Uma figura indispensável na trama da nova novela das 9, O Outro Lado do Paraíso, é a da própria protagonista. Apesar de parecer lógica esta afirmação, neste caso o papel de Bianca Bin vai muito além do cargo de principal. É em torno de um acontecimento relativo à Clara, sua personagem, é que toda a narrativa é desenvolvida. A verdade é que o papel atua como verbo e todo o resto depende da ação da mocinha. Clara se apaixona, se casa, se torna mãe, sofre maus tratos do marido, é raptada e, quando volta, promete se vingar de todos que a fizeram mal, acabando com a tranquilidade de todo o núcleo narrativo. Todos os personagens da trama são afetados de alguma forma por suas decisões e ações o que a torna um eixo central da narrativa. “A Clara é uma história densa e que mexe comigo, então procuro esconder as minhas emoções dentro de mim. As cenas de violência, por exemplo, são as que mais me incomodam. Estou tentando levar com leveza a minha personagem”, contou a atriz.
Apesar de ser inegável a importância de seu papel, a atriz tenta não ser afetada pela carga que isto representa. A ideia de ser a principal do horário nobre da televisão brasileira é apenas um detalhe para ela. “Ser protagonista é apenas um rótulo e não aceito isso. Esta nomenclatura não vai me ajudar em nada, só me causa mais cobrança e pressão. Eu já sou muito autocrítica e me pressiono o suficiente, por isso não aceito esta ideia de ter um papel superior aos dos outros. Este personagem já é um grande desafio por si só”, afirmou a atriz. Bianca garantiu que não se atenta aos números de audiência e foca apenas no seu trabalho artístico.
A atriz já está sentindo a dificuldade que é fazer uma protagonista das 9 na pele. Desde que começaram as gravações, contou que não parou um segundo. “A demanda é muito grande, só descanso no domingo. Este descanso, inclusive, é entre aspas porque em casa continuo estudando e trabalhando. Estou malhando para conseguir massa muscular, porque todas as vezes que começo uma novela acabo emagrecendo”, explicou. Para ajudar com a rotina frenética de gravações, ela começará sessões de terapia com o intuito de entender melhor o rumo que sua vida está levando. “Estou precisando. Sinto muitas coisas e tenho dificuldade de verbalizá-las, o que me prejudica muito. Tanto que estava com um nódulo na tireóide e estou tratando isso. Acho que ele veio em razão das coisas que calei por viver nesta sociedade opressora e patriarcal que silencia a todos. Dessa forma, o que eu e a Clara estamos buscando é o empoderamento e a potência feminina”, desabafou. A ideia é ter um espaço onde ela possa falar tudo o que está pensando sobre os acontecimentos do seu dia-a-dia.
Para Bianca, está sendo muito difícil fazer Clara por se tratar de uma menina inocente que sofre maus tratos do marido. Este assunto é pessoal para ela, por se autodenominar uma mulher empoderada e femininista. “Acho que sou uma pessoa diferente da minha personagem. Saí de casa muito cedo, com 16 anos, para estudar teatro em São Paulo. Eu estava sozinha, meus pais não vieram comigo, o que me fez amadurecer precocemente”, explicou. Mas se mudar de Jundiaí para a capital não foi a única dificuldade, mais tarde outro acontecimento contribuiu para que a atriz passasse por mais momentos conflituosos, amadurecendo ainda mais. “O meu maior desafio foi vir para o Rio de Janeiro, porque morando em São Paulo estava a cem quilômetros da casa dos meus pais, os visitava todos os finais de semana. Lavava a minha roupa lá e minha mãe mandava comida. Quando me distanciei ainda mais, o choque foi maior me vi completamente sozinha e sou uma pessoa muito carente e emocionalmente dependente. Na verdade, eu era, porque estou tentando trabalhar este traço”, brincou. No entanto, este enredo relembra um pouco a reviravolta que ocorrerá na história durante os dez anos que Clara permanecerá isolada do mundo. Naquele período de reclusão, ela será obrigada a amadurecer rapidamente. “O desenho da personagem é similar, neste sentido, ela sai desta doçura e amabilidade para um razão e consciência maior das coisas”, garantiu a atriz.
