Após enfrentar câncer de pele, Monja Coen celebra 2025 sob signo da transformação e pede bom senso nas redes sociais


Monja Coen, referência do budismo zen no Brasil, marca a transição para 2025 com uma mensagem de esperança e renovação. Primeira brasileira missionária oficial da tradição Soto Shu no Japão e fundadora da Comunidade Zen Budista Zendo Brasil, ela está curada de um câncer e às voltas com o projeto de um templo em Campos do Jordão, “que vai ser um lugar de prática e o lugar também aberto para inter religiosidade”. Reconhecida por sua serenidade, Coen inspira milhões com ensinamentos sobre não violência e transformação. Com 41 anos de votos monásticos, 20 livros publicados e amplo alcance digital, ela reflete sobre a importância de cuidar da humanidade. E mais: em um tempo em que se consome imagem e redes sociais com afinco, Monja Coen pede discernimento na forma como se lida com isso, especialmente com a vaidade. “Mais importante que consumir imagem é saber se tem sabor, se tem valor aquilo que se está sendo consumido. O fascínio das redes sociais não é bem fascínio, é um hábito

*por Vítor Antunes

O ano novo já está às portas. Junto a ele – como é tão recorrente em todo fim de ano – chegam as mensagens que evocam a necessidade da (re)construção da esperança, do frescor da novidade, do esforço por um recomeço. Monja Coen, uma referência incontornável do budismo zen no Brasil, é exemplo vivo dessa mensagem. Primeira mulher e primeira pessoa nascida no Brasil a se tornar uma missionária oficial da tradição Soto Shu no Japão, fundadora da Comunidade Zen Budista Zendo Brasil, ela estará no dia 31 de dezembro no Templo Taikozan Tenzuizenji, em São Paulo. Através de sua voz serena e ensinamentos profundos, Coen toca diariamente a vida de milhões de pessoas. Seus vídeos somam mais de 200 milhões de visualizações, ela reúne 3,3 milhões de seguidores no Instagram e 49 mil no YouTube – um alcance tão vasto quanto a população do estado do Espírito Santo. Aos 41 anos de votos monásticos, é autora de 20 livros e defensora incansável da não violência ativa e da cultura de paz. Mesmo enfrentando um tratamento de câncer de pele em 2024, manteve a serenidade que se tornou sua marca registrada, transformando desafios em lições de vida.

2025 é o Ano da Serpente. Na sabedoria ancestral, a serpente é símbolo de renascimento, da força que emerge ao deixarmos o velho para trás. Este ano que se inicia carrega consigo a promessa de introspecção, aprendizado e crescimento espiritual, um convite às almas que desejam se renovar.

Em suas palavras, Coen reflete sobre o caminho monástico: “Quando falamos em tornarmo-nos monges, a palavra em japonês significa sair da família. Ou seja, raramente participo nas festas de aniversário de familiares, porque se estou no templo e tenho uma missa memorial a fazer, se alguém vem aqui e pede atendimento é a minha prioridade. Mas a minha filha, neta e família entendem isso: a prioridade da minha vida é a família humana e a minha função como religiosa. O meu trabalho e profissão é ser Monja e isso é cuidar e servir, passar ensinamentos, tranquilidade e bênçãos. O mais importante de perceber é que nos estamos sempre a refazer e a reconstruir, em cada livro que lemos, em cada experiência que temos, tudo nos transforma”.

Tudo que vai acontecendo em 2025, depende tudo que aconteceu até agora para toda a humanidade e como você faça que seja melhor daqui para diante para o maior número de seres. Esse é um voto – Monja Coen

Monja Coen compartilha mensagem de fé e paz para 2025 (Foto: Divulgação)

 

FÉ, ESPERANÇA, CARIDADE

Em um tempo em que se consome imagem e redes sociais com afinco, Monja Coen pede discernimento na forma como se lida com isso, especialmente com a vaidade. “Mais importante que consumir imagem é saber se tem sabor, se tem valor aquilo que se está sendo consumido. O fascínio das redes sociais não é bem fascínio, é um hábito. E é muito fácil para o algoritmo saber aquilo que nos interessa, que nos agrada e nós gostamos de ser agradados. Descobriram que eu adoro cachorrinhos e sempre me chegam mensagens de cachorrinhos, mas tem um momento que a gente cansa e a gente quer ver uma outra coisa que não sejam só cachorrinhos. Não vejo nenhum perigo nisso, eu acho que o próprio sistema nosso vai acabar se exaurindo de tanto “nos agradar” e vai procurar outras formas. Acho que a filosofia, os questionamentos existenciais são muito mais importantes, embora esse prazer de ver o cachorrinho brincando, por exemplo, também, seja muito agradável. É equilíbrio”.

