Não é de hoje que a cabeleireira e escritora Ruddy Pinho coleciona histórias ao lado de Susana Vieira. Ao longo de 36 anos de uma fiel amizade, as duas se tornaram grandes parceiras e, entre um corte de cabelo e outro, fofocavam e trocavam figurinhas sobre assuntos pessoais e profissionais da irreverente estrela global, no salão de beleza da harstylist, em Ipanema. No entanto, essa parceria ganhou uma profunda ruptura no momento em que Susana aceitou o desafio de interpretar a vilã Branca de Moraes, de “Duas Caras” (2007), e mudou radicalmente seu visual sem consultar sua então guru capilar. Hoje, nove anos depois de todo esse furdúncio, Ruddy está em busca de uma editora para lançar uma biografia não autorizada contando todas as histórias que ouviu nas três décadas de amizade com uma das maiores divas da televisão brasileira.
Em entrevista exclusiva ao HT, ela, que passou por uma cirurgia de readequação de gênero aos 40 anos e ostenta a marca de dez livros já publicados, revelou detalhes sobre o que chama de “o megahair da discórdia” e o que pretende exatamente com a nova produção literária.”Essa ideia de biografia surgiu há muitos anos, quando nós ainda trabalhávamos juntas. Convivendo com uma estrela, eu anotava todos os dias algumas coisinhas diferente. Isso já estava combinado com a Susana, mas o tempo passou e cada uma foi para um lado. No entanto, recentemente saiu uma nota de que ela estava trabalhando com outra pessoa para lançar esse trabalho, aí me acendeu o fogo”, comentou ela. “A ideia é homenageá-la. Não é uma vingança. Eu não vou tentar desmistificar uma imagem tão bem construída como a dela. O que nós vivemos foi único, engraçado e louco. Ninguém jamais poderia reproduzir essas histórias como eu. São relatos da vida de uma diva que nasceu nos corredores da TV Tupi nos anos 70. Resumindo, só tenho coisas boas para contar, até porque eu nunca presenciei uma cena lastimável com a Susana, apenas coisas adoráveis”, entregou.
Por maior adoração que ela pudesse ter pela atriz global – seu salão é decorado com diversos recortes de revistas com o rosto de sua musa maior -, um fato importante deixaria essa bela amizade abalada. Ruddy não aceitou a ideia da ex-amiga se entregar aos cuidados de outros profissionais e decidiu cortar relações. “Foi incompatibilidade de gênios. Eu preparei o cabelo dela pra aquela novela e ela amou. Deixei aquele visual lindo, uma cor maravilhosa. Ela me ligava e falava: ‘Ruddy, como estou linda e maravilhosa’. Só que ela viajou para o Caribe, mergulhou e estragou tudo. Quando voltou, estava amarelado e igual a uma palha de aço, um verdadeiro horror. Aí alguém deu para a Susana a sugestão de colocar um megahair. Não gostei. Eu, que cuidava dela há 30 anos, que deveria dar opinião. Mas não foi ciúme”, revelou, dando uma dica para as nossas leitoras. “Duas coisas que a brasileira precisam abolir é o magahair e o babyliss. O cabelo fica parecendo umas tripas. Não tem estilo nenhum e considero muito cafona”, avaliou ela, que, com bom humor, intitula a briga como: “A maldição do megahair”. “Ela ficou com um cabelo comprido, sem corte, sem nada. Logo ela disse umas bobagens sobre mim, eu não gostei. Aí mandei uma carta para Susana pedindo que ela não falasse mais no meu nome, e ela pediu para que eu fizesse o mesmo e assim rompemos”, lamentou.
Apesar das picuinhas, Ruddy ainda acredita em uma reconciliação com Susana e aposta que sua biografia não causará nenhum desconforto entre as duas. “Não sou do tipo de pessoa que avança o sinal. Se ela resolver falar comigo é mais fácil, ela sabe onde estou. Até gostaria de falar com ela para tranquilizá-la sobre o livro. Eu tenho dito que não vou magoá-la de forma alguma, ela tem o direito de proibir o meu livro ou não. Mas se autorizar a gente vai rir muito disso tudo”, comentou ela, empolgada, garantindo não sentir mágoas. “Eu assisto ao ‘Vídeo Show’ todas as quintas por causa dela. Eu não tenho nenhuma questão dentro de mim”, garantiu.
Brigas à parte, não há dúvidas de que Ruddy Pinho, a Maravilhosa, como gosta de ser chamada, tem muita história para contar. Segundo a própria cabeleireira, ela já produziu o cabelo “de putas e primeiras-damas”. Sua trajetória começou no fim dos anos 80, quando decidiu que iria fazer sua operação de readequação de gênero. Hoje, casada com um rapaz de 23 anos, mãe e avó, ela ressaltou que se sente uma mulher completa. “Atá hoje se discute esse assunto. Ser transexual faz parte da necessidade de cada um. É a qualidade e a razão de cada indivíduo. Eu vivo a minha vida como sempre vivi: cortando cabelos com alegria para sobreviver e hoje eu estou casada. Meu marido, Rizzo Pinho, faz direito e trabalha dignamente. Vivemos juntos há três anos e, recentemente, meu filho também me deu uma neta. A vida continua igual. Eu vivo como qualquer mulher”, declarou ela, que decidiu criar Ivan, seu filho adotivo, quando um amigo a perguntou se conhecia alguém para ficar com a criança, que estava com seis dias de vida na época.
Mas a trajetória de Ruddy mostra muito mais. Atuante em relação aos diretos da classe LGBT, ela garantiu que lutou ao lado de então governador do Rio Sérgio Caral para garantir leis que amparem todos os gays. “Já avançamos muito nesses quesitos, tanto que eu estou casada. Eu trabalhei com o Cabral e com a Dilma Rousseff em cadeias e locais obscuros para ver como era o cotidiano doa homossexuais nesses lugares. Tudo com muito respeito e com a intenção de observar e tentar dar um suporte para essa gente. Chega uma hora que as pessoas têm que aceitar e não discutir sobre a orientação sexual alheia. Acho uma vergonha a gente ter que lidar com agressões às mulheres, aos negros e aos gays nos dias de hoje. Discutir o sexo dos anjos é coisa do século passado”, comentou ela, que ainda culpou políticos que ajudam a disseminar o ódio entre as pessoas. “Enquanto tivermos políticos que dão margem para alimentar esse ódio e essa discriminação, ainda teremos casos de homofobia e racismo no nosso país”, avaliou.
Quando questionada sobre as Olimpíadas Rio 2016, ela garantiu que acha o evento importante para o país, no entanto, vai ficar reclusa em casa durante os jogos. “Sediar o evento é muito importante para o Brasil, mas eu vou seguir o que uma grande autoridade, que não posso citar o nome, me avisou através de sua mulher: ‘é melhor ficar o mais perto de casa possível’. Eu torço para que seja bacana, mas não quero participação. Vou fazer uma Olimpíada de sexo se meu marido topar”, contou, aos risos. E falando em marido, Ruddy ainda pretende lançar futuramente um livro com poemas que troca com seu jovem amado. “Eu escrevo todas as noites. Tem um livro que eu e Rizzo estamos pensando. A gente sempre se troca poemas e bilhetinhos de amor. Estamos pensando em fazer disso uma obra, quem sabe mais para frente, mas na crise atual só com patrocinador”, completou.
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