Ricardo Villardo investe na literatura após ‘A Grande Conquista’ e define experiência com reality: “Bizarra”


O ator reflete sobre a percepção de subcelebridade que muitos têm em relação aos ex-participantes de reality shows: “Eu não me enxergo assim”. Com sua essência vibrante, encontrou inspiração na literatura para seguir nova trajetória. Esse insight o levou a reinventar seu Instagram como um verdadeiro portal de literatura e humor. Com essa mudança, não apenas conquistou a atenção do público, mas alcançou impressionantes 20 milhões de visualizações em um único vídeo. O ator prepara um evento especial chamado “A Ressaca da Bienal”, em São Paulo, no Sebo Pura Poesia, no Ipiranga, São Paulo. A celebração promete ser uma rica experiência cultural, com lançamentos de livros, oficinas sobre figurino, além de um show de samba e chorinho. Com planos de levar o evento a outras cidades e um desejo ardente de atuar em novelas, ele reafirma sua missão de abrir espaço e voz para novos artistas em um cenário muitas vezes desafiador

*por Vítor Antunes

O ator Ricardo Villardo é um nome que flerta com a nova geração de rostos conhecidos, mas com uma sede de se distanciar dos estereótipos fáceis. Sim, ele emergiu das redes sociais e ganhou projeção em um reality show, A Grande Conquista“, da Record, uma trajetória comum à juventude de hoje. Mas Ricardo não quer ser apenas mais um rosto. Ele busca ser alma, substância. Com sua essência vibrante, encontrou inspiração na literatura. Esse insight iluminou sua trajetória, levando-o a reinventar seu Instagram como um verdadeiro portal de humor e literatura. Com essa mudança, não apenas conquistou a atenção do público, mas alcançou impressionantes 20 milhões de visualizações em um único vídeo.

Sobre o interesse pela leitura, Ricardo é otimista: “Meu objetivo nas redes sociais é mostrar que todo mundo pode ser leitor. Temos audiobooks, que facilitam a vida de quem não consegue ler ou que não sabe ler. O foco é simplificar a leitura, torná-la acessível. É maravilhoso embarcar em histórias. O feedback tem sido incrível; muitas pessoas me dizem que voltaram a ler ou que estão começando a ler seus primeiros livros por conta do meu conteúdo. Estou vendo um movimento de artistas falando mais sobre isso, como o Clube do Livro do Felipe Neto e os planos da Taís Araújo. É um sinal positivo. O meu objetivo nos meus perfis, no Instagram, no TikTok, é exatamente mostrar que todo mundo é leitor, que todo mundo deve ler”.

Quando eu fazia vídeos voltados apenas para o humor, para o meme, eu sabia que ainda faltava algo. Aquele artista que eu desejava mostrar para o mundo ainda não tinha se revelado por completo. Faltava a interpretação, o criar personagem, o contar histórias, algo que trouxesse mais cultura – Ricardo Villardo

Há pouco mais de um ano, Ricardo participou de “A Grande Conquista“, reality da Record, uma experiência tão intensa quanto inesquecível. “Participar de um reality foi a coisa mais bizarra  que já vivi. Eu entendo perfeitamente aqueles que desistem, que choram, porque realmente é uma loucura. Só quem viveu sabe a intensidade do que se sente lá dentro. Mas, em meio a essa loucura, houve um ponto positivo: conheci um público novo, o público do sofá, mais velho, que me abraçou como a um filho. As pessoas viram em mim alguém que não busca a briga, o conflito, a confusão. Foi um abraço afetuoso, e por isso sou grato”.

No entanto, a sombra da homofobia também se fez presente. “Infelizmente, a homofobia é uma velha conhecida. Crescemos aprendendo a lidar com ela, de tantas formas, diretas e indiretas, que, para ser sincero, já estou calejado. Não vai ser uma pessoa com falas mesquinhas e de baixo nível que vai me desestruturar. Já passei por coisa pior”.

