*Por Brunna Condini
Se estivesse entre nós Rita Lee completaria 77 anos neste 31 de dezembro. Na verdade, a cantora sempre estará entre nós porque seu legado é eterno. E sobre seu aniversário, uma curiosidade: Rita também gostava de comemorá-lo em 22 de maio e não à toa, é dia de Santa Rita de Cássia. Até nisso a artista exalava autenticidade. Salve Rita pra sempre!
Nesta virada do ano, celebramos Rita e o que ela nos ensinou, sem nenhuma pretensão disso, apenas ao viver da forma que viveu. Suas músicas e falas ecoam em nós e transbordaram rebeldia, irreverência, autenticidade e amor, que bem sabia Rita, era o grande barato da vida. Há poucos anos, Roberto de Carvalho seu companheiro por mais de quatro décadas e até o fim, tentou traduzi-la em poucas palavras. “A Rita é uma entidade, um ícone que já vem de muito antes de a gente começar a fazer coisas juntos. Ela é fulgurante, estrela, uma chuva de meteoros. Somos um sistema solar no qual o sol sempre é a Rita”.
Rita-Sol brilhou nos seus quase 60 anos de carreira e até deixar a Terra, em 8 de maio de 2023. E deixou seu legado como artista, na música e na literatura, entre outras expressões, já que nada a limitava; e também em defesa do direito dos animais, pela preservação do meio ambiente e da natureza, e pela liberdade feminina. Hoje, para amenizar um pouco da saudade que sentimos de Rita, vamos lembrar algo que ela fazia muito bem e pode nos inspirar sempre: a jogar luz em nossas essências, porque é isso que nos torna verdadeiramente extraordinários em um mundo cada vez mais ordinário. Obrigada, Rita!
Rita iniciou sua carreira na década de 1960, quando integrou a igualmente icônica banda , Os Mutantes, começando uma revolução no cenário musical da época, com influências do rock psicodélico e da contracultura. Nos anos 70 foi expulsa do grupo e seguiu sua trajetória na banda Tutti Frutti. Só a partir de 1979, seguiu carreira solo, criando junto ao seu parceiro Roberto, inesquecíveis canções com um incrível apelo popular, mas sem perder sua essência transgressora, jamais. Se firmou no pop rock nacional e também como artista que não se dobrou ao status quo. Ao todo foram 40 álbuns, sendo 6 dos ‘Mutantes‘, e 34 na carreira solo. Mulher, ativista, roqueira, mãe (de Beto Lee, João Lee e Antônio Lee), e avó (de Izabella e Arthur); Rita foi pioneira. Ela, que já foi vivida por Mel Lisboa no teatro – em ‘Rita Lee Mora ao Lado – O Musical’ (2014) e em ‘Rita Lee – Uma Autobiografia Musical’ (2024) – e no filme ‘Elis‘ (2019); teve anunciado dois novos documentários sobre sua vida, com previsão de lançamento em 2025. Abaixo, selecionamos alguns traços de sua existência que nos inspiram e compartilhamos com vocês. Rita vive!
Sinceridade e humor
Rita Lee sempre usou seu senso de humor afiado para dizer tudo o que queria dizer. Ninguém escapava, nem ela mesma. Em sua biografia, ‘Rita Lee, uma Autobiografia’, lançada em 2016, ela fez uma previsão bem-humorada sobre a própria morte. No trecho a ‘Profecia‘, Rita descreve uma sucessão de situações que poderiam acontecer após a sua partida, e ao final escreveu: “Epitáfio: Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa”.
O senso de humor se estendia à sua expressão nas redes sociais, inclusive. Rita usufruiu como poucos da lente crítica do humor e do alívio que ele pode proporcionar. Não parecia se levar a sério, algo que todos nós deveríamos praticar.
Liberdade e potência
Foi pioneira ao trilhar seu caminho em um meio intrinsecamente dominado pelos homens. E embora nunca tenha carregado bandeiras pelo feminismo, suas atitudes revolucionárias e músicas tiveram papel importante na discussão de pautas feministas, principalmente nas décadas de 1970 e 1980, inspirando mulheres de diferentes gerações. E até hoje. “Eu era a única menina roqueira no meio de um clube só de bolinhas, cujo mantra era: para fazer rock tem que ter culhão. Fui lá com meu útero e meus ovários – e me senti uma igual, gostassem eles ou não”, disse ela ao portal Hysteria em 2017.
Cantou o amor, a liberdade e exaltava sua potência em canções como ‘Ovelha negra’, ‘Lança perfume’, ‘Banho de espuma’, ‘Desculpe o auê’, ‘Amor e sexo’ e “Doce vampiro‘, entre outras. E no ‘hino’ ‘Pagu‘, composta por ela e Zélia Duncan, ditava:
Eu sou pau pra toda obraDeus dá asas a minha cobra Hum hum hum hum Minha força não é bruta Não sou freira, nem sou putaPorque nem toda feiticeira é corcundaNem toda brasileira é bunda Meu peito não é de silicone Sou mais macho que muito homem
Luz e sombras
Multi-Rita: experimentar é preciso
Cantora, compositora, apresentadora e militante em favor da causa animal, Rita se permitiu a pluralidade de existir, parecendo encarar o novo com coragem e curiosidade. Além da paixão pela música, exercitou a paixão pela literatura com os livros: a série ‘DR. Alex‘, de 1983, relançada em 2019 e 2020, com foco na sua luta pela causa animal e ambiental; ‘Amiga Ursa: Uma história triste, mas com final feliz” na literatura infantil e também com temática animal. ‘FavoRita‘, ‘Dropz‘, ‘Storynhas‘ e ‘Rita Lírica‘, além das duas autobiografias e seu livro póstumo, ‘O Mito do Mito‘, lançado esse ano, estão entre suas obras. A cantora também experimentou sua versão atriz na TV, fazendo participações especiais nas novelas ‘Top Model’, ‘Malu Mulher’, ‘Vamp‘ e ‘Celebridade‘. É uma inspiração para experimentarmos o novo e o mar de possibilidades que estão aí para todos nós enquanto vivermos.
Amor pela natureza e pelos animais
Defensora da preservação do meio ambiente, Rita Lee deixou um legado de amor à natureza e aos animais, dedicando os últimos anos de sua vida à causa. Ela compartilhava fotos de seus pets nas redes sociais e chegou a dividir o luto pela perda de alguns deles. Em sua biografia, escreveu: “Desde que me conheço por gente, não vivo sem animais”. A cantora sempre declarou seu amor aos bichos e foi uma das primeiras artistas no país a se posicionar abertamente sobre a importância do respeito a todos eles. “Animais são a face do divino, criaturas puras e inocentes. Fico revoltada com a covardia e a ignorância da raça humana ao desrespeitá-los, maltratá-los, humilhá-los publicamente em rodeios, circos, vaquejadas, touradas e tantos outros eventos pré-históricos”, declarou. Ela bem sabia que o amor dos animais é puro e verdadeiro, transborda verdade e doação. No fim das contas, Rita parecia mesmo procurar – e encontrar – amor por todos os lados. Nós aqui, do site, também acreditamos que ele é a verdadeira revolução. Feliz ano novo! que venha 2025!
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