Apesar da loucura das gravações, Bianca confessou que foi um bônus maravilhoso a viagem que fez, junto do elenco, para o Jalapão, no Tocantins. O espaço foi o ponto de partida primordial da história, onde todo o enredo se desenvolveu. “Foi incrível gravar no Jalapão, adorei conhecer os lugares. Nunca tinha visto uma cachoeira de água quente, por exemplo. A biodiversidade é maravilhosa e os chapadões são incríveis. Além disso, estava muito calor e o clima era muito seco, por isso precisávamos hidratar o tempo todo o nariz, os olhos e a boca. Recebemos várias recomendações da empresa”, relembrou. O local foi a inspiração inicial do autor Walcyr Carrasco ao escrever esta narrativa.
Desde que começou em 2009, a artista não ficou um ano sem passar pelas telinhas da Globo. Fez parte do elenco de Malhação, Passione, Cordel Encantado, Guerra dos Sexos, Jóia Rara, Boogie Oogie, Eta Mundo Bom, Segredos de Justiça e, agora, O Outro Lado do Paraíso. “Estou muito feliz por estar tendo estas oportunidades. As artes cênicas é uma profissão muito difícil. Existem tantos colegas que estão parados em casa ou fazendo teatro de guerrilha que me sinto honrada de ter essa possibilidade. Me considero privilegiada e sortuda por ter este espaço e ter emendado um trabalho no outro. Tem muitos amigos tão talentosos ou mais, que é uma honra”, comemorou.
Bianca Bin já foi mocinha e vilã, mas apesar de passar por tantas tramas, até o momento, não fez nenhum papel cômico. “Tenho muita vontade de fazer uma figura cômica, mas tudo tem o seu tempo. Tenho aceitado os trabalhos que me passaram. Minha carreira está só no começo, acredito que os melhores personagens da minha vida devem chegar depois dos 30 anos”, garantiu. Mesmo com papéis garantidos todos os anos, a atriz acredita que ainda não chegou o papel de sua vida. “Acredito que, dramaticamente falando, os personagens mais densos e aprofundados são os mais maduros. Quanto mais o ser humano evolui, mais o ator evolui. Estas coisas estão interligadas. Acho que quando eu me tornar mãe irei melhorar muito enquanto atriz”, garantiu. Apesar desta afirmação, a atriz não pretende engravidar agora, pois quer estar presente em todos os momentos da infância da criança. Devido ao acúmulo de trabalho, isto é impossível neste momento.
Apesar de Bianca ainda esperar por uma personagem densa, Clara já pode ser considerada um início desta era de papéis mais fortes. Um destes traços é seu sentimento de vingança que surgirá durante os dez anos que passará excluída do mundo. Em contrapartida a atriz afirma que sempre procura se distanciar de emoções sombrias como esta. “Meu signo é Virgem, mas meu ascendente é Escorpião, um signo que tem fama de ser vingativo, mas não sou. Acho que temos que ser proativos na vida, transformar as coisas para um bom caminho. Se recebemos ódio, rancor e raiva e devolvermos da mesma forma, isto só vai se multiplicar. Sempre penso o que tenho de melhor para oferecer, porque estou de passagem por essa vida e sei disso. Esta, na verdade, é a única certeza que tenho. Por isso quero passar pela terra de um jeito bom, sabendo de que forma posso contribuir com o meu trabalho para isso”, explicou.
A atriz se considera uma pessoa bastante espiritualizada. Em O Outro Lado Do Paraíso, os personagens irão sentir na pele o que significa karma, algo que ela acredita ser real. “Sou uma pessoa mística e espiritualizada, por isso acredito na lei do retorno já que ela está sustentada pela força que rege este universo. Esta força, para mim, é uma entidade feminina a prova é que a humanidade toda veio do fruto de uma mulher. Por isso precisamos curar a nossa relação com o feminino, nós maltratamos a nós mesmos e esta terra da qual viemos. Por isso tudo o que damos é o que recebemos, é uma lei natural que aprendemos no dia-a-dia. E se não colhemos aqui será em outra vida, porque acredito na reencarnação”, concluiu. Seguindo suas convicções pessoais, na coletiva de lançamento da novela, Bianca estava usando um vestido preto simples. A ideia da atriz era mostrar que as pessoas precisam se voltar mais para as coisas essenciais da vida. Dessa forma, não é preciso comprar algo espalhafatoso se é possível estar elegante com menos.
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