Ruben e Flavia Feffer celebram os 20 anos da Ultrassom Music Ideas com projetos incensados internacionalmente


À frente da premiada empresa de concepções artísticas com ênfase na produção musical e pós-produção de áudio para projetos audiovisuais, Ruben e Flavia Feffer só têm o que comemorar com a inovação, a tecnologia ao criarem projetos com um time de mentes brilhantes. “Nos consideramos uma empresa brasileira de presença internacional, então sempre iremos buscar apoiar ao máximo as iniciativas nacionais. A música, a arte, o som, a voz, o audiovisual, as narrativas da histórias terão importâncias ainda maior e mais necessárias do que nunca”, afirma Ruben Feffer. “O Menino e o Mundo”, direção de Alê Abreu, foi indicado ao Oscar de Melhor Animação e foi vendido para mais de 80 países. A Ultrassom também comemora as premiações no Festival de Veneza e no Emmy com a trilha para o curta de realidade virtual “A Linha”. Recentemente, a produtora também se destacou com as primeiras audio-séries do mercado, como “Sofia”, “Paciente 63” e “Batman Unburied”. “Os próximos 20 anos serão uma continuação dessa incrível jornada, com muitos desafios e conquistas pela frente. Estamos prontos para continuar criando, inovando e tocando o coração das pessoas com nossas trilhas sonoras”, pontua Flavia

Ruben e Flavia Feffer celebram os 20 anos da Ultrassom Music Ideas com projetos incensados internacionalmente

São 20 anos de uma chancela na criação e produção musical, direção e gravação de voz original e pós-produção de áudio para uma variedade de projetos audiovisuais, incluindo longas e curtas-metragens, séries, publicidade e teatro. A Ultrassom Music Ideas, que tem à frente Ruben e Flavia Feffer, está colhendo os louros de uma trajetória vitoriosa, acumulando prêmios – e dando vazão à tecnologia criativa e levando o Brasil a uma expansão internacional no setor a níveis inigualáveis. Para comemorar as duas décadas da empresa, Ruben, Flavia, todo o time das mentes criativas da Ultrassom Music Ideas + parceiros vão brindar a data no Blue Note, em São Paulo, hoje, quarta-feira, dia 19, com direito a um pocket show. São muitas as conquistas internacionais de projetos que contam com a expertise da Ultrassom Music Ideas. “O Menino e o Mundo”, direção de Alê Abreu, foi indicado ao Oscar de Melhor Animação, em 2016. O filme foi vendido para mais de 80 países e é um produto consagrado – e pode ser visto no Globoplay. Mais um exemplo é “A Linha“, curta-metragem em realidade virtual brasileiro de 2019, dirigido por Ricardo Laganaro, premiado no Festival Internacional de Cinema de Veneza com o troféu de Melhor Experiência Interativa e ganhou ainda o Creative Arts Emmy Awards com a trilha para o curta de realidade virtual. Precisamos incluir também a célebre gravação em Abbey Road das cordas de “Tito e os Pássaros“. Recentemente, a empresa se destacou com as primeiras audio-séries do mercado, como “Sofia“, “Paciente 63” e “Batman Unburied“. Nesta entrevista exclusiva, Ruben e Flavia revisitam suas carreiras e a própria história da Ultrassom. Para além de uma empresa que prima pela excelência, mas também para uma criadora de conceitos e tecnologias no audiovisual nesses 20 anos e para os outros que ainda virão em alta potência.

Segundo Ruben, “20 anos parece que foi pouco, às vezes parece que foi muito, é muito uma coisa de perspectiva, do momento. O que é inegável é o quanto mudamos. Hoje temos uma equipe maravilhosa, muito dedicada e experiente. A pessoa que está a menos tempo conosco contabiliza 5 anos de empresa. Tem gente que estava com a gente antes mesmo do estúdio estar construído. Acho que tivemos uma relevância bem grande para o setor audiovisual brasileiro, ajudando a posicionar o Brasil com destaque no panorama internacional da animação e também tivemos a oportunidade de contribuir um pouco com isso no campo da Realidade Virtual e experiências imersivas. No âmbito cultural também participamos ativamente em alguns projeto de impacto, no documentário “Quebrando o Tabu” que ajudou a se abrir o diálogo para a discussão de como se lidar com drogas. No curta “Sangro” que tratou abertamente sobre o preconceito sofrido por quem tem HIV”.

E para os próximos 20 anos, ele afirma: “Imaginamos que poderemos ter uma presença marcante nas novas tecnologias que estão surgindo, seja I.A., Realidades Mistas, e pretendemos ter nossa voz ativa e presente no âmbito cultural também, num mundo em tamanha transformação, conflitos bélicos escalando a  nível global, sociedade mais do que simplesmente dividida, dilacerada talvez. A música, a arte, o som, a voz, o audiovisual, as narrativas da histórias terão importâncias ainda maior e mais necessárias do que nunca”.

Para Flavia, empreender no Brasil a ensinou a ser resiliente e a valorizar cada conquista. “Aprendi que, mesmo diante das dificuldades, é possível fazer a diferença e contribuir para um cenário cultural mais rico e diversificado. Acredito que, com determinação, criatividade e paixão, podemos superar qualquer obstáculo e continuar promovendo a arte e a cultura em nosso país”.

Nestes 20 anos, sem dúvida um dos momentos mais expressivos da empresa foi a indicação de “O Menino e o Mundo” ao Oscar de Melhor Filme de Animação. Para Flavia e Ruben, o feito tem uma leitura particular. Na opinião dela, “tratou-se de uma grande honra e uma validação incrível do nosso trabalho. Lidar com essa indicação foi emocionante e desafiador ao mesmo tempo. Sabíamos que estávamos representando não apenas nossa empresa, a Ultrassom, mas também a criatividade e a qualidade do cinema brasileiro no cenário internacional. Isso, portanto, nos encheu de orgulho e nos motivou a continuar explorando novos horizontes na criação de trilhas sonoras que tocam o coração das pessoas”. Para Ruben, muitos desafios, inclusive o da própria realização. “O maior desafio de fazer esse projeto foi o fato de que o filme era um organismo vivo independente, não tinha nem roteiro. Estava literalmente sendo escrito pelo menino Tuca, que nomeia o projeto e que estava dentro do imaginário do Alê Abreu, o diretor. Então, eu e Gustavo Kurlat, músico, tínhamos que, com muita sabedoria e destreza, extrair isso, decodificar as informações do que iríamos precisar, o que estava acontecendo a cada momento, no que era importante focar a atenção do espectador, quais eram os pontos de vista relevantes, etc. Mas foi um imenso aprendizado e tivemos uma liberdade de experimentar e ousar que raramente são alcançadas em nosso mercado, especialmente por que o filme não têm falas nem nacionalidade. É a música é quem conta a história, e que é, acima de tudo, sentida, percebida com o coração do público, independente da formação cultural, nacionalidade, ou idade”.

