Sara Sarres: atriz concilia teatro e gravação de série da Disney+ com trabalho na linha de frente do combate à Covid


Estrela do teatro musical brasileiro, a atriz está se formando em fonoaudiologia e, nos últimos meses, com a pandemia, tem atuado durante o dia como voluntária em hospitais e clínicas, ajudando na recuperação de pacientes graves de Covid-19 que precisaram ser entubados por vários dias e ficaram com algumas sequelas. À noite, ela brilha nos palcos com o espetáculo ‘Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate’, em São Paulo, e grava ‘O Coro’, série musical de Miguel Falabella para a Disney+

Estrela do teatro musical, Sara Sarres está se formando em fonoaudiologia e estagiou em hospitais durante a pandemia (Foto: Franklin Maimone)

Sara Sarres (Foto: Franklin Maimone)

* Por Carlos Lima Costa

Ela interpretou Fiona, na montagem teatral de ‘Shrek’, Mortícia em ‘A Família Addams – O Musical’, brilhou em Les Misérables e Fantasma da Ópera, e, no momento, atua em Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate, no Teatro Renault, em São Paulo, e grava O Coro, série musical de Miguel Falabella para a Disney+. No entanto, Sara Sarres não se limita ao aparente glamour da profissão de atriz. Em paralelo, nos últimos meses, em plena pandemia, ela tem trabalhado como voluntária em hospitais e ambulatórios de São Paulo, na recuperação de pacientes graves de Covid-19 que precisaram ser entubados por vários dias e ficaram com algumas sequelas. Sara está concluindo o curso de Fonoaudiologia na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e já encara a dura realidade da Saúde no Brasil.

“Eu amo o que tenho aprendido e, voluntariamente, procurei esse treinamento, porque sempre quis ajudar o próximo. Com três meses de pandemia, quando o país estava no período de isolamento social, eu já contava com supervisores de alta capacidade e pude vivenciar a realidade de um profissional da saúde na linha de frente do combate ao Covid. Sabia que precisava estar nos hospitais para amenizar o sofrimento de tantas pessoas”, comenta. Pacientes que foram entubados, respirando por meio de ventilação mecânica, com a retirada do tubo orotraqueal (extubação) podem evoluir para um distúrbio da deglutição, além de apresentarem alterações na comunicação, na qualidade vocal, dificuldades ou incoordenação respiratória, sendo necessário o acompanhamento do fonoaudiólogo.

"A fonoaudiologia trabalha diretamente com questões de sequela de covid, como neurológicas, de linguagem, comunicação. Isso faz parte do meu dia a dia", ressalta Sara, na Santa Casa de São Paulo (Foto: Osmar Lucas)

Sara Sarres em um momento pós-tratamento de pacientes (Foto: Osmar Lucas)

Sara ressalta a importância da Educação para melhorar também a área da Saúde. “Quando as pessoas tem um ensino de qualidade, uma nação tem mais saúde. Entra governo, sai governo, e, infelizmente, a educação nunca é prioridade número 1. Com a educação, as pessoas sabem o que é necessário para prevenir doenças, cuidar do próximo e evitar acidentes”, diz.

Todos os dias, das 7h às 13h, Sara está cuidando da recuperação de pacientes em uma unidade básica de saúde ou clínica. Depois, segue para a gravação da série O Coro, com direção de Cininha de Paula e Miguel Falabella, que também assina o texto. A produção da Disney +, com estreia prevista para 2022, mostra a criação da primeira companhia estável do teatro musical brasileiro. A atriz, que participou do remake de Dona Xepa, na Record, e atuou no curta-metragem Cinco Minutos, de Ricky Mastro, considera a série sua grande estreia no audiovisual. “Sempre emendei uma protagonista na outra no teatro musical e não tinha como tentar conciliar com o audiovisual, mas parece que Deus encaixou tudo certinho e agora consigo conciliar”, explica.

Sara em cena como Marita, em O Coro, série de Miguel Falabella para a Disney+ (Foto: Disney/Divulgação)

Sara em cena como Marita, em O Coro, série de Miguel Falabella para a Disney+ (Foto: Disney/Divulgação)

A série marca mais um trabalho com Falabella. “Ele foi um dos meus primeiros diretores em São Paulo, um grande amigo e mestre. O Miguel consegue extrair o melhor de cada um dos seus atores, então, estou tendo mais uma experiência feliz ao lado dele”, ressalta Sara, que participou, por exemplo, das montagens de Annie, o Musical e O Homem de La Mancha, ambas com versão e direção de Falabella.

