“Se entristecer com o diagnóstico do câncer de mama é natural, mas precisa crer na cura”, ensina Simone Zucato


A atriz que venceu a doença está em sintonia com a Campanha Outubro Rosa. Ela alerta sobre a importância dos exames periódicos, afinal quanto mais cedo vier o diagnóstico, maior será a chance de cura. Por conta da doença que enfrentou o recomendável é que ela não tenha filho. “Se eu engravidar, devido aos hormônios, é grande a chance da doença voltar”, assegura. Em meio a essa rotina enfrentou mais adversidades agora em 2020. Mas Simone não esmorece. No final de março, a atriz contraiu o coronavírus e quatro meses depois perdeu o pai, vítima de um infarto

* Por Carlos Lima Costa

A atriz Simone Zucato, ainda hoje lembrada como a beata Liliane da novela O Sétimo Guardião, enfrentou e venceu um câncer de mama. Desde, então, faz questão de alertar as mulheres sobre a necessidade de realizar o autoexame dos mamas, além dos periódicos indicados pelos médicos, afinal, quanto mais cedo se descobre a doença, maiores são as chances de cura. Assim, veste totalmente a camisa da campanha Outubro Rosa, que visa alertar, esclarecer e reduzir a mortalidade.

“A medicina está avançada. O câncer de mama é uma doença tratável e na maioria dos casos, curável. E as mulheres ainda hoje têm medo de fazer a mamografia, falam que incomoda. Sim, é desconfortável. Mas é preciso ter consciência de que quanto mais cedo diagnosticado, menor será a agressividade do tratamento e as chances de cura. Então, ressalto a importância dos exames periódicos, cujo intervalo varia de mulher para mulher. Cada uma deve seguir a orientação de seu médico”, observa Simone. Apesar da pandemia do Covid-19, ninguém deve interromper um tratamento nem mesmo a procura por um diagnóstico por medo de pegar o coronavírus, porque o tempo pode ser determinante.

Simone alerta as mulheres sobre a importância dos exames periódicos (Foto: Priscila Frade)

Simone alerta as mulheres sobre a importância dos exames periódicos (Foto: Priscila Prade)

Ano passado, Simone participou de projeto da Fundação Laço Rosa, sobre a reinserção da mulher que teve o câncer de mama, no mercado de trabalho. Tem pessoas que lhe pedem para conversar com quem está passando pela doença. “Estou sempre disposta a orientar, falar, aliviar, porque percebo que a questão do medo ainda é muito forte nas mulheres. Às vezes, elas ficam tão apavoradas de ouvir a palavra ‘câncer’ que isso bloqueia muita coisa e prejudica o prognóstico da doença. Ainda é um tabu. Quando você consegue levar esse alívio, explicar, você percebe que diminui esse medo no outro. Tento mostrar a minha experiência para ajudar um pouquinho essas mulheres”, afirma. “Sempre falo: Se entristecer com o diagnóstico da doença é natural, ter medo também, mas não pode manter essa tristeza. Tem que tentar ver uma luz no final do túnel e pensar que vai dar tudo certo. É um pensamento positivista que as pessoas precisam ter, apesar de saber que não é nada fácil”, completa.

Desde os 31 anos, Simone, atualmente com 44, faz exames de rotina, por ter desenvolvido displasia mamária, comum em mulheres. “Muitas mulheres desenvolvem displasia e pode se tornar algo mais grave com o passar dos anos. Então, mantinha o controle, fazia autoexame e mamografia anualmente. Em uma delas o resultado veio um pouco diferente”, recorda. Alguns médicos lhe disseram para ficar tranquila. Não era nada. “Mas fiquei com aquela pulguinha atrás da orelha e fui ouvir outra opinião. Eu tinha um carcinoma, fiz a biópsia e o resultado veio conforme meu médico havia dito”, suspira. Por sorte, estava em estágio inicial.

Ainda hoje, a atriz faz quimioterapia para o câncer não voltar (Foto: Priscila Frade)

Ainda hoje, a atriz faz quimioterapia para o câncer não voltar (Foto: Priscila Prade)

Ainda hoje, Simone segue o tratamento determinado pelo médico. Há dois anos e setes meses faz a quimioterapia. Essa rotina seguirá por mais dois anos e cinco meses, até completar um total de meia década. “Já estou curada. A doença eu deixei de ter quando fiz a retirada na cirurgia. Faço a quimioterapia para o câncer não voltar com o passar dos anos. Eu tomo comprimidos todos os dias. Além do medicamento da quimio, às vezes, tomo algum outro para náusea ou um antialérgico. Ainda hoje sinto poucos efeitos colaterais. No geral, são náuseas, o mais frequente, insônia e raramente fadiga”, revela.

Em meio a essa rotina enfrentou mais adversidades agora em 2020. Mas Simone não esmorece. No final de março, a atriz contraiu o coronavírus. “Eu acordava de madrugada com a cabeça latejando, e desconfiei que estava com a doença. No dia seguinte comecei a ter febre, tosse, diarréia e perdi o olfato”, lembra. O diagnóstico foi confirmado através do exame PCR. “Não precisei ficar internada, me tratei em casa, mas os sintomas não são agradáveis. Um dia, conversando com minha mãe ao telefone, vi que era difícil falar e puxar o ar ao mesmo tempo. Foram três dias de dificuldade para respirar”, acrescenta. O processo todo levou 17 dias. Nesta fase, contou com a ajuda do geriatra Victor Fioravanti, com quem mora e se relaciona há 18 anos. Ele, inclusive, foi o primeiro a apresentar os sintomas. “Ficamos em casa, nos cuidando e usando apenas medicamentos para febre e dor, e rezando para não piorar. Naquela época, as pessoas ainda estavam muito incertas em relação ao Covid-19”, ressalta. Restabelecida, permaneceu em casa respeitando a quarentena.

