção. Se tem capacidade de se atualizar para desenvolver produtos, ela também pode se modernizar para a acessibilidade. O lado bom é que as empresas já estão atentando para a questão da acessibilidade e estão começando a criar programas internos, principalmente para superação e ressignificação de vieses inconscientes capacitistas.

Ao nos colocarmos no lugar do outro, percebemos a importância da linguagem inclusiva. É necessário tomar cuidado com as expressões que usamos. Por exemplo, não é aceitável que, em pleno 2023, ainda se diga que a pessoa é “portadora de deficiência”. “A pessoa não porta. Estou portando os meus óculos, pois escolho quando fico com eles e quando os tiro. A deficiência é uma característica, é um impedimento de longo prazo que pode ser de natureza intelectual, sensorial, mental ou física. É preciso que a gente insistentemente coloque em todos os nossos documentos orientadores, em todas as nossas produções acadêmicas uma exigência de linguagem inclusiva”, adverte Adriana.

Ela acrescenta que, quando pensamos em acessibilidade, precisamos ter em mente as adequações dos postos de trabalho e escolares: ” Dentro de uma ocupação no mercado, no mundo do trabalho, não existe função que não possa ser adequada, não existe função que não possa ser customizada”.

Um exemplo maravilhoso que a gente viveu no SENAI, de muito aprendizado, que foi a implantação da metodologia de emprego apoiado. As empresas carecem muito do conhecimento sobre essa metodologia porque ela faz todo um processo de identificação, de análise dessa ocupação, de customização para criar condição de acesso, permanência e desenvolvimento de carreira – Adriana Barufaldi

O acesso acontece – não para todos, para sete em cada dez ainda não – mas também não está acontecendo desenvolvimento de carreira porque as pessoas, pelo fato de não terem os apoios necessários para as adaptações razoáveis para permanecer e desenvolver a carreira, são levadas a desistir da condição de empregabilidade e do direito ao acesso ao trabalho.

“Na nossa cultura, o trabalho é muito mais para prover as nossas necessidades. Ele é, também, um organizador das nossas relações. Nós passamos boa parte da nossa vida no ambiente de trabalho. É ali que constituímos muitas das nossas relações. No ambiente de trabalho, em quatro décadas, eu encontrei os meus melhores amigos, os amigos que eu carrego para uma vida toda, o meu maior amor. Foi ali que eu me constituí, que eu me formei mestre em educação, foi ali que eu me tornei especialista e pesquisadora em neuroaprendizagem. Foi aquele ambiente que me estimulou a buscar tudo isso”, pontua Adriana.

O trabalho é um organizador. E para que haja essa ascensão e esse desenvolvimento de carreira a pessoa tem que ter acesso à educação em todos os níveis, etapas e modalidades. No caso do CETIQT, a educação é de nível superior. E há uma condição sine qua non de garantias – Adriana Barufaldi

“Pensar sobre a deficiência, a questão do público da educação inclusiva é pensar indiscutivelmente sobre acessibilidade em todos os níveis. Quando a gente não olha para a ressignificação da atitude, ao invés de ser uma acessibilidade atitudinal pode ser uma barreira, quando eu não olho para a questão da acessibilidade instrumental pode ser uma barreira instrumental, quando eu não olho para a questão da acessibilidade arquitetônica ela pode constituir uma barreira arquitetônica. quando eu não olho para a acessibilidade comunicacional ela pode se constituir numa barreira de comunicação”.

Programa SENAI de Ações Inclusivas (PSAI)

“Compreender histórias, respeitar singularidades, possibilitar o protagonismo. O Programa SENAI de Ações Inclusivas (PSAI) tem como propósito transformar vidas para uma indústria mais competitiva e promover condições de equidade que respeitem a diversidade inerente a todas as pessoas visando a inclusão na educação profissional e a ampliação de acesso ao mercado de trabalho.

Os pilares do Programa estão fundamentados em ações estratégicas que envolvem:

1- Pessoas com deficiência trabalhando: A inclusão de pessoas com deficiência para a construção de um futuro anticapacitista na educação, no trabalho e na sociedade.

2- Pessoas de várias idades: A construção do equilíbrio entre as diferentes gerações que reconheça todas as habilidades e vivências.

3- Pessoas de diferentes etnias: a equidade racial e étnica que visa a valorização de todas as origens, povos e culturas.

4- Mulheres em atividade profissional: as relações de gênero e o engajamento de mulheres na ciência, exatas e tecnologia.

5- Pessoas LGBTQIPN+ trabalhando: e na desconstrução de estereótipoos para que todas as pessoas LGBTQIAPN+ possam ser quem são.

A diversidade e a inclusão permitem que as pessoas possam ser donas da própria história. É sobre fazer parte e sair da invisibilidade. Com você nessa jornada, vamos avançar muito mais.”

