#SaiaDaCaixa de Helen Pomposelli com Rafaela Rocha, criadora do projeto SynaesthEat, ritual artístico gastronômico


Rafaela, a partir do seu evento, que tem edição no Rio neste mês, explora os aspectos ritualísticos das refeições que acabam deixados de lado no imediatismo e correria da vida urbana contemporânea

*Por Helen Pomposelli
Coach de imagem, auto-conhecimento e comunicação

Rafaela Rocha

“Estou tentando cada vez mais adotar cosméticos e produtos pessoais de pequenos produtores e naturais, fabricar em casa alguns outros, como desodorante, que é super fácil e muito mais barato. E, como educadora, isso tem um valor especial pra mim, porque eu acho fundamental usar esses exemplos próximos, caseiros, pra ensinar às crianças justamente sobre processo, sobre o valor do trabalho, o tempo das coisas. A gente anda muito desconectado da origem dos produtos, da cadeia produtiva, e isso abre espaço pra essas atrocidades que vemos aí”, desabafou Rafaela Rocha, estrela do nosso Saia da Caixa de hoje, que chega em clima de experiência gastronômica íntima, estimulando os sentidos de maneira delicada e intrigante.

O evento SynaesthEat que rolou em Berlim, em 2016

Conversei com Rafaela, criadora do evento SynaesthEat, que explora os aspectos ritualísticos das refeições que acabam deixados de lado no imediatismo e correria da vida urbana contemporânea. Rafaela , de 35 anos, é carioca da gema, mas já rodou o mundo com seus projetos e experiências. Hoje, a libriana se considera uma artista educadora holística – com estudo de massagem e terapias energéticas e a formação de assistente montessori na Índia – que trabalha de formas distintas em projetos especiais para trazer para dentro da educação, como método de trabalho, elementos como a comida e relação com corpo. “Durante um jantar, que acontece no próximo dia 19 de dezembro, os participantes serão convidados a embarcar nas viagens sensoriais e emocionais que a comida é capaz de proporcionar e também a refletir sobre o que, por que e como comemos. A experiência estimula os convidados a explorar a autoconexão dentro de uma vivência comunitária única. Neste edição, vou contar com a participação de Onaldo Brancante. Bacharel em Ecologia pela UFRJ, é apaixonado por culinária e já trabalhou em restaurantes na Inglaterra e Brasil. Hoje, Onaldo comanda o projeto Alimentamente, que traz reflexões sobre nossos hábitos alimentares através de práticas culinárias conscientes”, explica Rafa.

Rafaela e Onaldo Brancante, o chef co-realizador do trabalho original do SynaesthEat e atração da edição carioca

Tudo começou quando Rafaela realizou uma residência artística na Nuvem – Estação Rural de Arte e Tecnologia, em 2015. O projeto teve sua primeira edição oficial em 2015 em Berlim, e passou também por Londres e Auroville (Índia). “Essa experiência é multipla: é um jantar, um trabalho de arte, mas é também um ritual, uma especie de ‘meditação coletiva’ diferente, conduzida pela comida e por alguns dispositivos performáticos”, completa.

SynaesthEat versão “pocket” em um festival em Londres, com o chef Steve Wilson em 2017

Multimídia, Rafa é formada em comunicação e jornalismo na PUC e já trabalhou com pesquisa e conteúdo para desenvolvimento de programas e séries em TV, como no canal Multishow e tem mestrado em arte e ciência em Londres. Atualmente além de seus projetos, faz produção de roteiro para legendagem e também apresentou programa Cena Londres, no canal Bis. “Desde criança sempre fui muito ligada em questões ambientais. E meus pais adoram cozinhar, meu avô era vegetariano, meditava, apresentou a acupuntura pra família… Acho que isso influenciou muito minha visão de mundo e a relação com a comida. Quando fui morar na Inglaterra em 2010, já cozinhava pra mim e lá fiquei ligada na produção, nos sentidos, ingredientes e na comida como medicina”, lembra.  “Amo cozinhar! É bem raro eu sair pra comer fora, na verdade – gosto muito de preparar minha própria comida, e agora estou adorando morar em uma casa com horta, aprender mais sobre agrofloresta… Quando não estou trabalhando gosto de ir à cachoeira, ou fugir pra algum lugar de natureza”, afirma.

E seu conselho “ Saia da Caixa”? “Primeiro, enxergue a caixa, tome consciência dela. Acho que somos empacotados em várias caixas – tipo aquelas bonecas russas sabe? Algumas já vem de fora, já nascemos dentro delas, são circunstanciais. Mas outras nós vamos construindo ao longo da vida (e, as principais, desde bem pequenos): seja por medo, por necessidade de sobrevivência, por defesa, pelo ego… Então, quando você tem espaço e tempo o suficiente (o privilégio) de poder chegar em um ponto da vida começa a identificar essas caixas e pensar que algumas talvez não te sirvam mais, esse é o momento em que você naturalmente começa a sair de dentro delas. Pra mim a única saída é o autoconhecimento. Tomar consciência dos seus medos, desejos reprimidos, sua criança interior, seus padrões de relacionamento, suas reações emocionais, seus gatilhos…tudo isso te dá informação sobre as suas caixas. Conseguindo se perdoar, se libertar, se amar mesmo nas `imperfeições` e, o mais importante, não se levar tão a sério”.