SENAI CETIQT e a importância dos inovadores têxteis técnicos desenvolvidos para a Área Militar

O SENAI CETIQT tem atuado em parceria com as Forças Armadas para o desenvolvimento de novos uniformes com base nas mais modernas tecnologias de têxteis técnicos inteligentes. Este mês, por exemplo, o Exército Brasileiro conta com um novo uniforme camuflado, mais leve e com tecnologia empregada que permite um ciclo de vida estendido e mais sustentável. A participação se deu por meio da revisão das especificações técnicas, que engloba as fases de ensaios laboratoriais, desenvolvimento de descritivos, desenhos técnicos e elaboração de tabelas de medidas. O processo de renovação constante dos uniformes visa obter melhorias no desempenho, maior mobilidade, adequação ergonômica e a aplicação de tecnologias têxteis inteligentes. O objetivo principal é que, ao garantir a melhoria do desempenho dos uniformes, os soldados possam realizar as atividades operacionais com mais segurança e mobilidade, utilizando peças com maior durabilidade e solidez de cor, gerando um atrativo custo-benefício pelo alto valor agregado aos materiais empregados. Em tempo: Através dos serviços de normalização e laboratório, a área de tecnologia do SENAI CETIQT trabalha também na busca da aplicação dos melhores materiais para os uniformes da Força Aérea Brasileira e da Marinha proporcionando maior funcionalidade e desempenho sempre em sinergia com as soluções têxteis inovadoras oferecidas pelo Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção e Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras.

Pontuei essa novidade acima, porque conferi recentemente a live promovida pelo SENAI CETIQT, e que está lá no Youtube para você também mergulhar no admirável mundo novo da inovação dos têxteis técnicos, com o tema: “A Importância dos Têxteis Técnicos na Área Militar”. Participaram o coordenador de Projetos de Defesa e Segurança do SENAI CETIQT, José Paes, oficial da reserva da Marinha Brasileira, e o professor do Instituto Militar de Engenharia (IME) Marcos Santos, oficial da ativa. O SENAI CETIQT também desenvolveu os uniformes do IME e, por pouco mais de uma hora, os dois falaram sobre o quanto esses tecidos vêm ajudando a Marinha do Brasil a trabalhar com segurança e da importância da Pesquisa Operacional em tomadas de decisão – inclusive no que se refere a tecidos. O Núcleo de Inovação Permanente dos segmentos Têxtil e de Confecção para a Indústria de Defesa foi pioneiro no sistema SENAI, criado especificamente para atender as Forças Armadas. A função deste Núcleo é fazer um elo entre Forças Armadas e a indústria nacional, dando todo o suporte técnico necessário ao desenvolvimento de Produtos Estratégicos de Defesa (PED), assim como o desenvolvimento da cadeia de fornecimento desses produtos.

O SENAI CETIQT é o maior centro Latino-Americano de produção de conhecimento aplicado à cadeia produtiva têxtil e de confecção e Química. E José Paes lembrou que a Faculdade SENAI CETIQT, organização integrante do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil – SENAI CETIQT – oferece o curso de pós-graduação de Especialização em Materiais para Têxteis Técnicos, desenvolvido em parceria com empresas e associações a fim de capacitar os profissionais de diferentes áreas para uma nova indústria voltada à inovação tecnológica.

Só para você terem uma ideia, os têxteis técnicos têm funções como tenacidade, elasticidade, resistência mecânica. Um eletricista que trabalha em plataforma de petróleo ou embarcado em navio precisa, por exemplo, de um uniforme que impeça o arco elétrico de queimá-lo. É muito importante não haver estática para ele não receber uma descarga elétrica. Há outras funções, claro. Como vivemos uma situação de pandemia, muitas máscaras foram desenvolvidas com tecidos antivirais, entre outros exemplos”.

Além de trazer funcionalidades cada vez mais high tech e específicas, que vão da proteção passando pela saúde e pelo bem-estar humanos, a evolução tecnológica dos tecidos é fundamental para acompanhar o mercado, que já embarcou nessa viagem na qual o futuro é agora. A área militar, por exemplo, utiliza os têxteis técnicos basicamente para defesa. Um dos destaques é o Kevlar, polímero sintético criado pelo cientista Stephanie Kwolek, da Dupont. Por conta de sua poderosa resistência ao impacto, tem ampla utilização militar. Outra característica que torna o polímero interessante para uso pelas Forças Armadas é sua baixa densidade: o Kevlar é muito leve. “O SENAI CETIQT, em parceria com a indústria, está desenvolvendo placas de Kevlar para um projeto com o Exército Brasileiro”, revela José Paes.

