*Por Rafah Moura
O Dia Nacional da Visibilidade Trans é celebrado no 29 de janeiro. A data instituída com o objetivo de aumentar a conscientização sobre a letra T da sigla LGBTQIA+, que representa as pessoas travestis, transexuais e transgêneras e é um marco nessa luta. Segundo o boletim da Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA, pelo segundo ano consecutivo, o Brasil apresenta aumento de assassinato desse grupo. O que chama atenção é o fato de o país continuar sendo o que mais mata travestis e transexuais no mundo.
O site Heloisa Tolipan conservou com a cantora Raquel Virgínia, que, depois de dez anos com o trio ‘As Baías’, agora investe na carreira solo e empresária e como CEO da Nhaí. Ela fala sobre os desafios de exercer mudanças efetivas em um país que ainda mata as minorias. “A minha vontade em agir é enorme. Vamos parar de reclamar e fazer algo para além das câmeras. Por trás das câmeras é que mora o verdadeiro poder. E é lá que eu também quero estar. Precisamos construir projetos e ideias que ajudem pessoas trans a fomentar e mudar essa realidade. Projeto e ação. Esses são, para mim, os pilares da verdadeira mudança”, frisa a artista.
Raquel é uma mulher trans, negra, cantora e compositora indicada duas vezes seguidas ao Grammy Latino, na categoria Melhor Álbum de Pop Contemporâneo, em Língua Portuguesa, com o trio ‘As Baías’: ‘Tarântula’, em 2019 e ‘Enquanto Estamos Distantes’, em 2020. Em 2017, ainda no trio musical, foi ganhadora de dois troféus no 29º Prêmio da Música Brasileira, nas categorias ‘Canção Popular –Grupo’ e ‘Canção Popular – Álbum’. Sua bagagem artística lhe rendeu uma expertise como consultora e palestrante dentro dos temas de inovação, diversidade e entretenimento, auxiliando o mercado com novas práticas que visam quebrar as barreiras do preconceito e trazer mais diversidade para o mercado de trabalho nacional. “Eu percebi que a arte sempre foi um canal para dar voz e ressignificar as mudanças, afinal, por essencial ela é disruptiva. Sinto que as pessoas minorizadas continuam minorizadas. O Brasil ainda não conhece o Brasil. Temos muito trabalho pela frente”, enfatiza
A artista revela que a Nhaí, uma gíria do vocabulário LGBTQIA + E ai! foi o casamento perfeito para esse batizado. Para ela o nome soa como uma provocação no mercado coorporativo, como um grito de mudanças trazendo mais representatividade e diversidade, chutando a caretice e o preconceito para longe. Essa nova empreitada acontece depois de anos presenciando práticas tóxicas nas instituições. “Desde que me reconheci como uma mulher trans, venho observando e discordando de maneira intensa de algumas práticas estruturadas no mercado em relação às nossas vidas e pensei que a melhor maneira de de fazer mudanças efetivas fosse abrindo meu próprio negócio e propondo algumas linhas de raciocínio que me parecem raras ou inexistentes no mercado”, explica a empresária.
Desde os tempos da Faculdade de História, na USP até alcançar o sucesso, Raquel revela que foi uma longa caminhada cheia de vitórias e medos, mas de suma importância para se tornar a multiprofissional que é atualmente. Por isso traz a sororidade em sua essência e conta com um time 100% feminino. “Dentro da Nhaí trabalhamos com criação. Um outro fator é que hoje ocupamos um prédio presencial na Berrini, em São Paulo (uma região nobre da cidade). E nossos corpos precisam se fazer presentes e serem vistos nesses espaços. Isso é uma filosofia da empresa, essa questão da ocupação, que se faz importante na construção e desenvolvimento da imagem que a empresa propõe”, enfatiza Raquel.
A cantora, em 2021, lançou seu primeiro trabalho em carreira solo, convidando MC Dellacroix, para arrasarem em ‘Las Muchachas de Copacabana’. “O meu desafio principal nesse restart é entender que a mensagem que eu passava sendo de uma banda não é a mesma que quero passar sendo solo. E isso inclui um período mais de pesquisa e maturação desse eu-artístico. Só assim vou conseguir encontrar essa ‘nova voz’. Os desafios são muito grandes. É necessária muita concentração e pesquisa”, conta.
Para a artista, as inspirações são trabalhar e acompanhar pessoas que agem. “Ando focada muito em ação. Minha inspiração está em agir e estar com quem age. Pessoas que agem me inspiram. Parece uma visão romantizada, mas é o contrário. É altamente tática. Confesso que é necessário, sim, ter uma dose de romance para lidar com todas as dificuldade que vamos esbarrando ao longo dessa jornada”. E completa: “Minhas expectativas para 2022 é ter saúde e trabalhar. Eu vivo muito focada no futuro, estou sempre olhando a longo prazo, porque acredito que o imediatismo pode levar as pessoas ao desespero. É necessário olhar além do horizonte”.
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