Qual o segredo do 00, uma das pistas mais democráticas do Rio? Papo exclusivo com sócio fundador Arnaldo de Merian


Como o empresário explica o sucesso há tantos anos, já que a noite do Rio é marcada por inconstâncias e casa que abrem e encerram suas atividades em menos de um ano?

Todo carioca que se preze, todo turista descolado e toda celebridade cool em visita ao Rio, certamente, tem alguma ótima lembrança das muitas noites inesquecíveis do 00. O club fundado por Arnaldo de Merian nos idos de 2000 segue firme e cada vez mais forte no posto de o mais querido da cidade se reinventando, criando novas possibilidades e vendo as gerações se renovarem ao ar livre dançando na pista mais democrática da cidade.

Para entender um pouco esse fenômeno de longevidade em um mercado, principalmente no Rio, cada vez mais efêmero, com casas que abrem e fecham na velocidade da luz, fomos conversar com Arnaldo para descobrir os segredos, se é que existem, ouvir boas histórias e entender como é ser um empreendedor da noite carioca e ter prazer no ofício, sendo obrigado a lidar com leis antigas, violência, custos exorbitantes da cidade-sede das Olimpíadas e uma série de questões que assolam quem quer fazer a diferença em algum setor na cidade. Vamos nessa?

574564_10151225211440992_331543125_n

Arnaldo de Merian, sócio fundador do badalado 00, na Gávea (foto: arquivo pessoal)

HT –  Conta um pouco da sua história para chegar até aqui. De onde você veio, com o que trabalhava antes de ter a ideia de ser sócio fundador do 00 e como foi este grande passo?

AM – Sou formado em Administração de Empresas, trabalhei até 1994 como funcionário em empresas de grande porte, na área administrativa/financeira. No ano seguinte, fui sócio de uma empresa de telemarketing e saí para montar o 00. Tudo começou, aliás, como uma brincadeira, pois eu tinha me separado e fui morar na Barra da Tijuca. Por lá, tomava café da manhã, almoçava e jantava fora, e, um dia, o meu contador brincou falando que seria melhor eu montar um restaurante. Nesta hora, ele me apresentou um grupo que estava entrando na licitação do espaço do Planetário para a concepção de um restaurante. No primeiro ano, os sócios saíram da sociedade me deixando sozinho. Foi quando iniciei a reestruturação do até então Copérnico, nome do restaurante. Durante um jantar no Zazá acabei conhecendo o Cello Macedo e falamos do projeto e ele acabou se unindo a mim para a criação do 00.

HT –  Como você explica o sucesso do 00 há tantos anos, já que a noite do Rio é marcada por inconstâncias e casa que abrem e encerram suas atividades em menos de um ano?

AM – Confesso que não tenho uma explicação técnica para isto, mas acredito que a geografia do local tenha ajudado em muito neste aspecto. Mas isto não faz com que não pensemos em nos reinventar, acompanhar o mercado e arriscar em criar novas tendências.

HT – Qual o maior desafio de empreender no Rio? Os altos custos, a falta de incentivo ou a criminalidade, que ainda é uma questão forte na cidade, apesar das UPPs?

AM – O Rio é uma cidade que tem um discurso moderno e de empreendedorismo, porém ainda ficamos muito presos às normas de postura e planos diretores ultrapassados. Além disso, o Rio se tornou uma cidade caríssima, principalmente nos últimos anos em função das expectativas de Copa do Mundo e das Olimpíadas. Sem falar  na bolha imobiliária tanto nos preços dos aluguéis quanto ao que chamamos de “luvas”. Todos estes fatores fazem com que as contas, em inúmeras vezes, não fechem. Agregado a isto, tivemos de nos adequar às novas medidas de segurança, tanto na identificação do público quanto nas questões com o Corpo de Bombeiros. 

HT –  Quais as lembranças mais memoráveis da história do 00?

– Em pouco tempo de aberto tivemos visitas de personalidades como James Taylor, Mick Jagger, Javier Bardem, Quincy Jones, Ben Harper, Gael Garcia Bernal, Vincent Cassel, Calvin Klein, Kal Penn e, inclusive, uma passagem de Madonna. Lembranças inesquecíveis.

HT – Quais você gostaria de esquecer?

AM – No ano passado, em função da tragédia de Santa Maria, tivemos uma ação desordenada de todos os órgãos públicos na qual a ordem foi primeiro fechar e, depois, verificar as condições das casas noturnas. Durante um período, fomos alvos de ataques da mídia e tratados com um rótulo de criminosos. No caso do 00, fomos interditados numa sexta-feira e liberados na segunda-feira, porém perdemos um faturamento de 25% no mês e tivemos, como todos deste ramo, que lidar com a desconfiança do público, que foi reconquistada aos poucos.

HT – Vamos brincar de imaginar: como seria a festa dos seus sonhos no 00? Quem estaria no comando do som, quais as pessoas que você gostaria de ter na pista e que drinques elas estariam tomando?

AM – Eu gostaria de reviver o inicio do 00, com todos os funcionários e parceiros que fizeram parte da história da casa se juntando com os clientes habitué da época e com as novas gerações que descobriam o 00. O som teria que ter a presença de Tony Lounge, nosso primeiro DJ residente que ocupava um espaço dentro do bar, e, claro, o Zé Roberto Mahr, que hoje faz parte do grupo de colaboradores na criação das noites e, às vezes, dá uma “canja” para nós.

HT – Quais seus lugares para dançar favoritos no mundo? E o que eles têm de especial?

AM – Amnesia, em Ibiza, com uma arquitetura incrível e Fabrik, em Madri, com uma festa que começa na tarde de domingo e acaba pela manhã de segunda-feira.

HT – O que não tem saído do seu iPod nos últimos tempos?

AM – Set’s de DJ’s como Meme, José Roberto Mahr, Diego Valente, John Failly, Armin Van Buuren e Rafael NazarethRoger Lyra.

HT – Qual o futuro da noite carioca? Você é pessimista ou otimista em relação a esta questão?

AM – Eu acredito muito no Rio, acho que a cidade é a mais bonita e charmosa que existe no mundo, temos um público de várias tribos convivendo em total harmonia.

Este slideshow necessita de JavaScript.