Ruben prossegue dizendo que “a indicação, mesmo sem a vitória, foi um marco, um novo patamar para a Ultrassom e para mim como compositor. Um divisor de águas, hoje portas se abrem automaticamente com a simples menção de ser um “Oscar Nominee“. As pessoas pediam para ouvir o portfólio todo, pegavam referências antes mesmo de marcar uma primeira reunião. Hoje essa barreira inicial caiu, já tenho acesso pelo menos a uma primeira reunião com quem for”.

Sobre o processo criativo que deu origem ao “O Menino e o Mundo”, Ruben diz que ele nasce de um processo colaborativo, criativo, de muita intensidade, muitas idas e vindas, com Gustavo Kurlat. E também muitas trocas e conversas com o diretor e criador do filme, Alê Abreu”. E ele detalha: “O Pai é representado pelo som da flauta, que ele mesmo toca. E toca de maneira simples, natural, não como um músico virtuoso, com formação erudita, mas como alguém do campo, da terra, que assovia suas emoções com um caniço na boca. A Mãe é representada pela voz humana, em várias formas, sozinha ou em grupo, natural ou sintetizada. Cantando uma cantiga de ninar ou um grito de guerra, ou mais especialmente, uma manifestação de paz. O Velho narra tudo com as sonoridades guturais do genial e saudoso Naná Vasconcellos (1944-2016). O processo de colheita e produção do algodão é feito com sons humanos, da percussão corporal e vocal dos Barbatuques. Emicida e a linguagem de beats do hip-hop marcam a urbanização e favelas…Todos sons e efeitos sonoros são realizados de forma lúdica, misturando sons de animais ou sons humanos, com instrumentos musicais, em várias camadas, remetendo ao olhar inocente e criativo de uma criança, que vê bichos nos faróis dos carros, ou bolinhas coloridas em sons musicais”.

INDEPENDENTE NA IDENTIDADE

A Ultrassom é uma empresa de referência no mercado. Naturalmente, possui marca e assinatura próprias e uma estruturação conceitual personalíssima, o que faz dela – segundo seus fundadores – uma empresa “music ideas“. Para Flavia, esse diferencial nasce “da paixão e da criatividade que colocamos em cada projeto. Acreditamos que a música tem o poder de transformar e elevar a narrativa audiovisual, e é essa convicção que guia nosso trabalho. Nosso compromisso com a excelência, a inovação e a personalização das trilhas sonoras nos permite criar experiências únicas e memoráveis para nossos clientes”. Acrescenta que o fato de a empresa ser uma “music ideas” transcende a própria criação da música: “Somos uma incubadora de ideias musicais, onde exploramos novos conceitos, experimentamos com diferentes sons e colaboramos estreitamente com nossos parceiros para entender profundamente suas visões e necessidades. Esse processo colaborativo nos permite desenvolver trilhas que não apenas acompanham, mas enriquecem e amplificam a mensagem de cada projeto. Em essência, nosso diferencial está na combinação de talento, paixão, inovação e uma profunda compreensão do poder da música”.

Music Ideas foi algo que objetiva justamente para marcar um diferencial nesse aspecto narrativo, criativo e de alta qualidade artística e musical. Um conceito paralelo a isso, que costumava estar escrito no verso do nosso cartão de visitas, é o “Music Tells The Story” (a música conta a história) para deixar bem claro que nosso trabalho, a música, o som, estão a serviço de alguma coisa, no caso a história, a narrativa, o filme, a obra audiovisual. Não é a música por si só, não é uma “egotrip”. Então parte do diferencial também é isso: uma grande atitude de parceria e entrega para o projeto, para o filme, muita conversa com o diretor e outros da equipe, para garantir esse alinhamento ao resultado final. Também o fato de fazermos o processo integrado, a trilha, o “sound-design”, efeitos de som, até a mixagem final, tudo isso na mesma casa, com uma equipe forte e coesa, traz um resultado, uma unidade para o filme, que imprime na tela – Ruben Feffer

Ruben e Flavia Feffer celebram os 20 anos da Ultrassom Music Ideas com projetos incensados internacionalmente

Sinergia na vida particular e profissional: Ruben e Flavia Feffer comemoram os 20 anos da Ultrassom Music Ideas

Por anos o cinema brasileiro tratou muito mal a sua sonorização. Os filmes eram dublados pelos atores e até mesmo a inclusão das trilhas – algumas feitas sob encomenda e através de criações primorosas – eram aplicadas de maneira questionável nos longas. Flavia e Ruben analisam, portanto, o panorama do segmento. Ela corrobora a afirmativa de que antigamente o cinema não era tão zeloso com a sonorização. “É verdade que, historicamente, o cinema brasileiro enfrentou muitos desafios no que diz respeito ao som. No passado, a falta de recursos técnicos e investimentos adequados muitas vezes resultou em uma qualidade de som aquém do desejado, com práticas como dublagem dos próprios atores e trilhas sonoras mal integradas ao filme. No entanto, o panorama atual do segmento é muito mais promissor e animador. Nos últimos anos, temos testemunhado um avanço significativo na qualidade da sonorização e na valorização da trilha sonora no cinema brasileiro. A evolução tecnológica, o acesso a equipamentos de ponta e a crescente profissionalização dos profissionais de som têm contribuído para elevar o padrão de produção sonora”.

Flavia, então, destaca a vanguarda da empresa: “Foi na Ultrassom que realizamos a primeira série de animação gravada com voz original no Brasil, e não dublagem, isso foi em 2007. Também fomos uma das primeiras produtoras de som a implementar o sistema Dolby Atmos no Brasil”.

Hoje, vemos uma preocupação muito maior com a mixagem, edição e integração da trilha sonora ao contexto narrativo dos filmes. Os diretores e produtores estão cada vez mais conscientes da importância do som como um elemento narrativo crucial, capaz de enriquecer a experiência cinematográfica e aprofundar a conexão emocional com o público” – Flavia Feffer

Ruben reporta que “um complemento interessante, com o advento das plataformas digitais de streaming, entra um elemento mais forte em cena, que é o “QC” (Quality Control),  área e procedimentos de controle de qualidade dessas plataformas, bem mais rigorosos, e com padrões internacionais, comparados com o que tinha antes na TV por assinatura ou mesmo nas entregas de áudio para cinema. Então se um “delivery” de áudio não passa nessa “peneira” do QC, isso afeta muito seriamente o projeto como um todo, e pode causar consequências bastante sérias para a produtora de som em questão. Esse tipo de coisa ajudou a elevar o patamar da qualidade da produção de áudio nacional”.

OS SABERES

A Ultrassom, com seus 20 anos, tem um passado tão intenso que ao futuro só cabe o desafio de seguir o fluxo vanguardista. E essa vocação foi percebida desde o princípio da empresa, ainda em seus primeiros anos, segundo conta Ruben: “Quando estávamos realizando a trilha sonora do curta de animação ‘Guida’ – que venceu os principais prêmios de animação do mundo todo – sabíamos o que queríamos e que precisaríamos ter a sonoridade de um conjunto de chorinho. Porém o projeto não tinha verba para podermos chamar os 7 ou 8 músicos necessários para essa execução musical. Em paralelo, tinha um amigo meu, Marcelo Tupinambá, ex-funcionário, que é tataraneto do lendário compositor Marcelo Tupinambá (1889-1953), e precisava de um estúdio para gravar com seu conjunto de choro algumas composições de seu tataravô. E ele não tinha verba para pagar o estúdio. Então fizemos esse acordo e combinamos que ceder horas de estúdio para ele, em troca da banda gravar a trilha de ‘Guida’”. Assim nasceu a Ultrassom. Da força de quem acredita no trabalho”.

