*Por Helen Pomposelli
Na semana do Oscar, nada mais conveniente do que conversar com alguém que pensa “diferente” sobre o mercado do cinema. O “Saia da Caixa “ de hoje é com Luisa Parnes, carioca, 32 anos, roteirista, que mora desde 2010 em Nova York, e mãe de Maya de dois anos. Luisa dava aulas na New York Film Academy e atualmente somente particulares. “Na verdade, dar aulas estava me sugando muito. Parei trabalhar na escola e agora somente aula particular porque estava tirando muito da minha paixão que é a escrita. A maternidade me define muito e me mudou muito. Ser mãe influencia na minha criatividade,tudo parte de um todo”, define Luisa.
Mas Luisa não pára por aí, no final de outubro vai lançar seu primeiro longa-metragem na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a comédia Antes que eu me esqueça, que fala sobre a questão da sexualidade na terceira idade ao contar a história de um juiz aposentado de 80 anos que vira sócio de uma boate de strip-tease. O longa, rodado em 2016 no Rio de Janeiro, conta de maneira leve e delicada a busca pelas realizações profissional e pessoal do personagem Polidoro, vivido por José de Abreu. No elenco, ainda constam nomes como Danton Mello, Mariana Lima, Guta Stresser e Letícia Isnard.
Luisa é neta do jornalista Evandro Carlos de Andrade, e até pensou em estudar jornalismo, mas acabou cursando Direito na PUC, profissão que nunca exerceu. Em 2006 foi estudar História da Arte em Londres, onde aproveitou para fazer um curso de roteiro. E caiu de amores pelo cinema. Além da Inglaterra, morou na Espanha e passou uma temporada na França. De volta ao Brasil, estudou roteiro na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. “Eu sempre soube que eu queria escrever. Desde bem nova, com uns doze anos, meu sonho era ser atriz da Broadway. Por muito tempo, queria ser escritora de livro, sempre escrevi contos. Eu já contava altas histórias na segunda série. Então, por muito tempo quis ser jornalista”.
Segundo a roteirista, foi na faculdade de Direito, que aprendeu sociologia e filosofia. “Sou advogada de formação, passei na OAB e me encantei, mas não tinha amado. Passei por vários estágios na área e vi que não era para mim. Então decidi trocar a faculdade e estudar fora. Na Inglaterra, pude estudar coisas mais criativas como teoria da comunicação, cinema, caí numa aula de roteiro…e pensei, gosto de filme, gosto de escrever. E lá eu vi que queria ser roteirista”, diz Luisa que está de mudança, por causa do frio da cidade, está indo para a Califórnia com a família.
Ao longo dos últimos anos, ela escreveu pilotos para séries da MTV (Fé na Tábua) e da Universal (What´s off), assinou o roteiro de um filme independente (American Falls), ganhou vários prêmios por roteiros não produzidos. Atualmente, Luisa está trabalhando no roteiro de um novo longa-metragem. “O fato de eu ser brasileira aparece em toda a minha arte. Gosto de explorar histórias de pessoas que estão do lado de fora e são observadas por um grupo. Assim é o personagem Polidoro, em Antes que eu me esqueça”, diz ela, que aos 32 anos de idade já conheceu 29 países e tem a meta de conhecer 50 até os 50 anos.
“O meu maior desafio em ser roteirista é mostrar o valor da profissão no cinema brasileiro. Nos últimos cinco anos pra cá, percebi que um dos grandes problemas era o roteiro. Temos público e capacidade de produção, mas falta o roteiro, o antes! Hoje o desafio é o mercado perceber essa noção. É um investimento para o seu filme, essa aceitação do mercado de uma forma mais global. Os jovens cineastas aceitam isso mais. É uma profissão técnica e criativa. Qualquer um pode escrever?Pode, mas cada arte, meio vai ter suas especificações”.
E o conselho “ Saia da caixa”? “Tem que ser realista no sentido que as coisas demoram para acontecer. Me mudei pra cá em 2010 e meu primeiro longa saiu somente agora. As coisas demoram e o dinheiro também! Minha família me ajudou muito nesse processo. Mas a palavra chave é paciência. O caminho é diferente pra cada um, não tem um mapa certo. A única coisa que dá pra controlar é produzir material, escrever. Contanto que você esteja escrevendo, criando, você está fazendo o certo, ou seja, o que tem que fazer.”
Muito legal, Luisa!
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