É dia de folia, mas não é porque se vive hoje o carnaval que vai se rasgar serpentina a torto e a direito. HT, consciente do seu papel de questionar, entrevista Zeka Marquez, o homem por trás das loucuras no tradicional Baile do Copacabana Palace que, com sua observação ferina do cosmos que nos cerca, é categórico: “O Rio virou um absurdo.” E mais: é enfático e resolve, com a escolha do tema deste ano, dar um tapa na cara da sociedade. Afinal, ao reiterar que pensou no Dada Magic Ball para a decoração do agito, diz que o faz porque acredita que somente o movimento artístico do início do século 20, que criticava o mundo através do nonsense, é capaz de chamar atenção para aquilo que está acontecendo atualmente na cidade e no Brasil.
Morador em Paris, Zeka é cosmopolita o suficiente para crer que certos absurdos que acontecem na Cidade Maravilha de hoje não passam de provincianismo jeca: “os preços aviltantes, o trânsito caótico, com a urbe repleta de muito mais veículos do que suas vias absorvem, o descaso das autoridades, a corrupção, a sujeira, a falta de educação do povo. Tudo isso é absurdo.”
Por isso mesmo, pensou no dadaísmo, a vertente da história da arte encabeçada por Salvador Dalí e Man Ray que acabou desembocando no próprio surrealismo. HT comenta com ele: “Pois é, vivemos numa cidade com valores tão desproporcionais, fora de mercado, que existe até um movimento Rio Surreal.” Zeka não pensa duas vezes e rebate: “Pensei nessa históri,a porque creio profundamente que o Rio precisa enxergar essa questão por trás da sofisticação dos salões do Copa. Por que não usar a alegria que existe no baile mais chique do país para questionar o momento? E o dadaísmo é como o carnaval: divertido, irreverente e transgressor, mas profundamente inserido em um contexto instigante e investigativo.” Portanto, é preciso começar a pensar em um visual que, além de surreal, seja cabeça, não é mesmo?
E, fechando, o exuberante set decorator completa: “O último período de ouro da cidade foi na época de Vinicius de Moraes e Tom Jobim, no auge da Bossa Nova. Precisamos nos mexer além do ritmo saracoteante do salão e dar um rolezinho nesta situação!”
Foto: Divulgação
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