Um exemplo de uniforme militar, produzido em parceria com o SENAI CETIQT, que cuida do desenvolvimento do projeto com a integração da cadeia de fornecimento e com Santista e BDS Confecções, é o do Corpo de Fuzileiros Navais. Trata-se de um PED (Produto Estratégico de Defesa). Em 2012, o Ministério da Defesa criou uma lei de fomento à base industrial de defesa (Lei nº 12.598). Os uniformes estão entre os PEDs. “Nós o testamos em nossos laboratórios. Em seguida, a avaliação operacional foi feita pelo próprio Corpo de Fuzileiros Navais, graças ao capitão-de-mar-e-guerra da reserva Figueiredo, gerente de Equipagens Operativas do Comando do Material de Fuzileiros Navais (CMatFN) e um dos responsáveis pelo elo com a parte operacional, que nos permitiu desenvolver o melhor produto”, conta José Paes. “Outro uniforme desenvolvido pelo SENAI CETIQT junto com a Indústria foi o conjunto operativo usado pelo pessoal embarcado e que também é um PED. Ele substituiu o macacão operativo anterior, que não tinha a funcionalidade de resistir a chamas como o atual”.

O coordenador de Projetos de Defesa e Segurança do SENAI CETIQT, José Paes, pontua: “Os uniformes são desenvolvidos e testados em laboratório. Em seguida, devem ser avaliados de modo operacional: uma coisa é o laboratório, outra é ir para o campo e as pessoas efetivamente vesti-los. Nós reproduzimos as condições de combate em ambientes sob estresse com calor, frio etc. Fazemos a avaliação operacional, que se vale de técnicas de Pesquisa Operacional”. E ele acrescenta que conta no CETIQT com sete laboratórios: químico, físico, de microbiologia, de toxicidade, colorimetria, calibração e flamabilidade. Neste último, usamos um manequim instrumentado, que é vestido com o uniforme em ambiente controlado. Em seguida, incidimos um fogo repentino nele e conseguimos avaliar a proteção anti-chamas”.

É nesse momento que a inovação se encontra com a Pesquisa Operacional. “O grande diferencial da P.O. é que esses métodos são empregados nas soluções de questões reais da sociedade. Não é matemática teórica. Os modelos são muito sofisticados e, normalmente, envolvem centenas de milhares de cálculos. O uso de computadores é fundamental, pois não é possível fazer esses cálculos a mão”, ressalva o comandante Marcos Santos. “Carros de combate, aeronaves e navios da Marinha não se operam sozinhos, precisam de pessoas para funcionar. O combatente é a peça-chave nesse processo. Se vamos pensar em novo uniforme, precisamos pensar também em como medir sua eficácia. Temos que fazer uma avaliação operacional desse uniforme”.

É importante ter em mente que, para uma Pesquisa Operacional ser bem-sucedida, deve-se seguir à risca um passo a passo. Para começar, é preciso entender o problema. Em seguida, definir as medidas de eficácia operacional. Então, constrói-se um modelo que auxilia na obtenção de uma base de dados. O próximo passo é melhorar o modelo e, finalmente, chega-se à etapa final: reportar, explicar, comunicar e auxiliar na implementação do modelo.

“Minha ideia foi juntar PO, Indústria Têxtil e o setor militar. A PO começou na Segunda Guerra, é utilizada até hoje pelas Forças Armadas. Posso utilizar numa cadeia produtiva têxtil, posso utilizar no desenvolvimento dos materiais a serem utilizados na cadeia produtiva e posso fazer Avaliação Operacional desse novo uniforme que está sendo concebido especificamente para as Forças Armadas. Essa é a costura entre esses três segmentos”, aponta Marcos Santos.

