Afastado das telinhas desde que viveu o bissexual Eron na novela “Amor à Vida” (2013), Marcello Antony tem dedicado seu tempo a outras vertentes da arte de atuar. Ele é uma das estrelas principais de “Chaplin, O Musical”, que entra em cartaz no Vivo Rio a partir do próximo dia 21, até o 30. Paralelamente, ele espera o lançamento do longa-metragem “Pequeno Segredo”, no qual vive o velejador Vilfredo Schürmann, que adota a pequena Kat, uma menina soropositiva. Em entrevista exclusiva ao Site HT, o ator conta como esses dois projetos “caíram no seu colo” no momento certo, por quê resolveu focar no teatro, o que acha do boom de musicais pelos palcos brasileiros e muito mais.
Em “Chaplin, O Musical”, Marcello vive Sydney, o irmão e braço direito de Charles Chaplin (1889 – 1977), que é interpretado por Jarbas Homem de Mello. O convite para participar do espetáculo veio diretamente de Cláudia Raia (responsável pela produção do musical, ao lado de Sandro Chaim), que ligou para ele em outubro do ano passado e fez a proposta: “Aceitei na hora. Primeiro, porque foi ela ligando com um projeto dela mesma. Segundo, porque vi a oportunidade de fazer meu primeiro musical de verdade”, conta o ator, que já participou de outros dois espetáculos musicais, mas antes da febre do gênero e de maneira mais amadora do que a peça atual.
Dirigida por Mariano Detry, argentino radicado em Londres há 15 anos, a peça é baseada no espetáculo da Broadway criado por Christopher Curtis e Thomas Meehan, mas com montagem completamente renovada e cinco músicas originais, presentes apenas na versão brasileira. Marcello Antony conta que o ritmo de preparação para o musical foi intenso, com oitos horas diárias de ensaio, fora a preparação vocal. “Foi um trabalho de pelo menos três meses antes de o espetáculo começar. Resgatei muitas coisas do meu tempo no teatro, porque a turma desse musical é muito forte e já está na estrada há algum tempo”, comenta o ator, que se disse surpreso quando Marconi Araújo, diretor vocal e musical da peça, ficou “encantado e adorou o resultado”. “Ele chegou a criar uma música para o meu personagem. No início, tive que correr atrás de uma preparação vocal, porque era como se eu tivesse um músculo atrofiado”, explica o ator.
Marcello Antony se diz também fã declarado de Charles Chaplin desde a infância – “tanto que nem precisei assistir à filmografia dele completa para o musical, porque já conhecia bastante” -, mas que se surpreendeu com os detalhes da vida de seu personagem, “sem o qual jamais haveria Chaplin”. “Eu vejo uma semelhança entre a relação dos dois com a de Vincent Van Gogh, que não tinha dinheiro nem para as tintas quando era vivo, e do Theo Van Gogh. Um ajudou o outro. No caso dos Chaplin, que eram irmãos apenas por parte de mãe, eles passaram uma uma época em um orfanato e, depois, o Sydney abdicou da carreira de ator para ajudar a gerenciar e orientar o Charles”, conta.
“Chaplin, O Musical” é uma megaprodução digna de Broadway, que prova como o gênero tem crescido pelos palcos do eixo Rio-São Paulo. Mas, mais do que ser mais uma linha na programação cultural das capitais, a montagem traz um profissionalismo gritante desde a equipe técnica até a preparação do elenco. Em números, a peça chega a espantar pela grandiosidade: 21 atores, 34 técnicos, 120 figurinos, 25 itens de postiçaria (bigodes, sobrancelhas e barbas), mais 20 bigodes apenas para Chaplin, 32 perucas e 300 horas de ensaio.
Marcello Antony, por sua vez, enxerga com bons olhos esse boom dos musicais: “Eu acho ótimo, principalmente para nós, atores. É bom para ampliar o mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, exige que os atores não se acomodem só na atuação. Treinar a voz é fundamental, até para ter uma boa pontuação em outros tipos de espetáculo”, comenta, sem deixar de ver o outro lado da moeda: “Claro que com isso vão aparecer também os musicais ruins, que só fazem a montagem por fazer. Mas eu tive a sorte de entrar no filé mignon da história”, opinou, comentando ainda que Christopher Curtis está com a ideia de recriar a montagem em Londres.
A nova empreitada nos palcos fez com que Marcello Antony voltasse a se conectar com o teatro, onde começou a carreira “por acaso”. Agora, ele diz que tem planos de produzir pelo menos uma peça própria por ano e já se vê dirigindo outros espetáculos no futuro. “Na realidade, na minha história de vida, nunca quis ser ator, fui por acaso. Mas me apaixonei pelo que estava fazendo, gostei e entendi. Gostaria de inverter meu papel na minha profissão. E só acho que posso fazer isso de maneira digna, me produzindo. Estar em um palco toda semana, tendo prazer sobre o que eu falar. Essa liberdade é algo que foge da sua alçada em outros meios, na TV principalmente. No teatro, abriu a cortina e não interessa o diretor, é você ali, falando o que acha importante. Eu vejo onde me realizo como ator”, desabafou.
