*Por Brunna Condini
Esse agosto que finda é considerado o mês da Visibilidade Lésbica, tendo já sido celebrado o Dia do Orgulho Lésbico e o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. O objetivo é chamar a atenção para o combate à lesbofobia, o machismo e todo tipo de preconceito contra mulheres, que além de enfrentarem discriminação por sua orientação sexual, ainda sofrem a misoginia enraizada na sociedade. O Agosto Lilás, em outro lugar, nos lembra do enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher. O agosto foi delas e por seus direitos.
Falando da Visibilidade Lésbica, quando pensamos na TV brasileira, que tem enorme poder de alcance das massas, observamos como a questão vem sendo tratada na dramaturgia, e claro, como poderia ser abordada, ou seja, de forma a derrubar tabus e preconceitos, dando o devido protagonismo à mulher gay e seu desejo, amor. Afinal, todo mundo quer se ver representado. O que a televisão têm feito disso? O que exaltamos? O que deve experimentar novas abordagens para naturalizar? Abaixo fazemos um passeio por algumas tramas que tiveram repercussão e te convidamos a pensar junto conosco. A maneira como as lésbicas são retratadas na TV ainda está longe da realidade, já que a representatividade precisa abraçar a pluralidade de existências LGBTQIA+ também. Falando mais disso, quem sabe no próximo agosto tenhamos ainda mais a celebrar?
Terra e Paixão
As personagens Mara (Renata Gaspar) e Menah (Camila Damião) de ‘Terra e Paixão’ têm feito sucesso e já ganharam até torcida nas redes sociais, que não tem ficado satisfeita com o ‘esquecimento’ da trama do casal no folhetim de Walcyr Carrasco. Será que é preciso manter sempre a pressão do público na internet para que esse tipo de enredo se desenrole bem?
Uma pena. E pena também que duas ótimas atrizes não estejam explorando o potencial do romance de suas personagens, que além de levantar discussões pertinentes, podem ajudar a naturalizar o amor. “Espero que o beijo entre elas aconteça, senão vai ser muito esquisito. Até entendo que a novela está no começo e não queiram acelerar as coisas, mas acho que vai rolar. Vai ter muita revolta se não rolar, até minha (risos). Rolar, é naturalizar duas pessoas que se gostam e querem ficar juntas”, opinou Renata Gaspar, em entrevista ao site no final de junho. A atriz também ama uma mulher fora da ficção, é casada com Bebel Luz, desde 2020.
Vai na Fé
No recente sucesso das 19h da Globo, a trama envolvendo Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman), que se tornou um dos principais casais da trama, também gerou polêmica. Isso porque, o beijo, uma coisa natural em qualquer casal apaixonado, sofreu cortes e demorou a ir ao ar. Após protestos do público nas redes e falas acertadas de suas intérpretes em entrevistas, rolou. As duas ficaram juntas no final do folhetim, com direito a mais demonstração do amor entre elas. Na novela-golaço de Rosane Svartman, a resposta à importância de um casal homossexual ter visibilidade na dramaturgia da TV aberta, foi devidamente valorizada.
Segundo Sol
A história de Maura (Nanda Costa) e Selma (Carol Fazu) na novela de João Emanuel Carneiro exibida em 2018, foi considerada também uma forma de invisibilizar a relação entre duas mulheres. Ionan (Armando Babaioff) doou sêmen para que o casal tivesse um filho, sem o consentimento de sua esposa ciumenta. Após um enredo que coloca Maura, a personagem apresentada como lésbica desde o início, confusa por seus sentimentos, os três – Selma, Maura e Ionan – acabam por tentar viver um trisal. Ao que parece, da forma que foi conduzido, o romance do trio não foi uma forma de abordar o amor livre, mas de diminuir o destaque para o casal lésbico. Será? Por que um homem no triângulo justamente desta trama? Por que não outra mulher?
Se por pressão do público e da comunidade LGBTQIA+ ou não, não se sabe, mas Maura e Selam ficaram juntas no final, construíndo sua família e tornando-a visível para o Brasil.
Senhora do Destino
Uma das novelas de maior sucesso de Aguinaldo Silva, ‘Senhora do Destino’, reexibida na grade do canal Viva no momento, trouxe em seu enredo o romance entre a médica Jenifer (Bárbara Borges) e a estudante de fisioterapia Eleonora (Mylla Christie). O ano da produção era 2004, quando a abordagem das temáticas LGBTQIA+ ainda não eram tão presentes e amplas na TV.
As personagens não foram rejeitadas, mas na segunda reprise da trama no Vale a Pena ver de Novo, em 2017, as cenas em que Jennifer se descobre lésbica através de diálogo entre ela e Eleonora, foram cortadas, deixando a sequência com sentido duvidoso, já que no mesmo capítulo, a personagem de Barbara Borges aceita sair com o deputado Thomas Jefferson (Mário Frias) com o pretexto de esquecer Eleonora. As duas acabam ficando juntas, rola selinho, mas outras cenas foram cortadas na reprise das tardes. Lesbofobia e censura? Até onde a TV deve ceder ao desagrado de uma parcela do público, que se sente incomodado com a diversidade de amar? E até onde ela deve e pode abrir os caminhos para a naturalização do amor? Nós, do site, aguardamos e torcemos por isso.
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