*Por Brunna Condini
Após um comentário no Twitter na noite de domingo (23), no qual fez referência de forma irônica à magreza de Bruna Marquezine, Danilo Gentili foi amplamente criticado nas redes. O humorista se tornou um dos assuntos mais comentados do Twitter ao publicar: “Parece ter trocado um craque por outro”.
Entre os famosos que saíram em solidariedade à Bruna, está Suzana Pires. A atriz e roteirista, também fundadora do Instituto Dona de Si, que busca empoderar e acelerar talentos femininos, postou em sua conta no Twitter, em reposta a Gentili: “Esse Tweet não é piada, zoeira, nem liberdade de expressão. É humilhação, difamação, opressão ao corpo feminino, misoginia e violência machista. Você insiste em humilhar não só a Bruna, mas à todas nós. Opressor nojento! Desculpe-se”, publicou Suzana, indignada, e teve a adesão de outros famosos como Astrid Fontenelle e Ingrid Guimarães.
Bruna Marquezine, por sua vez, também se pronunciou nas redes: “Agora só vou postar foto com meu exame de sangue para ver se param de se “preocupar” tanto assim com minha saúde”.
Mesmo após as manifestações, Danilo postou novamente em seu Twitter: “Não posso zuar gorda. Não posso zuar magra. Me diga, quem vai sobrar para eu fazer o nosso santo bullying de cada dia? ”. O apresentador levou muitas invertidas, mas também recebeu apoio de alguns seguidores. “O problema é que fez uma piadinha no Twitter. Próxima vez faça uma zoeira de 1 hora na Netflix que o pessoal vai defender sua liberdade de expressão”, manifestou um deles.
Entretanto, o público criticou, e muito, a postura de Danilo. Entre eles, a jornalista Alexandra Gurgel, que criou o blog Alexandrismos, para falar sobre autoestima e gordofobia, e fez um post expressando sua solidariedade à Bruna Marquezine. Alexandra também é fundadora do movimento Corpo Livre, que empodera mulheres a aceitarem e viverem seus corpos.
Com exclusividade ao site, Alexandra, direto do Carnaval de Natal, no Rio Grande do Norte, falou sobre o ocorrido e o tema, que em um evento como este, fica mais evidente que nunca.
Bruna fez contato com você após seu post? “A Bruna não falou nada comigo, também estamos curtindo o Carnaval, né? Acho que esse tipo de matéria tem que existir para que a gente discuta esse assunto e isso acabe. Na realidade, acho que não tem que gerar tanta discussão em cima desse cara, e sim, sobre o assunto. Porque, infelizmente, o que ele fez é uma coisa que muita gente faz. Provavelmente, não com essas palavras ridículas que ele usou, e essa comparação, mas é muito comum todo tipo de pessoa sofrer esse tipo de pressão”, desabafa Alexandra. “O post que a Bruna fez, falando que parece que ela tem que mostrar o exame de sangue toda vez que postar uma foto, foi o que postei. Isso me representa. É exatamente assim que me sinto, todas as vezes que posto uma foto do meu corpo. Mas, diferente da Bruna, dizem que sou gorda demais, que vou morrer porque sou gorda. E também, que faço apologia à obesidade. E a Bruna Marquezine, teoricamente, faria, à anorexia. A gente, só por existir, estaria fazendo apologia a alguma coisa. E a única apologia que estou fazendo, e estou certa que a Bruna também, é a de um corpo livre. A liberdade de você ser como quiser ser, ser livre como é”.
Alexandra iniciou seu processo de autoaceitação e empoderamento em 2015, e já é referência na discussão dos mais diversos temas que envolvem feminismo, body positive e gordofobia. E embora lide com humor e um papo franco sobre os temas, ela não deixa de falar de assuntos importantes ao redor do tema, como distúrbios alimentares e depressão.
Por que acha que os corpos fora do padrão impostos socialmente e as posturas decorrentes disso, ainda incomodam tanto? “Muito provavelmente, primeiro porque vivemos em uma sociedade patriarcal e machista, onde existe um jeito “certo” de ser. Uma coisa que foi imposta a gente, e os resto seria errado. Se a Bruna estivesse no corpo que tinha antes, provavelmente, ninguém falaria nada. Mas, agora, para a galera está magra demais. Eu, com 20 kg a menos, tudo bem, mas, agora, estou gorda demais. Causo repulsa. Os nossos corpos, apesar de serem muito diferentes, sofrem o mesmo preconceito, que é esse incômodo, esse preconceito velado e muitas vezes postado, né? Essa pressão estética”.
A jornalista completa: “No caso de uma pessoa gorda, a única diferença, é a gordofofobia, e aí, têm outros rolês. No trato, é a mesma coisa. Apesar dela ser magra e a sociedade cultuar a magreza, ela já passou do: “Ah, não, aí não é saudável”. Parece que todo mundo fez medicina e sabe o que é mais saudável, tem carteirinha de médico. Esse incômodo para mim, fala muito mais da pessoa que está postando, que está falando, do que com o que ela que se incomoda. Tenho uma frase que é: “o problema que o outro vê no seu corpo, não é seu, é problema do outro. E é isso”.
Movimento corpo livre
A influenciadora digital e youtuber fala sobre positividade corporal aqui no Brasil desde 2015. “A página no Instagram nasceu em janeiro deste ano, mas a nossa #corpolivre, tem mais de 109 mil usos. O corpo livre é uma tradução mais para a nossa realidade brasileira, e com uma visão mais política. O que queremos com isso, é que todos os corpos tenham os mesmo direitos, respeito e acesso”, esclarece. “Falo disso no meu livro que “Pare de se odiar”, que é um best-seller. E também vou lançar ainda neste semestre, “Comece a se amar”. E fecho a trilogia com “Corpo livre”. Nossa luta é por equidade corporal”.
Alexandra faz referência ao movimento que nasceu no Estados Unidos, e lá é chamado de body positive, com a ideia de que as mulheres descontruam a ideia de “corpo perfeito” e amem seus corpos, em sua diversidade. “De forma resumida, o movimento corpo livre pretende ir além do meu trabalho. Sou uma pessoa só, tenho as minhas posições e opiniões. O movimento corpo livre é sobre pessoas, não é sobre mim, mostramos todos os corpos, é um movimento que já existe há quatro anos. Hoje existe na sociedade digital e vai existir na sociedade física, queremos quebrar padrões. Queremos mostrar que podemos ser livres, que a gente pode viver nosso corpo, todos os corpos. Mas isso é um processo, somos uma rede de apoio e queremos ir além da internet. Quero muito que as pessoas sigam e estou muito feliz que estão seguindo, gostando, compartilhando, gente famosa aderindo, esse movimento é para todo mundo. Todos passam por isso, esse caso com a Bruna (Marquezine), é um grande exemplo disso. O melhor do ter o corpo livre é ser realmente livre para fazer e curtir o que quiser, inclusive o Carnaval. Você pode tudo, sempre. Cada um tem uma força e um poder, que é só seu”.
Se pudesse mandar um recado para quem concorda ou achou o post do Danilo Gentili engraçado, o que diria? “Se não for agregar, cale a boca. O choro é livre e o corpo também”.
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