Histórias de vida

A professora Margareth de Oliveira, do Instituto Benjamin Constant, dá uma sugestão de carreira que poderia ser customizada para pessoas com deficiência visual: “Tenho experiência com educação à distância, já fui tutora e já fiz alguns cursos à distância. A educação à distância poderia ser um excelente nicho de trabalho, um espaço fecundo de aprendizagem para pessoas com deficiência. Muitas das plataformas ainda não possuem acessibilidade adequada, os profissionais não sabem, muitas das vezes, adaptar as atividades. Mas tudo tem solução. Nesse caso, seria consultar as pessoas com deficiência que são também profissionais da área que possam orientá-las nessas adaptações de atividades, nessas acessibilizações de ambientes virtuais de aprendizagem”. Atualmente ela trabalha como professora do sistema braille para pessoas adultas que perderam a visão. “Recentemente me tornei coordenadora dos cursos de aperfeiçoamento do Instituto Benjamin Constant, e estamos investindo em abrir oportunidades de formação para pessoas com ou sem deficiência, profissionais que desejam e percebem a necessidade de atuar, de militar nas questões, causas, aprendizagens das pessoas com deficiência visual”.

A minha busca por inclusão no mercado de trabalho e a minha sede por aprender são incessantes – Margareth de Oliveira

O professor de ensino superior na área de TI Euder Pinheiro, que foi aluno da pós-graduação de Docência do SENAI CETIQT, perdeu a visão por conta de um glaucoma. “Eu passei por três situações. Até os 22 anos, eu não tinha contato com cego. Dos 22 aos 29, eu tinha baixa visão, ou seja, visão parcial. Dos 29 anos para cá perdi totalmente”, conta. “Aos 29, eu pensava em enfrentar uma faculdade. Queria perceber como uma pessoa cega se saía em uma sala regular. Eu só ouvia depoimento, mas queria perceber. Voltei a fazer ensino médio. Antes de encerrar o primeiro ano do ensino médio, eu perdi a visão totalmente na sala de aula. Mesmo assim não desisti, concluí o ensino médio e, aos 32 anos, entrei na faculdade”.

No começo da vida profissional, o instrutor trabalhava apenas com deficientes visuais e era chamado de professor dos deficientes, o que lhe desagradava bastante. Hoje trabalha com alunos que enxergam: “Estive em salas de aula tanto do ensino médio quanto no nível superior. Eu, junto com pessoas sem deficiência, via grande dificuldade de professores e alunos para trabalhar com uma pessoa cega. Eu não sei onde colocam tanta dificuldade para trabalhar com uma pessoa cega, e não coloco dificuldade para trabalhar com quem enxerga. Essas são barreiras. Tive que aprender a lidar com isso. Nós, cegos, usamos exclusivamente o teclado do computador. Eu precisei aprender a usar o mouse para ensinar aos alunos que enxergam, pois alguns não sabem utilizá-lo”.

Pinheiro afirma que precisou tornar sua vida normal, mas que a questão da inclusão social ainda está muito distante: “Falta muita coisa. Aqui em São Luis, no Maranhão, por exemplo, o piso tátil é sempre interrompido por um poste ou uma lixeira”.

E qual seria o papel da conscientização e da educação na inclusão de pessoas com deficiência? Adriana Barufaldi é tácita: “Precisamos ressignificar a cultura. Ressignificar olhares, escutas, barreiras. Isso se faz com formação continuada em programas de treinamento e desenvolvimento nas empresas, formação continuada para docentes em todos os níveis, etapas e modalidades, sensibilização comunitária. Se a gente não apostar na ressignificação desses olhares não vai mudar, só vai ratificar”.

Todos nós que estamos aqui acreditamos em educação inclusiva, em acessibilidade, em acesso. A gente precisa puxar esses dedos de prosa com aquelas pessoas que têm resistência. Eu penso que o CETIQT, como instituição de ensino de educação superior, está fazendo um belíssimo trabalho quando coloca isso à disposição de todos, todas e todes para começar a ressignificar que não é portador, é pessoa com deficiência, a olhar com essa visão capacitista que o trabalho, o estudo de uma pessoa com deficiência não é de qualidade – Adriana Barufaldi

Margareth de Oliveira concorda com a Adriana e que que é necessária a formação continuada. As leis já existem e estão até bem solidificadas.

Precisamos, também, que as pessoas com deficiência não desistam. Não desistam de se formar, de informar, de lutar para ocupar espaços, para conscientizar pessoas. Eu sei que tem horas em que falta fôlego, mas não podemos desistir – Margareth de Oliveira

“Quanto mais as instituições oferecerem formação continuada para pessoas físicas, para empresas, para instituições, mais gente poderá se conscientizar de que a inclusão é possível. Que não é impossível ter as pessoas no mesmo lugar adaptando, acessando os espaços virtuais, os espaços arquitetônicos para atender e receber as pessoas com deficiência, acrescenta Margareth de Oliveira.

