*Por João Ker
“Eu sou um escritor em crise de meia-idade.” É assim que Santiago Nazarian, com 37 anos e autor de livros como “Mastigando Humanos” (Ed. Nova Fronteira, 2006) e “Garotos Malditos” (Ed. Record, 2012), se auto-descreve no início da entrevista que concedeu por telefone direto de São Paulo. Nesta quinta-feira (15/5), ele recebeu convidados e amigos na Livraria da Travessa de Botafogo, ao lado do também escritor Marcelino Freire, em um badalo para lançar o oitavo título de sua carreira, o thriller “Biofobia” (Ed. Record, 2014).
No livro, Santiago dá vida a André, um músico de meia-idade (de verdade) que está por baixo de sua carreira, começando a se questionar sobre o que fazer em seguida, ao mesmo tempo em que se isola do mundo em uma casa de campo deserta e meio sinistra. A inspiração para compor o personagem – e até para o cenário, que parece com a casa de sua mãe – vem um pouco do próprio Santiago e dos seus amigos que também estão passando pela temida chegada dos “-enta”. “Eu vejo não só comigo, mas com muitas pessoas da minha geração, essa coisa de quem já teve um certo sucesso cedo e agora, perto dos 40, se pergunta ‘é só isso? para onde eu cresço?'”
Ao invés de facilitar a vasão para essas dúvidas internas e criar um personagem que tivesse a mesma profissão que a sua, Santiago Nazarian prefere entrar na pele de um roqueiro: alguém que dependa muito mais da imagem pessoal e da beleza, para quem a decadência da idade possa soar mais desesperadora. “Ele tem um pouco da minha crise pessoal, mas nele é mais exacerbada. Ele é a personificação dessa angústia, de uma maneira que um personagem escritor não conseguiria ser. A minha carreira tem muitos paralelos com a de um roqueiro alternativo”, explica.
Assista o vídeo de divulgação da obra:
É aqui que entra o velho e longo debate sobre a literatura comercial e clássica. Não apenas no campo da literatura, mas em todos os meios artísticos, parece haver uma rejeição com aquilo que é rentável, que renda dinheiro e tenha apelo para as massas. Santiago sente que esse mesmo tipo de preconceito é destinado a ele por grande parte do público e da crítica: “Eu sou atípico no Brasil, porque faço uma espécie de literatura pop. É algo que vende, mas tem sua própria identidade. E eu, modéstia à parte, me considero consistente, e as pessoas vêem isso com um pouco de desconfiança. Ainda observo muita resistência pelos temas que eu abordo nos meus livros, e até pela minha própria figura física”.
Apesar das críticas, o autor garante que não foi a pressão popular que o trouxe de volta ao universo adulto. Seu lançamento anterior, “Garotos Malditos”, falava sobre um grupo de esquisitões do ensino médio que descobrem estar rodeados por seres sobrenaturais dentro da escola. É uma aventura juvenil, voltada para meninos, mas que ainda assim carrega o tom crítico e ácido de Santiago. “Eu me senti muito seduzido pelo universo adolescente e fui aos poucos me distanciando do mundo adulto. Chegaram a me considerar como autor juvenil, sendo que eu só tenho um livro desse gênero. Também chega um momento na sua carreira que você não pensa só no que você quer, mas no que é pertinente. Para mim, era importante me afastar desse meio e lembrar às pessoas que eu não faço só literatura para adolescentes.”
Agora, Nazarian pode estar de olho em provar que, além de um ótimo escritor, ele também pode ser um roteirista de sucesso. Apesar de já ter colaborado com algumas séries de TV, ele conta que ainda não escreveu algo que seja voltado para o audiovisual e que tenha “a sua cara”. Mas, com “Biofobia”, ele confessa que o projeto já foi pensado para algo além: “Eu acho que ele daria certo tanto no teatro quanto no cinema. Eu já fiz imaginando uma história que rendesse: é uma casa sólida, de campo, são poucos personagens – poucos atores, no caso -, a montagem seria fácil e o custo seria baixo. Quem sabe, né?”
Para ele, o bom das crises pessoais é que elas são somente “crises”. O que significa que em algum momento elas passarão. Talvez Santiago Nazarian tenha conseguido superar a sua própria ao passar toda a frustração que sentia para o papel, através de André. E, quem sabe, ainda tenha conseguido desvendar o próximo passo de sua carreira, quase que involuntariamente. Isso só o tempo pode dizer, mas é fato que ele trabalha a favor do escritor.
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