Diante desse pé firmemente calcado no presente, mas com um olhar de futuro, Ruben e Flavia analisam o que foi construído até agora e vislumbram o que virá. “Os primeiros 20 anos da Ultrassom foram uma jornada incrível de crescimento, aprendizado e realização. Através de muito trabalho e dedicação, nos tornamos uma referência no mercado de trilhas sonoras e som para o audiovisual. Olhando para trás, temos muito orgulho das conquistas e dos desafios superados. O balanço desses anos é extremamente positivo. Tivemos a oportunidade de trabalhar em projetos emocionantes e impactantes, desde pequenas produções até grandes filmes de animação que alcançaram reconhecimento internacional, como “O Menino e o Mundo“, indicado ao Oscar,  “Tito e os Pássaros“… A cada projeto, aprendemos e evoluímos, sempre buscando excelência e inovação”, diz Flavia.

E acrescenta: “os próximos 20 anos, nossa projeção é continuar crescendo e inovando. Queremos expandir nossa atuação, explorar novas tecnologias e tendências no mercado de som e música para o audiovisual, e continuar desenvolvendo talentos dentro da nossa equipe. Também desejamos fortalecer ainda mais nossas parcerias e abrir novas frentes de colaboração, tanto no Brasil quanto internacionalmente. Acreditamos que a colaboração é fundamental para o sucesso e que podemos alcançar resultados ainda mais extraordinários trabalhando juntos Em resumo, estamos muito entusiasmados com o futuro. Os próximos 20 anos serão uma continuação dessa incrível jornada, com muitos desafios e conquistas pela frente. Estamos prontos para continuar criando, inovando e tocando o coração das pessoas com nossas trilhas sonoras”.

VIDA, VIDA 

Gostamos de contar a história de quem criou uma empresa no nosso Brasil. Por mais que tenhamos antecipado como a Ultrassom surgiu, falaremos sobre como seus nomes chegaram até lá. Ruben revela que fez de tudo, “até trilha para realidade virtual, dança… Foram muitos anos, muitos momentos, e fases diferentes. Comecei fazendo música para teatro, e projetos musicais de amigos e conhecidos, CDs, de música para eventos corporativos. Depois migrei para trilha de cinema com documentários e filmes de animação, em seguida comecei a mergulhar mais profundamente nas séries de animação”. Flavia sempre esteve ligada à televisão. “Meu primeiro trabalho foi no renomado programa ‘Roda Viva’ da TV Cultura, uma experiência enriquecedora que me deu uma base sólida no mundo do audiovisual. No entanto, meu verdadeiro sonho sempre foi trabalhar com programas infantis e lá fiquei por alguns anos. Logo depois, decidi expandir meus horizontes e fui morar na Europa. Essa experiência internacional me proporcionou uma nova perspectiva sobre o mundo da televisão e do entretenimento, além de enriquecer minha bagagem cultural”, diz ela.

A dupla também debate a influência dos Direitos Autorais, em tempos de Inteligência Artificial. “A proteção de Direitos Autorais é fundamental, especialmente no cenário atual, onde a criação e distribuição de conteúdo estão mais acessíveis e difundidas do que nunca. Garantir que os direitos dos criadores sejam respeitados é essencial para promover a criatividade, a inovação e a justiça no mercado. Para mim, os Direitos Autorais são muito sérios e importantes. Cresci ouvindo sobre isso, pois minha mãe, Maria Cecilia Garreta Prats Caniato, foi uma das primeiras advogadas de Direitos Autorais no Brasil e, sem falsa modéstia, uma das mais importantes nesse ramo. Sua dedicação e trabalho ajudaram a estabelecer muitos dos fundamentos que ainda guiam a proteção dos direitos dos criadores hoje”, analisa Flavia.

Segundo ela, “a proteção de Direitos Autorais assegura que os criadores recebam reconhecimento e compensação justa pelo seu trabalho, incentivando-os a continuar produzindo conteúdo de qualidade. Além disso, protege a integridade das obras, garantindo que elas não sejam alteradas ou usadas de maneira inadequada. No campo da música e do audiovisual, eles garantem que compositores, músicos, produtores e todos os envolvidos na criação de uma obra recebam os créditos e a remuneração que merecem. Isso não só sustenta economicamente os artistas, mas também fomenta um ambiente onde a inovação e a criatividade podem florescer”.

Em suma, a proteção de Direitos Autorais é vital para o desenvolvimento cultural e econômico, promovendo um ecossistema justo e sustentável para todos os envolvidos na criação de conteúdo – Flavia Feffer

Ruben estuda também esta condição atual. “Em tempos de Inteligência Artificial, e que faz parte da cultura samplear e remixar, o Direito Autoral tem passado por desafios imensos, conceituais e tecnológicos, mas hoje em dia as entidades do ramo têm se dedicado bastante a se atualizarem nessas questões, e tem se posicionado e realizado cursos e palestras extremamente relevantes para todos nós do mercado acompanharmos. O mundo está mudando e precisamos, de um lado, que as leis e entidades possam ter flexibilidade de poder evoluir juntamente, mas também que possam ajudar a resguardar e não deixar ir por água abaixo tantos anos de esforço da valorização e proteção da criação intelectual e artística humana”.

Uma imersão no universo de Ruben Feffer:

Heloisa Tolipan – O que foi definitivo para deixar o mundo corporativo e os negócios da família e migrar para a música/trilhas? 

Ruben Feffer – As coisas nunca são tão assim do dia para a noite, mas efetivamente teve um dia, uma semana talvez, onde, eu estava num processo de autoanálise, e olhei para onde eu estava naquela momento (em 1998) e me dei conta, claramente, que o que eu tentava fazer no ambiente corporativo era uma espécie de um “tapa-buraco”, era algo que não estava realmente na minha alma, era algo que não era do meu sonho, na verdade, era o sonho de outras pessoas, da minha família talvez, mas também de outros profissionais que estavam lá, ralando, sonhando em crescer na organização. E eu estava ocupando esse espaço, sem ser o meu sonho. É difícil de explicar, mas isso é algo com o qual eu ia sempre lidando, de alguma maneira ou outra, ao longo do meu crescimento, até então. Mas só nesse momento que percebi que eu não precisava efetivamente abandonar completamente a empresa, o sonho de ver a empresa crescer forte e “bem cuidada” ao mudar a minha atuação no dia-a-dia. E então decidi sair dessa coisa do cotidiano corporativo, mas mantendo laços e até algumas atuações a nível de conselho, para não “abandonar” o projeto de vida da minha família, dos meus antepassados. E hoje em dia eu ainda dedico uma parte do meu tempo atuando para auxiliar na preparação das novas gerações da família a lidarem, da melhor forma possível, com as estruturas e com o fato de ser sócio (ou futuro sócio).

