O show de Joyce Cândido no Aqua Bossa Lounge, em Ipanema, no fim de semana, de lançamento do seu EP – abastecido com quatro canções e com o selo da Warner Music Brasil – e homenagem à Elis Regina e Chico Buarque e músicas do DVD “O bom e velho samba novo”, teve um convidado especial na plateia: Roberto Pontes, que assina o single “O que sinto” com a namorada cantora. Orgulhoso, filmava a performance, que resultou em um vídeo especial para o canal de Joyce no Youtube e que foi cedido com exclusividade para o site HT. Formado em jornalismo, ele é compositor, poeta, produtor, toca violão e baixo e integra diversos projetos culturais, além da banda Arsenal ao lado de Adalberto Rofe, André Gatti, Clayton Lima e Marcus Cesar. Exemplo de um talento múltiplo, ele é dono da Pontes Comunicação e Arte, que produz conteúdo audiovisual para diversas empresas, e se dedica também à produção audiovisual de #acenavive, um movimento de rock que define como “conceito de vida”. Felipe Rodarte está à frente dessa iniciativa, que reúne mais de 100 bandas em uma nova cena de rock nacional, e Roberto criou uma série em que sintetiza o trabalho dos músicos do movimento. Em “Rock – a cena vive”, ele assina o roteiro e direção dos episódios documentais que mostrarão o conceito da empreitada.
Roberto sempre esteve próximo da arte e contou que, aos oito anos, já havia lido “Capitães de areia”, de Jorge Amado. Os responsáveis, de acordo com ele, foram os tios com quem convivia muito em Guaratinguetá, cidade no estado de São Paulo, onde foi morar com a mãe logo após ela ter se separado de seu pai. O tio mantinha uma biblioteca em casa que o fascinava. “Adorava mergulhar na leitura e, além disso, meu tio pedia que eu entregasse uma redação de 20 linhas todos os dias para exercitar a escrita”, lembrou. Daí surgiu a paixão pelas palavras e ele aliou o conhecimento à arte que já fazia parte de sua memória afetiva. Os pais adoravam música e, na separação do casal, ele herdou do pai vinis de Elvis e jazz. Apesar de ter se encantado e cursado uma faculdade de jornalismo, foi na publicidade que Roberto começou a carreira. Ele foi redator em agências e garante que a experiência fez com que a sua forma de escrever ganhasse diversas proporções, incluindo a síntese das frases. “A publicidade me ensinou a formular conceitos e isso acrescentou muito à minha vida como poeta”, contou. Paralelamente à rotina de trabalho, ele nunca deixou de compor e tocar.
Após 15 anos nesse ritmo, houve o que ele considerou de a grande virada de sua vida. “Saí de um lugar que estimula desejo e consumo e fui trabalhar no desenvolvimento global do ser humano”, definiu, sobre o Sesc, afirmando que nessa época “descobriu o mundo”. Foi lá que Roberto passou a criar e produzir vídeos. Após seis anos, foi convidado pelo chefe para montar um núcleo de criação com o intuito de fomentar processos criativos. Na mesma época, nasceu seu filho, Pedro.
A partir daí, entrou em um mergulho artístico profundo. “Comecei a trabalhar com Bossa Nova e desconstruí-la, me dediquei a compor e passei por um longo período de encubação artística”, relembrou. Durante os primeiros anos de vida do filho, Pedro, Roberto ingressou em um grupo vocal ao lado de Línox e Shala Andirá, Organismo9, e abriu uma produtora, a Pontes Comunicação e Arte, para divulgar seus vídeos e produzir material audiovisual. Fomentar processos de criação coletiva. A empresa tem como conceito “o pulsar de idéias e atitudes pelo planeta. Reflexões fundamentam ações voltadas ao compartilhar coletivo. Sob estes alicerces, Pontes propõe amplo diálogo entre os diversos setores da sociedade, onde a comunicação é ferramenta principal ao propagar de consciências. O foco é o desenvolvimento humano por meio da emoção e reflexão. A transformação germina em cada ser” .