Faço um trabalho de divulgação das pessoas com deficiência. Mas esse é um trabalho de todos, principalmente das instituições. A falta de informação ainda é grande, muita gente desconhece essas informações. É preciso haver um trabalho desses desde a educação básica, para alunos com deficiência ou não – Euder Pinheiro

O professor afirma que teve como dificuldade “convencer as pessoas de que o ser deficiente não impede o desenvolvimento do meu trabalho. Eu digo isso para todas as turmas desde o momento em que comecei. Desafio é mostrar para a sociedade que eu sou capaz. E não ver a minha característica, me ver como pessoa, como qualquer outro professor. Já tive alunos que desistiram. Já entrei na sala em que, quando percebiam que eu era cego, pediam para trancar a matrícula”.

A cada turma nova, cada unidade curricular nova, eu tento me preparar o máximo, pois tem uns que fazem perguntas não por curiosidade sobre o conteúdo, mas como um teste para saber se eu sei ou não, se eu domino ou não. Eu percebo isso. Esses são os meus desafios do dia a dia, tentar entrar em contato com essas pessoas – Euder Pinheiro

Margareth de Oliveira cita o seu caso de vir para o trabalho com a precariedade do transporte público, da acessibilidade. Você sai e não sabe o que vai encontrar pela frente: as pessoas, os buracos nas calçadas, o motorista que não espera você descer, o motorista que às vezes não te pega no ponto, passa direto.

Outra questão é o desafio de se manter informado. De ter acesso a informação para poder passar informação de qualidade. O dia tem 24 horas que parecem voar. Nós precisamos dormir para estarmos dispostos no dia seguinte para trabalhar. Correr contra o tempo para estarmos sempre informados para poder formar, informar. E também a questão, dentro dessa informação, da acessibilidade a esses conteúdos, a essas informações.

De que maneira as políticas governamentais podem promover a inclusão de verdade e dar oportunidade às pessoas com deficiência? Adriana Barufaldi reforça que o Brasil tem o privilégio de ter uma legislação robusta, mas poucos conhecem. “O desconhecimento é uma barreira. Tenho convicção de que a gente deveria incluir esses temas em cursos de extensão, matérias optativas, workshops. A política pública é uma consequência dos costumes. Eu demando uma política pública quando isso se torna uma condição sine qua non para uma sociedade. A gente precisa começar a naturalizar essas questões e a tirar esse bicho de sete cabeças que é a legislação, simplificá-la, para que as pessoas consigam fazer microrrevoluções, como diz o Gramsci. É como ele diz: a gente só vai entender a grande mudança a partir de pequenas e micro mudanças”.

Como a tecnologia assistiva tem transformado a vida das pessoas com deficiência? Euder Pinheiro lembra que aprendeu o sistema braille “assim que soube que ia ficar cego, mas, depois que eu aprendi a manipular o computador, fiquei totalmente  dependente. E as ferramentas vêm melhorando cada vez mais, principalmente os leitores de tela. Há algum tempo eu usava três, quatro leitores de tela ao mesmo tempo. Hoje eu só uso um porque já atende a minha necessidade. Os smartphones também são bem acessíveis. A gente chega na parte operacioinal dos telefones muito bem”.

A que eu não tenho acesso através da tecnologia? A alguns equipamentos. Existem muitos produtos que deveriam sair prontos da fábrica mas não saem, nós ficamos ainda dependentes. Os micro-ondas ainda são inacessíveis. Televisão, depende da marca, 70%, 80% não são acessíveis. E todo produto que beneficia as pessoas com deficiência tem preço muito alto – isso é outra barreira grande. Mas, no geral, estou quase satisfeito com o uso da tecnologia.

Margareth de Oliveira revela que é usuária tanto de computador como de celular por meio de leitores de tela. “Eles me auxiliam a me comunicar com as pessoas, a ter acesso às informações, a estudar, a ler. Outra tecnologia assistiva que eu utilizo é o Soroban, para fazer cálculos. Eu ensino os alunos a utilizar o Soroban. Sou bastante ligada nessa parte de tecnologias digitais. Eu motivo o uso da linha braille, do display braille para que eles possam ter acesso às informações que estão escritas no computador ou no celular, ou para eles poderem escrever as informações com agilidade. Mas tem a questão do custo: uma linha braille ainda custa bastante caro”.

É importante nós conhecermos as políticas de fomento para podermos ter mais acesso às tecnologias assistivas – Margareth de Oliveira