Heloisa Tolipan – Sua família é conhecida pelo empreendedorismo com a trajetória da Suzano Papel e Celulose. Mas gostaria que você abordasse a paixão pela música de seu pai e avô. O que eles gostavam e você tem como memórias afetivas?

Ruben Feffer – Eu sempre vivi e respirei a música ao meu redor, desde pequeno. Meu avô tocava violino como um bom imigrante judeu, veio da Europa criança, com praticamente nada, mas trouxe seu violino. Meu pai tinha sido músico semiprofissional, e tinha largado essa carreira para se dedicar à empresa. Mas ele sempre foi um músico, no sentido de que isso é algo inerente à pessoa, independente da atuação profissional. Ele sempre dava “canjas” nas bandas dos amigos (adoro fazer isso até hoje), e quando ele foi Secretário de Estado de Cultura, Ciência e Tecnologia, no fim dos anos 70, início dos 80, ele sempre estava rodeado de  músicos excepcionais. Me levava para toda parte, do Festival de Jazz de Montreux que ele trouxe para São Paulo, ao Festival de Inverno de Campos de Jordão, uma tradição na música erudita, onde ele inaugurou o Auditório Cláudio Santoro, até hoje uma das principais salas de concerto do nosso país. E a inúmeros eventos e performances de música folclórica indígena, ou das mais variadas etnias, que sempre me interessaram também.

“A música, a arte, o som, a voz, o audiovisual, as narrativas da histórias terão importâncias ainda maior e mais necessárias do que nunca”

Heloisa Tolipan – Nos conte um pouco sobre a sua relação com Gustavo Kurlat? Já houve quem considerasse a sinergia de vocês tão grande que seria algo equivalente a Lennon e McCartney. Falando em Beatles, como foi gravar “Tito e os Pássaros” em Abbey Road? 

Ruben Feffer – Adorei essa do Lennon e McCartney! Adoro eles, me sinto extremamente lisonjeado com essa comparação, acho que a gente deve brigar menos do que eles… Imagino o que eles fariam com os recursos e possibilidades da tecnologia musical de hoje em dia. Vejo McCartney, imagine isso potencializado pelo poder da dupla. Pois para mim é isso o que acontece, uma super potencialização, onde 1 + 1 não é simplesmente 2; 1 + 1 vira 10, vira 100 até…  As menores coisas, ideias simples, ganham um alcance muito maior, possibilidades se multiplicam, e ideias que talvez não fossem tão boas assim acabam se subtraindo naturalmente, para atingir um equilíbrio natural. Não existe o “writer’s block“, não dá aquele “branco” – um puxa o outro, um levanta o outro dos buracos naturais que sempre ocorrem ao longo de qualquer percurso. É tipo vôlei, um levanta e o outro corta. O Gustavo é como se fosse um sensei, um guru, uma pessoa com uma experiência e visão do processo criativo e artístico como poucas outras. Quando iniciamos um projeto, ele nos leva por caminhos de pesquisa e questionamentos filosóficos que trazem uma profundidade, e acabam por nos indicar o melhor caminho a seguir. No meu processo criativo individual aprendi a confiar na intuição, naquelas primeiras pequenas ideias que surgem pra mostrar possíveis caminhos. Na parceria com Gustavo isso é potencializado, e todo esse processo conceitual, de pensar o significado das coisas e caminhos, nos leva claramente para uma direção mais certeira. Aprendi a confiar quando ele vem com alguma ideia aparentemente ousada ou até “esdrúxula”, que parece não ter nada a ver, mas que nos joga em uma tangente que permite dar um salto quântico criativo e encontrar soluções mais elegantes e completas para as situações que enfrentamos.

Quanto a “Abbey Road”, acho que foi uma das emoções mais fortes da minha vida. Muita gente vai lá, passa na frente, tira foto e tal, mas pouquíssimos passam essa barreira de entrada, e têm a chance de conhecer o que tem lá dentro, e podem efetivamente trabalhar nesse verdadeiro paraíso, um lugar tão lendário que parece um museu, com uma energia e vibração. Até hoje tão ativo quando era no tempo dos Beatles. As grandes trilhas da Marvel, DC, Disney e outras até hoje são gravadas lá. E eu tive essa oportunidade de trabalhar com uma dezena de músicos orquestrais oriundos da nata de uma das melhores orquestras sinfônicas do mundo. E eles eram super exigentes, bravos, tempo literalmente era dinheiro. Não ia rolar nenhuma “folguinha” por “amor a arte”, lá é “business sério”. Em certo momento, o projeto quase foi abaixo quando “invadimos”, momentaneamente, o descanso regulamentar deles. Foi um super desafio, mas conseguimos fazer funcionar e o resultado está lá, imortalizado nessa trilha que é uma das mais impactantes que já compusemos. Quem quiser conferir, pode pesquisar no Spotify por “Tito e os Pássaros“, tem o álbum da trilha sonora completa lá.

"Tito e os Pássaros", de Ruben Feffer, foi gravado em Abbey Road

Heloisa Tolipan – A vocação da Ultrassom é o audiovisual – especialmente cinema. Mas, você já atuou como diretor musical para inúmeras empresas no streaming. Correto? Como se deu a inovação nas produções? Já produziram algo para a televisão brasileira?

Ruben Feffer – Acho que o conceito de diretor musical foi uma forma que encontrei de poder fazer mais coisas ao mesmo tempo, escalar sem perder qualidade e visão artística, que sempre foi um desafio gigante para mim e para a empresa. Dessa forma, consigo trabalhar com parceiros com quem vou estabelecendo uma relação direta, e aplico um efeito de rede que permite “equilibrar vários pratos” de uma só vez. Então, eu e meus parceiros conseguimos estabelecer as linguagens musicais que melhor vão funcionar para cada projeto, e os projetos conseguem ter, gradualmente, uma vida própria. Claro que isso varia de projeto para projeto, mas de modo geral os primeiros testes e conceituações eu faço pessoalmente, acompanho as etapas de criação, desenvolvimento, produção e finalização. Eu estabeleço o universo ou mapa sonoro que o meu produtor parceiro irá seguir nas próximas criações dentro de cada projeto. O importante é nunca, jamais, perder a qualidade artística e a técnica que fazem com que eu possa me olhar no espelho no fim do dia, e aceitar que estamos entregando o melhor que podemos para nossos clientes.

Os próprios canais trazem a inovação nas produções e processos, sistemas de aprovações e feedback. Também o processo todo de virtualização e produção e gravação remotas que ocorreu durante e após a pandemia, já era algo que estávamos experimentando até antes. Hoje, a produção é toda com parceiros até mesmo em outros estados ou países.

Já produzimos, sim, para a televisão brasileira. Tivemos projetos na TV Cultura, TV Ratimbum, Futura, TV Brasil, entre outros. Já tivemos pequenas participações em projetos para SBT e TV Globo, e temos vários projetos recentes nos diversos canais digitais do grupo Globo, como Gigagloob, Gloobinho, e Globoplay. Nos consideramos uma empresa brasileira de presença internacional, então sempre iremos buscar apoiar ao máximo as iniciativas nacionais.