Em um de seus trabalhos, em outubro de 2013, quando filmava um documentário para o Sebrae sobre artistas e sua relação com a música, conheceu e entrevistou Joyce Cândido. Mas foi em Cannes, em fevereiro do ano seguinte que os dois voltaram a se encontrar. Joyce estava representando a nova geração de sambistas do Brasil, no Festival Midem, e, ele, gravando a segunda parte do documentário, com os produtores dos artistas na cidade francesa. Com uma forcinha do destino, o reencontro aconteceu, provando que a filosofia de Roberto de não planejar o futuro, mais uma vez, estava certa. “Eu penso em tempo real. O mundo é mar, pego a minha prancha e faço o percurso”, metaforizou.
Pai dedicado, o produtor se orgulha de ter tido contato com a arte desde muito cedo, e é esse o legado que planeja deixar para Pedro, seu filho. “Quero que ele possa exercer o que gosta plenamente, que faça o que lhe move”, disse sobre o menino de 11 anos que já segue os rumos de Roberto. “Ele toca bateria, edita vídeos e tudo que eu faço peço sua opinião”, contou, acrescentando também que o olhar distanciado do filho o inspira. “Ele é muito reflexivo. Pedro me deu de presente no Dia dos Pais o livro “Uma breve história do tempo”, de Stephen Hawking. Nós dois vimos o filme antes e amamos”, contou, orgulhoso.
Os planos na carreira não param por aí. Roberto, que nunca para de compor, começa a pré-produzir o single “Reza” já na semana que vem e garantiu que é movido pela paixão. “Nós passamos grande parte da vida trabalhando, então, tem que existir algum idealismo nisso”, afirmou. A gente assina embaixo e ainda posta aqui o manifesto lançado pela #acenavive. Vale a pena conferir:
Manisfesto _A Cena Vive
Vivemos a urgência do nosso tempo. Paira no ar a necessidade de renascimento, renovação, reencarnação da consciência para que, mesmo fragmentados, sejamos inteiros. A evolução desse tempo. Reencontramo-nos no rock e em todas as suas possibilidades. Exercemos, com ternura, a potência virulenta do grito dessa tribo pluralista.
Para estarmos na rede temos que nos levantar da rede. Sair da inércia, desligarmo-nos da estática. Por outro lado, para conectarmo-nos, temos também que nos desconectar. Vamos, no boca a boca e olho no olho, despertar para uma nova realidade – não mais utópica – na qual todos convivem harmoniosamente. Eu existo porque existe o outro, diferente e necessário.
Estamos conectados por cabos, satélites, pelo éter, pelos sons e pelos eventos, mas sobretudo por um desejo de transformar o nosso protagonismo passivo dentro dessa realidade que paralisou tantas mentes, ouvidos e percepções.
Somos netos de Mario e Oswald, filhos de Chico e Fred. Estamos antenados com o caos e a lama. Somos irmãos de quem vem de longe para os centros, para os eixos. Buscamos alternativas que oxigenem, emocionem, transmudem a miséria do ser atrofiado, da mente paralisada pelo medo.
Unidos em nossas diferenças trazemos o que há de mais rico: Visões plurais de um novo rock. Vivemos e pulsamos dentro de todas as contradições, mas agimos com afeto para superar todas as limitações, sejam pessoais ou sociais.
A cena vive pois vivemos a cena. Conectados, estamos nas ruas e nas redes buscando afinar essa conexão com o objetivo de renovarmo-nos e ressignificarmo-nos. Deixamos Macunaíma para nossos ancestrais para propor e exercer ação inspirada e organizada, encontros, não só virtuais mas presenciais, confrontando e realizando novos sonhos. Vivemos o mundo de todas as possibilidades, acreditando e trabalhando nossas potências.
Portas abertas, mentes também, a busca é pelo outro para que se encontre a si mesmo e o seu propósito como célula deste organismo. Novos olhares, novas amizades, novos sentidos, modificando, elevando a um outro patamar essa potência evolutiva.
E vamos propondo, vivendo, agregando e gritando #A CENA VIVE!
Viva a cena!
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