Desde 17 de setembro, ela está em cartaz como a Sra. Bucket em Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate,  seu 17º musical, com o qual celebra 20 anos de protagonistas. “O primeiro hiato que eu tive na carreira desde que comecei aconteceu por conta da pandemia. Nunca fiquei longe dos palcos”, revela a atriz, cuja primeira grande personagem foi Cosette, de Les Misérables, baseado no romance do escritor francês Victor Hugo (1802-1885), em 2001. Ao longo dos anos atuou ainda em espetáculos como O Fantasma da Ópera O Homem de La Mancha.

“A educação no Brasil precisa melhorar. Quando o povo tem um ensino fundamental de qualidade, a saúde e a prevenção melhoram", observa Sara (Foto: Franklin Maimone)

“A educação no Brasil precisa melhorar. Quando o povo tem ensino de qualidade, a saúde e a prevenção às doenças melhoram”, observa Sara (Foto: Franklin Maimone)

“Todos tínhamos ficado um pouco receosos em como seria essa retomada cultural no Brasil, se o público de fato estaria preparado e abraçaria de novo o teatro musical e a resposta tem sido a mais incrível do mundo. Ver o teatro lotado todas as sessões e um público tão sedento por arte, cultura, tão emocionado, é transformador”, vibra, acrescentando: “A economia criativa foi a primeira a parar e a última a voltar no Brasil. Foi realmente preocupante, difícil para o nosso setor como um todo. O artista no Brasil é resiliente, fazer arte aqui é um ato de resistência, que ficou ainda mais difícil com a pandemia. Mas, agora, estamos com Charlie acontecendo lindamente, proporcionando emoção às pessoas. Isso nos dá a esperança de um Brasil melhor e de uma cultura mais respeitada”, defende.

"O artista no Brasil é resiliente, fazer arte aqui é um ato de resistência, que ficou ainda mais difícil com a pandemia", assegura a atriz (Foto: Franklin Maimone)

“O artista no Brasil é resiliente, fazer arte aqui é um ato de resistência, que ficou ainda mais difícil com a pandemia”, assegura a atriz (Foto: Franklin Maimone)

E ela reforça: “Espetáculos musicais no Brasil precisam de lei de incentivo para acontecer. É importante ressaltar que uma montagem emprega cerca de 250 profissionais, então são 250 famílias beneficiadas com a existência desse projeto. Isso faz uma máquina inteira funcionar com empregos diretos e indiretos que movimentam positivamente a economia do Brasil”.

Ela frisa que a área em que trabalha exige que o artista seja o mais completo possível. “A gente brinca que o ator do teatro musical é o triatleta das artes, porque ele precisa cantar, interpretar e dançar com excelência. Quando eu comecei há 20 anos tive a sorte de encontrar professores que tinham contatos internacionais e um olhar bem profissionalizante. Cedo, com 16 anos, ganhei minha primeira bolsa para estudar fora do Brasil”, recorda ela, que desde criança, em tudo que fez, foi profundamente estudiosa. “Continuo sendo nerd e acredito que sempre serei”, afirma Sara, que, por exemplo, estudou canto lírico em Milão com Rita Patané, e Teatro Musical tanto em Nova York quanto em Londres.

“A gente brinca que o ator do teatro musical é o triatleta das artes, porque ele precisa cantar, interpretar e dançar com excelência", conta Sara (Foto: Franklin Maimone)

“A gente brinca que o ator do teatro musical é o triatleta das artes, porque ele precisa cantar, interpretar e dançar com excelência”, conta Sara (Foto: Franklin Maimone)

Com tantos aprendizados se tornou professora de canto e preparadora vocal. E acabou criando a Casa da Voz – para aprimoramento de artistas em geral  – e ingressou na faculdade de Fonoaudiologia. “Ela trabalha com voz, linguagem, audição, tudo que é necessário para a reabilitação da comunicação humana. Eu sempre fui uma grande apaixonada por voz, pelo treinamento da voz artística e pela ciência da voz. Esse chamado pela fonoaudiologia dentro de todo o meu fazer artístico foi um encontro de ouro que eu não imaginava, mas aconteceu e estou feliz de estar abrindo essa nova frente como artista para o meu próprio desenvolvimento. Eu me encantei com a área de treinamento de pedagogia vocal, comecei a dar aula cedo, então, montei a Casa da Voz e agora com a fonoaudiologia, além de fazer toda parte de capacitação artística a partir do ano que vem vou fazer a parte de reabilitação de cantores e atores, que fazem lesão. É um espaço onde as pessoas conseguem encontrar em um único lugar tudo que precisam para o seu treinamento artístico. Esse era o meu grande sonho”, comenta.