Heloisa Tolipan – Você trabalha como compositor de trilhas de filmes. Mas, na sua história, qual filme o impactou neste segmento e foi transformador na sua carreira?

Ruben Feffer – Eu sempre digo que praticamente todo projeto é único e marcante, em seu tempo e suas dimensões. E todos foram transformadores em graus diferentes, mas todos ao meu redor são unânimes em dizer o quanto “O Menino e O Mundo” foi impactante nesse sentido, muito mais que qualquer outra coisa. Esse projeto transformou o segmento todo da animação e até mesmo o audiovisual brasileiro como um todo, mudou a forma que o Brasil se posiciona em qualquer situação de animação do mundo. Fomos o primeiro país latino-americano a ser indicado ao Oscar na categoria de longa animado, antes mesmo que a Argentina que, além de rival nos campos de futebol, sempre é destaque nas categorias de filme estrangeiro. Nunca mais vai existir um projeto como esse, podem existir outros diferentes, mas desse jeito, único assim, diferente assim. Um filme praticamente de arte nesse patamar, um filme super independente, de baixíssimo orçamento para qualquer padrão internacional (não somente holywoodiano…), praticamente sem falas. Foi uma conjuntura única que permitiu esse filme acontecer. E tenho gratidão infinita, diária, por ter podido participar e contribuir com isso.

Heloisa Tolipan – As premiações no Festival de Veneza e no Emmy com a trilha para o curta de realidade virtual “A Linha” levou também o nosso Brasil a um patamar internacional. Pode nos contar os bastidores e o que guardou na memória sobre a premiação?

Ruben Feffer – O Brasil já era bem visto na animação nacional, e aí chega esse filme, ou mais precisamente, essa experiência imersiva de realidade virtual. Uma narrativa diferente de tudo o que já havia sido visto nesse tipo de projeto. Um “bicho” diferente, não era um filme, não era um game, não era um software, não era uma “demo”, era tudo isso, mas de um jeito totalmente inovador. O Emmy foi de Destaque de Inovação Tecnológica, mas o grande lance de “A Linha” foi contar uma história extremamente simples, delicada e humana, usando o artifício da realidade virtual, e de um mundo de brinquedo, de uma maquete de uma São Paulo dos anos 1940, com sons de máquinas de diversões antigas, antes dos blips e blops dos fliperamas dos 70 e 80. Com música de chorinho e realejo. Com bonecos, bicicletas, bondes e flores. A mais avançada das formas tecnológicas para uma narrativa extremamente atemporal e primal. Doze minutos aproximadamente de interação, e eu vi com meus próprios olhos, no Festival de Veneza e em inúmeras outras situações, sempre o público sair com os olhos marejados, quando não aos prantos. A revelação final, uma surpresa ao mesmo tempo singela e grandiosa, termina de dar o impacto emocional, que a realidade virtual já assegurou desde os primeiros minutos da experiência.

"A Linha", animação premiada no Festival de Veneza e no Emmy com a trilha para o curta de realidade virtual

Heloisa Tolipan – Se a paternidade fosse um gênero musical, qual seria? Que música (que não pode ser sua), mais combina com a personalidade de cada um dos filhos? Como sente essa paixão pela música que eles também adquiriram?

Ruben Feffer – Bom, essa pergunta vai levar o Oscar de mais difícil, e certamente mais diferente e inusitada. Eu tenho 4 filhos, um de 24 anos, um de 21, de meu primeiro casamento, e um de 9 e outro de 7 de meu casamento atual. Cada um tem sua personalidade, e isso tem várias dimensões musicais. Os meus dois mais novos, talvez até por terem vindo em um momento em que meu envolvimento musical está em outro patamar, ou simplesmente pela “bagagem” que cada um já traz, tem uma relação muito plena e intensa com a música, com 7 e 9 anos já têm uma naturalidade no piano e na bateria como poucas vezes vejo em outras crianças, corujices a parte. Os meus dois mais velhos sempre apreciaram, mas não era algo tão presente o tempo todo da vida deles. O mais velho gosta muito de música e de cinema, entende bastante, daria um belo crítico artístico, mas não tem tocado. O segundo mais velho tem voltado recentemente a tocar e gostar de aprender instrumentos e produção musical, além de ter “descoberto” o mundo dos discos de vinil.

A música de cada um? Na ordem de nascimento, o de 24 combina, para mim com algo num estilo “deep-house”, elegante, um Calvin Harris talvez? Um remix de algo dos anos 80 talvez também, pois ele sempre parece ser mais velho, viver em uma outra época até… talvez Jamie Cullum, que é alguém que eu adoro. O de 21 caberia um remix de algo clássico brasileiro, mas com uma releitura, bastante criatividade e ousadia, talvez algo tipo o “Rework” de “Mutante” que o DJ Gui Borato fez para a música de Rita Lee.

Para meu filho de 9 anos, talvez uma música erudita, algo brilhante e metódico, como Bach?  talvez o “proto-remix”, a versão eletrônica de Bach feita com sintetizadores analógicos por Wendy Carlos nos anos 70, “Switched On Bach“? E para o caçula, ele é bem maluquinho, performático…. Bob Esponja? Bohemian Rhapsody?  se Bob Esponja cantasse “Bohemian Rhapsody“…

Ixi, faltou a paternidade em si… preciso do Gustavo Kurlat para filosofar sobre isso…

Paternidade é criação, é energia pura, potencial infinito que pode se transformar em qualquer coisa, algo muito maleável, intenso, mágico… Talvez algo da Bjork (paternidade na voz feminina?) ou Sigur Rós tenha isso. Às vezes parece Skrillex ou MadMax. E às vezes é Beatles, Yellow Submarine ou  I Am The Walrus, num parque de diversões, num carrossel psicodélico.

Heloisa Tolipan – A Ultrassom Music também se destacou com as primeiras audio-séries do mercado, como “Sofia”, “Paciente 63” e “Batman Unburied“. Pode nos falar sobre estas produções?

Ruben Feffer – São projetos que tocam fundo em meu coração, cada um por um motivo, mas basicamente cada um pelo seu timing. Todos eram projetos que queríamos muito fechar com o Spotify, e que quando fechamos os acordos, ficamos muito felizes com a possibilidade de poder fazer parte, todos foram projetos históricos.

“Sofia” foi a primeira, nunca havia tido um projeto assim. Eu desde criança gostava de fazer projetos de áudio-novelas (como chamávamos antigamente), até para a escola já fiz pequenas produções em fita K7 quando era adolescente. E com a meta linguagem de falar sobre o lado “humano” de tecnologias como “Alexa” e “Siri”, com um humor ácido e inteligente, era um projeto apaixonante.

Paciente 63” foi extremamente impactante, pois aconteceu imediatamente no início da pandemia. Parecia, não ficção científica, mas sim o pior terror possível, com seu argumento que no futuro, as vacinas não eliminaram os vírus da Covid, e a humanidade foi praticamente aniquilada, e precisou vir um viajante no tempo, tipo o Exterminador do Futuro, para eliminar a primeira transmissão da cepa mais letal do vírus. Genial, e aterrorizante. Um mini elenco, somente dois atores, com texto brilhante e atuações que foram marcantes do Seu Jorge e da Mel Lisboa nos papéis principais (e praticamente únicos). Direção mais brilhante ainda do meu querido Gustavo Kurlat.