Eu fico muito mais ofendido quando alguém fala do meu trabalho do que quando fala da minha sexualidade, porque sei que isso diz muito mais sobre o outro do que sobre mim. Então, não me abala, e não me abalou, com toda a convicção – Ricardo Villardo

Ricardo Villardo: Uma redefinição de conceitos após um reality show (Foto: Simone Mariano)

LIVROS E GENTES

“Eu e meu sócio decidimos migrar para essa linguagem, a dos livros, e em consequência ganhamos mais de 100 mil seguidores, em sua maioria mulheres. Agora, estamos preparando um evento especial chamado ‘A Ressaca da Bienal‘, que acontecerá no domingo, dia 22, às 14 horas, no Sebo Pura Poesia, no Ipiranga, em São Paulo. Será uma celebração com autores lançando suas obras, oficinas sobre figurino, um show de samba e chorinho, além de um meet and greet comigo. E não para por aí: estamos planejando um novo encontro em Brasília e, se tudo der certo, em novembro teremos outra apresentação, com o sonho de levar isso a outros estados, para dar voz e espaço aos artistas, pois sei como é desafiador ser escritor no nosso país. Não há espaço nem divulgação. O nosso sonho é abrir espaço e voz para essas pessoas apresentarem seus livros.”

O ator não se contenta em ficar parado; ele tem planos para um novo espetáculo no próximo ano, celebrando 20 anos de carreira. “Estou animado para trazer essa nova roupagem da literatura aos palcos. Tem sido maravilhoso para mim enquanto artista, enriquecendo minha vida de formas que eu não imaginava. Também quero reapresentar meu monólogo ‘Você Não É Todo Mundo‘, que está em cartaz desde 2021, mas ainda estamos decidindo o teatro.” Além disso, Ricardo está prestes a lançar uma linha de camisetas com seu nome, todas com uma temática literária.

Ricardo Villardo: O livro é livre (Foto: Simone Mariano)

Ricardo reflete sobre a percepção de subcelebridade que muitos têm em relação aos ex-participantes de reality shows. “Eu não me enxergo assim. É assustador quando sou reconhecido, quando as pessoas me abordam e me dão presentes. Na minha vida, as coisas continuam as mesmas; não me vejo como subcelebridade ou como famoso. Eu venho de Casimiro de Abreu, interior do Rio, minha família é humilde, e isso me mantém com os pés no chão. Quando falo em perder os traços de subcelebridade, faço uma brincadeira com a trending que rolou, ‘sobre perder os traços de adolescente’, adaptando para a ideia de ter participado de um reality e ser um influenciador cultural”.

Hoje, os influenciadores navegam pelos streamings, guiados pelo farol do engajamento, e isso, por si só, não seria um problema, não fosse o fato de que essa maré muitas vezes afasta os atores do seu porto seguro. “É angustiante quando uma produtora de casting pergunta sobre nossas redes sociais. Querem saber nossos números, e isso nos faz questionar o que realmente importa: talento, esforço, estudo… Será que tudo isso perdeu seu valor? Eu acredito que deveria haver espaço para todos. Com a quantidade imensa de plataformas hoje, de streamings e TV aberta, ainda assim estamos vendo muitos atores sem trabalho, desesperados, pois não possuem essa habilidade de criar conteúdo para a internet. É uma linguagem completamente diferente”.

Ricardo Villardo compartilha um momento marcante de sua vida, quando a literatura se tornou um diferencial. Ele relembra com carinho que “o livro que foi um divisor de águas na minha vida… pode parecer clichê, mas foi o primeiro livro do Harry Potter”. Crescendo com Harry, essa história mágica se entrelaçou à sua própria jornada. “Eu tinha 11 anos, e aquele livro transformou minha perspectiva. Terminei de ler e disse ao meu padrasto: ‘Eu quero escrever histórias’. Foi nesse instante que a paixão pela escrita despertou uma chama dentro de mim. Ali, percebi que estava começando a entender que eu era um artista. O primeiro livro do Harry Potter foi, sem dúvida, o ponto de partida para essa descoberta.” Esse relato revela como a literatura pode moldar destinos e inspirar sonhos, mostrando que as histórias têm o poder de acender paixões e abrir novos horizontes.

