Pressão estética nas redes sociais afeta de Camilla de Lucas a Monique Evans: o cyberbullying não tem fim


As ofensas e o body shaming ‘pesam a mão’ em manifestações no ambiente virtual. Se não escapam as anônimas, quiçá as mulheres que têm mais visibilidade, passando por Camilla de Lucas, Gkay e até Camila Cabelo. Quem insulta ‘exige’ uma ‘perfeição idealizada’ do ofendido que pode causar muitos danos ao equilíbrio emocional. E para falar disso, compartilhamos um texto de Alexandra Gurgel, a Xanda, do blog Alexandrismos, e também convidamos a terapeuta Maria Rafat para comentar o tema. Tem antídoto? “A autoestima continua sendo o único escudo capaz de impedir que as críticas externas grudem em nós e nos transformem em eternos frustrados. Autoestima é saber o valor que se tem, o valor que seus atos e opiniões possuem”

*Por Brunna Condini

O Body shaming e o cyberbullying são termos muito ouvidos na atualidade e comportamentos que vem sendo disseminados em profusão nas redes sociais. Em bom português, se misturam, já que o Body shaming ou ‘vergonha do corpo’ é feito através do bullying no ambiente virtual, na maioria dos casos, o que garante um certo ‘anonimato’ de quem o faz, que se sente protegido pela tela do computador ou do celular. Fato é que dos comentários ofensivos e agressivos feitos em relação ao corpo e à forma alheia, não escapam nem as famosas, como já é sabido. E damos foco aqui às mulheres, porque a pressão estética sabidamente acomete mais o corpo feminino. Já sofreram muito com o problema Bruna Marquezine atacada por Danilo Gentili por ser ‘magra demais’; Preta Gil por ‘posar de biquíni acima do peso’; Cleo Pires quando apareceu com alguns quilos a mais em um evento e, imediatamente, virou piada e alvo de comentários que a humilhavam. E este tipo de manifestação, infelizmente, só se multiplica.

Recentemente foi a vez de Sheila Mello ser chamada de ‘velha demais’ para ‘rebolar dançando’, isso, aos 42 anos! Pasmem. E até Monique Evans, aos 62, musa de toda uma vida, vez por outra é atacada. Desta vez, por conta da aparência dos seus dentes. “Agora tem gente implicando com os meus dentes. Gente, eu sou uma pessoa de 62 anos, que não tem aquele dente de ‘mentex’. Poderia ter, mas eu não gosto, não acho bonito. Eu gosto dos meus dentes. E, assim, não uso dentadura. Então, meus dentes são como são. Gostou? Ótimo. Não gostou? Sinto muito”, disse ela no seu Instagram.

"Não uso dentadura. Então, meus dentes são como são. Gostou? Ótimo. Não gostou? Sinto muito" (Reprodução)

“Não uso dentadura. Então, meus dentes são como são. Gostou? Ótimo. Não gostou? Sinto muito” (Reprodução)

Alexandra Gurgel, a Xanda – jornalista que criou o blog Alexandrismos, para falar sobre autoestima e gordofobia, e é fundadora do movimento Corpo Livre, que empodera mulheres a aceitarem e viverem seus corpos – fez um post no feed da mesma rede social para expandir o debate acerca do tema, inclusive provando que ninguém está livre de comentários negativos na internet. “Nos últimos tempos vimos como Camilla de Lucas foi criticada por usar lace de cabelo liso. Enquanto ela estava confinada lá no BBB, essa discussão rolou aqui fora. Se ela aceita tanto o cabelo, por que usar uma lace lisa? Agora eu pergunto pra você: ela precisa de autorização para usar o que ela quer?”, questionou Alexandra.