E quando achávamos que nada mais poderia vir, vem um projeto totalmente diferente e ousado, diretamente da DC Comics, com o primeiro super herói que me apaixonei quando criança, o Batman. Só que aqui, só em áudio, um Batman extremamente perturbado, e com tudo diferente, até o nome e a profissão. Mais uma vez, genial. E o resultado ficou sensacional, camadas sonoras que nos fazer entrar dentro da história e viver cada emoção como se fosse uma realidade virtual.

Heloisa Tolipan –  Como incentivar e empregar músicos, técnicos, letristas e profissionais de foley e sound-design neste país tão difícil. Qual o feedback que sente?

Ruben Feffer – Mais uma excelente pergunta. Acho que o incentivo vem da oportunidade de todos esses profissionais poderem fazer parte de projetos marcantes e inovadores, como audio-series, experiências de VR, documentários, curtas, e longas-metragens, e séries de animação ou live-action.

O mercado de entretenimento e conteúdo, de filmes e séries, traz prazos e horários de trabalho um pouco mais justos e humanos (embora às vezes todos nós precisamos varar a noite naqueles “sprints” de finalização de projeto), e um ambiente em geral mais fértil e propício à experimentação artística. Dá mais espaço também a projetos pessoais artísticos (como o meu assistente e colaborador, Rodrigo Custódio, que tem um trabalho autoral maravilhoso, sob o pseudônimo Roo). E justamente faz parte do estímulo o incentivo para esses projetos, que damos através de divulgações, parcerias para gravação, acesso a músicos e outros profissionais. Temos uma gratidão imensa a todos nossos colaboradores, os “de casa” e os parceiros “freela”, com a incrível dedicação que colocam em todos projetos, em tudo que fazem. Sempre que possível tentamos trazer a atenção do público mais leigo para eles, incentivar que leiam todos os créditos dos filmes, para terem noção da quantidade de esforço e talento que vai para cada projeto ser realizado.

Heloisa Tolipan – Como analisa a atual cena do mercado audiovisual brasileiro?

Ruben Feffer – O mercado está numa fase de expansão e amadurecimento muito forte. Tivemos um “hiato” prolongado durante as últimas transições políticas junto com a pandemia, mas agora parece que a coisa está voltando a se reaquecer. Tiveram muitas mudanças e algumas consolidações. Algumas “fontes” que estavam fluindo bastante forte acabaram dando uma “secada”, especialmente no caso de empresas que tinham ligação com o mercado de tecnologia, como os players de streaming – agora estão mais rígidos e controlando melhor cada pequena decisão de investir ou não em projetos, novos ou existentes. Muitas séries foram canceladas nesse processo, mas a busca por conteúdo novo não para, e agora se busca mais qualidade técnica e artística, não apenas quantidade. O mercado está mais exigente e dinâmico. Eu gosto de pensar que nosso mercado está caminhando para se tornar uma indústria, assim como acontece nos EUA e em outros países, como a Índia ou a França.

O doar-se ao próximo e a mulher empreendedora Flavia Feffer:

 Heloisa Tolipan –  Você é um exemplo de mulher em cargos de liderança. Qual as batalhas que enfrentou em razão de ser mulher e estar à frente de uma empresa? Qual sua história pessoal?

Flavia Feffer –  Sempre trabalhei em televisão, apesar de vir de uma família voltada para a área do Direito. Minha mãe foi uma das primeiras advogadas de direitos autorais no Brasil, e minha irmã é advogada de Direitos Visuais. Eu diria que fui a “ovelha negra” da família, seguindo um caminho bem diferente. Enquanto todos estudavam inglês, aos 17 anos decidi morar na Alemanha para estudar alemão. Aos 20 e poucos anos, trabalhava na “Casa dos Artistas“. Peguei férias de um mês e fui para Londres, mas após 3 semanas, acabei pedindo demissão do SBT e morei três anos em Londres. Apesar de minha paixão pela televisão, quando voltei de Londres, decidi migrar para o cinema. Foi então que o saudoso Toni Venturi (1955-2024) me deu uma oportunidade de ser sua assistente de direção, e desde então, não saí mais dessa área.

Em 2007, Binho (apelido de Ruben) me convidou para trabalhar com ele na Ultrassom. Inicialmente, disse que toparia por seis meses, e já se passaram 17 anos de trabalho conjunto e respeito mútuo. Hoje, além de sócios na Ultrassom, estamos juntos em mais duas empresas: a Elo Studios, uma produtora e distribuidora que também fará 20 anos no ano que vem, na qual temos como sócia a Sabrina Nudeliman, e a Aries Partners, uma empresa de investimentos que fundamos há quatro anos. E, o melhor de tudo: somos sócios na vida pessoal, somos casados desde 2009, e temos 2 filhos queridos. Ou seja, somos parceiros 24/7!

No mercado audiovisual, sinceramente, não tenho muitas  memórias de ter sofrido discriminação por ser mulher. Quase sempre encontrei um ambiente acolhedor e respeitoso, onde meu trabalho foi valorizado pelo que é, independentemente de gênero, até porque na Ultrassom, a maioria são funcionárias mulheres, alias todas as reuniões de negócios, orçamentos, negociação são apenas mulheres. Já no mercado de investimentos, sinto esse preconceito, como não ser tão ouvida quanto seria se fosse um homem. Porém, esses desafios me fortaleceram. Acredito que meu diferencial foi a determinação em superar obstáculos e a paixão pelo que faço. Cada barreira superada foi uma vitória pessoal e profissional. Minha história é um testemunho de que, com perseverança e paixão, é possível conquistar espaços e se destacar em qualquer área.

O apoio de colegas e parceiros, e principalmente do Binho, foi fundamental. Juntos, construímos uma trajetória de sucesso, e hoje me sinto honrada em ser uma referência para outras mulheres que aspiram a cargos de liderança. Continuo trabalhando para abrir caminhos e inspirar futuras gerações a seguirem seus sonhos, independentemente das dificuldades.

“A música tem o poder de transformar e elevar a narrativa audiovisual, e é essa convicção que guia nosso trabalho”

Heloisa Tolipan – Como as revoluções tecnológicas podem se unir à música e entregar um produto original, criativo? Como a IA pode se interrelacionar com a criação?

Flavia Feffer – As revoluções tecnológicas têm um potencial enorme para transformar a música, proporcionando novas formas de criar, produzir e distribuir conteúdo musical. A integração da tecnologia na música pode resultar em produtos extremamente originais e criativos, abrindo novas possibilidades para artistas, produtores e ouvintes.

Uma das áreas mais promissoras é a Inteligência Artificial. A IA pode ser uma ferramenta poderosa na criação musical, oferecendo assistência em várias etapas do processo criativo. Por exemplo, algoritmos de IA podem analisar grandes volumes de dados musicais para identificar padrões e tendências, ajudando os compositores a explorar novas ideias e estilos. Ferramentas de IA também podem gerar melodias, harmonias e arranjos, que os músicos podem usar como inspiração ou base para suas próprias composições.