Ricardo Villardo: “Meu objetivo nas redes sociais é mostrar que todo mundo pode ser leitor” (Foto: Simone Mariano)

TV A CORES

Ricardo Villardo expressa um profundo desejo de se aventurar no universo das novelas, um sonho que reverbera em seu coração. “Eu tenho muita vontade. Sempre foi esse o meu foco”, diz, enquanto reflete sobre os anos dedicados ao teatro em Brasília, onde viveu por 15 anos. “Nunca tive muitas oportunidades para correr atrás do audiovisual. Mesmo agora, com a internet, não é tão simples assim. As pessoas me dizem: ‘Você precisa ir para a TV, para o streaming’, mas isso é um grande sonho. Estou trabalhando para isso, porque atuar é o que faz meu coração pulsar, seja na TV, no teatro ou no cinema. Depois de tantos anos no teatro, agora sinto uma forte vontade de mergulhar no audiovisual.”

Em uma reflexão mais profunda sobre a homossexualidade na televisão, Ricardo se mostra consciente das barreiras que ainda persistem. “Eu acho que as pessoas ainda estão presas a essa ideia de que: ‘Ah, se você é gay, então deve fazer papel de gay; se é hétero, deve fazer papel de hétero’. Essa discussão do ‘lugar de fala’ tem ganhado destaque no mundo artístico. No entanto, esquecem que o ator existe para interpretar diversos personagens. Não me vejo confinado à caixinha do ator gay, que só pode fazer personagens gays. Muito pelo contrário, quero lutar para interpretar papéis variados e desafiadores. Eu me formei para isso, estudei muito, e trabalhei como ator em diversos gêneros, do infantil ao drama.”

Ricardo destaca a necessidade de resgatar a essência do ator, uma figura capaz de transitar entre mundos e personagens. “Claro que não estamos falando de situações como blackface, que são inaceitáveis. Mas, no caso de um ator gay interpretando um personagem hétero, não vejo problema. A problematização excessiva em torno disso acaba por ser uma problematização excessiva.”

Se você é ator, você vai se dedicar para aquele personagem e vai fazer tão bem quanto um homem hétero, porque o ator estuda o ser humano. Então, a gente vai estudar o personagem para vivê-lo – Ricardo Villardo

Reflete com reverência sobre o legado do ator Paulo Gustavo (1978-2021), cuja trajetória transformou o cenário artístico brasileiro. “Eu acho que o Paulo Gustavo foi realmente um divisor de águas, sabe? Existe um antes e um depois dele na nossa indústria”. Ele reconhece que, para muitos atores e atrizes LGBTQIA+, Paulo se tornou uma voz potente, capaz de romper estigmas. “Ele deu muita voz para nós, tirou a gente daquele lugar estereotipado de ‘bichinha’ que só faz humor, que é apenas o amigo da protagonista, a ‘bichinha cabide’.”

Ricardo Villardo nega o estereótipo de ser “a bicha cabide” (Foto: Simone Mariano)

Quando mencionado em relação a Paulo Gustavo, Ricardo expressa sua gratidão. “Nunca foi meu objetivo ser uma réplica dele, e espero que nunca seja, mas é uma honra, pois ele realmente fez a diferença e continuará fazendo para sempre”. A conexão que sente com a família de Paulo Gustavo, que o segue nas redes sociais e interage de forma calorosa, apenas reforça a admiração que nutre. “A mãe dele começou a me seguir, a irmã também. Falei com elas pelo Direct, e foram maravilhosas comigo, super fofas”.

Em meio às danças e às cores que compõem a tapeçaria da vida artística, Ricardo Villardo traz a força de sua trajetória, desafia estereótipos, transformando dor em arte e conexão. Inspirado por figuras como Paulo Gustavo, que romperam barreiras e trouxeram à tona a pluralidade da experiência LGBTQIA+, Ricardo não se limita a ser um reflexo, mas busca ser uma voz autêntica em um mundo que clama por diversidade. Seus sonhos, impregnados de literatura e de um desejo ardente de atuar, revelam que a arte é um espaço de liberdade e transformação, onde cada história contada se entrelaça com a esperança de um amanhã mais inclusivo.