"Não importa o quão famosa você seja ou não seja, a intolerância e a falta de empatia disfarçadas de “opinião” machucam muitas pessoas" (Reprodução)

“Não importa o quão famosa você seja ou não seja, a intolerância e a falta de empatia disfarçadas de “opinião” machucam muitas pessoas” (Reprodução)

“A Gkay (@gessicakayane) foi amplamente cobrada para aparecer nos stories mais produzida, pois ela estava cada vez mais natural no seu dia a dia. Qual a dificuldade de aceitar um rosto sem maquiagem? E Camila Cabello (@camila_cabello) que “chocou” a mídia por aparecer de biquíni com seu corpo real na praia. Até quando tem que rolar essa cobrança com as cantoras? As pessoas não imaginam que isso faz elas se sentirem mal em algum momento? Sendo assim, podemos ver todos os dias que alguém por trás de um perfil nas redes está sempre pronto para bombardear qualquer que seja a pessoa, por qualquer que seja o motivo, gerando uma onda de ódio gratuito que a pessoa não estava nem 1% preparada para receber. Ok, em alguns casos pode até mesmo não ser “proposital” por parte de alguns usuários que defendem “o direito de opinar”. Mas acabam confundindo a opinião com preconceito e com ódio, sem ter a mínima consciência de que aquele comentário negativo pode afetar a pessoa de diversas maneiras. Não importa o quão famosa você seja ou não seja, a intolerância e a falta de empatia disfarçadas de “opinião” machucam muitas pessoas que já vivem sensibilizadas tendo que lidar diariamente com esse tipo de situação. Agora eu pergunto: até onde vai o “direito de opinar”, quando se sabe que existem falas que machucam pessoas? Vale à pena? #bodyshaming”.

Antídoto?
A psicóloga Maria Rafat salienta que imagem que temos de nós e do nosso corpo costuma ser validada de fora para dentro também. Portanto, por mais que alguém seja seguro, se o olhar do outro for de reprovação, poderá sentir que sua segurança não é mais a mesma. “Somos um eterno conjugar de eu-outro-eu-outro. A sociedade nos apresenta alguns ideais de corpo que são difíceis de alcançar pela média das pessoas. Mesmo aquelas mais privilegiadas, com as características que estejam na moda em determinada época, podem se sentir inseguras devido às comparações.  Sentir vergonha do próprio corpo pode ser, então, uma terrível consequência da comparação entre o corpo que gostaríamos de ter, o corpo idealizado, e o corpo que realmente temos”, esclarece a especialista. “Essa enxurrada de ataques que muitas pessoas públicas têm sofrido à sua aparência na internet, o chamado body shaming, podem vir de internautas que provavelmente estão num mecanismo de projeção: a outra pessoa, a quem atacam, funciona como tela de suas próprias frustrações. Projetar no outro coisas que são nossas é tão antigo, que até Sigmund Freud já estudou o fenômeno há mais de um século. Basicamente, quem critica um artista por um detalhe de sua anatomia, está criticando coisas que ele mesmo possui, e das quais não gosta”.
"A autoestima continua sendo o único escudo capaz de impedir que as críticas externas grudem em nós e nos transformem em eternos frustrados" (Divulgação)

“A autoestima continua sendo o único escudo capaz de impedir que as críticas externas grudem em nós e nos transformem em eternos frustrados” (Divulgação)

Maria chama atenção ainda para o bullying sofrido pelas mulheres mais velhas. “Além das críticas aos corpos e faces em si, não podemos esquecer que hoje também se pratica muito o ageísmo, ou etarismo. Os estereótipos sobre a eterna juventude somam-se àqueles dos corpos sarados e dos rostos sem rugas. E dá-lhe mais comentários maliciosos e preconceituosos. Num país em que é difícil ter alguns quilos a mais, também é difícil envelhecer em paz. A autoestima continua sendo o único escudo capaz de impedir que as críticas externas grudem em nós e nos transformem em eternos frustrados. Autoestima é saber o valor que se tem, o valor que seus atos e opiniões possuem. A autoestima positiva, ou alta,  é formada por um conjunto de atributos aos quais podemos dar valor, e que nos sustentam e agradem. Mesmo que o nosso corpo não nos agrade, ou esteja fora dos padrões de uma época, sempre teremos atributos valiosos!”.