Além disso, a IA pode ser usada para aprimorar a produção musical. Tecnologias de machine learning podem ajudar na mixagem e masterização de faixas, ajustando automaticamente níveis de áudio, equalização e outros parâmetros para alcançar o som desejado. Isso não só economiza tempo, mas também permite um nível de precisão e consistência que pode ser difícil de alcançar manualmente.

No entanto, é importante lembrar que a tecnologia deve ser vista como uma ferramenta para potencializar a criatividade humana, e não como um substituto. A alma e a emoção que os artistas trazem para a música são insubstituíveis, e a tecnologia deve servir para amplificar e enriquecer essa expressão criativa. Na Ultrassom, estamos sempre atentos às inovações tecnológicas e buscamos integrá-las ao nosso trabalho de forma que agreguem valor e originalidade. Acreditamos que a combinação de talento humano e tecnologia pode resultar em criações musicais verdadeiramente inovadoras e emocionantes.

Heloisa Tolipan – Qual o desafio de conciliar a vida particular com a profissão e tantas frentes de trabalho?

Flavia Feffer – É um desafio constante, mas é algo que aprendi a equilibrar ao longo dos anos. Antes de ter filhos, eu era workaholic. No entanto, quando a maternidade chegou, tudo mudou completamente. Meus filhos se tornaram minha prioridade total. A partir das 16hh, sou a mãe que os acompanha no tênis, na aula de piano, bateria, futebol… Claro que, se tiver alguma reunião importante, conto com uma rede de apoio para levá-los às atividades, mas sempre que posso, tento eu mesma levá-los e buscá-los na escola.

Esse equilíbrio exige muita organização e planejamento. Aprendi a ser mais eficiente com o meu tempo, delegar tarefas quando necessário e estabelecer limites claros entre o trabalho e a vida pessoal. O apoio do Binho, meu sócio e marido, é crucial. Ele entende a importância de estarmos presentes na vida de nossos filhos e dividimos as responsabilidades tanto em casa quanto nas empresas. Também temos uma equipe fantástica na Ultrassom e nas outras empresas, o que permite uma gestão mais tranquila e eficiente. Na Ultrassom, conto com a Érika, com quem trabalho há mais de 12 anos. Na Elo Studios, tenho minha sócia Sabrina, que está ao meu lado há 16 anos. E, em casa, tenho o apoio inestimável da Ivone, que está comigo há 17 anos. Acredito que ser mãe me trouxe uma nova perspectiva sobre a vida e o trabalho. Aprendi a valorizar mais os momentos em família e a encontrar um equilíbrio saudável entre minhas ambições profissionais e minhas responsabilidades pessoais. Essa mudança não só me fez uma pessoa mais feliz e realizada, mas também impactou positivamente minha produtividade e criatividade no trabalho.

Heloisa Tolipan – Como fazer com que mais mulheres estejam por trás da criação e da conceituação de projetos audiovisuais? Tem observado um crescente de mulheres que estão com suas vidas transformadas e podendo viver de arte?

Flavia Feffer – Embora eu não seja cineasta e não trabalhe diretamente com criação, minha experiência na produção audiovisual me permite observar de perto o impacto e a importância de ter mais mulheres envolvidas na conceituação e na criação de projetos audiovisuais. A inclusão nesse campo é essencial para diversificar as perspectivas e enriquecer as narrativas que são contadas. Para promover a participação de mais mulheres, é fundamental criar ambientes inclusivos e de apoio onde elas possam desenvolver suas habilidades e assumir papéis de liderança. Isso inclui oferecer mentorias, oportunidades de networking e programas de capacitação específicos para mulheres. É igualmente importante reconhecer e valorizar o trabalho das mulheres que já estão na indústria, destacando suas conquistas e proporcionando visibilidade.

Na Elo Studios, temos o selo “Elas”, que serve para fomentar a participação de mulheres no audiovisual, um campo que historicamente tem sido discriminatório. Este selo é uma iniciativa que visa apoiar e promover projetos liderados por mulheres, oferecendo uma plataforma para que suas vozes e talentos sejam reconhecidos e celebrados.

Tanto na Ultrassom quanto na Elo Studios, 99% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres, e isso me enche de orgulho e alegria. Na minha experiência, especialmente na Ultrassom e na Elo Studios, tenho observado um crescente número de mulheres que estão transformando suas vidas e conseguindo viver de arte. Essa tendência é extremamente positiva e encorajadora. Vejo mulheres talentosas assumindo diversas funções, desde a produção e direção até a composição e edição de som, trazendo novas ideias e abordagens para o setor. Embora o caminho ainda exija muitos esforços para alcançar a plena igualdade, acredito que estamos no rumo certo. Continuar promovendo e apoiando a participação feminina na criação e conceituação de projetos audiovisuais é fundamental para construir uma indústria mais diversa, justa e criativa.

Heloisa Tolipan – Que filme a impactou e que você ache ter sido transformador na sua carreira?

Flavia Feffer – Um filme que me impactou profundamente e foi transformador é “O Menino e o Mundo“. Quando recebemos a notícia da indicação ao Oscar, eu e o Binho estávamos na aula de musicalização do nosso filho. Nosso telefone não parava de tocar, mas não podíamos atender porque estávamos no meio da aula. Quando finalmente acabou e começamos a entender o que havia acontecido, não tínhamos ideia da proporção que aquilo iria tomar. Foi um momento de pura emoção e surpresa, e a equipe do estúdio já estava em pura euforia.

Lembro que queria comemorar de maneira simples, com uma pizza e uma cerveja em casa. Arrumei isso tudo no mesmo dia, mas quando me dei conta, o mercado inteiro da animação estava na minha casa e virou uma grande festa ! O Alê Abreu, diretor do filme, quando entrou, todos começaram a bater palmas por minutos. Foi um momento de muita emoção e inesquecível…. “O Menino e o Mundo” não só nos trouxe reconhecimento internacional, incluindo a indicação ao Oscar, mas também reforçou minha crença na importância de um trabalho colaborativo e criativo. Esse projeto destacou como a música pode ser uma força poderosa na narrativa audiovisual, criando uma conexão emocional profunda com o público. Além disso, a experiência de trabalhar em um filme tão inovador e impactante me inspirou a continuar explorando novas fronteiras e a buscar sempre a excelência em cada projeto que assumo. Foi um ponto de virada na carreira, que me motivou a acreditar ainda mais no poder transformador da arte e da música no cinema.

Heloisa Tolipan – Você pontua que “a adaptação às mudanças tecnológicas foi crucial para o sucesso da Ultrassom Music Ideas” – quais foram elas? E também que a empresa “tem investido em áudio espacial e imersivo, incluindo microfones para áudio binaural e a instalação do sistema ATMOS”

Flavia Ferrer – A adaptação às mudanças tecnológicas foi, de fato, crucial para o sucesso da Ultrassom Music Ideas. Ao longo dos anos, investimos em diversas tecnologias que nos permitiram melhorar a qualidade de nossos projetos e expandir nossas capacidades. Alguns dos avanços mais significativos incluem:

Software de Produção Avançado: Adotamos recentes versões de software de edição e mixagem, que nos permitiram realizar trabalhos de pós-produção, edição e efeitos com uma precisão e eficiência muito maiores.

