*Por Rafael Moura
O site Heloisa Tolipan sempre apostou em novos talentos e suas histórias extremamentes interessantes. Por isso, temos o prazer de apresentar Rita d’Libra. A nossa entrevistada traduz exatamente os conceitos de alta importância na atualidade: diversidade e inclusão! A drag queen vivida por Lenon Tarragô, além de uma grande rainha é intérprete de libras (profissão de grande importância) e já trabalhou com nomes da música nacional, como Ludmilla, Mateus Carilho, MC Rebecca. Lenon é pedagogo, pós-graduando em Libras e trabalha com teatro inclusivo desde 2012. No
ano de 2016, começou com a personagem, tendo escolhido o nome por causa do “poder das Ritas” Lee e Cadilac e o D’Libra por querer utilizar esse idioma nas performances.
Estamos vivendo uma (r)evolução de valores e conceitos, principalmente para os artistas LGBTQIA+, afinal programas de TV como RuPaul’s Drag Race estão se espalhando pelo mundo e com picos de audiência. Sem falar da força dos nossos artistas ativistas tendo grande destaque ao redor do globo. “Eu fico muito feliz em vivenciar esses avanços do protagonismo LGBTQIA+ em todos os espaços! Nas Olimpíadas termos representatividade, nos veículos de comunicação, entretenimento, campanhas publicitárias (sem ser apenas no mês do orgulho). São situações que trazem um respiro, alívio e conforto em saber que podemos ocupar todos os espaços em que queremos e que mesmo com os retrocessos vindo de um desgoverno, estamos aqui, somos vistos pela população que está com os olhos abertos para a pluralidade”, pontua Lenon Tarragô.
Lenon nos conta que seu encontro com os três grandes cantores da música brasileira (Ludmilla, Mateus Carilho, MC Rebecca) foram experiências únicas e de alta importância nesse processo de inclusão e da afirmação da diversidade. “O legal que esses convites foram feitos de formas distintas. Com a Ludmilla, fui contratado em 2018 para fazer a tradução para Libras da Parada Livre de Canoas (RS), das falas oficiais e do show dela. Lembro que fiquei conversando com os dançarinos e ficaram encantados com a preocupação da cidade em trazer essa ação. No carnaval de rua de 2019, em Porto Alegre, o bloco ‘Puxa que é peruca’ conheceu meu trabalho e se preocupou em ter dentro de sua programação, acessibilidade em Libras, em que traziam artistas LGBTQIA+ para se apresentar, que eram Mateus, Danny Bond e a Glamour Garcia, fazia todo o sentido eu representar a inclusão e diversidade”, explica.
Já com Mc Rebecca, Lenon conta que foi uma experiência muito diferente e até engraçada. “Duas pessoas da equipe dela entraram em contato comigo dizendo: ‘sou fulana da equipe da Mc Rebecca, ela ama seu trabalho e queremos convidar pra participar de uma ação com ela…’. Nessa hora fiquei todo espiado, até brinquei com uma delas dizendo: ‘se ela me ama tanto, porque não está me seguindo?’. Eu juro que enviei essa mensagem pensando que era fake, eu não conseguia acreditar nisso. Depois de um tempo, a Mc Rebecca começou a me seguir e pronto. Comecei a ficar apavorado que era verdade mesmo gente!! BABAAAAADO!! Então foi super lindo o vídeo e estamos planejando outros ainda porque aquela mulher é fooooooooooooooooooogo!!”, agradece.
Lembrando que desde o dia 22 de dezembro de 2005 a Libras passou a ser disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores e de Fonoaudiologia, segundo o Art. 3º do decreto nº 5.626. E o PL 6.284/2019, do senador Romário (Podemos-RJ), determina o idioma como primeira língua na escola para estudantes surdos. Além da obrigatoriedade do atendimento em Libras para pais surdos nas escolas públicas e privadas na PL 5.188/2019, da senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP). “Consigo perceber um avanço nessas áreas começando pela arte inclusiva. Em 2012 não se falava sobre apresentações artísticas, eventos e festivais com intérpretes de libras, raras as vezes tinha uma comunicação simultânea para a Língua de Sinais e, hoje, podemos notar a presença do intérprete ali no cantinho, mediando a comunicação e trazendo a acessibilidade daquele conteúdo. Na educação, os cursos de licenciatura possuem disciplinas específicas que tratam a temática da inclusão e basta o profissional abrir um pouco a sua mente para compreender as individualidades de cada aluno, sendo ele com ou sem deficiência”, destaca o pedagogo.
Para ele, as redes sociais tem um papel muito importante nessa evolução, afinal as plataformas iniciaram esse processo de inclusão com a legenda automática dos vídeos. “Podemos encontrar diversos influencers com deficiência que abordam suas vivências e que auxiliam no nosso processo de aprendizagem cultural, compreendendo que cada indivíduo é único e que todos merecemos o respeito”, frisa.
“No começo foi muito difícil me descontruir do modelo padrão de intérprete e unir as duas artes. Antigamente, passavam muito a imagem do intérprete usar preto, não se maquiar, ter os cabelos presos e só faltavam nos dizer que tínhamos que ficar sem respirar (risos). Mas, drag queen é o oposto disso, trás brilho, extravagância e acaba chamando um pouquinho de atenção, né? No começo foi tudo muito estranho, eu não tinha uma referências a seguir, ia testando as interpretações com surdos do meu convívio acrescentando movimentos de dança para expressar tudo que a sonoridade da canção trazia e me joguei, fui para os palcos da vida. Tudo isso começou a ter uma maior repercussão, eu adorava descer de um palco e encontrar surdos que eu não conhecia ou estudantes de Libras que ficavam felizes em ver essa representatividade no palco”, comemora.
Nossa artista da inclusão tem uma presença muito intensa nas redes sociais levando acessibilidade para a comunidade surda e LGBTQIA+. “Tenho uma equipe que me apoia muito. São amigos e que estão comigo desde o início dessa pegada mais profissional. Eles viram o potencial que minhas mãos têm e que eu não acreditava ser possível. Então sempre estamos conversando sobre projetos que podem ser desenvolvidos, algumas canções que vão enaltecer a cultura LGBTQIA+ e agora entramos na parte humorística com adaptação para Libras de memes viralizados”, esclarece.
No fim dessa conversa deliciosa, Lenon Tarragô nos conta como nasceu a Rita d’Libra, essa artista fundamental nessa (r)evolução social, de valores e conceitos, que estamos vivenciando. “Desde pequeno eu gostava de usar as roupas das minhas irmãs e performar em casa (escondido delas). Lembro que na primeira série do ensino básico eu me apresentei como ‘É o tchan’ querendo ser a Carla Perez, mas mandaram eu ser o Jacaré por questões de gênero. Dentro do teatro houve uma personagem feminina que eu fiquei muito interessado em fazer e que a diretora aceitou. Aquela clown potencializou ainda mais meu interesse em resgatar essa questão feminina que eu curtia tanto mas que tinha muito medo de usar. Então conversando com a única drag queen que eu tinha contato na época eu comecei o drama da escolha do nome”, revela.
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