Já deu para sentir que criar qualquer produto de defesa militar envolve uma série de decisões extremamente estratégicas. “Gosto de uma frase de Napoleão: ‘Nada é mais difícil e, portanto, mais precioso, do que ser capaz de tomar decisões’. Decidir é inerente à natureza humana. Pesquisas mostram que, do momento em que acordamos até quando vamos dormir, tomamos cerca de 20 mil decisões diariamente. Você acorda e decide se vai tomar café ou não, se vai comer pão ou tomar iogurte, se vai para o trabalho de carro ou de ônibus. Nosso cérebro automatiza esse processo num fenômeno cognitivo chamado fast thinking (pensamento rápido, em tradução literal). Ele automatiza o processo para não gastarmos muita energia nessas escolhas do dia a dia e podermos concentrar nossa energia em questões mais complexas”, conta o professor do IME.

No entanto, os problemas complexos de que fala o professor Marcos Santos necessitam de abordagens metodológicas que nos permitam decidir com base num approach mais científico. Obviamente, Napoleão se referia a ser capaz de tomar decisões corretas; decisão qualquer um pode tomar, o que importa é se é boa ou não. Para isso foram criados métodos capazes de apontar as melhores opções para o contexto gerencial. A Pesquisa Operacional, que reúne muitos desses métodos, surgiu ainda no século XVIII, mas ganhou corpo enquanto ciência aplicada a partir da Segunda Guerra Mundial. “Os cientistas reuniram os métodos da Estatística, da Teoria dos Jogos, Simulação de Monte Carlo e passaram a utilizá-los nos fenômenos inerentes à guerra, porque durante o conflito havia carências de toda ordem. Pouca matéria-prima, pouco aço, dinheiro, carvão, tecido etc. O raro material disponível tinha que ser otimizado. É daí que vem o termo otimização: otimizar é conseguir um resultado ótimo com recursos restritos”, conta o comandante Marcos Santos.

Ao final da guerra, os cientistas migraram para outros demais setores produtivos da sociedade (indústria, varejo etc). A P.O. chegou ao Brasil nos anos 1960, com o lançamento do curso no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). A Marinha teve um papel pioneiro na difusão do método no país. No começo dos anos 1970, as fragatas classe Niterói foram construídas em Hampshire, na Inglaterra. Eram navios extremamente modernos para a época e a Marinha precisava tirar o máximo proveito deles. A solução foi enviar um grupo de oficiais para estudar na Naval Postgraduate School, em Monterrey (EUA).

“Com o conhecimento adquirido nos Estados Unidos, eles passaram a avaliar operacionalmente os meios da Marinha, como navios, helicópteros, canhões, torpedos e submarinos”, lembra Marcos Santos. Dentro desse contexto, foi fundada Sociedade Brasileira de Pesquisa Operacional (Sobrapo), associação que reúne os pesquisadores da área. No site da Sobrapo, explica que a P.O. trabalha com métodos envolvendo estatística, programação matemática, simulação discreta, Teoria dos Jogos, previsão de demanda, Teoria das Filas, Teoria dos Grafos, Apoio Multicritério à Decisão (AMD), Aprendizado de Máquina e Ciência dos Dados. Na Marinha, nós utilizamos todas essas ferramentas matemáticas para apoiar a decisão da Alta Administração. Todas essas áreas fazem parte da Pesquisa Operacional”.

“Nós desenvolvemos ferramentas que facilitam a utilização desses modelos matemáticos da Pesquisa Operacional. Já temos mais de 30 ferramentas desenvolvidas, mais de 30 Sistemas de Apoio à Decisão, todos patenteados e já funcionando para quem quiser utilizar. A maioria está no formato online: basta entrar no site, calcular o que quiser e sair. Não precisa pagar, é gratuito”, pontua Marcos Santos.

“A etapa mais importante é o entendimento do problema. Tenho uma máquina que quebra todo mês. Então, aplico um método sofisticado para comprar a máquina nova. O que acontece? Ela também quebra”, adverte Marcos Santos. “O entendimento sistêmico é fundamental. Por que a máquina quebra tanto? ‘Porque não tem manutenção’. Por que o encarregado não faz a manutenção? ‘Porque a peça sobressalente não chegou’. Por que não chegou? ‘Porque o encarregado de fazer o pedido do material não pediu’. Por que não? ‘Porque o software RP da empresa foi trocado e ele não recebeu treinamento para fazer o pedido’. O problema não é quebrar todo mês, é de processo. No Brasil existe essa cultura de procurar culpados e cortar cabeças. Isso não funciona: o problema continua lá. Precisamos evoluir para uma mentalidade de avaliação de processo. A máquina quebra porque o RP foi trocado e o responsável pelos pedidos não foi treinado. Daí a reação em cadeia”.