Tecnologia de Gravação Remota: Desenvolvemos um sistema de gravação remoto que nos permite colaborar com artistas e técnicos em qualquer lugar do mundo, mantendo a qualidade e a integridade do som.

Em relação ao áudio espacial e imersivo, investimos em tecnologias que realmente diferenciam nossas produções:

Áudio Binaural: Utilizamos microfones binaurais que captam som em 3D, proporcionando uma experiência auditiva imersiva quando escutado com fones de ouvido. Isso permite aos ouvintes sentirem-se dentro do ambiente sonoro, como se estivessem presentes na cena, como fizemos na audioserie do Spotify  “França e o Labirinto”

Sistema Dolby Atmos: Instalamos o sistema Dolby Atmos, que oferece uma experiência de som tridimensional. Ao contrário dos sistemas tradicionais de som surround, o Dolby Atmos permite que os sons sejam posicionados e movimentados em qualquer lugar do espaço tridimensional, inclusive acima do ouvinte. Isso cria uma experiência auditiva envolvente e realista.

Os leitores do site podem observar essas tecnologias em ação de várias formas:

Experiência Cinematográfica: Assistindo a filmes e séries produzidos com áudio Dolby Atmos, onde perceberão uma diferença clara na qualidade do som e na forma como ele se move ao redor deles, proporcionando uma imersão total na narrativa.

Qualidade de Produção: Nos projetos da Ultrassom Music Ideas, onde a combinação dessas tecnologias resulta em trilhas sonoras e efeitos sonoros de alta qualidade, capazes de elevar a experiência emocional do público.

Esses investimentos refletem nosso compromisso em estarmos atualizados com a melhor tecnologia de áudio, oferecendo sempre o melhor para nossos clientes e parceiros, e garantindo que o público tenha experiências sonoras inesquecíveis.

Heloisa Tolipan – Pode nos antecipar as parcerias estratégicas e a presença internacional? Como se dará o investimento em tecnologias de ponta e diversificar projetos, para incluir novos segmentos como games, realidade virtual e aumentada?

Flavia Feffer – Temos o orgulho de estar expandindo nossas parcerias estratégicas e nossa presença internacional, o que tem sido um pilar fundamental para o crescimento e sucesso da Ultrassom Music Ideas. Uma de nossas parcerias mais fortes é com a empresa Arvore, uma referência no setor de games para realidade virtual. Juntos, trabalhamos no projeto “The Line“, um emocionante experiência imersiva e interativa de realidade virtual para óculos VR. Esse projeto foi um marco para nós, não só pela inovação tecnológica envolvida, mas também porque ganhamos o Emmy de Inovação e Tecnologia. Esse reconhecimento internacional reforça nosso compromisso com a excelência e a inovação.

Além dessa parceria, vamos investir em tecnologias de ponta para diversificar nossos projetos e explorar novos segmentos como games, realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR). Esse investimento se dá em várias frentes:

Desenvolvimento de Novas Tecnologias: Ferramentas avançadas de áudio e software que nos permitam criar experiências sonoras imersivas e de alta qualidade. Isso inclui a expansão de nossa infraestrutura para suportar a criação de trilhas sonoras específicas para VR e AR, utilizando tecnologias como áudio espacial e binaural.

Parcerias Estratégicas: Além da Arvore, estamos explorando novas parcerias com desenvolvedores de games e empresas de tecnologia em todo o mundo, principalmente em Los Angeles

Expansão Internacional: Estamos ampliando nossa presença internacional através da nossa empresa Áries Partners. Isso não só aumenta nossa visibilidade, mas também nos conecta com talentos e oportunidades ao redor do mundo.

Em breve, planejamos lançar trilhas sonoras para novos games, inclusive em Realidade Virtual, trazendo toda a nossa experiência e inovação para esse setor. Acreditamos que a combinação de som de alta qualidade e tecnologia de ponta pode criar experiências inesquecíveis para os jogadores, imergindo-os completamente nos mundos virtuais. Estamos animados com o futuro e ansiosos para continuar criando experiências sonoras excepcionais que encantam e inspiram pessoas em todo o mundo.

Heloisa Tolipan – Quais produções estão trabalhando no momento?

Flavia Feffer – O curta metragem de stop-motion “Kabuki“, do mesmo diretor do premiadíssimo “Sangro“, Tiago Minamisawa, com uma belíssima trilha sonora de Ruben Feffer e Gustavo Kurlat inspirada em sonoridades orientais. O longa-metragem de comédia “Caindo Na Real“, do diretor André Pellenz (Minha Mãe é Uma Peça e DPA), com produção da nossa empresa Elo Studios e o cantor Belo e a atriz Evelyn Castro no elenco, falando sobre o que aconteceria se o Brasil virasse uma monarquia.

O longa-metragem de animação 3d, uma incrível co-produção internacional, com roteiro baseado nas músicas de Vinicius de Moraes (1913-1980) ,”A Arca de Noé“, do diretor Sérgio Machado. E um pouco mais pra frente, novas temporadas da série nacional mais amada do Brasil, “Irmão do Jorel“, e de “Senninha na Pista Maluca“.

Heloisa Tolipan – O céu é o limite para a Ultrassom Music Ideas?. Qual o seu maior sonho hoje? E como contribuir para uma sociedade melhor em termos empresariais?

Flavia Feffer – Meu maior sonho hoje é ver a Ultrassom se consolidar como uma referência global em inovação sonora, expandindo ainda mais nossas fronteiras e explorando novas possibilidades criativas. Quero que continuemos a ser pioneiros na integração de tecnologias avançadas, como realidade virtual, aumentada e áudio espacial, para criar experiências sonoras imersivas que toquem e inspirem pessoas ao redor do mundo. Além disso, quero trabalhar em longas-metragens com diretores importantes e talentosos, tanto brasileiros quanto estrangeiros, trazendo nossa expertise para produções cinematográficas de destaque.

Além disso, sonho em ver cada vez mais mulheres ocupando posições de liderança e influenciando a criação e produção audiovisual. Acredito que a diversidade é um motor poderoso para a criatividade e a inovação, e quero que a Ultrassom seja um exemplo de inclusão e igualdade de gênero no setor.

Contribuir para uma sociedade melhor em termos empresariais é um compromisso que temos na Ultrassom Music Ideas. Aqui estão algumas formas pelas quais buscamos fazer a diferença:

Promover a Diversidade e Inclusão: Continuamos a apoiar iniciativas que incentivem a participação de mulheres e outras minorias no mercado audiovisual. O selo “Elas” da Elo Studios é um exemplo de como estamos fomentando a inclusão e proporcionando oportunidades para talentos diversos.

Governança e Estratégia: Realizamos reuniões de board mensais há mais de 15 anos para analisar o desempenho da empresa, definir para onde queremos ir e desenvolver novas estratégias. Nessas reuniões, contamos com o apoio inestimável de nosso conselheiro Jacques Gelman, que está conosco há mais de 15 anos e contribui com sua vasta experiência e conhecimento.