O trabalho em O Sétimo Guardião foi uma força a mais para enfrentar o câncer (Foto: Marcio Amaral)

O trabalho em O Sétimo Guardião foi uma força a mais para enfrentar o câncer (Foto: Marcio Amaral)

“Só fui sair dia 2 de julho quando meu pai infartou. No hospital, foi testado para o Covid, que resultou negativo. Ele ficou seis dias internado e infelizmente não resistiu. Teve três paradas cardíacas e faleceu”, desabafa.

Mais uma provação. As adversidades a transformaram em uma mulher mais forte? “Com certeza. E acho assim. Poucas pessoas são privilegiadas o bastante a ponto de poderem falar que a vida é fácil. Acho que todo mundo tem as suas dificuldades pelo caminho e eu tive muitas, mas também tive muita sorte, em julho de 2017, quando descobri o câncer, afinal estava em um estágio inicial”, frisa. Ela descobriu a doença dois dias após o autor Aguinaldo Silva a convidar para integrar o elenco de O Sétimo Guardião. “De imediato, falei para o médico que precisava ficar bem em cinco meses, tempo que eu levaria para começar a gravar a novela. Aí passei pela cirurgia, retirei dois quadrantes da mama. E também já fizeram a mamoplastia, cirurgia plástica para igualar o tamanho das duas mamas. O pós operatório foi muito bom. Na sequência fiz 30 sessões de radioterapia. Aí comecei a quimioterapia”, relembra.

E reforça o que veio na cabeça quando tudo foi confirmado. “Eu desabei. Estava com um câncer tendo uma oportunidade de trabalho pela qual o ator sempre espera. Pensei na vida, claro, mas tinha realmente um foco muito voltado para a novela que viria depois. Isso me ajudou a passar com mais força por tudo. Vai ter que operar, ok. Vai ter que fazer radioterapia, ok. Tive medo porque o convênio demorou para liberar a cirurgia, o hospital. Entre a descoberta e a operação foram 27 dias. Fiquei preocupada se ía aumentar, espalhar para outros órgãos. Tive medo da morte, sim. Mas deu tudo certo”, frisa.

Este ano, Simone teve Covid-19 e enfrentou o luto pela morte do pai (Foto: Priscila Frade)

Este ano, Simone teve Covid-19 e enfrentou o luto pela morte do pai (Foto: Priscila Prade)

Tudo foi realizado com muita discrição, pois tinha receio também de perder o papel na novela. “Somente no final do trabalho eu contei o que tinha acontecido, porque queria agradecer as pessoas que haviam me dado aquela oportunidade, no caso o Aguinaldo Silva, e Rogério Gomes, o Papinha. Eles não sabiam da importância daquele trabalho para mim. Graças a ele, passei com mais leveza e tranquilidade por tudo”, assegura ela que atuou ainda em novelas como Cama de Gato e Caras & Bocas.

Quando O Sétimo Guardião terminou, ela começou a ensaiar a peça Sylvia, segundo espetáculo que produziu. O primeiro foi A Toca do Coelho, em 2013. Agora, em 2020, era para estar em turnê pelo Brasil com Sylvia, mas a pandemia não deixou. Ela nem sabe se retornará ainda com esta peça. Enquanto isso, se dedica à pré produção de Falling – Uma História de Todos. “Creio que existe uma certa dificuldade de conseguir patrocínio por se tratar de um drama sobre uma família que tem um autista severo. Hoje em dia no Brasil é difícil produzir uma peça se ela não for comédia ou musical”, explica.

Sempre envolvida com projetos profissionais, apesar do relacionamento duradouro que mantém, a maternidade não faz parte de seus planos. “Agora, devido ao câncer eu não posso ser mãe. O tipo de câncer que eu tive é dependente de hormônio, então, se eu engravidar, devido aos hormônios existe a chance da doença voltar. Mas não é uma coisa que me incomoda porque eu nunca quis ter filhos. Tenho minhas sobrinhos, afilhados, gosto de criança, mas não tenho essa vontade de ser mãe. E nunca tive problema de externar isso. Algumas pessoas  já me julgaram por isso, mas não me incomoda porque afinal ninguém paga as minhas contas. E se a gente for ficar pensando no que os outros pensam de nós, aí a gente adoece mesmo”, analisa.

A atriz também é médica, mas não exerce a profissão desde 2015 (Foto: Priscila Frade)

A atriz também é médica, mas não exerce a profissão desde 2017 (Foto: Priscila Prade)

Antes de ser atriz, Simone exerceu outra profissão. A pedido do pai, que achava que o curso de Artes Cênicas iria lhe trazer poucas possibilidades, que ela poderia ficar muito tempo desempregada, ela se formou em Medicina e exerceu a profissão. Simone é especializada em clínica geral e geriatria. Foi com o dinheiro ganho como médica que custeou seus cursos de teatro. “Comecei a trabalhar como médica para bancar a minha formação como atriz e para comprar os direitos autorais das peças que desejava montar. Eu trabalhava um período e parava. Mas não exerço a profissão de médica desde 2017. Por agora, não pretendo voltar. No país que a gente vive, infelizmente é frustrante ser médica, porque você se sente impossibilitada de resolver o problema muitas vezes por lidar com situações que não dependem só de você”, reflete.