O coordenador de Projetos de Defesa e Segurança do SENAI CETIQT, José Paes lembrou que a instituição recebeu a visita do diretor de Abastecimento do Exército. “E ele nos contou que o Exército recebe, por ano, 250 mil recrutas e fornece dois camuflados completos. Ou seja, são 500 mil uniformes são fornecidos por ano. Tem muito espaço para aplicarmos a Pesquisa Operacional, fazer otimização, estimular a indústria têxtil brasileira a produzir em escala para a área militar, para reduzir o custo de produção do uniforme”.

O desenvolvimento dos uniformes não é apenas militar. “Hoje nós temos um contrato com a Receita Federal em que analisamos qual será o melhor uniforme para os fiscais que trabalham nas fronteiras no Sul, em Belém ou na fronteira com Foz do Iguaçu etc. Há todo um trabalho de estudo importante. Isso abrange o desenvolvimento do design do uniforme, o conforto térmico e vai até a identidade visual. Recentemente, nós ajudamos a Polícia Rodoviária Federal a desenvolver uniforme. Hoje, a Polícia Rodoviária Federal tem uma identidade muito bacana, muito bonito”.

Outro aspecto que foi ressaltado mais uma vez é que hoje o SENAI CETIQT tem contratos com as três forças: Marinha, Exército e Aeronáutica. Com as diretorias de Abastecimento da Marinha e do Exército e a subdiretoria de Abastecimento da Aeronáutica. Estamos trabalhando para melhorar o uniforme da Força Aérea Brasileira. “Temos consultores nossos no laboratório têxtil da Força Aérea Brasileira em São Paulo. As três Forças têm preocupações com vários problemas que têm a ver com a Pesquisa Operacional. Por exemplo, Logística Reversa. Por exemplo, o macacão de voo. É uma peça cara que é necessário fornecer para o piloto todo ano. Quanto tempo esse uniforme pode durar? Ele tem um ciclo de vida de dois anos, três anos? Por quanto tempo posso deixar uma bota de piloto de caça na prateleira? Se ela passar quatro anos na prateleira e eu entrega-la ao militar, será que estará adequada?”

Tem toda tem toda uma logística por trás. Hoje as Forças têm uma preocupação muito grande com a Logística Reversa. Ou seja, o que fazer com o uniforme quando o recruta devolvê-lo? Existe essa preocupação com o fim que daremos ao uniforme. O Instituto SENAI de Inovação tem máquinas em escala de protótipo em que podemos simular diversas ações industriais em escala reduzida.

Já que estamos falando sobre Recursos Humanos, vale a pena observar que a parceria do SENAI com as Forças Armadas nesse quesito é bastante sólida e vem de longa data. “Estamos trabalhando para melhorar também o uniforme da Força Aérea Brasileira. Veja o macacão de voo, uma peça cara que é fornecida ao piloto todo ano. Quanto pode durar? Qual é seu ciclo de vida? Por quanto tempo posso deixar botas de piloto de caça na prateleira? Se eu entregá-las a um piloto depois de quatro anos ainda estarão em condições de uso?”.

Aqui precisamos abrir um parêntese. Seguinte: a aplicação dos uniformes não é apenas militar. O SENAI tem um contrato com a Receita Federal para analisar qual é o melhor uniforme para os fiscais que trabalham nas fronteiras do Brasil no Sul, em Belém, em Foz do Iguaçu etc. O trabalho de estudo abrange o desenvolvimento do design do uniforme, passa pelo conforto térmico e vai até a identidade visual. Recentemente, a instituição ajudou a Polícia Rodoviária Federal a desenvolver um uniforme com identidade visual mais moderna. “Um pesquisador do SENAI criou uma bolsa com pelo de cachorro. Ele brinca dizendo que não precisaram mataram o cachorro, que o pelo vem de sobras de tosas na pet shop. A Indústria Têxtil brasileira é gigantesca. O universo de trabalho que podemos desenvolver nessa área é gigantesco”, conclui o coordenador de Projetos Estratégicos de Defesa do SENAI CETIQT, José Paes.