A declaração não é descabida: na última participação que o ator fez na televisão, em “Amor à Vida”, ele criticou abertamente o rumo que seu personagem estava tomando: “Eu vejo uma trama mais preocupada com a comédia, em vez de mostrar gays que têm família. Eu sofro para dizer aquele texto”, disse à época. Walcyr Carrasco, autor da novela, não deixou a observação passar em branco. “É óbvio que um ator diz textos que nunca diria, caso contrário só representaria a ele mesmo. A não ser quando o ator cria uma própria história na sua cabeça. Aí, o que ele acha incoerente é apenas a frustração de seus desejos”, disse no Twitter. A história tomou grandes proporções e, desde então, Antony não voltou à TV.
Mas engana-se quem acha que o ator tem sofrido com essa ausência. Ao ser questionado sobre como a fama de galã nas telenovelas influencia sua vaidade, Marcello Antony comenta: “Quando entrei para a TV, vi que estava caindo no estereótipo de galã. Isso me incomodou porque, na época, eu tinha aquele pensamento de ‘você não é galã, é ator’. Mas percebi que lutar contra isso era em vão – ou eu não participaria do mainstream, ou então participaria, na categoria de galã. Conscientemente, agora, eu vejo que fiz uma escolha onde eu pude ganhar dinheiro, trabalhar e ter papeis. Depois, com o tempo, você não tem como se renovar, como sair dessa zona de conforto. Foi onde eu comecei a dar uma retomada com o teatro, e onde começaram a surgir os novos galãs. Te confesso que pretendo fugir desse tipo de papel, porque também preciso exercitar outros lados da minha profissão”, contou para HT.
“Hoje, não vejo tanto novela como antigamente, mas passou “Além do tempo” na tevê do hotel e eu vi uns três rapazes que nunca tinha conhecido na minha vida. Fiquei sem saber quem eram, mas percebi que eram personagens grandes”, disse, falando sobre a nova safra de galãs que chegou às novelas. “De qualquer forma, meus dois últimos personagens na televisão foram o Gerson, em “Passione” (2010)[que tinha fetiche por “sexo sujo”], e o Eron, de “Amor à Vida”, que foi parte do primeiro casal homossexual assumido nas telenovelas [ ao lado do personagem de Thiago Fragoso]. As mulheres não poderiam sonhar comigo mais”, diz em tom irônico, sobre o padrão de mocinhos e galãs que rola atualmente, negando ainda que tenha qualquer plano de voltar às telinhas.
No início do próximo ano, ainda sem uma data muito definida, Marcello Antony lançará o longa-metragem “Pequeno Segredo”, inspirado na primeira família brasileira de velejadores a dar a volta ao mundo de barco, os Schürmann, que adotaram ainda a pequena Kat,uma criança soropositiva que manteve em segredo sua condição como forma de se proteger do preconceito. Baseado em histórias reais, o longa é dirigido por David Schürmann, filho do casal principal vivido na ficção por Antony e Julia Lemmertz. “Esse é um filmaço, tem todos os ingredientes para ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Estou muito curioso para ver o resultado. Foi mais uma dessas coisas que acontecem meio que pelo destino, sabe? Eu não fazia cinema há muito tempo, inclusive esse papel não era nem para mim, mas acabaram me oferecendo porque alguém abandonou o projeto e conseguiram me encaixar”, conta o ator, que estava de férias marcadas com a esposa para o Caribe, onde aproveitou para pegar o bronzeado perfeito para viver Vilfredo Schürmann.
Pai de cinco filhos, dois adotados durante o primeiro casamento com Mônica Torres, um com a atual esposa, Carolina Hollinger Villar, mais os dois do primeiro casamento dela, que ele considera como seus, Antny confessa que se emocionou com o roteiro de “Pequeno Segredo” e conta: “Passei dois meses direto em Florianópolis, vivendo só de mar. Dormi no mesmo veleiro onde toda a história aconteceu, foi incrível. Parece que eu me senti escolhido pela Kat para esse papel”, conta o ator, acreditando mais uma vez no destino, que de uma forma ou de outra, sempre dá um jeito de sorrir para ele.
SERVIÇO:
Período: 21 a 30 de Agosto
Local: Vivo Rio – Avenida Infante Dom Henrique, 85 – Parque do
Flamengo, Rio de Janeiro.
Horários: Quinta, 21h; Sexta, 21:30h; Sábado, 18h e 21h30; Domingo, 17h e
20:30h.
Preços dos Ingressos: de R$ 50,00 a R$ 170,00
Vendas na bilheteria oficial do teatro Vivo Rio, sem taxa de conveniência. Pela
Internet, no site www.ingressorapido.com.br ou por telefone (4003-1212),
ambas com taxa de conveniência.
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