Há algum desafio especial em ser uma pessoa pública e alguém que medite, que se conheça, que faça mergulhos interiores? Há alguma contradição nisso? Para a Monja, não. “O equilíbrio da fé e do mergulho ao seu interior independe de ser uma pessoa pública ou não. Independente se você está no meio da floresta, não tem nem rede social não tem nada ou se você está nas redes sociais. Não é um desafio. É da natureza humana a fé, e o mergulho do meu eu interior é que faz com que eu seja uma pessoa pública. Eu falar sobre espiritualidade e autoconhecimento e as pessoas me pararem na rua com lágrimas nos olhos para agradecer é o que me importa. Os grandes mestres e as grandes mestres de todas as tradições espirituais nunca ficaram trancados em algum lugar, sempre se tornaram personagens públicos para divulgar as descobertas maravilhosas”.

Para a Monja Coen, religião e fé, não necessariamente andam juntas, mas podem. “A palavra religião tem várias origens. Uma delas é religare, do latim, que significa religar. Você pode ter fé e não seguir nenhuma tradição espiritual. Você pode ter fé no DNA humano, ter fé na vida, quem depende da fé alguma coisa fora de você, o zen budismo é uma tradição que você tem fé na prática nos ensinamentos. Meu objetivo como missionária é manter essa a tradição zen budista sem que haja grandes dissonâncias com o original, é fazer com que essa tradição se mantenha viva e correta e é esse o meu objetivo, meu sonho para isso. Estamos tentando construir um templo em Campos do Jordão que vai ser um lugar de prática e o lugar também aberto para inter religiosidade, acho importante que todas as religiões conversem e que nós possamos aprender um pouco mais com as outras para que haja menos guerras e menos violências”.

Monja Coen nasceu Cláudia Dias. Para ela essas duas mulheres não se separam, nem uma ensina algo para a outra. Elas coexistem. “Não dá para separar. Somos uma coisa só. A grande obra do zen é  perceber essa unidade não só de você com as todas as suas faces, suas milhares de faces e as personalidades que nos habitam”.

Mesmo diante de tantas atividades, Monja Coen encontrou um momento para conversar com o Site Heloisa Tolipan e compartilhar uma mensagem exclusiva, de fim de ano, refletindo sobre a transição do calendário e a esperança que desponta, junto à entrada de 2025.

Como tudo que existe na vida da terra, eu gostaria que todos que estão me lendo possam apreciar suas vidas, apreciar cada instante sagrado desta existência, terminando o ano de 2024 adentrando 2025 com leveza, trazendo coisas boas, para que seja cada vez melhor para o maior número de seres na terra e assim possamos ter um Feliz Ano Novo – Monja Coen

MENSAGEM DA MONJA COEN

O final de um ciclo é o início de outro. E, tudo pode ser diferente, se você criar causas e condições para que assim o seja. Experimente falar, pensar e se manifestar no mundo de forma não violenta. Dialogar invés de discutir. Compreender mais e reclamar menos. Apreciar a vida em sua multiplicidade de formas. Reconhecer que somos a vida da Terra e por isso cuidados. Cuidamos da nossa espécie humana e da beleza da nossa diversidade. Cuidamos respeitosamente de todas as formas de vida, lembrando que nossa vida depende de todas as outras. Podemos fazer o voto de beneficiar todos os seres, antes mesmo que nós recebamos os benefícios. Podemos despertar e assim causar o despertar de toda a humanidade.

Um novo ciclo. Ano de 2025. Vamos fechar bonito 2024? Houve alegrias e tristezas, ganhos e perdas, sofrimentos e libertações. Assim como um eletrocardiograma e eletroencefalograma, as linhas sobem e descem, porque quando se torna uma linha reta é o fim da vida. Vida é movimento e transformação. Podemos direcionar essa transformação. Que seja sempre para o bem de todos os seres. Observe a si mesma. Considere como fala, como pensa, como age – Monja Coen

Você pode modificar comportamentos e expressões faciais, musculares e emocionais. Considere que cada ser que encontra é uma das inúmeras manifestações do Sagrado. Aprecie sua vida. Aprecie a si mesma e agradeça a bênção de iniciar um novo ciclo. Vamos encerrar 2024 e abrir 2025 com cuidado amoroso. Que a Paz prevaleça na Terra. 

Mãos em prece. 

Monja Coen”

Monja Coen: “A linha reta é o fim da vida” (Foto: Divulgação)

Encerramos mais um ciclo, deixando para trás o que precisa ser transformado e carregando conosco a esperança de um futuro moldado pela consciência e pelo cuidado. Que 2025 seja o ano em que cada gesto, cada palavra e cada pensamento reverbere harmonia, como ondas que se propagam no vasto oceano da existência. Que possamos, com mãos em prece – como sugere a Monja – e corações despertos, construir um mundo onde o amor seja a resposta e a paz, o caminho. Feliz 2025!